Guerra Irã x Iraque
A história
das operações dos F-14 e F-4E do Irã são muito
ricas para os estudiosos das táticas de combate aéreo. Neste
conflito ocorreram cerca de 400 combates aéreos com mais de 200 aeronaves
derrubadas. Entre estes combates foram vários a longa distância.
No fim da
década de 1970, a Força Aérea do Irã procurava
um interceptador para contrapor as ameaças para os próximos
20 anos. Os requerimentos incluíam grande autonomia para ter capacidade
de cobrir todo o território, além de sensores e armas potentes.
O F-14 podia fazer patrulha de combate aéreo a 250 km da base por
duas horas com reserva para pouso embarcado. Operando em terra a reserva
significa mais tempo na estação. Lançado do convés,
o F-14 tinha um raio de interceptação de 360 km voando a Mach
1.3 (na US Navy seria para interceptar as aeronaves que penetram as patrulhas
externas). As áreas montanhosas do país necessitavam de uma
aeronave com um radar potente para cobrir as falhas na cobertura dos radares
em terra.
Os iranianos
queriam um caça com um grande radar e uma aeronave que pudesse se
defender. Esta escolha se mostrou importante contra os iraquianos. Seus radares
em terra fornecidos pelos americanos eram propositalmente de segunda categoria.
Por isso o requerimento incluía a compra de oito aeronaves E-3
Sentry. O Irã também comprou 14 aeronaves KC-707 para apoiar
as operações dos seus caças e interceptadores.
O F-15 foi
estudado para o requerimento, mas a potência do radar AWG-9 era mais
importante com o alcance bem maior junto com a capacidade do AIM-54. O F-14
tinha a vantagem de poder ser entregue antes do F-15 e demonstrou ter capacidade
de derrubar o MiG-25. A manobrabilidade do F-14 também impressionava,
mas a capacidade de defesa de área era o requerimento mais importante.
Durante a guerra contra o Iraque, o Tomcat mostrou ser tão bom que
apenas com o canhão e dois AIM-9P, e sem o radar funcionando, podia
vencer qualquer caça iraquiano.
Os esquadrões
de F-14 iranianos recebiam os melhores pilotos. Venciam fácil os
F-4E nos treinos até em desvantagem de 4 x 1. Os pilotos foram instruídos
pelos instrutores da US Navy a não fugir e sim engajar. O F-14 era
muito manobrável até a baixa velocidade. O F-14 tinha uma
taxa de giro sustentado de 18 graus por segundo puxando 6.5g com um raio
de curva de 600 metros. Também era capaz de sustentar 6.5g a Mach
2.2 e acelera de velocidade de espera a Mach 1.8 em 75 segundos.
Na US Navy, o F-14 vencia fácil os F-15
e F-16. No Irã vencia fácil os MiG-29 e por isso compraram
poucos caças russos. Os pilotos tinham a vantagem de poder escolher
engajar a longa distância ou a curta distância ou podiam engajar
a longa distância e direcionar os MiG-29 para combate aproximado com
o R-73 (não disponíveis durante o conflito).
Estudos da década de 1970, para um interceptador de defesa continental para USAF também mostraram que o F-14 era melhor que o F-15 para a missão. Em 1977, foi previsto que 170 caças F-14 custaria US$ 4,3 bilhões contra US$3,9 bilhões para o F-15. A Grummam cita que a capacidade de 170 F-14 seria igual a 300 F-15 para defesa continental. Em 1974 foi oferecido o F-14T, mais barato e sem o radar AWG-9, no lugar do F-15 para a USAF. A USAF acabou transferindo caças F-15A e depois comprando F16 ADF em 1986 (concorreu com o F-20).
Os pilotos não gostavam de ir
para os F-15 de interceptação. Nestas missões os caças
eram direcionados por radares em terra até o alvo e terminavam a
interceptação com o radar interno. Os F-15 iniciam sua interceptação
autônoma a partir de 80km, mas para treinar os radares em terra iniciavam
a bem menos. Nestas missões não havia ameaça de mísseis SAM e
os alvos eram geralmente fáceis de combater. Os pilotos nunca usavam
todas as capacidades do Eagle.
A proposta
de F-14 para o Reino Unido também mostrou que era o único
que preencheria os requerimentos de interceptação a longa
distância contra o F-15 e F-16. O Reino Unido acabou desenvolvendo
o Tornado ADV com metade dos custos, mas sem a mesma capacidade. O Tornado ADV não iria combater MiGs e sim Tupolevs (seria
um bomber killer) e a manobrabilidade
não era um requerimento importante.
A desvantagem do F-14 era a complexidade. Precisava
de 20 técnicos de manutenção contra sete do F-4E. O
motor falhava muito e derrubava mais F-14 que o inimigo. Era o que mais deixava
os caças parados no hangar. Junto com o AIM-54, o Irã recebeu
800 mísseis AIM-9P e o AIM-7E-4 era compatível com o radar
AWG-9. O AIM-9P era considerado uma boa arma. O Iraque até tentou
obter alguns dos amigos Árabes. Era confiável e efetivo.
O contrato
inicial incluía 424 mísseis AIM-54A Phoenix e depois foram
comprados mais 290 mísseis sendo que 284 foram entregues antes da
revolução. Quando os americanos deixaram o país sabotaram
16 mísseis prontos para uso. Os EUA tiveram que desenvolver contramedidas
contra os AIM-54 do Irã e para que os seus mísseis não
serem jameados. Os sistemas de alerta radar foram adaptado para detectar as
emissões do AWG-9 a grande distância.
A capacidade
do AIM-54 era fantástica. Em 1978, os iranianos acompanharam um AIM-54
voando a Mach 4 a uma altitude de 24 mil metros. Em outro teste o míssil
percorreu a distância de 212km. O míssil não tinha limite
de lançamento contra alvos voando alto ou baixo e tinha capacidade
de puxar 17g's. Os iranianos testaram o AIM-54 contra drones AQM-37 simulando
caças MiG-25. De cinco tentativas quatro acertaram e um míssil
falhou. O alcance mínimo era de 18 km e as vezes disparavam fora
dos parâmetros apenas para deixar o caça mais leve para um
combate aproximado.
O problema
do AIM-54, como o F-14, é que era complexo de manter. Mesmo assim,
selados no container, o AIM-54 só precisava ser checado a cada três
anos. A vida útil era de oito anos antes de precisar de reforma ou
troca itens.
O Tomcat é capaz de levar
até seis mísseis AIM-54, mas na prática isso raramente
acontece. Com seis mísseis o Tomcat fica muito lento, o alcance diminui
e perdia muita capacidade de manobra. O arrasto e o peso é muito
grande não podendo entrar em combate aproximado e a velocidade de
pouso subia de 230km/h para 290km/h o que era perigoso. Os iranianos nunca
testaram a capacidade de atacar seis alvos simultaneamente. Raramente levava
quatro. Quando fazia escolta VIP podiam levar seis mísseis. Os mísseis
também eram poucos. Os combates mostraram que dois mísseis
sempre foram suficientes e não atrapalhava a capacidade de manobra.
Os Iranianos sempre esperavam ter combate aproximado e as esquadrilhas iraquianas
dispersavam após um dos caças explodir. Os Tomcat geralmente
levavam dois Sparrow, dois Sidewinder e dois AIM-54 no líder de elemento
e seis Sparrow e dois Sidewinder para o ala. As vezes apenas um Phoenix ou
nenhum.
Primeiro disparo de um
Phoenix a partir de um F-14 iraniano em 1975.
Um dos motivos
da escolha do F-14 eram os vôos de reconhecimento dos MiG-25. Logo
depois de iluminar um MiG-25R com o AWG-9 os russos pararam de sobrevoar o
Irã.
Após
a revolução no Irã, poucos F-14 estavam operacionais
e os pilotos que não foram presos eram pouco treinados. Os radares
não funcionavam e só tinham o controle de radares em terra.
A situação até que melhorou após o conflito
com Iraque iniciar, com os pilotos e técnicos presos sendo liberados
e com o recebimento de peças por contrabando.
A missão
dos F-14 durante a guerra Irã-Iraque era defesa aérea do Irã.
Raramente entravam no Iraque. As vezes escoltavam os F-4 nas missões
de ataque. Os F-5E e F-4E eram usados para apoio aéreo aproximado
e interdição do campo de batalha.
Uma dessas exceções foi um ataque contra a base aérea de Mossul em 1980. O objetivo era tentar destruir os Mirage F-1 estacionados na base. Seriam atacados pelos F-4E cada um levando 12 bombas Mk-82. As seis aeronaves precisariam de reabastecimento em vôo que seria feito por dois KC-707 que deveria penetrar no Iraque junto com a escolta de dois F-14. O ataque seria pelo norte para se desviar das baterias e patrulhas aéreas na fronteira e sobrevoariam a Turquia. Os KC-707 também voavam bem baixo seguidos dos F-14 fazendo busca com radares.
Durante a
varredura, os F-14 adquiriram quatro contatos 70km ao sul e foram identificados
pelo Combate Tree como sendo caças MiG-23. Os F-14 foram ordenados
a engajar e subiram para 7 mil metros. Não podiam engajar cedo para
evitar chamar reforços apesar de terem dois AIM-54. Foram disparados
dois mísseis a cerca de 33km em 8 segundos de intervalo com o radar
no modo Track-While-Scan. Os dois mísseis atingiram os alvos assim
que receberam ordens para interceptador os atacantes da base. Os iraquianos
ficaram confusos sem saber o que os derrubou e passaram a descer e virar
em várias direções. O RWR rudimentar do MiG-23 não
detectou nada. Ao virarem para o sul e descerem deram muita vantagem aos
Tomcats que engajaram do alto e por trás com os AIM-7 a partir de
12km. Os Tomcat estavam 300km dentro do Iraque e um passou a ter falha no
sistema de armas. O ataque passou a ser com AIM-9P. A 1,5km os Tomcat foram
avistados e os MiGs reverteram. O líder foi seguido e derrubado. O
outro foi para a traseira de um dos Tomcat que fez uma manobra "break turn"
para desacelerar rápido e conseguiu ir para a cauda do MiG que também
foi derrubado com o AIM-9P. Nos vôos dentro do território iraquianos,
os iranianos voavam sempre baixo como proteção contra os mísseis
SAM, artilharia antiaérea e MiGs. O vôo a baixa altitude diminuía
o alcance pela metade, mas as distâncias eram relativamente pequenas.
Um dos sistemas
mais apreciados do F-14 era o APX-81 Combat Tree. Era um sistema projetado
para rastrear o IFF SRO-2 dos MiGs norte vietnamitas e repetia estes códigos
para fazer SRO-2 "gritar" ativamente. Com o Combat Tree, as tripulações
passaram a ter indicação da direção e distância
dos MiGs. Com a identificação positiva dos alvos era possível
disparar a longa distância. Sem ele os Phoenix seriam de pouca utilidade
devido ao risco de fratricídio.
Em janeiro
de 1981, ocorreu mais um kill além do alcance visual com o AIM-54
contra um MiG-23 com o disparo a 50km. Outros dois MiGs foram visto cair
provavelmente atingidos pela explosão que deve ter feito a carga
de bombas explodir. Houve mais dois kill com o Ala também sendo derrubado.
O caso anterior foi o primeiro com três kill com um único
míssil. Na maioria das vezes o resto da esquadrilha foge após um explodir.
No dia 29 de janeiro de 1981, um Su-20 foi derrubado a noite com um AIM-54
disparado a 54km.
No dia 15 de maio de 1981, um MiG-25RB foi atacado a 108km por um AIM-54.
As emissões do AWG-9 no modo PSTT de dois segundos foram suficientes
para alertar o alerta radar Sirene do MiG. Ainda dentro da fronteira do
Iraqu,e o piloto deu meia volta, acelerou e ligou as contramedidas eletrônicas.
O míssil passou para o modo "home-on-jam" (HOJ) e explodiu atrás
do alvo quase no limite do envelope. O MiG pousou danificado.
Em 16 de
setembro de 1982, dois F-14 em patrulha foram direcionados contra um alvo
voando a 70 mil pés a Mach 3 o que indicava certamente ser um MiG-25.
Um AIM-54 foi disparado a cerca de 100km. O MiG não reagiu e o míssil
foi direto ao alvo.
Em primeiro
de dezembro de 1982, um F-14 em patrulha protegendo navios no Golfo Pérsico
foi alertado contra um alvo voando a 70 mil pés e Mach 2.3. O F-14
estava a 40 mil pés e Mach 0.4. A distância era de 113km e
diminuía
rápido. O MiG foi difícil de adquirir pois acionou suas
contramedidas e logo atingiu 71km de distância do F-14. Mesmo assim
o Tomcat conseguiu disparar a um AIM-54 a 64km com o F-14 acelerando a Mach
1.4 até 45mil pés e disparando para cima. Fez uma manobra
"F-Pole" para o leste para não se aproximar muito, mas mantendo o
alvo no envelope do radar. Pouco antes do contador chegar a zero o piloto
voltou a direcionar para o alvo. O alvo sumiu dos radares no solo no mesmo
momento junto com o radar do F-14.
Em 4 de dezembro de 1982, um MiG-25PD tentou interceptar um avião
civil mas um F-14 o atacou. Usou o Combat Tree para se aproximar até
o alcance mínimo do AIM-54. Ao acionar o AWG-9, o MiG acelerou. O primeiro
míssil errou e o MiG desacelerou na fuga. O F-14 acelerou a Mach 2.2
e perseguiu o MiG com um segundo AIM-54 acertando o alvo.
No dia
6 de agosto de 1983, dois MiG-25PD sobrevoavam o Irã com um F-14 perseguindo
com o radar AWG-9 em standby. Quando o F-14 ligou o radar os MiGs estavam
bem dentro do envelope do AIM-54. Ao disparar os MiGs logo tentaram fugir.
Um foi danificado e mergulhou, mas enquanto fugia cruzou a trilha de
um F-5E que iria atacar posições iraquianas no solo. O F-5E
alijou as bombas e ligou o pós-combustor até ficar na cauda
do MiG e derrubá-lo após disparar dois AIM-9P.
O primeiro
Super Etandard iraquiano foi derrubado em 26 de julho de 1984 por um AIM-54.
No dia 7 de agosto, outro Super Etandard foi derrubado após disparar
dois AM-39 Exocet. Os F-14 depois atacaram o Exocet, mas não sabem
o resultado. Outro Super Etandard foi derrubado por um F-4E no mesmo dia.
O primeiro Mirage F-1 iraquiano foi derrubado no dia 14 de janeiro de 1985
assim como o míssil AM-39 Exocet que acabou de disparar também
por um AIM-54. No dia 26 de março de 1985, três Mirage F-1 foram
derrubados em menos de dois minutos.
Os iraquianos
conseguiram desenvolver táticas para os MiG-25 fugirem dos F-14, mas
em agosto de 1985, um MiG-25RB de uma esquadrilha de quatro, foi derrubado
ao atacar o terminal de Khark.
Os MiG-25 voando alto e rápido eram um alvo muito
difícil até para os melhores pilotos de F-14. Apenas os melhores
pilotos iraquianos voavam a aeronave. Eram escolhidos pela habilidade e
não pela lealdade ao partido. Contra eles os iranianos tinham que
manter patrulhas aéreas continuas e até noturnas. Se detectasse
um MiG-25, os F-14 subia a até 40 mil pés e acelerava a mais
de Mach 1. Os MiG-25 ficavam entre 60 a 70 mil pés e Mach 1,9 a 2,4.
No dia 15
de fevereiro de 1986, um MiG-25RB foi interceptado por um F-14 enquanto atacava
a cidade de Arak e foi derrubado por um AIM-54. O piloto ejetou e foi morto
pela população da cidade. Os pilotos do esquadrão iraquiano
vingaram meses depois matando 70 civis da cidade após bombardeá-la.
No dia 18 de fevereiro de 1986, um Mirage F-1 foi derrubado por um AIM-54
no Golfo com outro míssil perdendo um outro Mirage.
Em 1986, os
egípcios deslocaram caças Mirage 5SDE com contramedidas ALQ-234
da Selenia. Conseguiam jammear as baterias de mísseis HAWK e os radares
dos F-4, mas não o Tomcat. Os F-4 nem conseguiam engajar com seus
radares sofrendo interferência. Os iranianos citaram um encontro com um
Mirage 2000 na época.
Os iraquianos usaram o míssil R-23R/T junto com os MiG-23 desde
setembro de 1982. Tinham o mesmo problema dos americanos no Vietnã
com seus AIM-7 que não conseguia manter o acompanhamento do alvo. Os
iraquianos dispararam 40 mísseis R-23R/T com acerto em um F-4E e
um C-130. Pararam de usar o míssil em 1984. O MiG-23 foi um grande desapontamento.
No inicio era visto como a resposta aos caças iranianos, mas era complexo
de manter assim como os eletrônicos, pouco manobrável e só tinha
boa aceleração para fugir. Os iraquianos usavam táticas
soviéticas, com os caças guiados por radares em terra. Subiam
a toda velocidade, ligavam o radar, disparavam no alcance máximo e
depois fugiam. Consideravam qualquer disparo como sendo um "kill".
Outra ameaça
eram os mísseis R-40 dos MiG-25 e os Super 530F dos Mirage F-1EQ. Em fevereiro de
1983, um F-4E detectou um MiG-25RB escoltado por um MiG-25P. O Phantom disparou
um AIM-7, mas passou a voar balístico quando o Phantom teve que manobrar
para evitar um R-40 disparado contra ele. O mesmo piloto foi derrubado depois
por um R-40 disparado a longa distância. Em 29 de julho de 1987, um
F-4E foi derrubado por um Super 530D, recém recebido em pequena quantidade
"para testes", e disparado por um F-1EQ.
A melhor
resposta iraquiana aos Tomcats foram os mísseis SAM que mantiveram
os F-14 longe do país. O Iraque comprou 18 mil mísseis SAM
russos e franceses durante a guerra. Os Tomcat do Irã foram testados
com bombas bem antes da US Navy conceber o Bombcat. Não usaram contra
o Iraque exatamente para não os expor as grandes defesa aéreas.
Foram realizados apenas alguns ataques contra alvos de grande valor na fronteira.
No dia 20
de fevereiro de 1987, dois Mirage F-1 atacaram um F-4E no Iraque que estava
sendo usado com isca. Enquanto os Mirages perseguiam o F-4E, dois F-14 dispararam um AIM-54 a longa distância derrubando um Mirage. Os Mirage estavam escoltando
caças Su-22 que atacariam alvos no Golfo Pérsico. Os pilotos
ouviram os pilotos dos Sukhoi gritando no rádio "F-14, fujam, fujam".
Os seis Su-22 e o ala do Mirage sobreviveram.
Os pilotos
iraquianos fugiam muito e se não eram derrubados fugiam mais pelo
curto alcance dos seus caças e não por covardia. Os iraquianos
temiam tanto o F-14 que quando não voavam as tropas do Irã
eram logo atacadas. Se voavam os caças fugiam.
Os iraquianos
faziam beaming sem querer em curvas de alta velocidade. Na primeira vez conseguiram
chegar perto dos F-14. Durante este engajamento um Tomcat foi danificado
por um míssil que explodiu embaixo do caça. Foi atacado pelo
ala do MiG que atacou e derrubou com o canhão e AIM-9P. Uma tática
usada com freqüência pelos iraquianos era monitorar as operações
de reabastecimento em vôo para atacar quando o combustível estava
acabando.
Os indianos
ensinaram os iraquianos a usar o MiG-21 para combate independente a baixa
altitude. A Índia usa caças de defesa de ponto para cobrir
áreas grandes não cobertas por radar. Também ensinou
táticas de combate lento a baixa altitude onde o MiG-21 era bom. Funcionou
contra o Irã, mas a diferença de tecnologia com o F-4E e F-14
era ainda imensa. Os pilotos iraquianos evitavam combate a todo custo, só
atacando com surpresa, mas eram atingidos a longa distância pelos iranianos.
Não
era só os iraquianos que temiam o F-14. A Arábia Saudita observou
a derrubada de três Tu-22 com o AIM-54 em março de 1984 e passou
a evitar as áreas de operação da aeronave. Em 8 de
agosto de 1987, um F-4E iraniano foi atacado pelos F-14 do VF-21 do USS Constelation.
Os pilotos experientes conseguiram se evadir de um míssil e outro
falhou e fugiram. Sabiam que não podiam vencer o F-14.
Os iranianos também melhoraram suas táticas.
Com o desenvolver da guerra de atrito, passaram a empregar táticas
de caças e baterias de mísseis HAWK atuando juntos. Os caças
seriam o martelo levando os MiGs para a bigorna. Estas táticas são
pouco conhecidas pois ainda são validas.
Os F-14A
as vezes agiam como controladores de caças direcionando outros Tomcats
e F-4 contra os MiG-25, Tu-16, Tu-22KD e Tu-22B em ataques noturnos. Três
F-14 com radar e rádios modificados operavam como mini-AWACS para
cobrir Teerã. Faziam patrulhas de 12 horas com apoio dos KC-707 e
direcionavam os F-4 da base TFB-1.
Os pilotos
iraquianos não eram os únicos inimigos dos F-14. Vários
pilotos estrangeiros voaram caças iraquianos. Pilotos egípcios
voaram os MiG-21 e MiG-23. Belgas, sul-africanos, Australianos e até
um americano voou o Mirage F-1EQ entre 1985 e 1986. Instrutores franceses
e jordanianos voaram missões de combate sem disparar. Soviéticos
e alemães orientais também voaram, principalmente o MiG-25.
Eram os melhores pilotos russos e alguns foram derrubados pelos F-14.
Em 1981, os
iraquianos deslocaram para o fronte um esquadrão de MiG-21 armados
com o míssil Magic Mk1 e pilotados por mercenários franceses. Os franceses
citam a entrega de 70 mísseis Magic I. Os iraquianos citam que derrubaram
ou danificaram 12 aeronaves F-4E ou F-5E na região de Vahdati, além
de um AH-1J. Os Iranianos reagiram deslocando os F-14 em maio e depois de
um MiG ser derrubado ficaram na defensiva.
Os soviéticos
aproveitavam a guerra para testar suas armas. Em março de 1985, chegou
uma unidade de 10 pilotos soviéticos pilotando o MiG-27 equipados
com mísseis Kh-29T/L. Voavam duas saídas por dia e eram uma
grande ameaça as posições iranianas. O Irã respondeu
deslocando interceptadores para emboscar os MiGs. O sucesso foi instantâneo
com três MiGs derrubados por mísseis AIM-54 e quatro por AIM-9P
disparados de F-4E. Três pilotos derrubados pelos AIM-54 morreram
e os outros quatro foram resgatado. Logo a unidade voltou para a URSS.
Os russos
voltaram depois em novembro de 1986 com mísseis anti-radar Kh-58U
e Kh-25MP para testar contra as baterias de mísseis MIM-53 HAWK e
contramedidas contra os F-14. O primeiro teste foi contra a base aérea
de Mehrabad onde estavam baseados 15 caças F-14 protegidos por duas
baterias de mísseis HAWK. Foram duas incursões diárias com sucesso
destruindo a estação de radar. Os MiG-25 voavam impunes a 69
mil pés até dispararem os mísseis. No terceiro dia foi
diferente. Logo ao entrar no espaço aéreo iraniano foram interceptados
pelos F-14 que disparou um AIM-54 no modo "home-on-jam" com grande interferência.
O míssil guiou sem falha, mas a ogiva não detonou atingido a
barbatana dorsal do MiG-25. O piloto conseguiu pousar danificando a aeronave.
Depois só retornaram em julho de 1988 com os mísseis Kh-58U
melhorado e o Kh-31P para atacar radares ADS-4 de defesa aérea de
banda baixa para alerta antecipado. Um site radar foi destruído com
sucesso. Outra aeronave testada foi o MiG-25BM para supressão de defesas
em 1986 por algumas semanas. Um foi derrubado na fronteira enquanto fugia.
Em janeiro de 1988, o Iraque recebeu 30 mísseis Matra Super 530D
junto com o Mirage F-1EQ equipado com radar Cyrano IV. Junto vieram 80 mísseis
Magic II "all aspect" e novo ECM Remora para conter os radares AWG-9 do
Tomcat. Os russos forneceram casulos SPS-141. Os iraquianos já tinham
testado vários tipos de interferência como técnicas de
despistamento, barragem, spot e overload sem sucesso mostrando o quanto
temiam o Tomcat. Nada funcionava pois o AWG-9 tinha agilidade de freqüência
e freqüência básica alta. O radar mudava rápido
de freqüência automaticamente se jameado e rejeitava sinais não
compatíveis com seus sinais de padrões de varredura. Só
tinham problemas quando tentavam usar o AIM-7. O AIM-54 também não
mostrou vulnerabilidade as contramedidas. O AWG-9 era raramente jameado.
Foram alguns casos de acompanhamento (lock) quebrado ou MiG-25 fugindo,
mas não jameavam com interferidores russos ou franceses. Em uma ocasião
usara todas as técnicas juntas para jammear e em outra ocasião
11 interferidores foram usados simultaneamente com o radar respondendo em
segundos.
Em 9 de fevereiro de 1988, um F-14 foi guiado por controlador em terra
para interceptar caças Mirages atacando o terminal de Khark. Um Mirage
foi derrubado com um AIM-7 disparado a 10km. O F-14 foi atacado depois
por trás por dois Mirage com o F-14 conseguindo manobrar e derrubar
um com um AIM-9P. Em outra missão no mesmo dia, um F-14 detectou alvos
a 16km e sem chances de disparar um AIM-54. O F-14 mergulhou e os Mirages
se espalharam. Com uma curva o F-14 estava atrás deles. Derrubou um
e fez várias curvas para garantir que não estava sendo seguido.
Em 15 de fevereiro de 1988, os iranianos realizaram mais um ataque contra
o terminal de Sirri com os Mirages sendo interceptados pelos F-14. Um
F-14 disparou um AIM-54 a longa distância com um kill.
No dia 16
de fevereiro de 1988, um único F-14 em patrulha de combate aéreo
detectou dois grupos de quatro caças se aproximando em várias direções.
Era a tática básica para vencer o Tomcat. O Tomcat disparou
um Sparrow que não funcionou e fugiu. Voltou depois com o sol pelas
costas e disparou um AIM-9P contra um Mirage. Os iraquianos conseguiram
desviar a atenção de outro ataque e o piloto do F-14 teve
que desengajar por falta de combustível, indo para o reabastecimento
em vôo. Um Mirage foi derrubado por um míssil Hawk durante
o ataque ao terminal. Na volta, se reencontraram com o Tomcat voltando do
reabastecimento em voo e
um Mirage foi derrubado por um AIM-9P.
No dia 25 de fevereiro de 1988, um bombardeiro Xian B-6D (cópia chinesa
do Tu-16) foi interceptado por um F-14 logo após lançar mísseis
anti-navio C-601. O F-14 disparou dois AIM-54 e derrubou o míssil
e a aeronave. O B-6D podia ameaçar até o estreito de Hormuz,
mas depois desse ataque não passaram de Bahrein.
Em 19 de
julho de 1988, quatro Mirage F-1EQ-6 armados com o Super 530D atacaram dois
F-14. Usaram contramedidas eletrônicas para jammear o radar do Tomcat
negando a oportunidade de disparar o AIM-54. Engajaram com o Super 530D derrubando
os dois F-14. Vinte minutos depois derrubaram um F-4E que fazia busca dos
pilotos.
No total
foram 150 combates aéreos com o F-14 e 90 kill. Os iranianos calcularam
71 disparos de mísseis AIM-54, mais 10 perdidos com aeronaves que
foram derrubados, caíram ou desertaram. Calcularam 30 vitórias
para os Tomcat sendo 16 com o AIM-54, quatro prováveis, um por Sparrow
mais dois prováveis, e seis por Sidewinder. Os iranianos também
tem evidências firmes de 130 vitórias e 23 prováveis para o
F-14 sendo pelo menos 40 para o AIM-54, 2-3 com canhão, cerca de 15
com o Sparrow, e o resto com o AIM-9P. Em uma ocasião, quatro caças
iraquianos foram derrubados com por único AIM-54 mais dois "double
kill". Um desertor iraquiano confirmou 98 caças e 33 pilotos perdidos
para o Irã até maio de 1982, incluindo um MiG-25.
Os AIM-7 Sparrow
tiveram um "kill ratio" de cerca
de 20%. Não era usado em combate aproximado, mas sim em médio
alcance a cerca de 10km e com disparo no aspecto frontal.
Já
as perdas de F-14 são de 70 derrubados pelas fontes iraquianas, 12-16
de outras fontes e três confirmadas pelo Irã. Um F-14 perdido em julho
de 1987 lutava contra 12 caças. Um F-14 atacado por oito Mirage
F-1 foi atingido por vários mísseis Magic e Super 530D em
fevereiro de 1988. O piloto ejetou. Mais de 30 Mirage F-1 foram derrubados
pelos F-14 com três perdas. Outros quatro Tomcats foram derrubados
pelos próprios mísseis Hawk iranianos. Outros sete foram perdidos
em acidentes entre 1981 e 1988 e mais oito danificados.
Alem das vitórias,
os Tomcat eram bons para dissuasão, com vários ataques iraquianos
abortando a missão e fugindo, com os Tomcat completando a missão
de defesa aérea e evitando novos ataques. Onde havia F-14 voando não
havia iraquianos operando, sendo um sistema de defesa aérea muito
efetivo. Era muito intimidador apenas com a emissão do radar.
Já os F-4E do Irã conseguiram entre 90 a 120 vitórias sendo nove com o canhão Vulcan, 47 com o AIM-9P1 e cinco com o AIM-7E2. Alguns não se sabe qual arma foi usada e poucos foram com "manouvre kill".
Os pilotos iranianos voavam muito durante a guerra e não apenas um tour ou alguns tours como no ocidente. Lutaram durante toda a guerra. Um piloto cita que tinha sorte e eram muito bem treinados. O Rei iraniano deposto não economizava no treinamento. Os pilotos menos treinados e pouco experientes eram derrubados com mais freqüência.
Uma arte de aviação mostrando
um encontro entre um MiG-21 iraquiano e um F-14 iraniano.
Em 1984, os iranianos
iniciaram estudos para encontrar uma arma de logo alcance para substituir
os AIM-54 cujo estoque estava acabando. O projeto se chamava Long Fang.
A única arma disponível em quantidade era o míssil
MIM-23B "Improved Hawk" (Homing All-the-Way Killer). O Irã até
continuou a comprar mais mísseis Hawk de Israel, Grécia, Taiwan
e Coréia do Sul até 1987. Assim foi iniciado o programa Sky
Hawk em 1985. Os militares responsáveis pelo projeto já tinham
trabalhado antes em Israel para adaptar o míssil Standard AGM-78
em um F-4 para derrubar o MiG-25 e Tu-22 voando alto que foi cancelado após
Israel receber o F-15 armado com o AIM-7F. Os testes com o Sky Hawk mostrou
que o caça deveria levar o míssil nos cabides das asas. O
disparo deveria ser a pelo menos 3 mil metros e a velocidade maior que Mach
0.75. O alvo deveria estar entre 30 a 50 mil pés. O primeiro teste
foi em abril de 1986. Os iranianos tiveram problemas com o datalink do míssil
e o sinal de radar era fraco. Foram dois kill não confirmados nos
testes e não foi usado depois no conflito, mas com mais testes realizados
na década de 90. Dois F-14 foram modificados para levar o Hawk. O
míssil Hawk tem 5 metros de comprimento, 370mm de diâmetro
e pesa 638kg. Tem guiamento semi-ativo e alcance de 40km lançado
do solo. A versão ar-ar foi mostrado em Teerã em 1998.
Durante a década de 90 o Irã iniciou uma série de
modificações em algumas armas para adaptar para outras funções.
As primeiras evidências apareceram em 1997 em várias fotografias.
Para melhorar a capacidade anti-navio e ar-ar, adaptaram o RIM-66 Standard
para ser disparado do F-4. Versão lançada do ar AGM-78 já
era usada como míssil anti-radar. Os mísseis do Irã
foram retirados dos navios classe Babr. O sensor de radar semi-ativo pode
ser usado contra navios e aeronaves voando baixo. O sensor de TV do sistema
TISEO do F-4 (visível na raiz da asa esquerda na foto) pode até
ser usado para forçar o míssil a trancar em alvos no solo.
Próxima Parte: Batalha do Vale do Bekaa e Guerra das Malvinas
Atualizado em 15 de novembro
de 2007
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