V-3A, V-3B, V-3C e U-Darter

A África do Sul tem uma história de projetos de armas próprias e inovações, motivada pelo embargo internacional contra o Apartheid na década de 70 e 80 e devido as guerras demoradas contra forças apoiadas pelos russos em Angola durante o Conflito de Fronteira. A África do Sul também recebeu ajuda clandestina principalmente de Israel. A África do Sul acabou desenvolvendo e operando uma linha de mísseis ar-ar testados em combate.

O primeiro míssil usado pela Força Aérea Sul Africana foi o Matra R.550 Magic seguido do R.530. Também usou alguns AIM-9B. A Guerra de Fronteira mostrou que seus mísseis eram pouco capazes e deviam ser substituídos. O R.550 mostrou ser ineficaz no conflito de fronteira e o embargo forçou o desenvolvimento de um míssil local.

O projeto foi iniciado em 1969 pela NIDefR (National Institute of Defence Research) com engenharia reversa do sensor do Sidewinder. A ameaça de mísseis soviéticos como o AA-8 Aphid e AA-7 Apex que equipavam os MiG-23ML cubanos era outro problema. O efeito foi positivo pois os requerimentos de novos mísseis ar-ar sul-africanos estavam 10 anos à frente de outros países. Capacidade todo aspecto, super manobrablidade, imunidade a contramedidas IR e longo alcance eram considerados essenciais.

O primeiro míssil ar-ar projetado na África do Sul foi o V-1 que usava a cabeça de busca do Sidewinder. O míssil V2 já parecido com o R.550 e foi desenvolvido pela Kentron (agora parte da Denel). A partir dele surgiu o V-3A no fim da década de 60 e que entrou em operação em 1972.

V-3A

Em 1969, A Força Aérea Sul Africana queria um míssil mais manobrável que o AIM-9B Sidewinder. O V-3A foi o primeiro míssil local baseado no R.550 Magic I. O desenvolvimento começou em 1971. O primeiro acerto nos testes foi em 1972 e entrou em produção em 1973. Foram construídos 20 mísseis até 1975. O V-3A foi o primeiro míssil apontado por capacete em uso operacional. Porém, o sensor estava limitado a um ângulo de busca de 30 graus (off-boresigth) e só podia ser disparado em manobras de baixo G. Foi integrado no Mirage F-1AZ, Mirage III e Atlas Impala. O V-3A foi usado até 1978 (ou 1982 segundo outra fonte). O Mirage F-1CZ usou o Magic I até 1988.

V-3A
V-3A (e o V-3B) usa controle tipo "twist-to-turn" com canard móveis. Tinha forma similar ao R.550 Magic francês e provavelmente era uma versão simplificada com melhorias. Os mísseis sul-africanos aumentavam progressivamente de tamanho e peso. A qualidade também. O V-3A chegava a se desmanchar no cabide quando o caça fazia manobras de mais de 6 g's.

V-3B Kukri

Os trabalhos com o desenvolvimento do V-3B foram iniciado em 1975 após perceber que o envelope do V-3A estava limitado devido às limitações de movimento do sensor. O sensor IR do V-3A podia ser enganado por flares e calor no solo o que limitava o disparo a baixa altitude. Não tinha bias contra fumaça do motor e explodia prematuramente. Vários foram disparados durante a guerra de fronteira sem nenhum acerto

O novo míssil teria um sensor mais sensível com capacidade off-boresight de 34 graus, mas ainda restrito ao engajamento traseiro. Tinha melhor descriminação e maior capacidade de contra-contramedidas IR. O motor seria mais potente e o alcance era de 2-4 km e atingia uma velocidade de Mach 2,5. Outra fonte cita que o míssil é acelerado a 500m/s acima da velocidade da aeronave lançadora e tinha alcance mínimo de 300m e máximo de 4 km.

O sistema de controle era por canard em dupla e não um arranjo cruciforme.
O míssil era capaz de sustentar uma curva de 25 g´s e picos de 35g´s. O limite de lançamento da aeronave era de 7g´s, teto de 50 mil pés e velocidade de Mach 1.8. O desempenho era comparável com AIM-9H/J Sidewinder. O míssil podia ser apontado pelo capacete e os controles ficavam na manete de potência e coluna de comando da aeronave com alguma capacidade HOTAS. A ogiva de 12kg tinha explosivo de Torpex e era acionada por uma espoleta IR de proximidade.

A produção foi iniciada em 1979 e entrou em serviço em 1981. A produção foi terminada em 1985 com 450 mísseis produzidos. Era o míssil padrão do conflito de fronteira com algumas vitórias. Foi todo desenvolvido do zero devido ao embargo. O V-3B equipava os Mirages III e F-1AZ, Impalas e depois os Cheetahs.

A versão de exportação era conhecida como Kukri e foi exibida pela primeira vez em 1982. A versão de exportação oferecida na década de 90 era apontada por mira no capacete e recebeu um novo sensor, motor e espoleta, mas não foi usado na Força Aérea Sul Africana.

O desempenho do V-3B Kukri durante o conflito de fronteira foi desanimador. Apenas um An-26 foi derrubado em 1985 (confirmado) e três MiG-23ML foram atacados e/ou danificados entre 1987 e 1988. Dois MiG-23ML foram danificados em 1987 pelos R.550. As aeronaves que dispararam os mísseis eram os Mirage F-1AZ ou F-1CZ. Durante o Conflito de Fronteira com Angola entre 1978 a 1988, os Mirage sul africanos voaram 683 saídas em 144 incursões. Mais de 100 mísseis SAM foram disparados e apenas um Mirage foi derrubado. As defesas aéreas eram consideradas de alta intensidade com cobertura radar inimiga em quase todo campo de batalha (dezenas de radares) e sem cobertura própria. Isto resultou no desenvolvimento de táticas modernas de vôo a baixa altitude e testaram novas camuflagens. Também resultou no desenvolvimento de ECM e RWR locais.

V-3B
V-3B em um Mirage F-1.

V-3B
Míssil V-3B de manejo. O míssil lembra o Magic francês, porém era mais comprido, fino e leve.


Foto da câmera de combate de um Mirage F1 sul-africano mostrando o disparo de um V-3B contra um MiG-21. A foto parece ter sido tirada em 1985 e com a provável derrubada da aeronave.


Disparo de um V-3B a partir de um Mirage F-1AZ.
A África do Sul equipou seus caças com uma mira no capacete (HMD) de projeto local que usa rastreamento eletrônico. O primeiro modelo apareceu em 1962 e tinha capacidade "off-boresight" de 42 graus.

V-3B
Um helicóptero Atlas XTP-1 armado com um V-3B no cabide das asas.


V-3C Darter

O V-3C Darter era uma versão ainda maior e pesada da série para equipar os Mirage III, Mirage F1 e Cheetah. O desenvolvimento foi anunciado em 1983 com o míssil sendo revelado em 1988. O V-3C é considerados um míssil de terceira geração com capacidade “all-aspect" e como tendo desempenho semelhante ao AIM-9L/M, Magic 2 e Python 3. A forma também é um pouco diferente das versões anteriores sendo mais curto e com maior diâmetro.

O míssil tem duas seções. A dianteira contém os componentes eletromecânicos do sensor IR, piloto automático e espoleta a laser. Na seção traseira fica a ogiva e o motor.

O novo sensor de banda dupla era bem mais sensível com capacidade "all-aspect" e consegue distinguir entre aeronaves e flares. Um novo algoritmo aumentava as chances de acerto. O alvo podia estar a 15 graus do sol ou com o sensor olhando para baixo. O míssil tinha capacidade de aquisição de alvos automática, maior ganho de navegação com bias de guiamento terminal.

O sensor tem ângulo de acompanhamento de 55 graus com processador de imagem para filtrar dados como flares e ruído de fundo. O tempo de reação também melhorou. Um tom audível retroalimentava o piloto com os modos de aquisição: CAGE, boresigth e HMD. O míssil só busca alvos em um cone de 20 graus no HUD ou HMD. O modo de varredura autônoma é feita em um cone de 14 graus.

A manobrabilidade também foi melhorada assim como o alcance com o novo motor sólido de base dupla. O novo míssil tinha capacidade de suportar 35g´s. O Darter era similar ao Magic e usa elevons ao invés de canards móveis como no V-3B. Era apontado pelo HMD. Tinha espoleta por contato e laser que acionava uma ogiva fragmentada de 16kg (10kg de explosivos Torpex 2A ou RDX/Katron) com raio letal de 7 metros e equipada com balins de tungstênio.

O motor de base dupla acelera o míssil a até 650m/s acima da velocidade da aeronave. O alcance mínimo é de 300m e o máximo de 5km. A aeronave lançadora podia disparar o míssil a uma velocidade de 600m/s.

O míssil V3C faz parte de um sistema que compreende seis unidades incluindo o míssil; lançador que fornece apoio elétrico e refrigerado para o sensor; o HMD do piloto; unidade de referência; pré-amplificador que fornece dados de atitude do IMU e HMD e converte em comandos de direção para o sensor do míssil.

O V-3C foi produzido a partir de 1986 e entrou serviço em 1990. Ainda é usado no Impala Mk III. O seu desenvolvimento parou em favor do U-Darter que é a versão final.

V-3C
O V-3C usa a interface do Magic. Foi integrado no Mirage F1 e Cheetah, além do Puma e Rooivalk.

U-Darter

O U-Darter (Upgraded Darter) é V-3C melhorado para equipar o caça Cheetah. A produção foi iniciada em 1994 e entrou em operação em 1997. Usa um sensor de banda dupla de Antimoniato de Índio. Está equipado com um processador mais avançado, piloto automático digital, ogiva melhorada e motor mais potente. O míssil suporta curvas de 55 g´s e tem capacidade off-boresight de 56 graus. É apontado nos modos boresigth de 3 graus, CAGE, autovarredura (SCAN) com campo de busca de 100x100 graus com velocidade de busca de 120º/s, e modo AIM apontado pelo HMD ou radar. O HMD pode ser o Hermes ou Guardian. Um novo processador de sinais permite distinguir a fuselagem do jato do motor. O motor queima por dois segundos e dá um alcance mínimo 400m e máximo de 8km. O U-Darter usa barramento 1553B e o lançador pesa 38kg e pode receber um processador de tiro que pesa 3,8kg para as aeronaves que não tem barramento.

Tabela: Dados técnicos dos mísseis ar-ar sul africanos de curto alcance


V-3A
V-3B
V-3C
U-Darter
Comprimento (m)
2,95              
2,95            
2,75             
2,93              
Diâmetro (cm) 12,7 12,7 15,7 16,0
Envergadura (cm) 53 66
66
66
Peso (kg)  73,4 74,2 89,0 17
Ogiva (kg) 12 
12
16 17
Alcance 4km 0,3-4,0 km 0,3-10km 0,3-10km
Velocidade Mach 2
Mach 2+ Mach 2 
Mach 2,5  
Off-Boresight 30
34
55
56
Limite disparo (g)
baixo
7
-
-
Manobra (g)
-
25-35
35
55
Engajamento
tail aspect
tail aspect all aspect all aspect
Entrada em Serviço
1973
1981
1990
1997

Durante a Guerra de Fronteira com Angola o V-3B tinha baixo desempenho e o V-3C era novo e estava com problemas de atrasos no desenvolvimento. Assim, a África do Sul comprou mísseis Python 3 de Israel em 1989 como arma provisória. Era chamado de V-3S Snake para despistar e equipava os Mirage F1CZ. A África do Sul também comprou 18 mísseis R-73 russos (AA-10 Archer) para avaliação e decidiu testar e integrar no Mirage F1 em 1993. Os testes foram com o MiG-29 disparando contra drones MiG-21. Apesar do sucesso, a Armscor decidiu continuar com o desenvolvimento do V-3C e usar o V-3S provisoriamente e que foram considerados inferiores ao R-73.


O U-Darter era uma versão melhorada do V-3C Darter.


Teste de um U-Darter a partir de um Mirage F1.

U-Darter
Teste de um U-Darter a partir de um Mirage F1.


Parte frontal de um U-Darter mostrando as janelas da espoleta de proximidade a laser.

Atualizado em 30 de Janeiro de 2007



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