Matra R530 e Super 530

Matra R.530

O R.530 é um míssil ar-ar de médio alcance. Foi desenvolvido pela Matra francesa com fundos próprios entre 1958 e 1963 para operar junto com o radar Cyrano IBis/II do Mirage III. O projeto R.530 foi baseado na experiência com R.510 guiado por sensor IR e R.511 guiado por radar semiativo levados pelos Vautour e Mirage 3C da Força Aérea e pelos Aquillon da Aviação Naval. Em 1969, a Matra recebeu um contrato para armar os Mirage III franceses com o R.530 e conseguiu a confiança de compradores estrangeiros. O R.530 passou a ser usado por quase todos os usuários do Mirage. 

O R.530 tem configuração convencional com asa delta em cruz com controle por barbatanas traseiras. As asas têm ailerons para controle de rolagem. O R.530 pesava 192 Kg (radar) ou 193,5 kg (IR) e tinha um comprimento de 3.284 m (radar)/3.198 m (IR). O diâmetro era de 26,3cm e a envergadura de 110 cm.

O motor foguete sólido de duplo empuxo Hotchkiss-Brandt/SNPE Antoinette usa combustível Plastargol. Produz 8500kg de empuxo por 2,7 segundos para aceleração com sustentação em 6,5 segundos fazendo o míssil atingir até Mach 2,7. As versões mais recentes usam um motor SNPE Madeleine com propelente Isolane com melhor desempenho. O alcance era de 18km, mas o alcance pratico era de 15km. A ogiva Hotchkiss-Brandt de 27 Kg era acionada por espoleta de aproximação ou impacto. Tinha versões pré-fragmentada e de carga contínua.

Os sensores eram intercambiáveis e o mesmo míssil podia empregar os dois sensores. Eram trocados a nível de esquadrão. O sensor IR SAT AD.3501 do R.530IR tinha capacidade todo aspecto podendo ser disparado contra alvos voando em direção a aeronave lançadora. O sensor semi-ativo AD.26 do R.530EM também era produzido pela SAT.  A variante final R.530FE foi usado com o radar Cyrano IV do Mirage F-1. Outra variante foi usada com o radar APQ-94 do Vough F-8E (FN). A variante IR era empregada por todas as aeronaves sem alteração na interface.

O R.530 não tinha competidor e a MATRA conseguiu vender 4.400 mísseis para 14 países. Custava cerca de US$44.000 cada na época. A produção terminou no fim da década de 70. Foi empregado pela África do Sul, Argentina, Austrália, Brasil, Colômbia, Egito, Espanha, França, Gabão, Israel, Líbano, Paquistão, Suiça, Venezuela e Zaire.

O R.530 não teve muito sucesso operacional. Foram apenas três vitórias: um MiG-19 egípcia derrubado por um Mirage IIICJ israelense; e um Hawker Hunter e um Su-7 indianos derrubados pelos Mirage IIIEP paquistaneses no conflito de fronteira de 1971. A Argentina usou em 1982 sem sucesso contra os Sea Harrier britânicos. Comparado com mísseis da época como o Firestreak, Red Top, AIM-4A/D e AIM-7D/E não era tão ruim, mas na década de 70 já estava completamente superado.


Os mísseis ar-ar Matra R530 recebidos pela FAB junto com os primeiros Mirage IIIE/DBR não estão mais em serviço. A FAB recebeu 16 mísseis guiador por IR e três mísseis de manejo. O primeiro disparo foi em 12 de julho de 1993 em Natal. A Venezuela descartou os seus R.530 em 1990 com modernização dos seus Mirage III.


A Força Aérea Sul Africana usou o R.530 nos seus Mirage F-1CZ. O R530 mostrou ser pouco adaptado às condições climáticas da África. Não foi usado na guerra de fronteira após os testes iniciais e foi retirado e uso. O Mirage F-1CZ podia levar dois mísseis nos cabides internos, mas voava normalmente com apenas um no centerline (foto).


O R.530 saiu de serviço na Espanha em 1987. O Mirage F-1 levava um par, cada um com um sensor.


A marinha francesa parou de usar o R.530 nos seus F-8 Crusader em 1981. O míssil apresentava uma taxa de falha de 65%. Os eletrônicos a válvula não suportavam os pousos nos porta-aviões por muito tempo. A Marinha francesa retirou seus R.530 de serviço apos vários explodirem logo após serem disparados.


A carenagem do radar tem formato semelhante ao do sensor IR. O formato não favorece a aerodinâmica.

Super 530



O Super 530F tem um nome semelhante ao R.530, mas é um projeto completamente novo.
O projeto iniciou em 1968 para um requerimento de míssil para interceptar bombardeiros rápidos a grande altitude. O Super 530F-1 foi desenvolvido a partir de 1971 para substituir os velhos R.530 nos Mirage F-1C. O primeiro vôo com o sensor AD26 da Dassault Electronique (agora Thales) foi em 1972.  O primeiro vôo controlado foi em 1973. O primeiro teste guiado em 1974. O primeiro  disparo do Mirage F1 foi em 1976 seguido de um contrato de compra em 1977. O testes reais incluíram um alvo AQM-37A supersônico destruído em 1978. Entrou em serviço em 1980 no Mirage F1 com disparo a partir do Mirage 2000 em 1981.

O Super 530F é considerado equivalente ao AIM-7F com eletrônicos de transistores e sensor de varredura cônica. Era muito susceptível a interferência mas com aerodinâmica e desempenho superior com boa aceleração e velocidade final. O alcance era de 35km (prático de 25km), mas as primeiras versões do Cyrano IV só acompanhavam alvos a cerca de 40km. Podia engajar alvos voando a 6000 metros mais alto que a aeronave como os MiG-25 que o Mirage F-1 não podia acompanhar.

O Super 530F é caracterizado pelas asas de baixo aspecto. O Super 530 pesa 245kg, tem um comprimento de 3,54 metros, um diâmetro de 26,3 cm, envegadura de 64 cm nas asas e 90 cm na cauda.

O Super 530F usa um motor foguete sólido SNPE Angele a base de Butalane (composto CTPB) de dois estágios. O primeiro estágio acelera o míssil em dois segundos com empuxo de 3.874kg e sustenta a velocidade por quatro segundos com 2.550kg de empuxo. O míssil é acelerado a até Mach 4,6. A bateria elétrica mantém o míssil funcionando por até 60 segundos. A ogiva Thompson-Brandt pré-fragmentada de 30kg tem raio letal de 20 metro e é acionada por um espoleta radar ou contato.

O Super 530D (Doppler) foi a última versão. A forma externa é semelhante ao
Super 530F mas é mais comprido com um novo radome para receber um novo radar e um motor mais potente. O peso também é maior ou 270kg. Entrou em serviço em 1984 e será substituído pelo Mica e Meteor. Foi desenvolvido para o Mirage 2000 equipado com o radar RDI Pulso-Doppler bem mais capaz que o Cyrano e com capacidade de detectar e atacar alvos voando baixo. O sensor radar semi-ativo Super AD.26 é reprogramavel com processador digital. A ogiva pesa 27kg. O alcance foi aumentado para 40km com novo motor mais potente e velocidade final de mais de Mach 4. Podia engajar alvos voando a 10.000 metros acima ou abaixo da aeronave. É considerado equivalente ao AIM-7M com eletrônicos digitais e sensor menos susceptível a interferência. O desenvolvimento foi iniciado em 1979, com os testes iniciados em 1984 e entrou em serviço em 1986 no Mirage 2000.


A Espanha recebeu o Matra Super 530 F-1 junto com os seus Mirage F-1 e com 13 Mirage F-1 adquiridos do Qatar (40 mísseis).

Foram fabricados 2.390 mísseis Super 530 comprados pela Espanha, França, Grécia, Iraque, Kuwait, Líbia e Marrocos. Está em uso nos caças Mirage F-1 e Mirage 2000. A Índia integrou o míssil nos seus MiG-29.

No conflito de Kosovo os Franceses relatam ter descartado 18 mísseis Super 530D após voaram durante o conflito todo e perderem a validade. O custo estimado foi de US$682 mil cada.

Em 2005 a FAB anunciou a compra de 12 Mirage 2000C/B de segunda mão da Força Aérea Francesa equipados com o radar Thomson-CSF RDI Serie J2. O armamento incluído no pacote inclui 10 mísseis Matra Super 530D (mais 4 de treinamento) e 22 Matra Magic 2 (mais 6 de treinamento).

O Super 530 foi usado em combate na Guerra Irã-Iraque na década de 80. O Iraque afirma que conseguiu 36-37 vitórias em cerca de 100 disparos com o Super 530 contra aeronaves do Irã. Este número é maior que todos as vitórias dos Mirage com todas as armas de 1981 a 1988. As vitórias confirmadas entre 1982 e 1988 dos Mirage F.1EQ foram 11 usando os mísseis Super 530D/F. Foram seis F-4E, um F-5E, um C-130 e três F-14A.

No final de 1987 o Iraque recebeu 12 caças Mirages F-1EQ-6 junto com o Super R.530D e sistemas de guerra eletrônicos para tentar contrapor a ameaça dos F-14 Tomcat iranianos. Em fevereiro de 1988 um F-14 enfrentou oito Mirage F-1. O Tomcat atingiu dois Mirages com o Sidewinder mas foi atingido por um Super R530D e por um Matra R550. Mesmo danificado, o piloto conseguiu retirar o avião da zona de combate e regressou ao Irã até perder o controle e cair. Os tripulantes ejetaram.

A segunda vitória dos Mirages contra os Tomcats foi em 19 de Julho de 1988 quando quatro Mirages interceptaram dois Tomcats e conseguiram usar contramedidas eletrônicas contra o radar do Tomcat e impedindo o uso dos AIM-54 e Sparrow. Os dois Tomcats foram abatidos por mísseis Super R530D. Esses dois episódios não foram os únicos encontros e nos outros os Mirages F-1 foram derrotados. A guerra acabou logo depois e não se sabe qual seria o resultado se ocorressem novos combates.

Em um combate um RF-4 do Irã foi interceptado por dois MiG-25 e oito Mirage F-1. O Phantom voava a Mach 1.2 a grande altitude e os MiGs vinham dos dois lados a 15-40 graus em relação ao nariz. Os MiGs abriram fogo a 80km com todos mísseis, e pelo menos quatro R-40 erraram passando atrás do Phantom. Depois os Mirages atacaram a curta distância disparando oito Super 530F-1 com um acerto.


Um Super 530 sendo disparado de um dos protótipos do Mirage 2000.

R-530
Os Mirage 2000C peruanos foram os primeiros caças sul americanos armados com mísseis ar-ar de médio alcance.

Um Super 530 em um Mirage 2000H indiano. A aeronave também está equipada com um casulo designador de alvos ATLIS uma bomba guiada a laser BGL-1000 (foto B. Harry).


Um Mirage 2000 grego equipado com um Super 530. O Super 530D tem um motor de empuxo duplo que queima por oito segundos.

R.530
Comparação entre o R.530, o Super 530D e o Super 530F.

 

Super 530 em um F-2000 da FAB.

Atualizado em 15 de Novembro de 2007


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