Táticas das Operações Aéreas

O conceito de operação contra a SWAPO era usar meios de Inteligência como fotografia aérea, escuta de rádio e informações de guerrilheiros capturados para localizar as bases da SWAPO. As tropas dos Recces podiam fazer um reconhecimento aproximado no local antes da base ser atacada pelo ar e/ou por terra.

Os ataques contra as bases temporárias na mata eram sempre difíceis e tinham que ser encontradas com reconhecimento fotográfico ou por tropas de reconhecimento em terra. Os Recces tinham que ser inseridos para determinar as dimensões os limites do campo. Uma forma de indicar alvos para as aeronaves de ataque era usar as equipes dos Recces plantavam sistemas RAMS (Radio-Activated Marker System) próximo a base detectada. O RAMS era instalado antes do amanhecer, antes do ataque aéreo. O equipamento deve estar bem escondido do inimigo pois as antenas eram altas.

Durante o ataque dos Mirage F1AZ, o líder da formação acionava o RAMS por controle remoto de dentro da cabina. O RAMS lançava um flare para marcar a posição do alvo ou seria impossível detectar a base no meio da mata. Os pilotos chegavam a baixa altitude e na subida antes do ataque acionavam o equipamento. A fumaça ajudava a indicar a posição do alvo.

Se o alvo fosse atacado depois do ataque aéreo por tropas em terra, as tropas eram posicionadas a 1-2 km do alvo por segurança. No silêncio da selva qualquer barulho era fácil de ouvir com o risco dos terroristas fugirem. O barulho dos rotores dos helicópteros também podia ser ouvido minutos antes de chegarem. Tropas levadas pelos Pumas faziam ponto de bloqueio e levavam tropas de reserva. As tropas criavam uma base avançada (mini-HAG) próximo da área de operação para apoiar os helicópteros. Durante o ataque por terra coletavam mais informações a partir de documentos, material e prisioneiros capturados.

A maior parte da Inteligência vinha de fotografia aérea, sendo o melhor meio e certamente o mais convincente, sempre para construir o quadro geral do inimigo como a disposição e intenções das tropas. Se a base foi identificada com fotografia aérea então havia grandes chances de estar desocupada pois as fotos demoravam a ficarem prontas, serem interpretadas e as informações serem repassadas. Até o ataque ser realizado já podiam estar desabitadas. As bases temporárias na frente eram usadas por poucos dias. A SWAPO aprendeu bem cedo a se mover com frequência pois o bom soldado não fica no mesmo lugar mais que o necessário.

Entre 1972 a 1974, os sul-africanos fizeram muito reconhecimento fotográfico sobre Angola, com os Canberras do Esquadrão 12 cobrindo todas as possíveis áreas de operação. Os portugueses ajudaram e a Rodésia, Moçambique e Zâmbia faziam parte das áreas cobertas. Os mapas criados eram usados para os pilotos navegarem, mas os rios e pequenas lagoas usadas como referência podiam ficar inundados entre fevereiro e abril, se tornando inúteis. Aeronaves leves como o Cessna 185 também tiravam fotos em missões de reconhecimento visual próximo a fronteira com Angola.

Os mapas e as interpretações das fotos eram feitas pelo Joint Air Reconnaissance and Intelligence Centre (JARIC) em Waterkloof. Tentaram tirar fotos com visão estereoscópicas pois as imagens com formas regulares só podiam ser feitas por humanos. As trilhas de pegadas e veículos eram fáceis de detectar quando desapareciam em um matagal fechado, indicando que havia uma possível base no local.

As escutas de rádios eram usadas para determinar os Postos de Comandos e as bases principais da SWAPO. Os Postos de Comandos eram caracterizados pela grande quantidade de transmissão e pelo conteúdo das mensagens. Os DC-4 Spook e o DC-3 Casper equipados com sistemas eletrônicos eram usados para coleta de informações eletrônicas (COMINT e SIGINT). Eram capazes de determinar a ordem de batalha inimiga, incluindo os radares.

Os aeronaves usadas para reconhecimento eram bem variados. A SAAF usou os Cessna 185, Bosbok, Impala, Mirages III e F1AZ, Buccanner e Canberras. O reconhecimento podia ser a baixa altitude até grande altitude, nos modos visual, reconhecimento armado, fotografia manual, vertical, traseira, obliqua e reconhecimento eletrônico.

O Esquadrão 2 (Esquadrão Cheetah), equipado com o Mirage IIIIRZ e Mirage IIIIR2Z, realizavam as missões de reconhecimento tático desde 1973. As missões de reconhecimento tático precisavam de um planejamento bem detalhado e precisão no voo. Os pilotos consideravam a hora do dia, a posição do sol, comprimento da sombra, tudo planejado meticulosamente para garantir cobrir com fotos todos os alvos. Geralmente as fotos tinham excelente qualidade. Voando com escolta de caças os pilotos de reconhecimento podiam se concentrar melhor no seu trabalho. As mudanças rápidas de direção e altitude para posicionar a câmera dificultava o trabalho das escoltas. Escoltar os Mirage IIIRZ era difícil pois voavam muito baixo a 500 knots e a camuflagem os deixava difícil de ver.

A primeira missão dos Mirage IIIRZ em Angola foi em 14 de maio de 1976. Quatro Mirage IIIR2Z foram deslocados para Ondangwa. Dois Mirage F1CZ escoltariam dois Mirage IIIR2Z, o que depois virou um padrão, devido a presença de caças MiG-21 na área de operação. A saída cobriria a rota de Menonque, Kuchi, Kuvango, Matala, Lubango e Namibe de leste a oeste. Um terço seria coberto em cada missão. A primeira saída foi voada em 16 de maio e outras duas em 17 de maio. Os Mirage IIIR2Z tinham alerta radar (RWR) e foram trancados por radares de guiamento de mísseis e logo realizaram manobras evasivas. As fotos mostraram que Angola recebeu baterias de mísseis SA-2 e SA-3 e queriam saber o motivo. Dois meses depois realizaram novas missões em Moçambique e na Rodésia.

Em 5 de março de 1979, os Mirage do Esquadrão 2 foram deslocados para Ondangwa. Fariam uma missão de reconhecimento na base de Ongiva, 50km ao norte da cut-line, que tinha sido danificada ao ser perdida nas lutas da UNITA com a MPLA. Foi retomada e podia estar operando MiGs. A missão seria na tarde do dia 6 de março com dois Mirage R2Z voando a baixa altitude e subindo para mil pés acima do solo pouco antes de entrar na área do alvo para dar uma melhor cobertura. Os Mirages voaria a 540 knots (mil km/h), ou nove milhas por minuto. Não tiveram oposição devido a surpresa pois a base foi sobrevoada depois do almoço. Não detectaram nada e repetiram a missão no dia seguinte pela manhã. As 8h30min, sobrevoaram a base e dessa vez foram atacados e viram traçante. As fotos mostraram as metralhadoras 14,5 mm atirando.

No dia 11 de março de 1979, os Mirage IIIRZ voaram uma missão de reconhecimento a grande altitude em Xangongo com cobertura do radar Dayton. Foram alertados de contatos no ar. Os Mirage não estavam armados e logo voltaram para a base bem baixo e rápido.

No dia 6 de julho de 1979, um Mirage IIR2Z fazia avaliação de danos de batalha após um ataque contra a estação de rádio em Ongiva. Conseguindo surpresa, os Impalas que atacaram primeiro, não atraíram fogo de artilharia antiaérea. Após o ataque dos Mirage F1AZ, um Mirage R2Z sobrevoou o alvo atacado e foi atingido. A aeronave ficou sem eletricidade não podendo nem usar o rádio. Continuou voando baixo até sair da cidade para tentar voltar a Ondangwa. Subiu a 8 mil pés e estava a 12 km da cidade e a 500 knots e virou para o sul. A aeronave perdeu os sistemas hidráulicos e o piloto ejetou. Os Impalas viram o pára-quedas e avisaram ao voltarem para a base. O pilotou caiu a 100 metros do Mirage derrubado e fugiu para o sul procurando um bom lugar para pouso de helicópteros. Ligou o beacon Pelba para indicar que estava bem e um Impala decolou sem autorização e foi atrás. O piloto fez contato com o piloto em terra e a fumaça do Mirage pegando fogo era usada como referência. O Impala viu um caminhão indo em direção da aeronave caída e atacou. O Puma pousou, pegou o piloto e foi atacado por guerrilheiros próximos sem sobrer baixas. 


Foto tirada por um Mirage IIIIRZ da base aérea de Ongiva. Os reparos na pista estão facilmente visíveis assim como uma linha de trincheira com peças de artilharia antiaérea. No canto superior esquerdo é possível ver círculos brancos da artilharia disparando no Mirage.


Imagem de reconhecimento aéreo de uma base da SWAPO em Angola. O analista conseguiu identificar até quatro pessoas na foto. Os analistas preferiam as fotos em preto em branco ao invés das coloridas.


Os analistas passavam horas analisando imagens até encontrar uma como está com as trilhas levando até uma mata onde possivelmente existe uma base de guerrilheiros. Até um poço de água está visível na parte inferior assim como uma estrada para veículos está entrando na mata.


Foto de longo alcance tirada por um Buccaneer da ponte no rio Cuito antes de ser atacada por bombas guiadas H2. A mira estava desalinhada e tiveram que voltar para fotografar novamente.


Foto da ponte do Rio Cuito da segunda saída de reconhecimento.

Durante a Operaçao Rekstok III, em 1982, os Canberras fariam mapas de Angola enquanto os Mirage IIIRZ tirariam fotos de pontos específicos. As missões eram escoltadas pelos Mirage F1AZ. Os Canberras eram escoltados por várias duplas de Mirage cobrindo períodos específicos devido a menor autonomia.

Os Impalas também faziam reconhecimento fotográfico. Em junho de 1983, testaram a aeronave contra um campo guerrilheiro falso para treinar os analistas de imagem. Também testou com sensor infravermelho. A guerrilha logo aprendeu que os voos de reconhecimento eram precursores de ataques.  

Em 22 de julho de 1982, os DC-4 de escuta eletrônica voltaram a operar avançados. Checariam as transmissões da área de Namibe.

Os Buccaneers também faziam reconhecimento tático. O equipamento original tinha sido perdido com as quedas anteriores e desenvolveram um sistema com equipamentos dos Mirage IIIRZ, assim como a mira da câmera. Foi desenvolvido uma câmera de longo alcance (LOROP) com alcance de 10 km. O perfil da missão era penetração a baixa altitude a 500 knots, subida rápida até 30 mil pés, depois tirava fotos por 30 segundos a 20 mil pés. Depois o piloto invertia e mergulhava para a segurança da baixa altitude. O casulo ficava montado no paiol rotativo para diminuir o arrasto.

Em 8 de dezembro de 1985, um único Buccaneer realizou uma missão LOROP da ponte de Cuito-Cuanavale e de concentrações de tropas ao redor. Em agosto de 1986, uma missão de reconhecimento de dois Buccaneer detectou vários Su-25 em uma base Angolana próximo a Namibe durante a operação Shanty. A base estava protegida por artilharia antiaérea e mísseis SA-3. Dois Pumas forma deslocados para Virei com os Parabats em alerta SAR. Cada Buccanner levava um casulo LOROP no compartimento de armas. O perfil seria com penetração a baixa altitude e uma subida para 21.700 pés acima do nível do solo no último minuto. Esta altitude permitiria um alcance de 12 milhas da base com ângulo de 16 graus. Ficariam longe da artilharia conhecida. O alvo estava coberto por nuvens até 2.500 pés então subiram só até 2 mil pés. O alerta radar se manteve silencioso devido a surpresa.

Na Operação Bernico, nos dias 3 e 4 de setembro de 1986, os Mirage IIIR1Z fizeram escuta eletrônica voando paralelo a cut-line para excitar e gravar as emissões dos radares angolanos. Foram escoltados por dois Mirage IIIICZ. 

O sistema de alerta radar Compact Radar-Warning Receiver (CRWS) dos Mirage F1AZ também podiam auxiliar nas missões de Inteligência eletrônica. Entre 28 e 30 de junho de 1987, quatro Mirage F1AZ foram para Grootfontein para realizar voos de escuta eletrônica. Dois Mirage F1AZ voaram baixo até o nordeste de Cuito-Cuanavale depois virando para o sudeste e subiram para 2 mil pés passando ao sul da cidade. O CRWS gravou as emissões de radares de mísseis SA-3 e SA-8 no local e depois mergulharam rápido antes dos mísseis dispararem.

No dia 11 de outubro de 1987, um Buccaneer voou outra missão de reconhecimento contra a ponte de Cuito-Cuanavale. A missão ocorreria ao mesmo tempo em que outros Buccaneer e Mirage F1AZ atacariam alvos em Lomba e Cuito-Cuanavale. A ameaça de MiG-23 patrulhando o local era alta. Durante a missão, o Buccanneer desviaria do alvo e no IP viraria para a esquerda se aproximado do alvo pelo nordeste, acelerando a 580 knots e voando a 100 pés acima do solo. As montanhas em Chambinga cobririam a aproximação dos radares em Cuito-Cuanavale até os últimos minutos. A foto seria obliqua a 10 graus para abaixo. A mira do casulo LOROP ajudava na foto, mas era difícil usar até em treinamentos. O silêncio de rádio tinha que ser total, mas os tripulantes do Buccaneer podiam conversar entre si na cabina. No PUP puxaram 4 g's e a 2.500 pés inverteram para mergulharam e nivelar a 5 mil pés acima do solo com o casulo LOROP pronto. Doze segundos depois deveria terminar a manobra. O RWR indicou sinais de SA-8 e SA-3, mas não era no modo de disparo, apesar de poderem alertar os MiG-23. Alinharam a mira com a ponte, fotografaram e logo mergulharam. O RWR aumentou a atividade, mas já estavam já indo para sul seguidos das aeronaves de ataque. A foto não foi tão boa e tiveram que repetir a saída no dia primeiro de outubro. Perceberam vibração e por isso a mira da câmera estava a 12 graus e não 10, mas dessa vez a foto estava perfeita. 

Os navegadores do Buccaneers também eram especialistas de guerra eletrônica. Um dos Buccaneer da SAAF recebeu o novo modelo de alerta radar CRWS que tinha capacidade de gravação de dados. Todo sinal detectado e suas características eram gravados. Depois da missão era possível analisar os dados gravados do alerta radar para auxiliar na Inteligência. O navegador repetia os alertas e a cada evento marcava a direção da aeronave, tipo de alerta, direção, frequência, ritmo de repetição de pulso e potência do sinal. Colocando os dados em um mapa de navegação podiam triangular a posição de qualquer radar detectado durante o voo. Cruzando os dados com várias aeronaves podiam ter uma Inteligência precisa das posições de radar, artilharia antiaérea guiada por radar e sites de mísseis SAM.

Nos briefings a Inteligência cita as posições das ameaças e quando diferiam combinavam com a posições dos navegadores dos Buccaneer com as derivadas dos Mirage F1AZ. Geralmente as informações dos Buccaneer estavam certas para o caso de SAM escondidos na mata. Em uma missão contra uma ponte, a posição de um SA-8 dado pela Inteligência e do sistema do Buccaneer diferiam em 500 metros. Um piloto de Mirage mudou o ponto de disparo para a posição do SA-8 indicada pelo Buccaneer e o atacou com oito bombas pois era o primeiro na área do alvo. Ao se aproximarem do alvo, o RWR dos Mirage logo alertou sobre as emissões do SA-8. Foram disparados três "sticks" no alvo e outro 500 metros fora do "alvo". O grupo de bombas que "errou" o alvo principal "calou" os RWR na hora.

Na operação Assassin, iniciada em 2 de junho de 1988 até fim do ano, era um programa voos de reconhecimento eletrônico cobrindo o sul da costa Angolana com os Boeing 707 e DC-4. As aeronaves detectaram novas posições de mísseis SA-2 em Xangongo e SA-6 em Techipa. As equipes em terra tinham interpretes portugueses e espanhóis, protegidos por tropas do Batalhão 51. As equipes em terra  confirmaram a presença de uma base de jatos em Cahama ao ouvirem as conversas dos pilotos cubanos.


Um Boeing 707 de reabastecimento e reconhecimento eletrônico da SAAF. A foto foi tirada depois da guerra pois está sendo escoltado por caças Cheetah.

Táticas de Ataque Aéreo

Para ter superioridade aérea e poder operar sobre Angola, a SAAF usava não só o combate aéreo, derrubando o inimigo no ar, mas também uma série de táticas para evitar e sobreviver as defesas inimigas durante as missões de ataque.

As operações começavam com o encobrimento do deslocamento de caças para pistas avançadas, para não dar alerta de ataques. Havia suspeita de informantes no subúrbio de Pretória, a base do Esquadrão 1 operando com os Mirage F1AZ, informando sobre a decolagem de aeronaves armadas. Um caça em configuração de ataque fica muito mais pesado e por isso usa o pós combustor por mais tempo, ao contrário dos caças em configuração de treino que decolam rapidamente. Para encobrir os caças decolavam aos pares, sem cargas externas, e se encontravam em outra base. Decolavam em configuração limpa com o C-160 levando as bombas, mísseis ar-ar e tanques extras. Podiam ir para base de treinamento de tiro e depois seguiam prontos para a base na linha de frente.

O planejamento de missão ajudava em muito no sucesso. No Planejamento de Missão os pilotos discutem manobras, altitudes, formação, tática e os meios usados para o busca e salvamento. Os pilotos experientes só voavam com boa Inteligência enquanto os novatos não percebiam o problema e se arriscavam em algumas missões perigosas. No fim das operações os esquadrões receberam a estação planejamento missão SSU (Station Selector Units) capaz de passar os dados direto para o sistema de navegação da aeronave. O sistema manual anterior era muito trabalhoso.

Voando sobre o território inimigo, os caças voavam em áreas desabitadas e evitavam locais com defesas fixas, com a Inteligência de Sinais (SIGINT) ajudando a identificar estes locais. Voavam muito baixo e rápido sabendo onde estavam as posições de radar. O alerta radar indicava se estavam dentro do lobo radar e os pilotos se aproximavam ainda mais do solo. O objetivo era sempre obter surpresa para diminuir o tempo de reação das defesas.

As operações aéreas eram realizadas em total silêncio de rádio, pois o inimigo podia estar monitorando as freqüências de VHF e HF. O silêncio de rádio é um pré-requisito para evitar que o inimigo saiba que um ataque está a caminho. Caso o líder tenha pane no rádio, ele balança as asas para passar a liderança para o ala. Apenas em emergências usavam conversa aberta como nas operações de resgate pois a surpresa já estava mesmo perdida. Antes as defesas aéreas podiam ser alertadas e a surpresa seria difícil de ser conseguida.

A base de todas as operações jatos é a capacidade de voar uma formação impecável em todas as condições. Já na Primeira Guerra Mundial foi percebido que os aviões eram uma presa fácil no campo de batalha. Então armaram as aeronaves rapidamente. Como o combate frontal levava a colisão e um ataque pela lateral era difícil, então o ataque por trás era a solução mais prática, principalmente se aproximando por baixo para conseguir surpresa. A proteção contra um ataque por trás era voar em formação para defesa mútua.

Na formação em linha, as aeronaves ficavam separadas em 300 metros lateralmente, permitindo ver atrás da cauda do ala. Quando os caças passaram a ser armados com canhões a separação aumentou para cerca de 800 metros devido ao aumento do alcance dos disparos. Com os caças sendo armados com mísseis ar-ar a distância para cobertura passou para 1,5 a 2km, no caso dos primeiros mísseis ar-ar (Sidewinder e Atoll). Para complicar o inimigo podia estar se aproximando em velocidade supersônica.

A formação de batalha da SAAF era uma Divisão/Esquadrilha de quatro aeronaves voando em dois pares (elemento). O líder tem o número 2 como ala, e o número 3 é o segundo no comando com o número quatro como seu ala. Os líderes de elemento olham para a frente e navegam, com o número 3 sempre pronto para tomar a liderança se necessário. Os alas voam olhando para trás e dentro da formação defendendo a traseira da formação. A grande altitude ainda fazem separação vertical pois o inimigo terá mais dificuldade de pegar todos em uma varredura horizontal. A proteção dura até o ataque e depois tentam novamente entrar em formação para voltar para a base.


Formação de batalha padrão com quatro aeronaves com áreas de vigilância padrão (lookout). Os alas olham para dentro e para trás do outro par enquanto os lideres olham para frente e para dentro concentrando-se na navegação até o alvo. A formação de ataque deve ser próxima o suficiente para evitar múltiplas detecções pelo inimigo e afastado o suficiente para evitar várias aeronaves sendo abatidas por um único fogo inimigo.


Foto tirada por um piloto de Mirage F1AZ sobrevoando o rio Cuando em Angola, durante uma missão. Estão visíveis os tanques extras, as bombas nos cabides externos, um míssil V3 e um Mirage na ala em formação de batalha ao fundo (ponto escuro no canto superior direito).

As curvas de navegação são realizadas com o segundo par cruzando a trilha de voo do líder para terminar na traseira ao terminar a curva. Voando baixo todos voam bem baixo e nas curvas tem que subir ou descer nas manobras para evitar a turbulência das outras aeronaves. Voando baixo os pilotos geralmente tendem a virar para a esquerda pois virando para a direita tendem a ganhar altitude. Nas curvas voando baixo é quando um interceptador vê a aeronave visualmente. Cruzar serras também expõe a aeronave e o exator a um possível fogo inimigo. Então criaram técnicas para diminuir a exposição. Os pilotos da SAAF treinavam para fazer curvas sem ganhar altitude. No Buccaneer, era função do navegador olhar para trás nas curvas.


Curva de 90 graus (dog legs) na formação de batalha. A formação é mantida durante a curva e cada par cobre a traseira do outro par. Voando reto todas as aeronaves voam na mesma velocidade e usando a mesma potência dos motores, mas em uma formação os alas gastam mais combustível usando mais o pós combustor e o freio aerodinâmico para manter a posição, seguido de dog-legs para voltar a posição.

Em combate, a formação permite que o líder manobre como quiser e ainda pode usar o segundo par para cercar qualquer atacante inimigo. Todos podem assumir a liderança ao ver um alvo e controlar a situação até o líder ver o inimigo e tomar o controle novamente.

Durante a navegação, as aeronaves lentas tem muito tempo para ler mapas e fazer cálculos mentais para manter a linha de voo, mas são mais afetados pelos ventos que atrapalham a trilha de voo. Os pilotos também tem mais tempo para olhar o terreno. Quanto mais rápido maiores os erros de tempo e olhando para fora a visão é meio borrada. Um jato cobre uma milha a cada seis segundos e as rotas podem estar dimensionadas em minutos e segundos. As missões são voadas em incrementos de 60 knots para facilitar a navegação. A 60 milhas por hora serão cobertos uma milha por minuto facilitando os cálculos mentais. Após a decolagem, o líder voa a 360 knots (seis milhas por minuto) o que permite que os outros o alcancem e entrem em formação. Esta velocidade também é ideal para economizar combustível. O sistema de navegação do Mirage F1AZ criava erros de menos de uma milha por hora e tinha um mapa móvel, o que era muito útil, deixando a navegação bem simples se fosse programado corretamente.

Após cruzar a fronteira, os pilotos aceleram para diminuir o tempo reação da artilharia antiaérea e mísseis SAM. O relógio, compasso, bússola, velocidade e altitude são continuamente monitorados para realizar a missão com sucesso. Os líderes de elemento consultam cartas de navegação, ajustam a potência para manter a formação de combate, e mudam a direção constantemente para vigiar aeronaves inimigas na área. As ameaças em cada perna são avaliadas e as ameaças tendem a aumentar ao se aproximarem do alvo, então a velocidade também aumenta.

A rota é planejada com pontos de baliza (waypoint) que são pontos de navegação que podem ser avaliados no avanço. O objetivo final é chegar a um IP (Initial Point), ou um ponto de navegação bem definido para atualizar a navegação. O IP deve ficar a cerca de 12-15 milhas do alvo e deve ser de fácil identificação, mas era difícil no terreno plano de Angola. O erro no IP dava o mesmo erro no alvo. O IP também é o "hack point" onde todos ligam o cronômetro no cockpit. Todos tem que estar na direção e velocidade correta para as manobras de ataque ao chegarem no PUP (Pull-Up Point), onde o ataque começa (action point na OTAN).

Voando em formação de batalha, apenas o líder passava pelos pontos de baliza. O número 3, também responsável pela navegação, voava a cerca de 2 km de distância do líder e fazia manobras de cruzamento (crossover) para também passar pelos pontos de baliza e atualizar o seu sistema de navegação.

Os pilotos dos Buccaneers tinham boa reputação de TSO (Tempo Sobre o Objetivo). O TSO era importante nas missões de Apoio Aéreo planejadas pois era uma "janela" onde a artilharia antiaérea amiga não atiraria em quem aparecesse sobre o local. Se atrasassem podiam ser atacados por forças amigas ou atacar uma posição onde poderia ter tropas amigas que acabaram de entrar no local. Nos combates em 1985 em diante, a cidade de Mavinga era o ponto para atualizar a navegação, devido a falta de pontos de referência. Avisavam antes para alertar as unidades de artilharia antiaérea da UNITA. Em uma ocasião não avisaram e pensaram que eram MiGs.

No PUP (Pull-Up Point), o líder começa a subir puxando 4 G´s e sobe em um ângulo acentuado. Se o perfil de ataque for um bombardeio em mergulho, os caças sobem para o ponto de "roll-in", ou a altitude que permite o ângulo necessário para o alvo. Todos checam se as chaves do armamento estão ligadas pelo menos duas vezes. Cada piloto tem um alvo e uma foto para o identificar e agora dão uma olhada rápido na foto, estudada na noite anterior, e conferem cinco segundos antes de atacar. Podem citar no rádio "target visual" se encontram o alvo.

Na altitude desejada, o líder chama "roll-in left" (ou "right") e neste ponto o silêncio de rádio não é mais necessário. No "roll-in" os pilotos entram em formação em linha, com todos do lado do líder, mas em uma abertura para criar uma defasagem de eixo de cerca de 10 graus entre as aeronave na direção de ataque entre as aeronaves. Esta separação força a artilharia antiaérea a selecionar alvos individuais dispersando o fogo de barragem. Esta manobra, também chamada de ventilador (FAN), permite que os pilotos se concentrem no alvo e condições de disparo sem se preocupar com colisão.

Os 20 segundos do mergulho antes do disparo são os mais tensos, com o piloto de olho na mira, ouvido concentrado nos alertas dos outros pilotos, como "artilharia antiaérea as 9 horas" ou "SAM as 7 horas", e todos olham para ver quem é o alvo da ameaça. Depois do disparo, o piloto quebra para outra direção saindo do alvo. Pode subir com o pós combustor ligado até uma altitude mais segura ou, dependendo da ameaça, podem mergulhar e saem do local em fila voando bem baixo e quanto mais rápido chegarem a baixa atitude mais seguro. Nos ataques, os pilotos podiam evitar ligar o pós combustor para diminuir a assinatura infravermelha ou ligar para para manter a velocidade.

O próximo passo é novamente voltar para a formação de batalha e voltar para a base. O líder chama no rádio e todos checam a situação. Depois entram em formação novamente e retornam para base. Agora estão mais vulneráveis pois os caças inimigos foram alertados e a busca ao redor (lookout) é ainda mais necessária.


Manobra ventilador feita após o PUP, com uma formação de batalha de quatro aeronaves. As aeronaves da formação estão numeradas (L é o líder).


As 7h17min do dia 16 de maio de 1982, oito Mirage F1AZ e quatro Mirage F1CZ decolaram da base aérea de Ondangwa em direção a base aérea de Ruacana. O trajeto inicial foi em gota para facilitar que as esquadrilhas entrem em formação e se posicionem corretamente. Ao passar por Ruacana viraram para o norte e aceleraram para 540 knots voando bem baixo. O IP era em Techipa onde zeraram o cronômetro (racked) para iniciar o "run-in" até o PUP (Pitch-Up Point) três minutos depois. No PUP subiram para 18 mil pés. O "roll-in" foi para a esquerda para mergulhar com o sol pelas costas cegando a artilharia antiaérea. No topo da manobra, os pilotos conferiam as fotos para identificar seu alvo. Mesmo assim a artilharia antiaérea foi intensa, mas nenhum Mirage foi atingido e pousaram as 8h07min em Ondangwa.


Um mapa de navegação usados pelos pilotos durante as ações em Angola. A simbologia mostra os pontos de baliza, IP e locais do PUP. O local pode ser reconhecido no canto inferior direito (Mavinga)

Uma das grandes vantagens do Buccaneer sobre o Mirage era ter dois tripulantes. O navegador era um operador de sistemas de armas, bombardeador, especialista em "lookout" traseiro, operador de rádio e monitorava os sistemas de guerra eletrônica, permitindo que os pilotos se concentrarem em voar a aeronave. Os Buccaneers realizavam as missões mais difíceis e nunca desapontavam.

 

Perfil de Ataque

Os pilotos sul-africanos receberam assistência dos israelenses. Na guerra de 1973, os israelenses perceberam que estavam muito bem treinados para o combate aéreo, mas não para as missões de ataque. Um Comando & Controle eficiente também fez falta. Os ensinamentos foram passados para os sul-africanos e foi muito bem aproveitado.

A precisão dos ataques aéreos era melhor em mergulho. Com aumento das defesas tiveram que criar novos métodos de ataque. A distância do alvo era importante em qualquer perfil. Quanto mais alto menor seria a precisão. Apenas o Mirage F1AZ tinha um telêmetro laser para auxiliar o disparo de armas com precisão.

A precisão de um ataque com bombas burras é proporcional a distância da aeronave até o alvo durante o disparo. Quanto mais próximo do alvo for o disparo maior será a precisão das bombas. Em uma atitude de 10 mil pés acima do alvo não existe muita garantia de precisão, mas era compensado com disparo em salva de bombas e foguetes. As matas no local escondiam facilmente as tropas e veículos, principalmente se estivessem dispersos. Então a resposta era atacar uma área.

Os primeiros contatos dos caças da SAAF contra os mísseis SA-2 e SA-3 foi em Lubango. Os sites fixos podiam ser evitados facilmente se descobertos. Já os sistemas móveis eram mais perigosos, então passaram a usar o perfil "toss-bombing". O perfil de ataque "toss" são realizados em áreas de alta ameaça onde o inimigo tem armas mais efetivas como o Shilka e mísseis SA-8 e SA-6. Como são sistemas de mísseis móveis, fica difícil prever onde serão encontrados. O objetivo final era ter segurança máxima em ambiente hostil durante o ataque com bombas não guiadas para dar pouco tempo de reação para defesas aéreas. Nos ataques com perfil "toss", apenas um SA-8 conseguiu trancar em um Buccaneer durante um destes ataques e mesmo assim por pouco tempo.

A SAAF usava os modos toss mais por segurança pois o embargo evitava substituir suas perdas. Então a sobrevivência das aeronaves vinham em primeiro lugar. Mesmo sobrevoando um alvo na mata não veriam nada para fazer pontaria. O compromisso entre precisão e invisibilidade do alvo era perfeito para a situação. As forças em terra é que determinavam a presença inimiga com limites aceitáveis. Se as informações fossem suficientes lançavam um ataque. As grandes perdas angolanas e cubanas em 1987 a 1988 mostraram que os ataques eram eficazes.

O perfil de ataque Vergoi é um perfil de "toss" longo (long toss) empregada pelo Mirage F1AZ. O perfil de ataque Vergoi foi usada pela primeira vez em setembro de 1985 na operação Weldmesh. Antes de ser empregada, os pilotos a treinaram muito a técnica por dois anos. É um perfil com pouca precisão contra alvos de ponto, mas ideal contra alvos de área como uma Brigada espalhada na mata. O computador de bordo do Mirage F1AZ ajudava muito.

No perfil de ataque Vergoi, os caças ingressavam a 100 pés acima do solo, abaixo da cobertura radar, a 540 knots, por cinco minutos antes do ataque. Os pilotos acionavam as armas e os sistemas de guerra eletrônica. A navegação era a mesma de outros perfis a não ser a inserção do pré IP, inserido antes do IP. A formação tem que estar na posição perfeita ao atingir o IP e iniciam o "timing hack" ("hacked" - zeraram o cronometro). ). No IP estabilizavam a 600 knots para comprimir o tempo de reação inimigo.

No PUP (Pitch-Up Point), a cerca de 8 km do alvo, os caças puxam 4 g´s por dois segundos, e sobem até 2 mil pés acima do solo em um ângulo de 45 graus. Os pilotos podiam monitoravam os segundos no HUD e a 2 mil pés o HUD mostrava um luz verde e o piloto disparavam as bombas. As bombas são disparadas em sequência com o auxilio de um intervalômetro para conseguir um bom "bomb-stick", com um espaçamento entre cada uma. As bombas "voam" até 8 km de distância detonando em fila. Depois de disparar, os pilotos apertavam o botão de alijar as cargas manualmente para o caso de alguma ficar pendurada. Depois mergulhavam rápido após realizar um giro de asa de cerca de 130 graus e volta em uma curva de 4 g´s de volta para a segurança da baixa altitude em uma direção quase oposta ao alvo.

Cada piloto tinha uma rota de escape diferente para não colidirem e para dificultar a pontaria das armas inimiga. Já voando baixo os pilotos olhavam para trás para ver se estavam sendo atacados pela artilharia antiaérea e se havia alguma trilha de míssil o seguindo. Com pouca luz podiam ver facilmente a artilharia antiaérea disparando. Em mau tempo não viam nada. A manobra deixava pouco tempo para os mísseis SAM fazerem pontaria.

Para ter sucesso no disparo os pilotos tinham que ver os alvos na mata, mas eram praticamente invisíveis a olho nu quando vistos do alto. Após várias discussões com os soldados e tropas reconhecimento encontraram uma solução. As tropas em terra fariam reconhecimento das posições inimiga e enviariam as coordenas das Brigadas dispersas. Quando as Brigadas estava espalhadas em uma área de mais de dois quilômetros quadrados ou mais eram difícil determinar a posição. Quando pararam para descansar a noite as tropas entravam e determinava a posição. A informação era passada para a SAAF. Se a área tinha menos de dois quilômetros quadrados era ataca com o perfil Vergoi. Os pilotos dos Mirage F1AZ atacavam no inicio ou fim da noite para diminuir a ameaça pois os MiGs angolanos não operavam bem a noite.

O perfil Vergoi era o método mais impreciso de todos, mas era mais usado nas fases finais da operação Modular, Hooper e Packer. O perfil foi criado para os cenários da Guerra Fria contra alvos soviéticos bem defendidos. Seria usado para disparar armas nucleares táticas. Os caças penetrariam baixo para evitar os radares. Fariam a manobra com o apoio do sistema Low-Altitude Bombing System e "toss" a bomba por 5 milhas até o alvo. O CEP para armas nucleares era de 300 metros.

Em 16 de setembro de 1987, os Mirage F1AZ do Esquadrão 1 iniciou a operação Rund. O inimigo já tinha sido atacado pela artilharia da SADF que destruiu vários blindados. Mesmo assim os comunistas continuaram seu avanço. Neste dia, a Brigada 47 foi atacada pelos Mirage F1AZ que dispararam mais de 100 bombas Mk82 pré fragmentada.

Em dezembro de 1987, os cubanos estavam tentando reforçar a sua posição ao redor de Cuito-Cuanavale e enquanto isso os Mirages F1AZ estavam lançando ataques contra as tropas comunistas vindo de Menonque. Uma equipe dos Recce deslocada para o local passava as informações das posições e composição dos comboios e onde paravam a noite.


Perfil de ataque Vergoi (toss longo) visto de lado e por cima. Mesmos com os erros inerentes ao perfil as bombas normalmente caiam na área do alvo. Do "pull up" até o retorno o ataque durava cerca de 30-40 segundos, sendo considerado um tempo seguro. O modo toss automático no Buccaneer é chamado de IPMT (Initial Point Medium Toss).
Legenda:
1 - acelera a 600knots no IP;
2 - PUP subindo a 4 g´s;
3 - subida a cerca de 45 graus;
4 - bombas disparadas automaticamente pelo computador;
5 - giro de asa de 110 a 130 graus para fugir em direção contrária ao alvo;
6 - mergulha para fugir bem baixo.

O perfil de ataque Gatup é um perfil "dive toss" desenvolvido pelos pilotos do Esquadrão 1 para ser usado pelos Mirage F1AZ. O perfil foi criado para atrapalhar a solução e acompanhamento de tiro do radar e permite olhar ameaças de mísseis SAM ao redor. Foi usado contra alvos bem defendidos.

Como no perfil Vergoi, os caças ingressam bem baixo e rápido, dois itens cruciais em ambiente hostil, voando a 600 knots a 50 pés acima do solo. O ingresso tem uma defasagem de 3x3 milhas do alvo no PUP. No PUP o piloto sobe puxando 4 g´s até 4 mil pés em um ângulo de 45 graus, com o pós combustor ligado. A manobra é seguida no alto de um "roll-in" de 120 a 130 graus de inclinação até o piloto apontar a mira para o alvo, já nivelado, para disparar o laser e medir a distância precisa até o alvo. Depois o piloto sai do mergulha e "dispara" as bombas, mas que na verdade são disparadas automaticamente pelo computador. O piloto apenas aperta o gatilho autorizando o disparo automático.

O piloto depois mergulha novamente (over-banks) para baixa altitude, manobrando em três dimensões com algo "g", e lançando flares e Chaff para atrapalhar as armas inimigas guiadas por radar e infravermelho, checando a traseira de ameaças. Depois os caças se reúnem e voltam para a base. A noite o perfil é chamado de Nagup. O Perfil Gatup, com disparo automático de arma, tem grande precisão com um CEP de 4 a 11 metros de dia com bombas de 450kg.

Em 1986, os ataques aéreos melhoraram a efetividade devido a disponibilidade de novas bomba pré-fragmentada e o perfil Vergooi mostrou ser eficiente. Em maio de 1986, foi realizado o primeiro ataque noturno com o perfil Vergoi com o Mirage F1AZ.

No dia 19 de março de 1988, seis Mirage F1AZ decolaram de Grootfonteim as 22 horas para realizar um ataque divisionário darkmoon na área do alvo próximo ao rio Longa, para desviar a atenção de Cuito-Cuanavale. Foi a primeira saída com o perfil Nagup. Mesmo com mau tempo continuaram a missão com as aeronaves espaçadas a 3 milhas, mantendo o beacon TACAN no modo ar-ar. O líder viu um brilho que parecia um bomba explodindo. Devido ao silêncio de radio só percebeu que faltava uma aeronave ao pousar. Foi organizado uma missão de resgate sem sucesso e nem encontraram a aeronave. No dia 24, enviaram dois Alouette com soldados kavangos para conversar com a população local que indicaram o local da queda.


Perfil Gatup (dia) ou Nagup (noite). A precisão das bombas burras era maior quando disparada em mergulho. O PUP (ponto 1) fica a 3 milhas a esquerda e 3 milhas antes do alvo. A distância do alvo era importante em qualquer perfil, e quanto mais alto menor a precisão. Só o Mirage F1AZ tinha um radar e telêmetro laser para garantir medir a distância da aeronave até o alvo com precisão e disparar as bombas automaticamente.


Imagens do HUD de ataques contra alvos em terra. As imagens mostram "filas" de bombas atingindo seus alvos na selva. As defesas aéreas locais eram de primeira qualidade, sendo mais complexa que a encontrada em Israel no vale de Bekka. O SAAF reagiu com táticas de disparo de bombas no moto toss a 7-8 km do alvo e CEP de 200 metros.


Os Canberras podiam atacar a baixa altitude saturando uma área com as bombas Alpha. Cada bomba Alpha tinha 15 cm de diâmetro. Era feita com uma casca dupla, sendo a interna pré-fragmentada. Entre as cascas eram instaladas 250 bolas de aço de 15 mm. No impacto, a bomba salta 4 metros acima do solo e detona, devido a um atraso de 0,6 segundos na espoleta. As bombas são disparadas com auxilio da mira SFOM, operada pelo navegador no nariz, e indicando a direção ao piloto. A aeronave disparava a baixa altitude voando 300 pés acima do solo e voando a 360knots, com ingresso  a 200 pés. Podiam atacar com dois Canberra voando lado a lado e mais outros pares em fila para saturar uma grande área. Uma aeronave podia saturar uma área de 300 metros x 1.000 metros disparado em linha. Depois do disparo o navegador avisava ao piloto que contava até cinco e mergulhava para fugir. Uma câmera apontada para trás mostrava o resultado do ataque como a foto acima. A bomba Alpha foi criada pela Rodésia, entrando em serviço no fim de 1976. A SAAF recebeu em 1977 para equipar os seus Canberras.

O Buccaneers da SAAF já vieram preparados para realizar o perfil Toss para evitar voar sobre o alvo e manter a distância. O modo toss longo e médio pode se automático com o sistema computadorizado LABS (Low Altitude Bombing System) ou com modo manual. Foi a partir da técnicas aprendidas com o Buccaneer que foram desenvolvidas as técnicas usadas pelos Mirage F1AZ. No modo vari-toss, ou sobre os ombros manual, a aeronave fazia um loop, mas subia para disparar bombas atômicas para cima, em cima do alvo, então o piloto gira 150 graus e mergulhava para fugir. O problema era facilitar o ataque de mísseis SAM. O Toss longo era usado para disparar bombas atômicas e o Toss médio para disparar bombas convencionais com mais precisão. O toss manual do Buccaneer era usado para disparar o flare Lepus. O flare era usado para iluminar a área do alvo para ataque por outros Buccaneers e a aeronave que lançou o Lepus também voltava para atacar com as suas bombas.

Durantes os ataques com o perfil toss, os Buccaneers iniciam a manobra a 540 knots e saiam do alvo a 580 knots. Depois de disparar as bombas, os pilotos disparavam flares e Chaffs no ápice. Nos ataques em 1987, o alerta radar costumava dar muito alerta. O Buccaneer atacava com oito bombas de 454 kg e o ataque podia ser usado para marcar o alvo para outras aeronaves que atacariam depois, facilitando mergulhar no alvo, como os Mirage F1AZ. No PUP, as aeronaves voavam com uma defasagem lateral de 200 metros e um "stick" (fila) de oito bombas de 450kg causava quatro trilhas de danos de 140 metros por 400 metros na área do alvo. Tropas, veículos e até blindados leves eram destruídos ou danificados. As vezes erravam, mas o acerto era mortal.

Em 1988, o alcance limitado do Mirage F1 limitava as rotas disponíveis até o campo de batalha entre Mavinga e Cuito-Cuanavale. Uma surpresa logo forçou a repensarem suas táticas. No dia 19 de fevereiro de 1988, uma mensagem de uma equipe de reconhecimento do Batalhão 32 citou um comboio indo de Menongue para Cuito-Cuanavale. Quatro Mirage F1AZ decolaram as 16h30min para atacar a área de descanso do comboio com um perfil Vergooi e armados com bombas pré-fragmentadas. Os pilotos já tinham voado várias saídas no local nos dias anteriores. Durante o ataque, um Mirage viu um míssil e gritou "break left" para outro Mirage a frente que reagiu como ordenado. Segundos depois ouviu pelo rádio "eject, eject" e depois viu o local onde o Mirage caiu. Não ouviram chamados de emergência e o piloto morreu. Parecia que os angolanos estudaram as táticas sul africanas e deslocaram uma bateria de mísseis para ponto de PUP, pois o míssil trancou no exaustor, atingido o Mirage quando nivelou a baixa altitude. Viram que tinham que variar mais as rotas e os pontos de navegação, mas o curto alcance dos Mirages davam poucas opções.

Os Mirage F1 e Buccaneers também atacavam com técnicas de bombardeio nivelado com um Canberra liderando a formação e fazendo pontaria em mal tempo e em áreas com poucas defesas. Geralmente tinha mau resultado e os Mirages tinham que voltar depois com táticas adequadas e atingiam o alvo.

 

Armas Convencionais

As armas usadas durante o conflito também melhoraram. Usavam as mesmas armas da Segunda Guerra Mundial e foram modernizadas para o estado de arte da época.

Em abril de 1983, os Mirage F1 foram deslocados para Ondangwa para realizar alerta de Apoio Aéreo Aproximado e outras missões de ataque. Metade foi armado com oito bombas de 120 kg pré-fragmentadas e os outros com 72 foguetes de 68mm. Foi a última fez que usaram foguetes pois as bombas pré-fragmentadas projetadas localmente deixaram os foguetes obsoletos.

Nos primeiros ataques aéreos do conflito, as tropas em terra logo percebiam que as bombas com espoleta de contato penetravam a areia antes de detonar, causando uma grande cratera, mas com pouco efeito prático. Então passaram a usar um espoleta airburst, fazendo a bomba explodir bem antes de entrar em contato com a terra, entre 2 a 6 metros acima do solo, sendo bem mais eficiente por focar a explosão para baixo e para fora.

Depois desenvolveram bombas pré-fragmentadas anti-pessoal que ficaram prontas em 1983. A primeira foi a cópia da Mk81 de 120kg. Com o sucesso criaram a cópia pré-fragmentada da Mk82 de 250kg. As novas bombas foram preenchidas com milhares de bolas de metais ao invés de uma casca grossa de metal. Eram tão velozes que podiam penetrar blindados leves. Era muito efetiva contra tropas expostas, mas eram pouco efetivas contra tropas em trincheiras. Contra veículos e blindados leves expostos eram devastadoras.

A bombas de 120kg tinham 19 mil bolas de aço de 8,5mm diâmetro entre a camada interna e a externa. O raio letal era de 40 por 35 metros. A bombas de 250kg tinha 38 mil bolas de metais e ficou pronta em 1985. O raio letal era de 40 por 70 metros. Oito bombas podiam cobrir uma área de 70m x 400m e qualquer tropa ou veiculo leve no local era atingido. Quatro aeronaves "tossing" as bombas em uma concentração de uma Brigada podia causar muitos danos. Ambas usam espoleta de proximidade Limbo ou a super-quick para dar efeito airburst.

No fim de 1988, os Mirage F1AZ foram usados para testar novas bombas. A bomba anti-pista Condig tinha que ser dispara nivelava a 300 pés acima da pista. Os pilotos não gostavam de voar reto em um local bem protegido. As bombas Alpha usadas pelos Canberras foram substituídas pelas bombas em cacho CB-470. As bombas em cacho também foram testadas com o perfil Vergoi e Gatup. No mesmo ano testaram configuração com 14 bombas de 125kg, após alterações na aeronave.

A África do Sul desenvolveu outras armas para serem usadas no conflito. As bombas Traan, atuais supercross, eram kits de alto arrasto para as bombas Mk pré fragmentadas de 125 e 250kg, permitindo que fossem disparadas a baixa altitude em voo nivelado com a aeronave saindo do raio letal dos estilhaços antes da bomba explodir. A Superstop ADBS 145 era uma bombas pré-fragmentada auxiliada por foguetes para aumentar o alcance de 8 para 16 km após ser lançada em perfil toss. O motor foguete era acionado após um certo tempo e um altímetro acionava um pára-quedas e a bomba "pregava" na terra sem se enterrar. O objetivo era garantir que detonaria acima do solo após um período que podia chegar a até 150 horas. A Superstop nunca foi adquirida pela SAAF e também existe uma versão sem pára-quedas. A maioria das armas ficou pronta no fim do conflito e não tiveram oportunidade de entrar em operação.


Os casulos de foguetes de 68mm eram disparados em salva. Disparavam em intervalo de milissegundos para evitar colisão entre os foguetes. A turbulência criada pelo foguete da frente atrapalhava o de trás e criava dispersão. Então saturavam a área para compensar. Os foguetes eram considerados precisos, mas eram disparados dentro do alcance das defesas inimigas, incluindo armas leves.


Armeiros preparando bombas Mk82 para serem instaladas nos caças.

Tropas Tropas sul africanas posam para uma cratera de bomba de 250kg disparada pela FAPLA. A direita o efeito de uma Mk82. A maior parte da energia é absorvida pela areia do local, causando poucos danos ao redor. A espoleta air-burst faz a bomba explodir antes de atingir o solo, atingindo uma área bem maior.

Armas Guiadas

A SAAF usou duas armas ar-superfície guiada no conflito. Uma era o míssil AS30 usado pelos Mirages e Buccaneers. A outra era a bomba guiada H2, com guiamento por TV desenvolvida localmente. A SAAF considerava as armas guiadas custo-efetivas pois o sucesso é praticamente garantido. Com foguetes ou bombas burras, a aeronave tem que sobrevoar o alvo e devido ao vento não era muito precisa e a 15 mil pés erravam muito.

Os AS30 foram usados durante a operação Protea com sucesso na batalha de Cangamba. Os mísseis AS30 foram usados contra um complexo de bunkers em ações apoiando a UNITA em 14 de agosto de 1983 durante a tomada da cidade. A cidade estava fora do alcance dos Mirages então atacaram com quatro Canberras e quatro Buccaneers, com os Mirage F1CZ dando cobertura. O alvo também foi atacado por bombas burras, com um total de oito AS30 disparados mais 23 bombas de 454 kg e 36 de 227kg. O alvo não estava defendido com artilharia antiaérea e as bombas puderam ser disparadas a baixa altitude. Metade das bombas tinha espoleta de atraso de 0,06 segundos e a outra metade foi equipada com espoleta de contato. As forças da UNITA foram ordenadas a ficarem a 2 km fora do eixo do ataque. A cidade foi tomada logo depois do ataque. Os angolanos e cubanos perderam 1.200 homens e depois da batalha a URSS passou a aumentar a ajuda material e os cubanos enviaram mais 25 mil tropas para Angola.

O míssil AS30 pesava 520 kg, sendo 50kg da cabeça de guerra. O motor queima por 20 segundos. O míssil é controlado manualmente com um joystick na esquerda da cabina e transmite os comandos por rádio UHF. Um flare vermelho na traseira do míssil indica sua posição para o piloto realizar as correções. O perfil de ataque era voar até o ponto de pitch-up a 20 milhas do alvo, subindo a 15 mil pés acima terreno, e atacando em um mergulho de 30-20 graus para ter uma boa separação com as defesas. O míssil era disparado a 13 km do alvo a 480 knots e apontado em frente ao alvo. Faziam pull-off a 5km com tempo total de voo de 25 segundos até o alvo. Os pilotos treinaram antes em simulador e voaram depois em um estande de tiro para treinar. Foram disparados 33 mísseis durante o conflito com 30 acertos.


Um Buccaneer armado com quatro mísseis AS.30. A carga normal é de dois mísseis.


Um caça Mirage F1 disparando um AS30. O míssil AS30 faz muito barulho após o disparo e depois muita fumaça que atrapalha a visão do piloto. Depois tem que ser controlado por um joystick. O avião tem que ficar estável para facilitar o controle do míssil. Os pilotos não gostam pois a trilha de voo é previsivel e facilita o trabalho dos mísseis SAM e artilharia antiaérea. A direita um Impala disparando um míssil SS11 guiado por fio. O SS11 era usado para treinamento por ser bem mais barato que o AS30.

No dia 25 de novembro de 1987, quatro Mirage F1CZ escoltaram três Buccaneer armados com a bomba H2 para realizar cortes na pista da base aérea em Menonque. Os Mirages decolaram de Rundu as 8:20h e encontraram os Buccaneer que decolaram de Grootfontein. Foram para o alvo a baixa altitude para não alertar as baterias de mísseis SA-3 na protegendo a base. Cada Buccaneer levaria uma bomba H2, dispararia e controlaria sua própria bomba. A H2 podia ser disparada também no modo "buddy" com o navegador de outro Buccaneer voando baixo e fora da aérea de alta ameaça controlando a bomba após o disparo.

Na subida antes de disparar, os Mirage F1 lançaram Chaff instalados nos freios de mergulho. Apenas o Mirage do líder estava equipado com o novo alerta radar CRWS, mas todos os Buccanners já tinham recebido o novo sistema. Em um nível de voo mais alto, todos foram na direção de Menonque. Estavam no alcance das baterias de mísseis SA-3 e tinham que disparar suas bombas antes do disparo dos mísseis SAM. Os Buccaneer não conseguiram disparar suas bombas e sobrevoaram Menonque. A missão foi logo abortada. Os Mirage F1 novamente lançaram Chaff na descida para baixa altitude. Os radares de alerta sul-africanos detectaram os MiGs decolando e interceptando as nuvens de Chaff.

A H2 pesa 460kg, com ogiva pré-fragmentada, com asas dobráveis. É guiada por TV com apoio de datalink. A energia é gerada por uma hélice na traseira. O casulo de datalink para receber as imagens é instalado na asa do Buccaneer. O casulo tem antenas frontais e traseira então a aeronave lançadora podia dar meia volta e fugir, mas ainda mantendo controle da bomba. O alcance é de 50 a 60km quando é disparada a 30 mil pés acima do terreno e dependendo do vento. O disparo é a Mach 0.83 com as asas dobradas. A uma distância segura a asa abre e a bomba volta a subir para desacelerar até 250 knots. O CEP é de 3 metros. O navegador controla a bomba com um joystick na cabina e uma mini tela de TV. Sinais de áudio indicam a situação da bomba e o progresso do voo. As imagens da câmera de TV da bomba, o áudio da cabina e os dados de voos da aeronave são gravados no casulo de datalink.

Nos dias 8, 12 e 13 de dezembro, os Mirage F1AZ escoltaram os Buccaneer armados com bombas H2 contra a ponte de Cuito-Cuanavale. Apenas o terceiro ataque teve sucesso e a ponte foi parcialmente danificada. Além da bomba H2, cada Buccaneer levava um casulo de datalink para controlar a bomba e um casulo de guerra eletrônica ACS para dar proteção a aeronave contra mísseis SAM, artilharia antiaérea e caças. O casulo ELT-555 ACS, também chamado de Bikini, era instalado na estação externa da mesma asa que leva a bomba H2. O ACS foi programado para suprimir automaticamente radares de mísseis e de controle de tiro quando sensibilizado nas bandas H até J (6 a 20 GHz). Uma área cega nas frequências evitava interferir na frequência de rádio da bomba H2.

O perfil de ataque seria com um ingresso a baixa altitude voando a 480 knots com o IP a 50-60 milhas do alvo. Pouco antes do IP o piloto aceleraria para 540 knots e subiria até 30 mil pés acima do solo. No PUP, o navegador tinha que identificar o ponto de disparo e os pontos de checagem de navegação na TV do míssil e depois trancar o "olho" da TV nestas características. Antes do disparo também tinha que calcular o "drift" que afetaria a bomba em voo devido ao vento, tendo que compensar, antes do disparo.

Acima do ponto de disparo, o navegador pedia para o piloto disparar. O mostrador na cabina começava a mostrar o tempo de voo da bomba e gravar as imagens. O tempo de voo esperado era de 180 a 240 segundos. O navegador então "navega" a bomba nos checkpoints com uma imagem de escala 1 por 60 mil. Ao identificar o alvo, o navegador tranca a cruz da TV e pressiona o botão "target acquired". Então é iniciada a fase final com a bomba mergulhando em um ângulo de 45 graus. O modo primário é o auto-tracking, trancando a cruz de pontaria no alvo. Se o lock for quebrado ainda é possível passar para o modo manual, mas era difícil controlar a bomba manualmente.

Depois do disparo da bomba, o piloto iniciava uma curva suave de 180 graus descendente. A direção da curva não podia cobrir o casulo de datalink com a fuselagem ou a asa da aeronave evitando cortar a linha de visada da bomba com o datalink. Até o impacto, o Buccaneer tinha que ficar a grande altitude para manter a linha de visada com a arma. Só após o impacto o piloto podia mergulhar até o nível do solo e fugir do local. Como o navegador ficava com a cabeça voltada para a cabina até o impacto por seis a sete minutos, o piloto passava a ser responsável pelo lookout e gerenciar a cabina. Após várias tentativas finalmente conseguiram destruir a ponte no rio Cuito, embora nunca totalmente. No dia 6 de fevereiro de 1988, os Buccaneer com escolta de Mirage F1AZ atacaram novamente a ponte do rio Cuito com a H2.


Perfil de ataque com as bombas H2 usado pelos Buccaneers. Outra fonte cita que os ataques contra a ponte foram realizados em 12 de dezembro de1987 e 3 de janeiro de 1988. Apenas o último teve sucesso. No dia 6 de fevereiro de 1988, os Buccaneer com escolta de Mirage F1AZ novamente atacaram a ponte com a H2.


As imagens de vídeo da TV da bomba H2 durante um ataque contra a ponte no rio Cuito. As imagens mostram o tempo de voo da bomba em segundos no canto superior direito. Na primeira foto a bomba tranca na ponte durante a fase de cruzeiro. A segunda foto mostra a bomba trancada já no mergulho. A terceira imagem mostra que o sensor trancou a esquerda do ponto de impacto desejado, na beira da ponte, mas dentro do CEP de 3 metros.


Imagem da ponte do Rio Cuito após o ataque de uma bomba H2 com os danos visíveis. É possível ver uma balsa no rio pois a ponte foi interditada.


Um Buccaneer com duas bombas guiada H2 no cabide interno das asas. O cabide externo da asa esquerda leva um casulo ACS e o da asa direita um casulo de datalink. A bomba H2 foi usada em combate sem ter terminado o desenvolvimento.


Uma bomba H2 em voo. A bomba gira 180 graus após o disparo para tomar a posição de voo. A versão Raptor II tem motores foguetes para aumentar o alcance.


Em 1988, as bombas H2 foram integradas nos Mirage F1AZ.

 

Supressão de Defesas Aéreas

Com a SAAF entrando no conflito e atacando as forças angolanas, os comunistas começaram a desenvolver um sistema de defesa aérea integrada que no fim do conflito foi considerado bem sofisticado. Voando em um cenário com defesas aéreas de média e alta intensidade, a SAAF teve que usar todos os recursos disponíveis para sobreviver.

Com o embargo evitando reporem as perdas, a sobrevivência das aeronaves era a prioridade máxima. A principal tática era evitar as defesas e assim não podiam manter a superioridade aérea total. Não atacavam as bases aéreas onde havia MiGs e defesas mais intensas. Contra os mísseis SAM, usavam principalmente a velocidade e voo a baixa altitude para sobreviver. Todo o sul de Angola era plano como uma panqueca, permitindo voar pouco acima do nível das árvores a 600kts (1.111 km/h) em áreas defendidas.

Como os MiGs e as baterias de mísseis SAM eram muito dependentes dos radares de busca e alerta, então os radares de vigilância se tornaram os alvos principais. Podiam ser detectados pela inteligência de sinais (SIGINT), fotografados e atacados facilmente por serem alvos fixos. Se não podiam ser destruídos, podiam ser evitados voando bem baixo ou podiam aproveitar as falhas na cobertura radar.

Desde a Segunda Guerra Mundial que os russos usam a aviação de forma mais ofensiva e não defensiva, devido as grandes perdas no ar, enquanto as unidades em terra tinham defesas próprias, custando caro para quem as atacava. As forças cubanas e angolanas seguiam a mesma doutrina.

Cobertura da rede de radar angolana em 1984 até 2 mil pés (linha pontilhada) e 20 mil pés (linha dupla). A falha até a fronteira com a Zambia era vital para os dois países. A SAAF usava a falha na rede para ajudar a UNITA com transporte aéreo e apoio aéreo aproximado. O avanço angolano contra Mavinga em 1985 estava relacionado com a intenção de instalar um radar no local e fechar a falha o que seria fundamental para as operações aéreas comunistas. Em 1988, a rede de radares Barlock, Flatface, Spoonrest e Sidenet cobria toda a região. Se tomassem Mavinga e Jamba, acabando com a UNITA, a África do Sul teria que proteger uma linha de fronteira ainda maior, quase dobrando de tamanho.

Em 1976, chegaram os primeiros MiGs angolanos. O primeiro míssil SAM chegou em 1980 e no mesmo ano danificaram dois Mirages da SAAF. A perda de alguns MiGs em combate aéreo em 1981 levou a Força Aérea angolana a deslocar seus MiGs de Luanda para Lubango. O sistema de defesa incluía radares e grupos de radiolocalização. No fim de 1984, chegou o primeiro sistema SA-2.

Em 1983, durante o cerco de Cangamba pela UNITA, os cubanos realizaram 400 saídas em nove dias com seus MiG-21 e Mi-17, mas a maioria era voo de reconhecimento, e apenas algumas eram contra as posições da UNITA. Em 1984, os russos reforçaram a FAPLA com mísseis SA-8, MiG-23, carros de combate T-62 e uma rede de radar cobrindo todo o sul de Angola. A entrada em operação do míssil móvel SA-8 no conflito em 1984 e a suspeita da presença do SA-6 mudou o cenário. A parada nas negociações em 1986 permitiu que os pilotos da SAAF testassem novas táticas de ataque para evitar os mísseis móveis.

As baixas da SAAF para as defesas aéreas foram um Canberra, um Mirage IIIRZ, um Mirage F1AZ, sete Impalas, três ARP Seeker, um Bosbok, além de vários helicópteros Alouettes e Pumas. Várias aeronaves também retornaram danificados. A artilharia antiaérea era intensa, variando desde metralhadoras calibre 12,7mm até canhões guiados por radar de 37 mm e 57mm. Depois surgiu o canhão autopropulsado ZSU-23-4 Shilka.

Todos os mísseis SAM russos foram usados em Angola. Os SA-2 e SA-3 foram posicionados em sites fixos e por isso eram fáceis de detectar e evitar, deixando de serem efetivos assim que eram detectados pela inteligência de sinais. Os sistemas móveis seriam o grande desafio da SAAF. Em 1982, os lançadores móveis SA-8 e SA-9 foram deslocados para Angola. A Inteligência indicava que o SA-6 logo chegariam seguidos do SA-13. Os lançadores móveis podiam aparecer em qualquer lugar na área de operação e por isso os caças tinham que voar muito baixo para evitá-los. Os mísseis SAM portáteis eram o SA-7, SA-14 e SA-16 e também podiam pegar as aeronaves de surpresa.

Os mísseis portáteis SA-7 eram esperados em qualquer lugar. As aeronaves leves, de transporte e helicópteros anularam sua capacidade voando muito baixo, o que dava pouco tempo para trancar o sensor do míssil e disparar. Os mísseis antigos demoravam mais para trancar em uma fonte de calor. Voar baixo também dava certa proteção contra armas leves como as AK-47 e RPG.

A tática dos Mirages era voar acima de 15 mil pés a 450 nós que era a altitude máxima e velocidade máxima do míssil SA-7. Atacavam em um mergulho de 30 graus, disparam a 10 mil pés acima do alvo, com o "pull-out" a 7 mil pés. O "pull-out" era dentro do envelope do míssil, mas mantendo a velocidade podiam sair facilmente do envelope do míssil. O míssil trancava na traseira quente da aeronave e seguia uma curva de perseguição. Os pilotos vigiavam e davam alerta de disparo. Treinavam chamado com míssil, como por exemplo, "7 horas baixo, três milhas" e todos os pilotos olhavam para o local. Na vigilância cobriam um raio de 3 milhas abaixo que era a área de risco de disparo. Se detectavam o míssil viravam para dentro da trilha de fumaça pois a manobra criava problemas de acompanhamento do sensor. O piloto percebia se o míssil trancou na sua aeronave ou não e se tranca o piloto percebia a mudança de direção do míssil em sua direção. Com o aparecimento dos mísseis SAM móveis os caças também passaram a voar baixo.


Durante o conflito contra Angola havia três fronteiras para os pilotos. Uma era a Cut-line que separava a SWA de Angola e era facilmente visível do ar como a listra branca na foto acima. Outra era a FLOT (
Forward Line of Troop), que separava as tropas amigas das inimigas. A cobertura radar era outra cut-line artificial sendo limitada apenas pela linha de visão. Os pilotos voam cada vez mais baixo ao se aproximarem de um alvo ficando "abaixo do feixe" do radar. Os mísseis SA-7 forçou os caças a voar acima de 15 mil pés acima do alcance do míssil, mas a introdução dos mísseis SA-6, SA-8 e SA-9 forçou o voo o mais baixo possível.

O primeiro contato dos caças da SAAF com os mísseis SAM foi no dia 6 de junho de 1980. As 12h30min, um Mirage IIIR2Z escoltado por dois Mirage F1CZ realizou uma missão de reconhecimento fotográfico na base aérea de Lubango para conferir se a base estava protegida por baterias de mísseis SA-3. Precisaram confirmar a presença do míssil para atacar a base de SWAPO Tobias Haneko instalado ao redor de uma rede de mísseis SAM. O problema era escalar a guerra atacando também quem os protegia.

Ao passarem exatamente sobre a base as três aeronaves foram alertados de trancamento no RWR que depois foi confirmado como sendo dos mísseis SA-3. A base da SWAPO seria atacada no mesmo dia, mesmo alertados da presença do SA-3. Tentaram atrasar a missão até o dia seguinte, mas havia chances de não ter mísseis ou não serem disparados. A decisão foi realizar a missão. As fotos tiradas na missão não estariam disponíveis e assim não confirmaram a presença dos mísseis SA-3.

As 16h45min, quatro esquadrilhas de Mirage F1 decolaram de Ondangwa com todas as aeronaves armadas com seis bombas Mk82 cada e dois tanques extras. Os Buccaneers atacariam depois vindo de outra direção. A rota inicial tinha forma de gota para permitir que todos se reunissem durante o ingresso. As duplas tinham um Mirage F1AZ na liderança e um Mirage F1CZ de ala. Se algum MiG aparecesse os alas alijariam as armas e dariam cobertura. As quatro esquadrilhas voaram em linha escalonada, com o ala mais atrás e do lado.

Se aproximaram bem do oeste do alvo para atacar do norte para o sul para facilitar a surpresa, pois a artilharia antiaérea estava posicionada para defender de um ataque vindo do sul. Outra vantagem é ter o "run-out" também direcionado para a base e todos estariam com pouco combustível depois do ataque.

A formação subiu se expondo ao fogo da antiaérea antes do previsto. As três primeiras esquadrilhas estava em boa posição para conseguir surpresa, mas a última estava mais exposta. Todas as esquadrilhas foram logo iluminados por um radar de busca do SA-3 e os RWR logo deram o alerta. O "rool-in point" foi logo atingido e mergulharam nos alvos. No alto do "pitch" o tom do RWR passou para o sinal de "lock on" dos mísseis SA-3.

Os quatro primeiros Mirage não foram atacados. A segunda esquadrilha viu a artilharia antiaérea disparando e os pilotos ainda tiveram tempo para olhar para trás para ver onde as suas bombas caíram. Os pilotos da terceira esquadrilha viram trilhas de mísseis. O número três da esquadrilha viu trilhas de fumaça vindo pela direita. Os mísseis pareciam parados, sendo o efeito ótico do míssil guiando para a própria aeronave. O piloto chamou "SA-3, direita, 3 horas", ligou o pós-combustor, acelerou a aeronave, disparou as bombas e as ultrapassou no mergulho. No nível das árvores, ultrapassou Mach 1 com os tanques extras, provando que podiam atingir esta velocidade. Fora do alcance subiu e se reuniu com a primeira esquadrilha.

A quarta esquadrilha também foi atacada. Um piloto alertou "fumaça a direita" e outro viu a esquerda. O RWR do número 3, Pretorius, passou para alerta de onda continua e enquanto mergulhava o piloto viu trilhas de fumaça, mas eram dos disparos contra a esquadrilha anterior. Quando percebeu o erro fez uma busca novamente e viu mais duas trilhas a frente passando da direita para esquerda. Disparou suas bombas e saiu do mergulho, também dando comando de alijamento de bombas para o caso de alguma ficar presa. Olhando novamente a direita viu três trilhas de fumaça vindo em sua direção, mas pareciam muito longe e distantes. Os mísseis dos cantos estavam voando reto, no modo balístico sem guiamento, mas o do meio tinha trilha de fumaça curva indicando que o estava acompanhado. Esperava para virar dentro da trilha do míssil, mas a velocidade do míssil parecia triplicar. Quebrou forte na direção do míssil, rolou 90 graus quando sentiu a pancada e o som similar de guitarra e depois os alertas na cabina. O painel de alerta iluminou todas as luzes.

Pretorius mergulhou a baixa atitude. Não queria ejetar onde acabou de bombardear e percebeu que podia pilotar a aeronave. Entrou em um vale para quebrar o lock e começou a avaliar os danos antes de subir. Novamente foi alertado de disparo de míssil pelo RWR e olhou para trás vendo o rastro do míssil. Quebrou para esquerda e direita, mas o rastro continuava o seguindo. Apenas após olhar pelo retrovisor viu que era combustível vazando, o que foi confirmado ao olhar para os mostradores na cabina. O piloto queria mergulhar, mas viu que tinha pouco combustível tendo que gastar 800 litros para voar 80 milhas. Voando baixo a 10 milhas por minutos gastaria 100 litros por minuto.

O motor apagou a cima da cut-line, a 28 milhas da base e passou a planar. Estava leve, voando a 31 mil pés, sem os tanques extras, e achou que podia planar até a base. Teve até que fazer uma curva de 360 graus para perder altitude e ainda teve que planar de lado para perder altitude, pousando sem problemas em Ondangwa. Os outros pilotos foram ordenados a sair do caminho, mas nenhum piloto obedeceu pois estavam sem combustível. O alerta forçou todos a fugirem a baixa altitude ao invés de subir logo após o ataque como planejado, diminuindo o alcance das aeronaves, com todos voltando com perigo de ficar sem combustível. Os Buccanners abortaram seu ataque depois que souberam do resultado da ameaça dos mísseis e foram ajudar os Mirage.

Os caças retornando foram alertados de MiGs tentando interceptar, mas era a força espalhada voando alto. Nenhum mergulhou para fugir ou ficariam sem combustível para voltar pois estavam a 30 mil pés.

O Capitão Plessis em um Mirage F1AZ perdeu pressão hidráulica enquanto retornava ao ser atingido por dois mísseis. Um Impala voando de Telstar ouviu os chamados pois os sistemas de navegação estavam em pane. O piloto do Impala ajudou com a descrição do piloto do terreno e indicou o caminho para a pista auxiliar de Ruacana. O Mirage pousou sem o trem de pouso dianteiro com segurança.

Quando as fotos da base tiradas pelo Mirage IIIR2Z chegaram os pilotos viram o lançador quádruplo de SA-3 no meio de uma foto. A lição era clara: toda Inteligência disponível era necessária antes de cada missão.

A parte aérea da operação Protea em 1981 foi chamada de operação Konyn, iniciando com missões de reconhecimento aéreo e interdição de estradas com os Impalas. Os alvos dos ataques aéreos seriam as defesas aéreas como os radares em Chibembe e Cahama, para ajudar na conquista da superioridade aérea. Os ataques a alvos secundários apoiaram as operações terrestres. A operação Knife seria para dar apoio de guerra eletrônica para todas as unidades. Usariam estações de Inteligência de Comunicações (COMINT) em Ruacana e aeronaves com interferidores eletrônicos.

Em 21 de agosto, 12 Mirage F1AZ e quatro Mirage F1CZ foram deslocados para Ondangwa. O ataque foi em 23 de agosto. O ataque iniciaria primeiro com quatro Buccaneers atacando os radares Barlock e Sidenet em Chamata as 11h00min. Atacaram do nordeste com mísseis AS30 com sucesso e os dois radares foram danificados. Os pilotos alertariam se fossem detectados mísseis SA-2, SA-3 ou SA-6. Foi o primeiro uso operacional do AS30. Os Buccaneers levavam um míssil AS30 em cada asa.

O ataque seria seguido depois as 11h02min e 11h03min por duas ondas de bombardeiros Canberra liderando quatro Mirage F1CZ atacando Cahama do leste para o oeste. Os Mirage F1 voariam junto com os Canberra para saturar o site com bombas. Cada Canberra faria a pontaria para dois Mirage. Os Mirage decolaram as 10h30min e encontraram os Canberra em Ruacana. Voando a 20 mil pés, os Mirages estavam difíceis de manejar carregados. Todos as aeronaves estavam armadas com bombas de contato ou atraso de 250kg ou 450kg. As aeronaves não foram atacadas durante a missão.

As 11h07min, os Buccaneer que atacaram Chamata atacaram os radares Flatface e Barlockt em Chibemba a partir do sudoeste com os mísseis AS30 da outra asa. Um SA-7 foi visto durante o ataque e explodiu no ar a 18 mil pés. As 11h08min, três ondas de Canberra e Mirage atacaram Chibemba com técnica de bombardeio nivelado do oeste lançando 12 bombas de 450kg e 72 bombas de 250kg. Foram realizadas várias passadas até conseguirem uma boa solução de tiro, mas viram as bombas detonar bem longe do alvo pois o piloto do Canberra abriu o compartimento de bombas tarde e demorou a disparar com as bombas caindo a 2km do alvo.

As 16h45mi,n os alvos foram novamente atacado pelos 16 Mirages F1 a baixa altitude, virando para o lado direito contra o alvo em mergulho contra o site radar. Um míssil SA-7 foi disparado e se autodestruiu a 20 mil pés. Cerca de 70% das bombas atingiu a área do alvo e as unidades de escuta eletrônica confirmaram que com todos os radares cessaram a operação no local.


Foto de reconhecimento tático do site de mísseis SAM e radar em Chibemba. O local era chamado de Elephant, mas os pilotos chamaram de roda de carroça devido a aparência vista do alto. O radar Barlock pode ser visto como um ponto preto no centro da foto. O radar foi atingido em cheio por um míssil AS30 disparado por um Buccaneer.

Um radar Flatface só voltou a operar 8 dias depois e fora da área de Cahama e foi atacado no dia 5 de setembro por 12 Mirage F1AZ, cada um com oito bombas Mk82 com espoleta airburst. As últimas aeronaves no alvo tiveram dificuldade de encontrar seu alvo devido a fumaça das bombas disparadas pelas primeiras aeronaves. 

No mesmo dia, as 10h30min, quatro Buccaneers atacaram o que seria um novo radar Barlock em Chibemba. De cima o local parecia uma roda de carroça. O ataque inicial seria com os mísseis AS30 e o alvo seria atacado novamente com bombas de 454 kg. A precisão foi prejudicada pela artilharia antiaérea e dois disparos de mísseis SA-7. Atacaram primeiro com AS30 para aproveitar o elemento surpresa pois pensavam que o local estava defendido com mísseis SA-9. O primeiro par quebrou para a esquerda e o segundo para a direita para dividir as defesas. O número 1 e 2 estavam 20 segundos a frente e 300 metros para esquerda do número 3 e 4. Atacaram com o sol pelas costas. O líder logo alertou sobre o disparo de um míssil, mas o número 3 e 4 não tinham tempo para procurar mísseis pois estavam controlando seus mísseis até o alvo.

Após o impacto dos seus mísseis, quebraram para direita e bem baixo. Um piloto olhou para trás e viu a trilha do míssil. Percebeu que vinha de uma área aberta a 2 km de distância as 10 horas com um veículo no local. Logo lembrou da ameaça do SA-9. Estava em posição ótima para ser atacado por trás. Nivelou e mergulhou para o nível das árvores a 550 nós para dar uma alta velocidade de cruzamento para o míssil. Chegando no nível das árvores viu o míssil indo direto para o seu Buccaneer seguido de outro míssil. Lembrou que disseram que um Buccaneer tinha a assinatura de um Cessna 150 e diminui a potência dos motores Spey. Se quebrasse em direção ao míssil iria direto para o lançador e para o próximo míssil. Esperou até o míssil passar 15 metros atrás do Buccaneer. O míssil subiu depois em direção ao sol e explodiu.

O segundo míssil fez a mesma coisa passando mais longe. Os Buccaneers voaram para o o ponto de encontro e depois se separaram 30 segundos para uma formação "line astern" a baixa altitude para um ataque IPMT (Initial Point Medium Toss). O número 3 viu o 1 e 2 subindo para mergulhar a direta e viu uma trilha de míssil indo atrás enquanto mergulhavam, mas o míssil errou. O número 3 e 4 atacaram e dessa vez não foram novamente atacados. No debriefing foi citado que eram mísseis SA-7 e não SA-9.

No dia 16 de maio de 1982, oito Mirage F1AZ e quatro Mirage F1CZ atacaram alvos em Cahama. Após a decolagem de Ondangwa passaram por Ruacana antes de voar para o norte e aceleraram a 540 nós a baixa altitude. Em Techipa os pilotos "hacked" (zeraram o cronômetro) para iniciar o "run-in" até o PUP (Pull-Up Point). No PUP subiram até 18 mil pés para iniciar o "roll-in" para a esquerda com o sol pelas costas. Nos poucos segundos no topo, checaram as fotos do alvo e cada piloto tinha um ponto de disparo no alvo. O alvo era bem defendido, mas nenhum foi atingido.

Três horas depois, as 11h50min, os Mirage estavam prontos para atacar as posições cubanas no sul da pista da base aérea de Jamba. O objetivo era persuadir os cubanos a não apoiar a SWAPO. Atacaram do oeste e encontraram pela primeira vez os canhões ZSU-23-4 Shilka que evitou que atingissem o alvo. Quando os tiros do Shilka explodiam formavam um banco de nuvem branca espessa.

A tarde, quatro Mirage F1AZ e quatro Mirage F1CZ voltaram para atacar as posições de artilharia antiaérea detectadas em Jamba. Outros quatro Mirage F1CZ foram usados como escolta. Dessa vez quando um par subia uma aeronave não mergulhava para poder observar a ação da artilharia antiaérea atirando no líder que atacava, e só depois mergulhava atrás para atacar as posições de artilharia antiaérea que acabou de detectar. O padrão foi repetido até as oito aeronaves lançarem suas bombas.

No dia 10 de junho de 1982, foi realizado outro ataque no mesmo alvo com 16 aeronaves cada uma armada com oito bombas Mk82 com sucesso. Um piloto viu o disparo de míssil SA-7 após disparar suas bombas. O míssil mergulhou antes de manobrar e outro míssil foi disparado. Citaram no rádio "stand by to break left", mas o míssil virou para o sol. Um terceiro míssil forçou duas aeronaves a quebrar para a direita.

O radar em Cahama foi novamente atacado durante a operação Meebos, para atrapalhar os planos da SWAPO de tomar Xangongo e Ongiva. O ataque ao radar em Cahama no dia 21 de julho era parte de um assalto aeromóvel com helicópteros Pumas e Alouettes contra o posto de comando da SWAPO em  Mupa. Oito Mirage F1AZ do Esquadrão 1 escoltados por dois Mirage F1CZ atacaram o radar as 12h40min sem reação da artilharia antiaérea. Provavelmente conseguiram surpresa pois foi depois do almoço e as tropas em terra deviam estar descansando.


Imagem de um míssil AS30 disparado por um Mirage F1CZ contra um radar em Cahama. No dia 21 de julho de 1982, os oito Mirage F1AZ armados com bombas e dois Mirage F1CZ armados com um míssil AS30 cada decolaram de Ondangwa para atacar um radar em Cahama com sucesso.


Em 5 de outubro de 1987, os sul-africanos conseguiram capturar um lançador SA-8, visivelmente danificado por bombas pré fragmentadas e outra armas durante o avanço cubano em Mavinga. Os sul-africanos usaram um T-55 capturado para cruzar dois km de terreno aberto e rebocar três veículos atolados na lama, incluindo os dois BTR de comando e reabastecimento da bateria, sob fogo inimigo, incluindo artilharia. A FAPLA chamou os MiG-23 para atacar o equipamento abandonado sem sucesso. A UNITA tinha prometido dar o lançador SA-8 aos americanos, mas os sul-africanos levaram para criar contramedidas eletrônicas. O lançador foi transportado por um C-160 que quase caiu pois informaram incorretamente o peso do lançador.

A operação Moonraker em 1986, era uma operação de COMINT para detectar bases aéreas próximas a fronteira da SWA. No posto de comando em Kaokoland podiam ouvir as transmissões de rádio VHF dos pilotos angolanos e cubanos e chegaram a conclusão que estavam operando a partir de Cahama. A operação Bakeliet era uma missão de guerra eletrônica com os DC-4 Skymaster para avaliar a inteligência da operação Moonraker.

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