BVR
X WVR
Os mísseis ar-ar guiados por infravermelho (IR) eram a arma primaria
de superioridade aérea, para derrubar caças inimigos, e levou
a caças mais ágeis para manobrar e se colocar em posição
para disparar primeiro. Até algumas décadas atrás os
mísseis eram razoavelmente eficientes, mas podiam ser derrotados
com manobras agressivas ou erravam muito se não fossem disparados
em condições ótimas.
Com os mísseis ar-ar de curto alcance de quarta geração
isto deixou de ser verdade. Estes mísseis são apontados por
mira no capacete (olhe-e-dispare) e tem uma grande zona sem escapatória
(NEZ), podendo engajar alvos fugindo e são difíceis de interferir,
tendo um alcance até maior que mísseis de longo alcance de
primeira geração.
Os mísseis de combate aéreo do futuro deverão ser
ainda mais rápidos e ágeis, com maior alcance, sensores bem
resistente a interferência e auxiliados por melhores sensores para pontaria.
Serão altamente letais e impossíveis de evitar, talvez com
arma de defesa ativa como laser ou um míssil antimíssil.
Os mísseis de longo alcance também se desenvolveram muito, com os atuais sendo muito difíceis de derrotar com manobras evasivas e interferência. Alguns estão recebendo sensor radar passivo e motor ramjet para ter um raio de ação 2-3 vezes maior que um motor foguete do mesmo tamanho. Paradoxalmente, o que mais está tornando o combate BVR ainda mais importante é o desenvolvimento dos mísseis de curto alcance como veremos a seguir.
Primeiras Gerações
Os mísseis
com sensores infravermelhos (infrared - IR) revolucionaram o combate aéreo
pois antes os pilotos só tinham metralhadores e canhões e
precisavam manobrar agressivamente para atingir o adversário por
trás. Os mísseis permitiram aumentar a precisão e a
distância de engajamento. Um piloto ruim de mira com o canhão
passou a ter mais chances de acertar o alvo e a distancias maiores.
Os mísseis
de Primeira Geração de curto alcance (Within Visual Range
- WVR) como o AIM-9B e AA-2 Atoll eram caracterizados por terem um sensor
de pequena banda, com pequeno campo de visão, engajando alvos apenas
por trás, num campo de visão estreito, limitado e com pequena
razão de rastreio. A pequena razão de rastreio, ou a velocidade
do sensor se move, fazia o sensor perder o alvo se esse se movesse rapidamente.
O resultado é que bastava um forte "brake" para o piloto escapar do
míssil, mas precisava estar consciente do disparo. Uma conseqüência
é que praticamente só tinham sucesso contra inimigos que não
sabiam que estavam sendo atacados.
A banda de
visão do sensor forçava a aeronave lançadora precisava
estar posicionado num cone de +/-30 graus atrás da aeronave para
ver o calor do escape do motor. O sensor podia ser facilmente distraído
por reflexos no solo, nuvens e pelo sol e eram resfriados por pouco tempo.
Praticamente tinham angulo de disparo (off boresight) de zero grau e só
podiam ser disparados por trás.
Os mísseis
de Primeira Geração geralmente não tinham espoleta
de proximidade e usavam uma ogiva pequena. O alcance era muito curto mas
ainda era maior que o alcance do canhão.
Estes mísseis apareceram no meio da década de 50 e inicio da década de 60. O combate com estes mísseis lembrava mais os combates da Segunda Guerra Mundial com os pilotos tentando pegar o inimigo pela traseira. Os engajamentos duravam cerca de sete minutos se os dois pilotos estivessem conscientes um do outro.
São exemplos de mísseis de Primeira Geração o AIM-9B Sidewinder e AIM-4 Falcon americano, o Shafrir I israelense, o Firestreak e Ret Top britânico, o R-3 russo (chamado de AA-2 Atoll pela OTAN) e o V-3A sul-africano. O AA-1 Alkali era um míssil russo de primeira geração mas não era guiado por radar.
As estatísticas
mostram que um míssil de Segunda Geração precisava que
o piloto realizasse de 5 a 7 minutos de manobras agressivas até que
um dos oponentes conseguisse vantagem suficiente para um disparo. Neste período
os dois oponentes ficavam vulneráveis a um terceiro oponente que poderia
conseguir posição de disparo sem ser percebido.
São exemplos de mísseis de Segunda
geração o AIM-9D/G/H, o Magic I francês, o V-3B da África
do Sul, o Shafrir II Israelense, e o R-13M russo. As primeiras versões
do R-60 eram de Segunda geração. Esses mísseis eram
um grande passo para a época, apesar de serem pouco efetivos, e ainda
estão em uso em alguns países.
Terceira Geração
Os mísseis
ar-ar de curto alcance de primeira e segunda geração ainda
forçavam os caças a manobrar para atingir o oponente por trás
como acontecia na Segunda Guerra Mundial e Coréia. A principal ameaça
prevista eram os bombardeiros inimigos que eram alvos grandes, com grande
assinatura térmica, voando alto com o céu como fundo e eram
pouco manobráveis. Mas nos combates reais eram os caças ágeis
e voando baixo que foram engajados. Os mísseis logo mostraram que não
eram tão precisos como se esperava. Caças projetados para
interceptar bombardeiros como o F-101, F-102 e F-4 não tinham a manobrabilidade
para engajar caças ágeis como o MiG-17 e MiG-21 soviéticos.
Logo a agilidade passou a ser novamente um requisito importante no projeto
de caças.
Quando caças
ágeis como o F-15 e F-16, chamados caças de Terceira Geração,
estavam entrando em operação apareceram os mísseis
de curto alcance de Terceira Geração como o
AIM-9L Sidewinder do fim da década de 70. Estes mísseis são
caracterizados por um sensor que opera na banda de 4 microns podendo trancar
no alvo em qualquer aspecto sendo chamados de "all-aspect". Essa banda permite
que o sensor enxergue também o calor gerado pela fricção
do ar na fuselagem o que significa que também podem ser disparados
com o alvo de frente e não só por trás. O sensor tinha
um sistema de resfriamento interno com garrafas de nitrogênio, mas
que limitava o período de funcionamento. Os sensores passaram a ter
alguma capacidade de contra-contramedidas para rejeitar flare e alvos falsos
como o reflexos no solo.
A razão
de acompanhamento foi muito melhorada e alguns mísseis podiam ser
apontados por mira no capacete apesar de não poderem aproveitar muito
esta capacidade mesmo com um angulo de disparo (off boresight) de +/- 15-30
graus mas ainda tendo que apontar o nariz do caça para o alvo. A facilidade
de engajar fez o tempo do combate aéreo cair para menos de 3 minutos
na década de 80. A taxa de giro instantâneo dos caças
passou a ser critica pois a facilidade de apontar o nariz rápido podia
ser o suficiente para disparar o míssil e aumentava as oportunidades
de disparo.
Para explorar
a fraqueza dos mísseis de Terceira Geração, era necessário
sair do cone de engajamento do míssil e forçar a quebra do
acompanhamento com manobras evasivas agressivas. Estes mísseis tinham
um motor de queima rápida e qualquer manobra fazia o míssil
perder velocidade e agilidade rapidamente. A manobrabilidade na fase final
do engajamento era pequena com motor de queima rápida e o sensor ainda
era relativamente lento para acompanhar o alvo.
Os caças
de Terceira Geração como o F-15, F-16, F/A-18, MiG-29,
Su-27 e Mirage 2000 tiveram o projeto otimizado para este tipo de combate
sendo projetados para ter maior agilidade (taxa de giro instantâneo)
e manobrabilidade com razão de curva sustentada (asa grande e motor
potente) para garantir uma oportunidade de disparo e despistar mísseis
com manobras.
São exemplos de mísseis de Terceira Geração o AIM-9L, a versão ALASCA da BGT na fuselagem do AIM-9H, o Magic II, o Python 3 Israelense, o V-3C da África do Sul e o AAM-3 Japonês. Alguns são apontados por mira montada no capacete como o Python 3 e V-3C. Estes mísseis ainda não estão obsoletos e devem operar até por volta de 2015-2020 quando perderem a validade.
Quarta e Quinta Geração
O impulso
para a nova geração de mísseis ar-ar veio da antiga
URSS. Nos últimos anos da Guerra Fria, a URSS colocou em operação
o Su-27 Flanker e o revolucionário míssil Vympel R-73
(AA-1 Archer na OTAN) que entrou em operação em 1986.
O AA-11 era
diferente da geração anterior em duas áreas. Era aerodinamicamente
ágil, usando canard duplo e vetoramento de empuxo para mudar de direção
bem mais rápido que o AIM-9L/M e tinha um motor potente que queimava
por muito mais tempo permitindo manter a energia durante a maior parte do
engajamento, sendo capazes de sustentar manobras de 50 g´s ou mais.
O sensor
também apontava rápido com ângulo de visão de
até 45 graus para os lados (High Off-Boresight - HOBS). Isto significava
que o Archer podia ser trancado em alvos numa geometria de engajamento onde
os mísseis antigos não podiam ver o adversário. Isto
significa que após disparado podia manter o acompanhamento do alvo
que estivesse realizando manobras evasivas violentas para sair do campo de
visão do míssil.
O Archer
também girava rápido para explorar a geometria de engajamento
o que não podia ser feito com a geração anterior como
o AIM-9L/M. Esta agilidade do míssil e da cabeça de busca significava
que o oponente tinha poucas chances de derrotar o míssil com manobras
evasivas.
O Su-27 e MiG-29 eram equipados com uma mira montada no capacete (Helmet Mounted Sights - HMS) que permitia que o piloto trancasse no alvo sem ter que apontar o nariz da aeronave para o alvo. Os exercícios contra os MiG-29 alemães mostraram que era péssimo no combate a longa distância, mas fenomenal no curto alcance.
Imagem de uma mira montada
no capacete (HMS) de um MiG-29 com um F/A-18 na mira. É muito mais
fácil apontar um míssil com a cabeça do que manobrando
uma aeronave.
Os mísseis
de Terceira Geração tinham sensor com capacidade all-aspect
(disparados contra alvos de frente ou por trás) apontados pelo radar
da aeronave ou HUD, e só podiam ser trancados no que o radar via
ou no que aparecia no HUD.
O Su-27 e MiG-29 podia usar estas capacidades mais o envelope expandido do HMS e IRST,
com maiores oportunidades de disparo, podendo ver primeiro e disparar primeiro.
O Su-27 e MiG-29 também tinham capacidade
de "super manobrabilidade" para poderem manter o controle em grandes ângulos
de ataque. Esta capacidade permitia que eles sobrevivessem aos ataques de
mísseis de Terceira Geração, com manobras agressivas,
forçando o sensor a perder o acompanhamento.
A combinação
Archer, HMS e agilidade do Flanker/Fulcrum permitia a um piloto ter maior
possibilidade de conseguir uma oportunidade de disparo primeiro, grande
chance de acerto e melhor manobrabilidade para se defender. Após
testar os MiG-29 alemães após o fim da Guerra Fria, a USAF
concluiu que eles era poucos capazes no combate a longa distância Beyond Visual Range (BVR), mas era muito superior no combate aproximado.
Os russos
basearam suas pesquisas na tecnologia americana, como as lições
dos exercícios AIMVAL/ACEVAL obtidos pela KGB, e assumiam que estavam
trabalhando em mísseis de próxima geração secretos.
O R-73 deveria confrontar estes mísseis. A realidade era que os EUA
focou no AMRAAM para combate de longo alcance enquanto os Europeus fariam
o próximo míssil de curto alcance chamado ASRAAM. O programa
ASRAAM atrasou e o resultado foi que a Rússia passou a frente na tecnologia
de mísseis de curta distância. Os russos foram seguidos logo
depois pelos Israelenses com o Python 4 do inicio da década de 90.
Só
após o ano 2000 que o Ocidente está alcançando, e superando,
os russos com a entrada em operação do AIM-9X americano, o
IRIS-T europeu e o ASRAAM britânico. Outros projetos em andamento são
o A-Darter desenvolvido em conjunto entre a África do Sul e Brasil
e o AAM-5 japonês.
Para se ter
uma idéia da capacidade dos mísseis de Quarta e Quinta Geração
apoiados por mira no capacete, em uma manobra entre os F/A-18 do USMC armados
com o AIM-9 e caças F-15 e F-16 da Força Aérea Israelense
armados com o Python 3 e 4 apontados pelo DASH, a IAF venceu 220 em 240
engajamentos simulados. Depois destes exercícios os EUA aceleraram
a entrada em operação do AIM-9X/JHMCS.
As conclusões
que se tiram desses engajamentos foram:
1 - O combate
a curta distância se tornou muito perigoso. Você dispara e é
engajado ao mesmo tempo, com um disparo automaticamente significando um
kill. Os engajamentos múltiplos do passado devem se tornar raros
por isso, apesar de ser bom para treinamento e manter proficiência.
2 - Os mísseis ar-ar de curto alcance de quarta e quinta geração apontados por miras no capacete são essenciais.
3 - O combate
a curta distância se tornou um equalizador, com caças sofisticados
como um F-22 combatendo nas mesmas condições que um MiG-21
modernizado.
A manobrabilidade das aeronaves agora está dando lugar para a “manobrabilidade”
da cabeça do piloto. Com as miras montadas no capacete, como este
JHMCS em um F-15C da USAF, os pilotos precisam apenas apontar a cabeça
para o alvo e disparar. O processo e aquisição até o
disparo dura entre dois a quatro segundos. Obviamente que precisam de um
míssil tipo “olhe e dispare” como o AIM-9X (ao fundo) para terem esta
capacidade.
Os mísseis
de super-agilidade estão redefinindo as táticas de combate
aéreo. No passado havia a possibilidade do oponente manobrar para
sobreviver. Agora isto não existe mais. Enquanto os mísseis
de gerações anteriores podem ser evitados por manobras evasivas
realizadas por um piloto esperto, ou sortudo, isso não funciona com
mísseis modernos como o AIM-9X. O único meio de defesa é
evitar o lançamento ou usar contramedidas sofisticadas como laser
para destruir ou danificar o sensor de busca ou destruir o míssil
com outro míssil.
O surgimento do AIM-9L logo mostrou que as táticas de combate estavam
se tornando obsoletas. A capacidade de giro instantâneo das aeronaves
de caça se tornou mais importante que giro sustentado. A capacidade
de apontar o nariz para o oponente se tornou mais importante que realizar
várias manobras para adquirir o alvo no aspecto traseiro ou frontal.
O AIM-9L também diminuiu a capacidades dos alvos usarem manobras
evasivas quando engajados por trás.
No início da década de 90 a Luftwaffe realizou estudos sobre o risco do combate aéreo aproximado e a longa distância, considerando o controle centralizado. A conclusão foi que um combate a longa distância teria resultados incertos em situações de pouca consciência de situação e pouca conexão com aeronaves de várias nacionalidades. A identificação de combate no alcance visual ainda seria necessária. Se o oponente for inimigo, um combate aproximado seria iniciado e um míssil ar-ar de médio alcance e o canhão seriam de pouca utilidade. Daí resultou a maioria dos requerimentos do IRIS-T. As análises mostraram que 30% dos combates resultariam em combate aproximado, não importando a distância em que se inicia. O resultado também foi o requerimento de grade agilidade do IRIS-T.
Se dois caças
equipados com mísseis de Quarta/Quinta Geração estão
em um engajamento frontal e disparam para uma destruição mútua,
é melhor ficar no solo. A velocidade do míssil passa a ser
a metodologia de sobrevivência. A doutrina por trás do ASRAAM
é permitir que o caça tenha capacidade de disparar primeiro
e destruir primeiro.
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por Fábio Castro
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