Matra Magic R.550 |
O míssil Magic R.550 francês é
um míssil ar-ar de curto alcance guiado por infravermelho (IR). Nasceu
como um projeto privado da Matra
francesa. Um requerimento importante
do projeto era ser compatível
com o lançador do Sidewinder para facilitar a entrada em serviço.
Automaticamente se tornou um competidor do míssil Sidewinder americano.
Enquanto o Sidewinder foi desenvolvido com melhorias sucessivas com a adição
de novas tecnologias, os requerimentos de projeto do Magic eram bem mais
exigentes, e sempre foi considerado um projeto melhor. Os requerimentos
eram de um míssil capaz de ser disparado dentro de um setor de 140
graus à frente da aeronave (campo de visão do sensor IR),
em qualquer velocidade de 0 a 1.300km/h, de altitudes muito baixas até
18 mil metros, capacidade de enquadrar alvos em qualquer aspecto (não
conseguido na versão inicial), tiro instantâneo no alcance mínimo,
suportar lançamento com aeronave manobrando até 6 g´s.
O desenho favorecia a manobrabilidade
e o combate aproximado. O alcance mínimo de 300 metros era
igual ao do canhão.
O projeto foi desenvolvido entre
1966 e 1968. A Força Aérea Francesa (Armée de L`air)
logo se interessou e apoio a partir de 1969 para substituir o Sidewinder.
O Magic foi apresentado em Le Bourget em 1971. Os testes inertes iniciaram
em 1971. O primeiro disparo foi em 11 de janeiro de 1972 a partir de um Gloster
Meteor contra um drone CT-20. Em 1973 foi realizado um teste de agilidade
máxima com um Mirage III. A primeira entrega foi em 1974 para a França
e se tornou operacional em 1975.
O Magic tem a mesma configuração do Sidewinder. Com superfície
de controle frontal e estabilizador traseiro, ambos em cruz e alinhados. A
diferença é o canard duplo em fila frontal. Os canards frontais
são fixos e os traseiros são usado para controle com atuadores
pneumáticos. Atuam no controle do giro, rotação e guinada
e podem manter um grande ângulo de ataque graças aos aletas frontais.
A cauda gira livre ao redor do bocal
de escape para estabilizar a rotação.
A primeira versão
foi o Magic 1 que entrou em serviço em 1975. Era considerado
equivalente ao AIM-J da USAF e AIM-9H da US Navy.
O míssil tem um diâmetro de 16 cm e bem maior que o Sidewinder
(12,7 cm). O comprimento é de 2,75 metros, a envergadura 66 cm e pesa 89kg. No nariz é
instalado o sensor AD550 da SAT, seguido do piloto automático e giroscópio,
espoleta e bateria. Os eletrônicos iniciais usavam válvulas a
vácuo.
O sensor de PbS era refrigerado antes
disparo. O sensor faz busca autônoma e não é apontado
por outro sensor (como o radar). Após o piloto fazer a aquisição
visual o sensor é resfriado. Quando o alvo é adquirido gera
um som indicando que pode ser disparado.
A ogiva de 12,5 kg tinha 6 kg de explosivos
com um raio letal de 5 metros. A carga era ativada 1,8 segundos após
o lançamento ou 300 metros a frente da aeronave sendo o alcance mínimo
efetivo. O tempo de vôo é de cerca de 20 segundos. A espoleta
de proximidade usa um sensor infravermelho.
O Magic 1 usava um motor foguete SNPE Romeo de combustível sólido tipo Butalane que queimava por 1,9-2 segundos gerando 2,699 kg de empuxo. A velocidade máxima chega a Mach 2,7 ou 500 m/s além da velocidade do lançador. O giroscópio e o piloto automático eram necessários para controlar o míssil em curvas apertadas. O míssil suporta até 35 g´s.
O sensor IR do Magic usa um cone
de vidro.
Mais de 7.000 Magic I foram produzidos até 1984 e adquiridos pela África do Sul, Argentina, Arábia Saudita, Austrália, Camarão, China, Egito, Emirados Árabes Unidos, Equador, Espanha, França, Gabão, Grécia, Índia, Iraque, Kuwait, Líbano, Líbia, Marrocos, Nigéria, Omã, Paquistão, Peru, Portugal, Suíça, Venezuela e Zaire. Cada míssil custava cerca de US$15 mil na época.
A China produziu uma cópia do Magic chamada PL-7. Foi comprado pelo Irã e Paquistão. O Irã integrou nos seus caças F-5.
O Magic 1 foi usado em combate nas Malvinas,
Angola e Iraque. Os Mirage IIIEA argentinos dispararam o Magic contra os
Sea Harrier britânicos sem sucesso. O Capitão Gustavo García
Cuerva disparou contra um Sea Harrier de frente a 8km no dia Primeiro de maio
de 1982 sem sucesso. Outra fonte cita que foi um Matra 530EM semi-ativo disparado
sem trancar no alvo. A Argentina recebeu um lote
de 22 mísseis Magic 1 em 1980. Usava também o Shafrir Mk2 junto
com Dagger e R530. Outros mísseis Magic e R530 foram recebidos clandestinamente
da Líbia durante o conflito. Depois do conflito foram recebidos mais
28 mísseis novos. Os Super Etandard da Aviação Naval
também receberam o Magic para substituir os A-4 Skyhawk nas missões
de interceptação.
O Iraque recebeu caças franceses Mirage F-1EQ em agosto de 1980 junto com mísseis Magic. Apesar dos pilotos preferirem usar o Super 530F-1, foram obtidas algumas vitórias contra o Irã com o míssil Magic. A primeira vitória foi contra um caça MiG-22MF sírio em abril de 1981. Em março e novembro de 1982 foram derrubados dois caças F-14A iranianos, mas sem confirmação. Em agosto de 1984 e março de 1987 foram derrubados dois F-4E Phantom. Em 1987 caças Hunter armados com o Magic derrubaram um F-5E e um C-130 em combates separados.
Em 1981 os iraquianos deslocaram para o fronte um esquadrão de MiG-21 armados com o Magic Mk1 e pilotados por mercenários franceses. Os iraquianos citam que derrubaram ou danificaram 12 aeronaves F-4E ou F-5E na região de Vahdati. Os Iranianos reagiram deslocando os F-14 em maio e depois de um Mig ser derrubado ficaram na defensiva.
A Força Aérea da África
do Sul usou o Magic contra os MiGs cubanos durante o conflito em Angola. No
dia 5 de outubro de 1982 um Canberra escoltado por um Mirage F-1CZ em missão
de reconhecimento foram interceptados por caças MiG-21MF. O Major
Johan Rankil engajou e disparou seus mísseis R550 contra os MiGs.
O primeiro foi a 20 mil pés e Mach 1,3 em um combate em curva com
o alvo a 3km de distância em perseguição. O míssil
não tinha energia para alcançar o alvo. O próximo disparo
foi a 1,5km e o MiG iniciou uma manobra "split S" para tentar evadir, mas
míssil aproximou e acionou a espoleta de proximidade sem causar danos
graves. O MiG foi visto fugindo para o norte e sofreu danos na aterrissagem.
O outro Mig foi derrubado com o canhão. O major Rankil tinha derrubado
um outro MiG 11 meses antes com o canhão.
No dia 10 de setembro de 1987 quatro
Mirage F-1CZ foram lançados para interceptar 10 caças MiG-23ML. Dois
MiGs de escolta dos oito MiGs de bombardeiro engajaram. O Capitão
Anton van Rensburg disparou um R550 contra um Mig que explodiu a 10 metros
da cauda sem causar danos. No outro disparo não foi observado o resultado.
No dia 27 de setembro de 1987 ocorreu
uma nova escaramuça com quatro Mirage F-1CZ enfrentando um grupo de
MiGs que atacavam forças terrestres em Angola. Um MiG de escolta disparou
um míssil R-23/AA-7 Apex que atingiu a aeronave do Capitão Arthur
Percy. A aeronave foi danificada gravemente e destruída durante o
pouso. O comandante Gagiano disparou um R550 contra um Mig sem observar o
resultado pois passou a acompanhar o companheiro.
Os combates mostraram que a capacidade
todo aspecto era necessário. O alcance efetivo era de 3km devido à
sensibilidade do sensor. A espoleta IR fazia a ogiva detonar prematuramente
e fora do raio letal da ogiva. Os Magic sul africanos foram retirados de serviço
em 1988 e substituídos pelos V-3C Darter e V-3S Snake (um lote de
100 mísseis Pyton III adquiridos de urgência de Israel.
Magic em um Mirage
III argentino. O sensor tem melhor sensibilidade quando olha para um cone
imaginário de 10 graus atrás do motor emissor. Os reservatórios
de nitrogênio de refrigeração do sensor do Mirage III
suportam duas saídas sem recarregar.
Em 1978 entrou em serviço
o AIM-9L com capacidade "all aspect". Foi um dos motivos para a criação
da versão Magic 2 com a mesma capacidade, mas não a única
como visto anteriormente. O Magic 2 entrou em serviço na França em
1985.
A ogiva de 12,5 kg agora usava uma espoleta radar no lugar da espoleta
IR. O novo motor foguete sólido sem fumaça SNPE Richard queima por 10% mais tempo (2,2 segundos) aumentando
o alcance prático para 5km.
O peso aumentou um pouco para 90kg e as dimensões foram mantidas.
O Magic 2 recebeu um sensor AD3601 da SAT ou AD3633 multielemento mais sensível,
com capacidade qualquer aspecto e com melhor capacidade de contra-contramedidas. O sensor podia ser apontado por outros sensores
como o radar. Os MiG-21 LanceR da Romênia usam a mira montada no capacete
DASH para apontar o sensor do míssil.
O MAGIC II recebeu um piloto automático digital e passou a ter capacidade
de puxar 50 g´s. Podia ser lançado com a aeronave puxando até
7 g´s, mas em 1992 um Mirage 2000 disparou um Magic 2 enquanto puxava
9g´s.
A Índia considerou o Magic
bem superior aos K-13 (AA-2 Atoll) russos.
Taiwan adquiriu um lote de 480
Magic 2 junto com seus Mirage 2000.
Os caças Crusader da aviação
naval francesa foram equipados com o Magic. O F-8
francês recebeu uma cabine com capacidade HOTAS em 1986 incluindo
um botão para apontar o Magic com radar. Todos os caças franceses foram equipados
com o Magic: Jaguar, Super Etandard, Etandard IV, Rafale e família
Mirage. Também foi instalado nos caças MiG-21.
A Bélgica e Paquistão
integraram o míssil nos seus F-16.
O Magic pode ser
integrado a aeronaves como mostrado neste MiG-23 Checo durante avaliações.
Cerca de 4.300 Magic 2 foram vendidos para a Bélgica, Equador, França, Índia, Qatar e Taiwan. Foi usado em combate pelo Equador contra o Peru e pelo Kuwait contra o Iraque.
Os
Mirage F-1CK do Kuwait atacaram, junto com A-4 e Hawk, uma força
de 50 helicópteros de assalto iraquianos durante invasão em
dois de agosto de 1990. Os Mirages F.1CK kuwaitianos derrubaram 13 helicópteros
com o Magic II Mk.2 e mais três com o canhão.
No dia 10 de fevereiro de 1992,
dois Mirage F-1JA esquadrão de caça 2112 da Força Aérea
do Equador armados com o Magic 2 Mk 2 derrubaram dois Su-22 Esquadrão
de caça No 11 "Los Tigres" da Força Aérea do Peru durante
o conflito de fronteira no vale do Cenepa. Os Mirage F-1 estavam em uma patrulha
de combate aéreo e receberam alerta de radar em terra para interceptar
os Su-22. O contato visual foi feito com os Sukhoi voando baixo a 600 metros
e a 8km de distância e mergulharam. Um Magic foi disparado a 90 graus
que não engajou e se autodestruiu. Os Sukhois manobraram e aceleraram
para fugir. Os dois foram derrubados posteriormente.
Os franceses citam que os 29 mísseis usados durante o conflito de Kosovo em 1999 e depois descartados custaram US$ 196 mil cada. Como o míssil foi projetado durante a Guerra Fria, com a tática francesa era lançar os interceptadores a partir de bases aérea e não realizando longas patrulhas aéreas. Assim os mísseis foram qualificados para somente 40 horas de vôo de vida útil e eram descartados ou reformados.
O Magic foi o principal competidor ocidental do Sidewinder até ser superado pelos Phyton israelenses. Em 1990 foi iniciada o desenvolvimento da versão Magic 2 Mk2 que entrou em operação em serviço em 1995. O Mk2 era mais manobrável e com sensor mais sensível. O alcance aumentou para 20km e a ogiva era menos sensível a danos. O projeto Magic 3 foi estudado em 1993.
A produção do Magic cessou no fim da década de 90 após a fusão da Matra e Bae Dymamicas em 1996 para formar a MBDA. O ASRAAM passou a ser oferecido com substituto do Magic.
A Índia está produzindo um sensor IR que está sendo usado para modernizar seus mísseis Magic. A Índia recebeu autorização para exportar e modernizar o sensor com o míssil passando a se chamar Magic 3.
Em
2005 a FAB anunciou a compra de 12 Mirage 2000C/B de segunda mão
da Força Aérea Francesa equipados com o radar Thomson-CSF RDI
Series J2. O armamento incluído no pacote inclui 10 mísseis
Matra Super 530D (mais 4 de treinamento) e 22 Matra Magic 2 (mais 6 de treinamento).
1 - Sensor IR
2 - Eletrônicos de Guiamento
3 - Giroscópio
4 - Cordão Umbilical
5 - Bateria
6 - Adaptador do Lançador
7 - Motor Foguete
8 - Dente na Borda de Ataque
9 - Escape do Motor
10 - Ogiva
11 - Espoleta de Proximidade
12 - Canard Móvel
13 - Atuadores
14 - Canard Fixo
Disparo de um Magic a partir de um Mirage
2000.
Teste de um Magic,
mostrando a trajetória sinusal do míssil.
Atualizado
em 15 de Novembro de 2007
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por Fábio Castro
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