Raytheon AIM-9 Sidewinder |
O AIM-9 Sidewinder foi
sem dúvida o míssil ar-ar mais usado e de maior sucesso do
mundo. Sua história começa no fim da década de 40 quando a US Navy
decidiu que a chave para os combates aéreos do futuro seria os mísseis
guiados e não canhões como na Segunda Guerra Mundial.
Apesar da metralhadora calibre 12,7mm ter vencido a Guerra da Coréia,
a ameaça de bombardeiros soviéticos armados com bombas nucleares
precisaria de uma arma mais letal. Os foguetes ar-ar e os mísseis ar-ar
de primeira geração foram a primeira resposta.
A USAF e Hughes
trabalharam no AIM-4 Falcon instalado no F-102 Dagger. A US Navy se juntou
a Sperry, Bendix e Raytheon no projeto Sparrow. Estes mísseis eram
guiados por radar, e tinham problemas em diminuir o tamanho do radar devido
as válvulas de vácuo da época. Os foguetes ar-ar
já foram usados na Segunda Guerra Mundial.
Os foguetes
armavam os interceptadores Lockheed F-94C Starfire e Northrop F-89 Scorpion.Os mísseis iniciais erravam 90% dos disparos
e os foguetes ar-ar eram uma opção. Em uma ocasião, dois
F-89 lançaram 208 foguetes contra um alvo aéreo desgovernado
que rumava para a cidade de Los Angeles. Nenhum foguete acertou o alvo que
não atingiu Los Angeles por falta de combustível. Os foguetes
iniciaram uma série de incêndios e acertaram um carro.
A idéia de um pequeno míssil guiado por
calor apareceu em 1947 quando a US Navy precisava de um míssil ar-ar
para defesa de frota e para lutar nas futuras batalhas aéreas. Naquela
época os mísseis guiados por radar estavam em desenvolvimento,
mas a tecnologia radar ainda era nova e pouco confiável para ser usada
em um míssil pequeno. Os cientistas da marinha projetaram um
míssil guiado por infravermelho montado em um foguete de 127mm sem
precisar da instalação de um grande e pesado radar de controle
de tiro na aeronave.
Em 1947, o físico Bill McLean,
que trabalhava no NOTS (Naval Ordinance Test Station, atual Naval
Weapons Center) de China Lake, iniciou a construção
de um sistema para seguir o calor da aeronave inimiga. Ao invés de
usar um radar complexo e pesado, o míssil teria uma célula fotovoltaica
sensível ao calor para "ver" o alvo. Seria bem menor que um radar
e com custo muito mais baixo. Mc Lean trabalhava com espoletas de
proximidade na Segunda Guerra Mundial e pensou que colocar um detector IR
simples em um míssil poderia ser mais simples que um radar.
Oficialmente a US Navy não tinha interesse
em sistemas de guiamento que não fosse por radar, mas o NOTS, onde
McLean trabalhava, tinha liberdade para realizar projetos não convencionais.
O sistema de guiamento IR então foi iniciado como um sistema de espoleta
de míssil em 1949. Com um orçamento restrito o sensor
tinha que caber em um foguete de 127mm e usar eletrônicos de válvulas
que eram bem pesados. Isto resultou no contrato para a Philco em 1951 para
o sensor.
O sistema de detecção
e guiamento IR era ao mesmo tempo sofisticado e simples. Os alemães
testaram sensores IR para guiamento em um míssil bem grande chamado
Enzian mas não era confiável. O sensor era instalado em um telescópio
móvel. Tentando virar o míssil na direção do
telescópio, o míssil se guiava até o alvo no modo "pure
pursuit."
O Sidewinder melhorou esta técnica de várias formas. Os primeiros
não usavam um espelho móvel e sim um espelho rotativo (retículo)
ao redor de uma ventoinha na frente do míssil, com o detector fixo
em frente a ele. Ao invés de acompanhar o alvo com o espelho o sensor
IR iria ver o alvo em brilhos quando o espelho se alinhar com o alvo. Sabendo
onde o brilho está, a direção radial do alvo também
será conhecida. Além disto o sistema pode acompanhar o ângulo
do alvo de maneira mais inteligente. Se o alvo está mais para o lado
do campo de visão, o brilho visto pelo detector será mais curto
devido a grande razão do míssil do lado e fora.
O sinal mais curto também fez o sistema de acompanhamento mais simples
e melhor. Ao invés de apontar o míssil para o alvo (que é
inefetivo) o sistema de guiamento lembra a direção do brilho
e quando apareceu. Tentando zerar a mudança, ao invés da diferença
entre o ângulo do detector e do míssil, o Sidewinder voa um curso
conhecido como "proportional pursuit" que é mais eficiente e faz o
míssil se guiar para um ponto futuro ("lead pursuit").
Porém, este sistema também requer que o míssil tenha
um ângulo de vôo fixo. Se o míssil gira em torno do
próprio eixo longitudinal (roll), o cálculo da velocidade
de rotação do espelho não será preciso. Corrigir
o giro necessitaria de algum tipo de sensor para dizer que o míssil
está virado para cima ou para baixo. Só que os engenheiros
adotaram um mecanismo chamado rollerons na cauda. O fluxo de ar nos discos
os fariam girar em alta velocidade e se o míssil começa a girar,
a força giroscópica do disco controla a superfície na
direção oposta. Uma simples peça de metal foi capaz de
substituir um sistema inercial complexo.
Detalhes
do Rolleron do Sidewinder.
Os modelos atuais têm sistema de varredura
cônica. O conceito básico da varredura cônica é
mover continuamente o reticulo, conjunto de lentes e espelhos que direcionam
a luz para o sensor, ao redor de um pequeno círculo. O retículo
varre uma grande seção do céu. O sistema de controle
de guiamento acompanha o alvo através das flutuações
da luz IR no detector. Se o alvo está à esquerda do míssil,
o sensor irá detectar uma grande luz quando o retículo está
apontado para a esquerda que quando para a direita.
O resultado final foi um míssil bem simples com menos de 24 partes
móveis e menos componentes eletrônicos que um rádio comum.
Era barato e confiável. Por ser leve e pequeno era compatível
com todas as aeronaves até como arma de autodefesa. Por ser leve podia
ser levado nas pontas das asas. Como o míssil
iria seguir a emissão de energia do alvo, seria um míssil "dispare-
e-esqueça" com o piloto desengajando após disparar.
As primeiras versões estavam restritas a visibilidade perfeita e
engajamento próximo da traseira do alvo. Era efetivo apenas a curta
distância, não podia disparar perto do solo, nem a noite ou
no aspecto frontal. Os sensores IR da época eram bem mais baratos
que outros tipos de guiamento e podiam ser usados na presença de interferência
eletrônica.
O protótipo
AIM-9A foi testado durante três anos antes da produção.
A versão de produção foi chamado AIM-9B. Em 1953,
o programa quase foi interrompido após 12 falhas seguidas. Após
o primeiro tiro com sucesso seguiram-se 6 insucessos.
O primeiro tiro com
sucesso do Sidewinder foi em 11 de setembro de 1953 contra um drone. Durante
um teste o míssil abandonou o lançador e iniciou manobras imprevistas
obrigando o piloto Wally Schirra (futuro astronauta) a agir rápido
para evitar ser atingido. Durante uma das fases de testes foram disparados
100 mísseis em 3 meses. Em 3 anos, um único piloto lançou
92 mísseis.
Em 1955 a Philco começou a produzir os mísseis e as primeiras
unidades falharam nos ensaios em vôo. O Sidewinder entrou em serviço
em 1956. Em 1956, 200 mísseis foram lançados para avaliação.
Após uma falha espetacular do míssil na presença do
alto escalão da Marinha, um dos engenheiros da equipe, famoso por
suas frases, disse: "a probabilidade de sucesso é inversamente proporcional
ao posto das autoridades presentes".
O míssil perdia alvos estacionários em altas altitudes porque
sua navegação proporcional foi projetada para alvos móveis.
Protótipo do AIM-9A em um
Skyraider.
Foto do AIM-9B. O nome Sidewinder veio do fato de que nos primeiros
testes, o sensor estava desalinhado com o centro do míssil. Quando
disparado o alvo parecia se mover, e do ponto de vista do míssil,
causava constantes correções para manter o alvo centrado. O
movimento parecia uma cobra. O problema foi corrigido nos outros modelos.
As várias gerações
do Sidewinder. O Sidewinder foi atualizado continuamente e melhorado. O Sidewinder
manteve a configuração com seção cilíndrica
de tubo de alumínio, sensor de calor na frente com controles por barbatanas
e estabilizador traseiro fixas com rollerons. Sempre teve quatro seções:
GCS, ogiva, espoleta e motor.
O Sidewinder
foi fabricado pela Loral Aeronutronics (antes chamada de Ford Aerospace and
Communications), Raytheon Company; Bodenseewerk Geratetechnik GmbH (BGT) alemã
e Mitsubishi japonesa. A produção total foi de mais de 110 mil mísseis de todas as versões para
45 países.
A URSS
recebeu alguns mísseis clandestinamente na década de 50 e 60
e copiou na forma do R-3/R-13 (AA-2 Atoll).
O Sidewinder é uma das armas mais antigas, mais baratas e de maior
sucesso do inventário dos EUA. Entre os usuários estão
a África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Áustria,
Austrália, Barein, Bélgica, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia,
Coréia do Sul, Dinamarca, Egito, Emirados Árabes Unidos, Espanha,
EUA (USAF, US Army, USMC e US Navy), Filipinas, França, Grécia,
Holanda, Iêmen, Irã, Israel, Itália, Japão, Jordânia,
Kuwait, Malásia, Marrocos, Noruega, Omã, Paquistão,
Polônia, Portugal, Quênia, Reino Unido, Singapura, Suécia,
Suíça, Tailândia, Taiwan, Tunísia, Turquia e Venezuela.
Em junho de 2003 foram vendidos 182 AIM-9M-2
para Taiwan por e US$ 16,7 milhões e 414 para o Egito por US$ 38 milhões.
A aquisição mais
recente do Sidewinder foi em 2005 quando o Paquistão solicitou a
compra de 300 mísseis AIM-9M por US$29,4 milhões. Em janeiro de 2007 o Paquistão
assinou um contrato de US$ 5,9 milhões para converter 310 mísseis
AIM-9M para o M-8/9. Em janeiro de 2007 também
foi assinado um contrato para aquisição de 500 mísseis
AMRAAM e 200 AIM-9M por US$ 284 milhões com entregas entre 2008 a 2011.
Na mesma época Israel fez um pedido de 500 AIM-9M junto com outros
mísseis.
O AIM-9 Sidewinder
foi integrado no F-4, F-104, F-5, F-8, A-4, A-6, A-7, F-111, Mirage 3, MiG-21,
A-10, JA 37 Viggen, Kfir, F-20, OV-10, Mirage F1, Mitsubishi F-1, Hawk, Sea
Harrier, Harrier, Tornado GR. 1, Tornado F3, Nimrod MR2, Jaguar, F-14, Buccaneer,
F-15, F-16 e F/A-18.
Em 1983, o Iraque
recebeu 200 AIM-9B do Paquistão. Os mísseis armaram os seus
MiG-21 que derrubaram dois F-5E, um F-4D, um C-130 e um Bell 214 do Irã.
Foram substituídos por uma nova remessa de 70 mísseis Matra
R-550 mk1 em 1984. O Iraque queria mesmo era o AIM-9P de aliados árabes
pois sabia que eram bons devido ao uso com sucesso pelo Irã.
A FAB recebeu o AIM-9B junto com seus F-5E Tiger II e tentou comprar modelos
AIM-9P e AIM-9L sem sucesso. A Marinha recebeu 217 mísseis AIM-9H
junto com seus AF-1 Falcões (A-4K Skyhawk), mas com motores fora da
validade. Nos dias
06 e 07 de dezembro 2001 foram lançados com sucesso três primeiros
AIM-9H por um AF-1 na Barreira do Inferno, em Natal.
Um AIM-9B sendo
instalado em um AMX.
Arte de aviação mostrando um
F-5E da FAB disparando um AIM-9B.
Atualizado
em 15 de Novembro de 2007
Próxima Parte: Versões iniciais
Voltar ao Sistemas de Armas
2004-2007 ©Sistemas
de Armas
Site criado e mantido
por
Fábio Castro
Fórum - Dê a sua opinião
sobre os assuntos mostrados no Sistemas de Armas
Assine a lista para receber informações sobre atualizações
e participar das discussões enviando um email
em branco para sistemasarmas-subscribe@yahoogrupos.com.br