ARMAS NÃO-GUIADAS NA GUERRA AÉREA: DAS PEDRAS AOS RAIOS LASER

Renato Oliveira

Para o primeiro artigo escolhi um assunto que faz parte da história da aviação. Trata-se das armas de fogo e outras, que foram as únicas armas no combate aéreo até a Segunda Guerra Mundial, e que ainda hoje são muito importantes. Vou procurar evitar, ao máximo, falar sobre aeronaves que não caças ou caças-bombardeiros e outras armas, como as anti-aéreas, os mísseis, bombas e foguetes, que podem futuramente ser temas de outros artigos.

OS PRIMÓRDIOS

A história dos combates aéreos começou com balões, ainda no Século 16. Os balões eram usados principalmente para reconhecimento, não muito diferente da ideia de subir numa árvore ou colina, para poder aumentar o horizonte visual. Quando um balão era avistado, era imediatamente alvejado pelos fuzis.

No final do Século 19 e início do século 20, a guerra aérea evoluiu ainda mais, com o surgimento dos dirigíveis (inclusive os zepelins) e dos primeiros aviões. É evidente que os primeiros usos dos aviões foram semelhantes aos primeiros usos dos balões: reconhecimento, correção de tiro para a artilharia e ligação entre as tropas. Curiosamente, os aviões eram vistos como brinquedos, incapazes de ações ofensivas, ao passo que os dirigíveis eram vistos como armas de guerra capazes de lançar bombas! As primeiras bombas aéreas eram pequenas, menos de 50 kg.

Nas guerras que antecederam a 1ª Guerra Mundial, e na Grande Guerra em si, com diversos países utilizando aeronaves, os primeiros combates aéreos tornaram-se inevitáveis. Como as aeronaves eram desarmadas, as primeiras armas foram as que os pilotos tinham às mãos, desde as pistolas que utilizavam até tijolos e pedras!

1ª GUERRA MUNDIAL

 Não demorou muito e começaram a armar as aeronaves. As primeiras armas eram metralhadoras regulamentares das tropas em terra, de calibre de fuzil (geralmente entre 7 e 8 mm), adaptadas às asas superiores das aeronaves. Em alguns casos, as instalações eram móveis, e parte da asa superior era cortada para aumentar o campo visual. A forma de ataque mais comum era o tiro para cima, pois a arma geralmente ficava na diagonal para cima e para frente.

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Aeronave SE5 inglesa com metralhadora Lewis em reparo móvel na asa superior. Note-se que esta aeronave, por ser do período final da Guerra, tem também uma metralhadora sincronizada acima do motor.

Era difícil abater aeronaves dessa forma, mas o disco da hélice deixava poucas opções para o posicionamento das armas. Aos poucos, com o aumento das aeronaves de reconhecimento, tornou-se um imperativo o abate das mesmas, e surgiram as primeiras aeronaves destinadas a caçar outras aeronaves (daí o termo caça). O reconhecimento era tão importante na época como sempre foi.

Com a presença de caças na zona de combate, começou-se a empregar outros caças para proteger as aeronaves de reconhecimento, nas funções de escolta. Daí para patrulhas de caça foi um salto, e os caças começaram a se enfrentar.

É importante lembrar que o avião era uma invenção recente. Considerando-se as fontes históricas mais atuais, a tese que Santos-Dumont foi realmente o inventor do avião (em 1906) começa a ganhar cada vez mais força. Isso dá apenas um espaço de tempo de 8 anos até o início da Primeira Guerra. As primeiras manobras foram feitas por pilotos civis, de circos aéreos, pouco antes da Guerra. O primeiro loop, por exemplo, foi realizado apenas 6 meses antes da Guerra.

Uma invenção que revolucionou os combates aéreos foi a sincronização das metralhadoras com as hélices, que permitia disparos diretamente para frente sem danificar a hélice. O primeiro mecanismo a ser posto em uso, por Roland Garros (tenista já famoso na época), era um simples reforço metálico para impedir que a hélice rompesse. Era muito ineficiente, e muitas hélices romperam nos combates.

Descrição: Descrição: Descrição: Descrição: Descrição: Descrição: C:\Users\Renato & Família\Desktop\Renato\morane-saulnier-l-garros.jpgDescrição: Descrição: Descrição: Descrição: Descrição: C:\Users\Renato & Família\Desktop\Renato\helice-danificada.jpg

À esquerda, Roland Garros e sua aeronave Morane-Saulnier tipo L. À direita, hélice inglesa danificada pelos disparos, que para sorte do piloto não se rompeu durante o voo mas teve que ser substituída imediatamente.

 

Roland Garros foi abatido num combate, e tentou, em vão, incendiar sua aeronave antes de ser capturado. A aeronave foi analisada e o sistema desprezado, mas a ideia não. Garros depois conseguiu fugir, voltou a combater, foi novamente abatido, mas desta vez não sobreviveu. Foi postumamente condecorado com as mais altas honras militares.

O motivo do desprezo do sistema de Garros foi que o primeiro sistema realmente funcional era baseado numa patente holandesa de antes da Guerra. Funcionava com um conjunto de hastes que impedia o disparo quando as pás estão alinhadas às armas. Com isso, as pás nunca eram atingidas, e não havia necessidade de reforços na hélice.

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Diagrama esquemático do mecanismo de sincronização.

A primeira aeronave a usar o sistema foi o Fokker série E, Eindekker (literalmente, monoplano). Em termos de desempenho, a aeronave não apresentava nada de excepcional. Entretanto, a combinação de um armamento revolucionário com uma única asa, permitindo assim um campo visual muito superior aos biplanos, gerou uma aeronave excepcional. Por alguns meses, a aeronave foi conhecida como “the Fokker Scourge” (a Peste Fokker), pois era praticamente invencível.

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Primeiro protótipo armado do Eindekker. Nota-se claramente o amplo campo visual do piloto e a metralhadora Spandau montada sobre o motor.

A única solução encontrada foi o Airco DH2. Ao invés da tradicional hélice ‘puller’ (‘puxadora’) no nariz, a aeronave biplano usava uma hélice ‘pusher’ (‘empurradora’) atrás do cockpit. Com isso, não havia a necessidade de sincronização de disparos, tecnologia que os Aliados ainda não dispunham, para disparar para a frente. Mesmo sendo pouco eficiente em termos aerodinâmicos, foi o suficiente para eliminar o Eindekker.

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de Havilland Airco DH.2. Nota-se claramente a hélice traseira e as asas atrás do cockpit, dando boa visão ao piloto e campo de tiro desimpedido à metralhadora Lewis.

Aos poucos, as armas sincronizadas foram proliferando, e começaram as primeiras tentativas de armar as aeronaves com canhões (calibres até 37 mm). Os experimentos falharam devido ao grande volume de propelente empregado, que em muitas ocasiões levava o piloto a desmaiar por asfixia! As metralhadoras em reparos (suportes) na asa superior permaneceram em uso até o final da Guerra, muitas vezes em conjunto com as armas sincronizadas.

Algumas aeronaves, normalmente as maiores como os bombardeiros, também tinham posições móveis de tiro, geralmente destinadas ao tiro para trás. O uso de muitas armas não era comum devido à baixa potência dos motores – no final da Guerra a potência mal chegava a 200 HP – o que trazia limitações sérias quanto ao peso total das aeronaves.

Ao longo da Guerra, as manobras, táticas e técnicas evoluíram, de improvisos a manuais detalhados. Ases como René Fonck, Georges Guynemer e Roland Garros (França), Francesco Baracca (Itália), Albert Ball (Inglaterra), Luke Frank e Eddie Rikenbacker (EUA) além dos lendários e temíveis Oswald Boelcke, Max Immelmann, Adolf Galland, Ernst Udet, Werner Voss e, principalmente, Manfred von Richtofen, o famoso Barão Vermelho (Alemanha). O termo “ás” surgiu nessa época, e designava os pilotos que tinham 5 ou mais abates.

Um pequeno aporte: o Barão Vermelho era conhecido assim por ser barão e por ter suas aeronaves completamente pintadas em vermelho. Morreu em combate ao desrespeitar suas próprias regras e abandonar seu ala, sendo pego numa situação clássica, de enfrentar um ala e seu líder, sobre uma posição de AAA (artilharia antiaérea), e até hoje não se sabe quem o abateu, se o piloto ou se a AAA.

Richtofen foi enterrado em território inimigo com as mais altas honras militares. Na Alemanha em si ele já tinha recebido as mais altas condecorações possíveis em vida, o que só aumentou após a morte. Foi o piloto com o maior número de abates confirmados na Primeira Guerra (80 vitórias).

Descrição: Descrição: Descrição: Descrição: Descrição: Descrição: C:\Users\Renato & Família\Desktop\Renato\FokkerDR-1_2.jpgDescrição: Descrição: Descrição: Descrição: Descrição: Descrição: C:\Users\Renato & Família\Desktop\Renato\manfred_albrecht_freiherr_von_richthofen_metalslug200.jpg

Aeronave Fokker triplano (à esquerda) pintada à semelhança das que o ‘Barão Vermelho’ (à direita). Note que a aeronave tinha 2 metralhadoras.

As aeronaves mais famosas da Guerra foram as francesas SPAD VII e XIII; inglesas SE 5, Sopwith Triplane, Pup e Camel; alemãs Albatros D V e D VII e Fokker E I e Dr I. Os melhores motores eram os ingleses Hipano-Suiza e Rolls-Royce. Os alemães não conseguiram produzir motores equivalentes aos dos Aliados, até o fim da Guerra. Além disso, praticamente todas as aeronaves tinham cockpit aberto, o que levou muitos pilotos à morte por congelamento. Poucas aeronaves foram desenvolvidas exclusivamente como de ataque ou bombardeio, além de não serem o tópico principal deste artigo. As aeronaves triplanas eram tão ágeis que podiam virar 180° quase imediatamente e atirar num inimigo que se encontrava em sua traseira!

Os alemães tiveram vantagem no começo da Guerra devido à qualidade superior de suas aeronaves, armamento sincronizado, táticas avançadas e pilotos altamente habilidosos, mas no fim das contas foram sobrepujados por aparelhos de qualidade técnica equivalente ou superior, e construídos em enormes quantidades – situação muito semelhante à que ocorreria na Segunda Guerra Mundial, mais de 25 anos depois.

Ao final da Guerra, a Alemanha foi obrigada a interromper o desenvolvimento de armas, e a ver muitas de suas inovações tecnológicas, não apenas no campo da aviação, pararem nas mãos dos Aliados. Não se pode esquecer que a quase totalidade dos Prêmios Nobel até o começo dos anos 1920 foram para a Alemanha, o que denotava o alto nível de desenvolvimento tecnológico e científico do país. Secreta e lentamente, a Alemanha voltou a desenvolver armas, que o mundo veria na Guerra Civil Espanhola, em 1936.

Armas mais eficientes do período: as francesas Hotchkiss e Hispano-Suiza, a inglesa Lewis e as excelentes alemãs Parabellum e Spandau. Em ambos os lados do conflito, a confiabilidade das armas e das munições era medíocre, com frequentes travamentos das armas, o que era invariavelmente fatal para o piloto, que se via subitamente desarmado.

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Metralhadora Spandau com mecanismo de sincronização

 

O PERÍODO ENTRE-GUERRAS

A potência dos motores limitava seriamente o peso das aeronaves, a tal ponto que a maioria das aeronaves da 1ª Guerra tinha um MTOW (peso máximo de decolagem) de menos de 300 kg, incluindo o piloto!

Um dos efeitos colaterais de tanta economia no peso eram os materiais da estrutura da aeronave. O uso de metais era muito restrito, devido ao seu peso. Eram muito empregados revestimentos têxteis. O uso de blindagem era quase inexistente. O armamento era reduzido, em regra apenas uma ou duas metralhadoras, sendo que a segunda geralmente era aquela sobre a asa superior ou a apontada para trás.

Discutia-se quais eram as melhores opções no design de caças e outros tipos de aeronaves. No presente artigo vou enfocar principalmente os caças e caças-bombardeiros, e caso haja interesse, escreverei também sobre outros tipos de aeronaves.

O uso de canhões era difícil por diversos motivos. Armas pesadas levavam a uma perda considerável de performances: meros 30 kg a mais representava um acréscimo de 10% no peso, com perdas inaceitáveis na performance.

A proximidade da ponta do avião com o cockpit, que era sempre aberto, criava outro problema, pois o piloto inalava os gases resultantes dos disparos. No caso das metralhadoras calibre fuzil isso não era grande coisa, mas no caso dos canhões era o bastante para levar o piloto à inconsciência. Combinado com o grande recuo, que reduzia a precisão dos disparos, levaram a um uso pouco mais que experimental dos canhões.

Como a inexistência de blindagem fazia com que as aeronaves, especialmente os pilotos, fossem altamente vulneráveis a armas em calibre fuzil, os canhões foram pouco usados ao longo dos anos 20, e em muitos países até os anos 50. A tendência foi dar ênfase na agilidade e na velocidade, nessa ordem. Não é de surpreender, portanto, que aeronaves biplano continuassem em uso até quase a 2ª Guerra Mundial, com pelo menos duas que foram usados mesmo na Guerra, o soviético Polikarpov I-15 e o inglês Fairey Swordfish – embora no caso do Swordfish a agilidade fosse de pouca importância para sua função primária de torpedeiro. O desenho biplano era mais em função da sustentação elevada, que facilitava o uso embarcado.

Aeronaves como as soviéticas La-5 e La-7 carregavam poucas armas, geralmente 2 ou 3 canhões, pois os projetistas confiavam na capacidade acrobática dos caças para sobrepujar os inimigos. No caso da Itália o problema era maior ainda, pois a crença na capacidade acrobática era tanta, que praticamente todas as suas aeronaves carregavam apenas 2 ou 4 metralhadoras calibre fuzil (e a teimosia de seus pilotos adiou muito o uso generalizado de cockpits fechados!). O erro de ambos se mostrou fatal na 2ª Guerra, respectivamente contra a Luftwaffe e contra os Aliados.

Outras tendências eram caças com torretas, como as dos bombardeiros pesados, geralmente com 2 a 4 armas em calibre fuzil ou pesadas, e também canhões disparando pelo cubo da hélice. Exemplos clássicos de caças com torretas incluem os ingleses Boulton Paul Defiant e Blackburn Roc, e caças com canhões disparando pelo cubo da hélice incluem o alemão Bf-109E e os estadunidenses Bell P-39 Airacobra e Bell P-63 Kingcobra, que tinham, respectivamente, armas de 30 mm (Bf-109) e 37 mm (Bell).

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Torreta do inglês Boulton Paul Defiant.

Estas instalações, entretanto, sempre foram origem de dores de cabeça para os projetistas, e nunca foram amplamente usadas. A torreta impunha enorme peso, que não se traduzia em vantagens compensadoras, e canhões no cubo da hélice geravam grande complexidade e propensão a problemas, que nunca foram superados a contento.

Aos poucos, porém, outros fatores entraram em cena. Com o contínuo progresso, os motores melhoraram a eficiência. O aumento de potência dos motores permitiu que a blindagem fosse aplicada sem a perda de velocidade.

Os lugares mais comuns para o emprego de blindagem eram o cockpit, o compartimento do motor e, no caso de motores em linha, o sistema de refrigeração (que era o calcanhar de Aquiles de aeronaves excelentes como o P-51 Mustang) e os depósitos de combustível, com novidades como os tanques autovedantes, em que o material dos tanques era um tipo de espuma, que inchava ao se molhar com o combustível que vazava, e assim reduzia drasticamente os vazamentos e a possibilidade de incêndios. O contínuo aumento de volume dos motores levou à instalação das armas nas asas, o que foi vital na 2ª Guerra.

O contínuo aumento de peso provocado pela blindagem, tanques de combustível, rádios e armas de ataque – como bombas e foguetes – levou a necessidade de redesenho em termos de velocidade da aeronave. Logo se percebeu que o modelo clássico, de biplano de cockpit aberto e trem de pouso fixo, estava chegando ao fim.

Com a possibilidade de aumento de peso que os novos motores permitiam, novas possibilidades de design surgiram, e o modelo dominante lentamente passou a monoplano com trem recolhível, cockpit fechado hélices tripá ou mais, com passo variável, com diversos intermediários até chegar nesse ponto, como o Boeing P-26 ‘Peashooter’ (monoplano de trem fixo) e Polikarpov I-15 (biplano com trem recolhível).

No período entre-guerras, houve diversos conflitos menores, dos quais os mais importantes para a aviação militar foram os conflitos que envolveram o Japão e a Guerra Civil Espanhola.

Nos conflitos envolvendo o Japão, a necessidade de longo alcance levou ao desenvolvimento de tanques descartáveis, que aumentavam ainda mais o alcance das aeronaves, que usavam motores de baixa potência e técnicas para o máximo rendimento dos propulsores. Isso era possível devido ao baixo peso das aeronaves, o que era obtido dispensando-se a blindagem, tanques autovedantes e outras medidas de proteção.

Os japoneses sempre priorizaram o poder ofensivo, e viam a defesa como fraqueza, não apenas na aviação. Tanto é que armaram suas aeronaves com canhões (calibres em torno de 20 a 30 mm) e metralhadoras pesadas (calibres em torno de 12 a 15 mm), muito antes de outros países fazerem o mesmo, mas não usavam blindagens nem tanques autovedantes.

As lições que os japoneses tiraram eram: o treinamento superior dos pilotos tinha grande valor; a agilidade e o armamento potente das aeronaves era vital, que combinados com a experiência dos pilotos, permitia uma eficiência ofensiva sem igual; a persistência em combate era importante, pois permitia que caças escoltassem aeronaves de ataque a distâncias consideradas impensáveis.

O Japão deu menos importância a motores potentes, devido ao maior consumo de combustível, e mais importância a aeronaves leves e bem armadas, embora tenham importado motores da Alemanha, principalmente para aeronaves do Exército. Devido às longas distâncias envolvidas nas guerras sino-japonesas e russo-japonesas, desde cedo os japoneses deram grande importância ao longo alcance para suas aeronaves, o que foi essencial no começo da Guerra – muitos dos primeiros ataques dos japoneses envolviam voos de mais de 2000 km, alcance que na época era considerado inatingível para caças, e mesmo hoje é difícil de atingir sem REVO (reabastecimento em voo), que era apenas um sonho antes da década de 1960.

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Dois dos principais guerreiros sobre a China: Acima, o inglês Gloster Gladiator, e abaixo o japonês Mitsubishi A5M. Note-se que o caça japonês já adotava asas baixas e tanques descartáveis, embora ambos tivessem trens de pouso fixos.

Na Guerra Civil Espanhola, envolveram-se, de um lado, italianos e alemães, e do outro lado, os soviéticos. A Itália, erroneamente, concluiu que o mais importante para suas aeronaves era uma agilidade acrobática, enquanto que os alemães e soviéticos, acertadamente, armaram suas aeronaves com canhões e blindaram suas partes vitais.

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Dois dos principais rivais sobre a Espanha: o soviético Polikarpov I-15 e o alemão Messerchmitt Bf-109. Note-se que o caça alemão já era monoplano, de asa baixa, trens recolhíveis e cockpit fechado.

A influência de tais conflitos foi enorme, uma vez que as lições foram usadas amplamente no início da 2ª Guerra. Stalin mandou para as purgas um grande número de pilotos veteranos da Guerra Civil Espanhola, um erro que lhe custou muito caro quando da invasão da URSS.

Os países que não se envolveram em guerras de renome no período continuaram o ciclo natural da evolução das aeronaves, e as armaram com metralhadoras calibre fuzil ou, no máximo, calibre pesado – notadamente os EUA, que se recuperaram do atraso tecnológico no desenvolvimento das aeronaves, mas nem tanto no desenvolvimento de motores.

Os principais beligerantes da 2ª Guerra – Inglaterra, EUA, URSS e Alemanha – tinham motores de caça que desenvolviam mais de 1.000 HP, produzidos em grande quantidade, já antes da Guerra. A Itália nunca teve motores bons, a França teve poucos motores potentes, e os que eram foram produzidos em baixa quantidade antes da invasão alemã.

Um erro cometido por todos os beligerantes da Guerra Civil Espanhola foi o pouco enfoque dado à persistência das aeronaves, devido inclusive à geografia europeia, em que distâncias de 400 km geralmente bastavam para cruzar diversos países. A Alemanha se ressentiu muito disso na Batalha da Inglaterra. Suas aeronaves tinham menos de 10 minutos de autonomia sobre o campo de batalha, e muitas vezes os caças eram perseguidos no caminho de volta. As coisas não mudaram muito nem mesmo em tempo recentes, e MiGs da Eritreia eram perseguidos por Sukhois da Etiópia ao fugirem para suas bases.

As armas mais eficientes do período: pela Inglaterra, a mais comum era a Browning calibre 7,7 mm e a fabricação de canhões Hispano-Suiza de 20 mm. Pela Alemanha, a MG-151 calibre 7,92 mm e MG-FF calibre 20 mm. E pelos EUA, as Colt-Browning calibre 12,7 mm (a imortal .50). As armas dos demais beligerantes eram mais ou menos equivalentes em termos de calibres, pesos dos projéteis, V0 (velocidade inicial dos disparos) e cadência cíclica de fogo (cadência para os íntimos, medida em RPM, disparos por minuto).

Mas as melhores armas dessa época eram as soviéticas. Isso se deve a um fato simples e poderoso: a URSS tinha um centro nacional de pesquisas de armas e aerodinâmica, que de certa forma funciona até hoje na Rússia. Esse centro pesquisava armas e, obviamente, aeronaves, a tal ponto que a URSS foi o 1º país a por em ação um monoplano com trens de pouso retráteis no mundo, o Polikarpov I-16.

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Polikarpov I-16

Entre as armas excepcionais da URSS do período estão: canhão ShVAK de 20 mm, metralhadora pesada UB 12,7 mm e leve ShKAS 7,62 mm. Eram, em geral, mais leves e disparavam projéteis mais pesados e de maior V0 que seus equivalentes, e com cadências maiores. Isso foi de grande valia mais tarde, na 2ª Guerra, especialmente contra blindados. Foram desenvolvidos ainda outros canhões, como o VYa-23, de 23 mm, e o N-37 de 37 mm, amplamente usados pelos Ilyushin Il-2 e Il-10 ‘Shturmovik’ (literalmente, assaltante).

Descrição: Descrição: C:\Users\Renato & Família\Desktop\Renato\Ultra-ShKAS.JPGDescrição: Descrição: C:\Users\Renato & Família\Desktop\Renato\12.7mm_Berezin_UB.jpgDescrição: Descrição: C:\Users\Renato & Família\Desktop\Renato\Shvak1.jpg

Principais armas soviéticas do entre-guerras. Da esquerda para a direita: metralhadora calibre fuzil Ultra ShKAS (7,62 mm), metralhadora pesada UB (12,7 mm) e canhão ShVAK (20 mm)

 

 

O DILEMA DOS CALIBRES DE ARMAS

O ditado popular “quanto mais (ou maior) melhor” se aplica com restrições quando o assunto são as armas aéreas. Calibres maiores envolvem estojos e projéteis maiores (leia-se mais pesados). Projéteis maiores e/ou mais velozes envolvem canos e/ou pressões maiores, que por sua vez requerem armas maiores e mais pesadas, com as respectivas instalações também maiores e mais pesadas. Isso sem contar os recuos e chamas (flash) maiores envolvendo os disparos, o que por sua vez limita os locais onde as armas podem ser instaladas nas aeronaves. Recuo e flash também limitam a cadência máxima das armas em termos de precisão.

Cabe aqui um parêntese: a cadência máxima da arma depende de diversos fatores, entre os quais um dos mais importantes é a temperatura do cano. Em armas de calibres maiores, a temperatura sobe mais rapidamente, e em geral a cadência máxima é de, aproximadamente, 1.000 a 1.500 RPM/cano, no caso de armas refrigeradas a ar; costuma-se usar entre 600 a 900 RPM/cano (aproximadamente entre 10 e 15 disparos/segundo) para que a vida útil dos canos seja prolongada. Sobre armas com cadências até 8.000 RPM, falaremos mais tarde.

Na 1ª Guerra, as aeronaves eram construídas em materiais frágeis, como madeira e tecidos, com aplicações de metais muito restritas, para economizar em peso e custos. Armas calibre fuzil davam conta do recado. As grandes vantagens de tais armas são os pequenos pesos e tamanhos de armas e munições, mais os pequenos recuo e flash, que permitem a instalação das armas em praticamente qualquer lugar da aeronave, e em grande quantidade – algumas versões do pequeno e leve Hawker Hurricane, por exemplo, levavam 12 metralhadoras calibre 7,7 mm. Levar 500-1000 cartuchos de munição para tais armas era relativamente fácil, contribuindo para a persistência. A cadência de fogo era alta, em geral acima de 800 RPM, bem como a V0 dos projéteis, contribuindo para disparos precisos, embora o pequeno peso dos mesmos prejudicasse a precisão em locais com ventos e também reduza o alcance letal.

Entretanto, ao longo dos anos 1920 e principalmente 1930, as aeronaves cada vez mais tinham estruturas metálicas e blindagens, e as armas calibre fuzil eram claramente inadequadas. As nações que se depararam com o problema foram principalmente as que se envolveram em grandes conflitos, como Japão, URSS e Alemanha. Os canhões eram a arma ideal para resolver a questão: bastavam poucos impactos de seus projéteis para abater o inimigo, pois carregavam cargas explosivas e não danificavam apenas pelo impacto, como as armas calibre fuzil.

O problema dos canhões é que eles são o oposto das armas leves, sendo grandes e pesadas, com grande recuo e flash considerável, além das munições grandes e pesadas. Poucas aeronaves conseguiam levar tais armas, além de levarem números pequenos delas, geralmente 2 a 4, e nas asas ou, muito raramente, no nariz, pois costumavam danificar as hélices e instalações dos motores. Ademais, a carga de munição era pequena, geralmente 100-200 projéteis ou menos.

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Douglas B-25 Mitchell com canhão de 75 mm no nariz. Apesar do enorme recuo, era eficiente contra CCs (‘tanques’) e navios.

Eram eficientes contra bombardeiros, com as armas deste tipo chegando até o calibre de 50 mm, como o monstruoso PAK-50 usado pelo alemão Messerchmitt Me-262 ao final da 2ª Guerra. A cadência era baixa, em geral menos de 700 RPM, especialmente nos calibres maiores. Os alemães usaram muito este tipo de armas a partir de 1943, sem conseguir, entretanto, parar o tsunami de bombardeiros que se abateu sobre eles. A V0 chegava, em alguns casos, a ser comparáveis às de calibre fuzil, mas em geral eram mais baixas, devido aos enormes recuo, flash e pressão envolvidos.

O meio termo, que acabou sendo a opção favorita dos EUA e muito empregada por Japão, URSS e outros países, foram as metralhadoras pesadas. Embora não carreguem projéteis explosivos, seus projéteis tenham grande energia cinética e potencial, sendo muito mais eficientes que as armas leves. São pouco mais pesadas que as armas leves, com flash e recuo também pouco maiores, e munições com pesos próximos. 250-500 projéteis por arma era uma dotação relativamente simples de usar. Era relativamente fácil instalar tais armas perto do motor, e mesmo aeronaves relativamente pequenas como o Grumman F6F Hellcat podiam levar seis destas armas. A cadência e a V0 eram comparáveis, em muitos casos, com as armas calibre fuzil. A maioria dos caças europeus eram blindados apenas a nível de armas leves, e as Browning .50 conseguiam causar-lhes um estrago considerável. A única limitação de tais armas era contra bombardeiros, onde o efeito era pequeno, assim como as de calibre fuzil.

Algumas aeronaves usavam dotação mista de armamentos, como o Bf-109, que tinha 2 metralhadoras pesadas no capô e 2 canhões na asa. Aeronaves particularmente bem armadas eram os bimotores, que pelo maior tamanho, carregavam muitas armas, como o Mosquito, com 4 canhões de 20 mm + 4 metralhadoras de 7,7 mm, e os B-20, que levavam até 11 metralhadoras de 12,7 mm.

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Bimotor inglês DH98 (de Havilland Mosquito): 4 metralhadoras 7,7 mm no nariz + 4 canhões 20 mm no ventre, todas já colimadas.

 

CONVERGÊNCIA E DIVERGÊNCIA

Convergência significa simplesmente fazer os disparos convergirem, isto é, atingirem, um mesmo ponto a uma determinada distância. Divergência é o oposto, fazer com que os projéteis voem em diversas direções, como os balins num disparo de espingarda. Os pilotos mais experientes, que eram uma pequena minoria, preferiam a convergência, muitas vezes ajustada para 100 m ou menos, em alguns casos menos de 50 m. Para os pilotos menos experientes, a divergência era ajustada para cobrir a área aproximada do tamanho de uma aeronave a 150 m ou mais. A imensa maioria dos abates foi feita com aeronaves cujas armas estavam ajustadas em modos divergentes. Os ases preferiam modos convergentes, seguindo o raciocínio dos melhores caçadores, “quando você achar que está muito perto do animal, aproxime-se mais 10 metros!

Ao final da década de 1930, começavam a surgir caças bimotores. Estes caças tinham a desvantagem de ser maiores, mais pesados e menos ágeis em combate, mas como tinham o nariz livre, a instalação de armas era muito simplificada, e elas ficavam em convergência a quaisquer distâncias, facilitando seu emprego. Os maiores ases dos EUA na 2ª Guerra usavam caças bimotores, bem como os ases noturnos dos diversos países beligerantes. Outras vantagens dos bimotores eram a maior carga bélica e de combustível, o que lhes permitia voar mais longe e atacar com maior eficiência.

Enfim, o que seria a 2ª Guerra Mundial estava, em grande parte, definida antes de iniciar o conflito. A maioria dos avanços da Guerra foi linear, com exceção dos jatos, que não tiveram impacto decisivo no conflito pela imaturidade tecnológica e pelos pequenos números envolvidos.

A fórmula caça monomotor, de estrutura metálica, monoplano, de asa baixa, trem de pouso rebatível, com hélice de passo variável, tripá ou mais, com blindagem relativamente leve, tanques autovedantes e em casos raros tanques descartáveis, armado com metralhadoras, ou mais raramente canhões e muitas vezes armamentos mistos, formou a grande maioria dos caças da Guerra.

As exceções incluíam aviões a hélice bimotores, que operaram em grandes números; jatos bimotores e jatos monomotores, que ficaram prontos antes do fim da Guerra mas não operaram; e aviões foguete. Todos estes operaram em pequenos números, exceto os jatos bimotores, que ainda assim operaram em números bem menores que os aviões a hélice.

 

SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

No início da 2ª Guerra, como visto, as aeronaves modernas estavam principalmente nas mãos do Eixo. As exceções eram os estadunidenses Lockheed P-38 Lightning, família do Curtiss P-40 Hawk, ingleses Hawker Hurricane, Supermarine Spitfire, Bristol Beaufighter e de Havilland Mosquito, que tinham sido construídos em quantidades razoáveis antes da Guerra. Os Beaufighter e Mosquito originalmente eram bombardeiros, mas rapidamente se percebeu seu potencial como caças.

Os caças rapidamente passaram a executar uma diversidade de missões, como caçadores de tanques, como o Hurricane com canhões de 40 mm e o alemão Henschel-128 com canhão de 75 mm, enquanto outras aeronaves passaram a executar missões de caça, como o alemão Dornier Do-118, e estadunidenses Douglas B-25, Douglas A-20, etc.

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Douglas B-25 com 8 metralhadoras .50 no nariz (havia esquemas com mais armas!)

Os ataques iniciais do Eixo foram devastadores. Num curto espeço de tempo, o Japão tinha dominado vastas extensões do Pacífico, e a Alemanha estava às portas da Inglaterra e da URSS. A vitória do Eixo parecia ser apenas uma questão de tempo.

Após o ataque, que inicialmente pareceu bem-sucedido, a Pearl Harbor, o Eixo declarou guerra aos EUA, que até então mantinha-se relativamente neutro. Nesse momento, o Eixo assinou sua sentença de morte. O enorme potencial humano e industrial estadunidense entrou em ação e virou a maré da guerra em pouco mais de 1 ano.

Enquanto o Eixo produzia aeronaves às centenas, os EUA produziam aos milhares. Apenas a título de exemplo, somente uma fábrica da Ford construía 200 bombardeiros Consolidated B-24 Liberator POR MÊS, fora partes dessa aeronave, que enviava a outras indústrias. Nem todo o potencial do Eixo poderia vencer todo esse poder industrial e humano, sem contar o Reino Unido e outros membros menores dos Aliados, como Canadá e Austrália.

As táticas e estratégias desenvolvidas no entre-guerras mostraram-se muito eficazes, mas os Aliados rapidamente as imitaram e superaram. As vantagens ofensivas dos A6M Zero, por exemplo, foram ofuscadas por sua vulnerabilidade. Os pilotos Aliados rapidamente aprenderam as fraquezas das aeronaves do Eixo e começaram a explorá-las, começando uma guerra de atrito que, lentamente, tirou a superioridade aérea das mãos dos últimos. Pior que a perda de aeronaves, que podiam ser rapidamente substituídas – isso antes do ponto que suas fábricas começaram a ser destruídas – era a perda de pilotos, cuja substituição era difícil ou impossível.

O modelo do Eixo era enviar os pilotos para os combates, e lá permaneciam até a morte ou o fim da guerra, o que viesse primeiro. Entre os Aliados, estabeleciam-se turnos de missões, geralmente 100 ou menos, e estes pilotos, ao voltarem a seus países, repassavam sua experiência aos novatos. Isso facilitou a substituição dos pilotos experientes em combate.

O desprezo do Eixo às ações defensivas, mais o fato de terem caudas logísticas (linhas de suprimento) muito longas, acabou por custar-lhes a Guerra. Atacados por todos os lados, com dificuldades de ressuprimento, e com seus países sendo lentamente desmantelados pelos bombardeios, a derrota era inevitável.

Ainda assim, a rede de radares montada pela Inglaterra foi depois ‘copiada’ pela Alemanha, que depois introduziu a Flak (rigorosamente FlAK, diminutivo de Flugzeug Abwehr Kanone, ou AAA em alemão, e ainda hoje um apelido comum para o termo). A Inglaterra introduziu a ECM (contra-medidas eletrônicas). Ainda hoje a Flak e as ECM são vitais na guerra aérea.

Ao final da Guerra, venceram não os melhores aviões em termos ofensivos, mas os melhores em termos defensivos, pois muitos aviões Aliados foram duramente castigados por disparos de aeronaves do Eixo e voltaram para lutar outro dia, o que não ocorreu com as aeronaves do Eixo.

Merecem destaque as seguintes aeronaves: dos EUA, P-38 Lightning (que suportou o grosso da campanha aérea até a chegada em peso do North American P-51 Mustang, além de ser depois um excelente caça noturno), Republic P-47 Thunderbolt (essencial para a destruição das forças em terra e bases aéreas), P-51 Mustang (excelentes para escolta, nas fases finais da Guerra), os navais Grumman F4F Wildcat (suportaram a fase mais dura da Guerra no Pacífico), Grumman F6F Hellcat (completaram com maestria o trabalho iniciado pelo Wildcat), Vought F4U Corsair (o melhor caça a hélice da Guerra) e Northrop P-61 Black Widow (grande e eficiente caça noturno), bombardeiros que depois viraram caças Douglas A-20 Boston, Douglas B-25 Mitchell e Douglas A-26 Marauder.

Da Inglaterra, Hawker Hurricane (destruiu os bombardeiros alemães na Batalha da Inglaterra e aeronaves do Eixo no mar, sendo usado como caça descartável de autodefesa de navios), Supermarine Spitfire (complementou e depois substitui o Hurricane) e Seafire (versão naval do Spitfire), e dois que inicialmente eram bombardeiros e depois tornaram-se caças magníficos, especialmente como caças noturnos, os de Havilland Mosquito (a ‘maravilha de madeira’, por ter boa parte de sua estrutura feita em madeira compensada) e Bristol Beaufighter.

Da URSS, os Lavochkin LaGG-3, -5, -7 (as ‘maravilhas soviéticas de madeira’) e -9. A França e Itália não produziram, em quantidade, nenhuma aeronave digna de nota. As francesas foram produzidas em pequena quantidade, e as italianas, como notado anteriormente, eram mal armadas, tendo poucos sucessos.

A Alemanha produziu os Messerchmitt Bf-109 (cavalo de batalha no início da Guerra e montaria da maioria dos seus ases), Bf-110 (decepção como caça e caça de escolta, mas excelente caça noturno), Me-163 (primeiro caça-foguete operacional do mundo, mas de emprego perigoso e produzido em pequenos números) e Me-262 (primeiro jato a entrar em combate, produzido em números razoáveis, mas de operação complicada), Focke-Wulf Fw-189 (excepcional caça-bombardeiro) e seu derivado Ta-152 (excelente caça mas produzido em pequena quantidade), mais os bombardeiros que viraram caças Dornier Do-118.

O Japão produziu o Mitsubishi A6M Rei-sen (excepcional em termos ofensivos mas muito vulnerável), Kawasaki Ki-61 Hien (usava motores e partes do desenho derivados do Bf-109), Kawasaki Ki-84 Hayate (bem armado e blindado, mas introduzido tarde na Guerra) e Mitsubishi J2M Raiden (excepcional velocidade de subida e teto operacional, foi o mais bem sucedido no abate de bombardeiros), mais o Kawasaki Ki-45 Toryu (bimotor, excelente caça noturno).

Durante a Guerra as maiores inovações a entrarem em emprego foram as armas guiadas (“inteligentes”), os foguetes e mísseis ar-ar, os mísseis balísticos, mísseis de cruzeiro, aeronaves não-habitadas (VANTs), os jatos, os bombardeiros estratégicos e as asas enflechadas, além dos já mencionados empregos maciços da Flak, ECM e de radares, tanto aerotransportados quanto de solo, dos quais os radares, jatos, foguetes ar-ar, bombardeiros estratégicos, asas enflechadas, Flak e ECM tiveram emprego mais rápido, os demais ao longo dos anos e até hoje. Ao final da Guerra, os motores dos jatos já desenvolviam 750 – 1.000 kgf de empuxo.

A bomba nuclear foi fruto de uma corrida que os Aliados ganharam por muito pouco. Os bombardeiros estratégicos, mais as armas nucleares e os mísseis balísticos, lançaram uma sombra que assombrou durante toda a Guerra Fria, e que permanece até hoje.

Cabe aqui uma explicação da importância das asas enflechadas: as asas “retas” (com enflechamento mínimo ou não-enflechadas) eram de domínio dos construtores de aeronaves desde sempre, mas o desenvolvimento de asas enflechadas era já conhecido como sendo importante para o aumento de velocidade.

Asas enflechadas, entretanto, não eram usadas por duas boas razões: são de construção mais complexa e geram menor sustentação, dificultando manobras e decolagens. Por essas razões, mais o fato que asas retas não eram tão prejudiciais até aproximadamente 800 km/h, fizeram com que não se fizessem pesquisas vultosas em asas enflechadas até meados dos anos 1940.

Porém, já em torno de 1943, as aeronaves se aproximavam dos 800 km/h, especialmente os jatos, que davam seus primeiros passos na Inglaterra e Alemanha e ainda engatinhavam nos EUA. A Alemanha estava à frente no desenvolvimento de jatos, e também teve que desenvolver melhor as asas enflechadas.

Essa tecnologia, então, era essencial no desenvolvimento de aeronaves com velocidades elevadas e para o posterior e mágico Mach 1, ou seja, velocidades iguais e superiores às do som. Por essa época algumas aeronaves tinham, acidentalmente, se aproximado da velocidade do som e enfrentado problemas até então desconhecidos de compressibilidade, os quais seriam superados com a ajuda das asas enflechadas.

Foram desenvolvidas, especialmente pelos soviéticos e alemães, para destruir tanques e bombardeiros, respectivamente, conjuntos improvisados em campo. As adaptações iam de canhões a morteiros montados em asas. Muitos destes armamentos eram originalmente usados em sistemas terrestres de artilharia, indo de 37 a 105 mm(!), e a maioria foi usada contra alvos de superfície. Os principais usuários de tais armas contra aeronaves foram os alemães, que enfrentavam os bombardeiros.

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Me-262 com o monstruoso PAK-50 de 50 mm, combinação que, felizmente, não chegou a ser produzido em quantidade, pois um acerto era suficiente para abater um bombardeiro!

Os alemães e soviéticos desenvolveram ainda foguetes ar-ar (os demais países usaram os foguetes apenas como armas de ataque ao solo). Um tipo de arranjo usado pelos alemães contra os bombardeiros eram os Schräge musik (música jazz, ou inclinada), em que os canos eram apontados para cima, geralmente inclinados, e acionados por algum tipo de sensor, seja magnético ou fotovoltaico (passagem de corrente elétrica estimulada ou inibida pela luz, como os sensores usados nos postes de iluminação).

Descrição: Descrição: Descrição: Descrição: Descrição: C:\Users\Renato & Família\Desktop\Renato\shrage_01-foto.jpgDescrição: Descrição: Descrição: Descrição: Descrição: C:\Users\Renato & Família\Desktop\Renato\Junkers_Ju_88-C-6-schrage.jpg

Sistemas alemães de Schräge Musik. À esquerda, um esquema do sistema, com o sistema fotovoltaico em destaque. À direita, um caça noturno Ju-88, com o sistema em destaque no meio da fuselagem.

O foguete ar-ar mais utilizado na Guerra foi o alemão R4M Orkan (furacão), de velocidade próxima a 1.900 km/h. Havia duas versões básicas da arma, que eram montadas em grelhas de madeira que carregavam 12 foguetes cada (1 grelha por asa), um total de 24 foguetes que geralmente eram disparados em 4 salvas de 6. Os foguetes ar-ar foram usados por pouco tempo como armas anti-bombardeiros na Guerra Fria, e principalmente pela USAF.

Descrição: Descrição: Descrição: Descrição: Descrição: C:\Users\Renato & Família\Desktop\Renato\r4m.jpgDescrição: Descrição: Descrição: Descrição: Descrição: C:\Users\Renato & Família\Desktop\Renato\R4M_AT_version.jpg

À esquerda, foguetes R4M, em 2 versões, empregados pelos Me-262 contra os bombardeiros da USAAF. Um foguete bastava para abater um bombardeiro. À direita, versões portáteis antitanque foram desenvolvidas.

Não houve grandes novidades em relação às armas em si, em relação ao entre-guerras, fora a já mencionada utilização das armas de grande calibre. O canhão-revólver MK-218 foi desenvolvido, mas não chegou a entrar em uso, embora tenha servido de inspiração ao conhecido Pontiac M-39 (que arma nossos queridos F-5).

O Japão usou conjuntos similares em algumas de suas aeronaves, mas os japoneses tiveram menos sucesso que os alemães. Um dos motivos foi que as tecnologias alemãs de radares e ECM, embora menos desenvolvidas que as dos Aliados, ainda estavam próximas, o que não era o caso dos japoneses, cuja tecnologia eletrônica estava muito defasada.

Assim, os alemães desenvolveram técnicas tanto ativas quanto passivas de radar para detectar os bombardeiros, enquanto os japoneses só dispunham de técnicas visuais.]

 

GUERRA DA CORÉIA

Fora os conflitos coloniais que, tais como seus similares do pós 1ª Guerra, envolveram poucas batalhas aéreas, a Guerra da Coréia, que estourou apenas 5 anos após a 2ª Guerra, envolveu maciçamente o poder aéreo, a Flak, radares, ECM e, principalmente, viu a consolidação do poder dos jatos.

Como nas guerras após a 1ª Guerra, as aeronaves empregadas, a princípio, eram as excedentes da Guerra. Os primeiros jatos não eram muito superiores aos aviões a hélice, pelo menos não em todos os parâmetros.

O alcance, por exemplo, era bem inferior; a velocidade ascensional era inferior também. Entretanto, a velocidade era bem superior, pelo menos 200 km/h a mais, tanto a de cruzeiro quanto a máxima, o que dava vantagem em combates.

Assim como após a 1ª Guerra, vários países se apoderaram das tecnologias alemãs. A URSS estava atrasada no desenvolvimento de motores a jato, e tentou, por diversos modos, adquirir motores ocidentais quando, de forma surpreendente, a Inglaterra, com seu governo ‘de esquerda’, repassou 25 motores Rolls-Royce Nene, na época os mais avançados do mundo, completos. A URSS não perdeu tempo e passou a fazer a retroengenharia, ou engenharia reversa, dos motores, construindo primeiro a Klimov RD-45, que depois de um breve desenvolvimento gerou o VK-1. Os EUA construíram o Nene sob licença como Pratt & Whitney J42.

Descrição: Descrição: Descrição: Descrição: Descrição: C:\Users\Renato & Família\Desktop\Renato\Rolls_Royce_Nene.jpgDescrição: Descrição: Descrição: Descrição: Descrição: C:\Users\Renato & Família\Desktop\Renato\Klimov_VK-1_Engine.jpg

Motor britânico Rolls-Royce Nene (à esquerda), o melhor do mundo em sua época, já desenvolvia em torno de 2.000 kgf de empuxo, o dobro dos motores da 2ª Guerra. À direita, o Klimov VK-1, derivado do Nene por retroengenharia.

Houve duas mudanças importantes no período entre a 2ª Guerra e a Guerra da Coréia. A 1ª foi o virtual desaparecimento dos armamentos mistos (metralhadoras/canhões). A 2ª foi o virtual desaparecimento das metralhadoras em calibre fuzil dos armamentos das aeronaves. A explicação é simples. Com a maior velocidade das aeronaves, os tempos de cruzamentos eram em geral muito curtos, exceto em ataques à traseira.

Como as aeronaves a jato tinham que ser metálicas, devido às temperaturas maiores resultantes das maiores velocidades, mesmo as metralhadoras pesadas perderam seu espaço, pois em geral era preciso dezenas ou centenas de impactos para abater até mesmo caças, o que ficou patente na Guerra da Coréia.

O uso de motores avançados, mais os estudos com asas enflechadas, levaram às aeronaves transônicas, ou seja, com velocidades máximas em linha reta próximas à do som. Pelo lado ocidental, o estadunidense F-86 Sabre, com o qual os EUA passaram a Inglaterra no desenvolvimento de aviões; pelo lado soviético, o MiG-15 ‘Fagot’. O Hawker Hunter apresentou problemas de desenvolvimento e não chegou a tempo para a Guerra da Coréia. Não se pode deixar de observar a similaridade entre os dois, que por sua vez são muito similares ao Focke-Wulf Ta-183 alemão, que nunca passou de modelo de túnel de vento.

Descrição: Descrição: Descrição: Descrição: Descrição: C:\Users\Renato & Família\Desktop\Renato\F86Mig15Chino2006.jpgDescrição: Descrição: Descrição: Descrição: Descrição: C:\Users\Renato & Família\Desktop\Renato\NellisTailChase.jpg

Foto à esquerda: F-86F Sabre (à esquerda) e MiG-15bis ‘Fagot’; pode-se ver que o sabre é maior que o MiG. Foto à direita: Sabre (abaixo) e ‘Fagot’ acima. Observe-se o radome preto do radar teloemétrico do Sabre, e também seu maior rastro de fumaça

O armamento dos caças a jato diferia muito de seus contrapartes a hélice da 2ª Guerra, alguns com metralhadoras pesadas, outros com canhões, outros com foguetes. A grande diferença estava nos sistemas de mira, com quase todos empregando miras defletoras, e o F-86 Sabre indo além e empregando um radar para correção de mira, o que aumentava enormemente a precisão do tiro.

A vantagem não era, entretanto, totalmente aproveitada devido ao fraco poder de impacto das 6 metralhadoras que a USAF teimava em manter no Sabre. Mais tarde, o sabre levaria canhões, foguetes e, finalmente, os primeiros mísseis ar-ar.

O alcance dos jatos era um problema sério. O curto alcance não era problema quando na função defensiva, mas era um grande complicador quando em missões ofensivas. Deve-se lembrar que as técnicas de REVO eram pouco desenvolvidas na época, pouco mais que experimentais. Em contrapartida, o uso de depósitos descartáveis estava muito bem difundido.

Quando a Guerra da Coreia estourou, ambos os lados estavam equipados quase que exclusivamente com aviões a hélice. Os jatos mais empregados no teatro eram os F-80, que eram bastante superiores aos aviões a hélice disponíveis. A superioridade das forças da OTAN, não apenas pelos F-80, mas pelos aviões a hélice mais avançados já construídos até então, e a presença maciça de pilotos veteranos da 2ª Guerra, foi esmagadora, e a pequena Força Aérea da Coréia do Norte foi rapidamente varrida dos céus.

Qual não foi a surpresa da ONU quando a China entrou na guerra, com um número gigantesco de tropas e aeronaves MiG-15, anos-luz mais avançadas que as aeronaves da ONU! A ONU sofreu muito até o F-86 Sabre estar difundido entre suas forças. As performances gerais do MiG-15 eram melhores, principalmente por ser mais leve (MTOW de 6.105 kg contra 8.234 kg do Sabre), já que era menor e levava menos combustível. O problema para a Coréia, China e URSS era que os pilotos em geral eram inexperientes (exceto pelos ‘honchos’, literalmente ‘maiorais’), e a ONU conseguiu a superioridade em alguns lugares

As cifras de abates são hoje objeto de contestação, após a abertura dos arquivos soviéticos, principalmente devido ao fato de muitos casos citados como abates provavelmente terem sido apenas danos, devido ao fraco poder das Browning .50.

A verdadeira sorte da ONU foi que o armamento assimétrico do MiG-15 (1 canhão de 37 mm + 2 canhões de 23 mm) dificultava a precisão dos disparos, ao passo que o radar telemétrico do Sabre aumentava a precisão de suas armas. O grande peso dos projéteis soviéticos quase garantia a letalidade com apenas um acerto. Se o MiG-15 tivesse armamento simétrico e um radar para correção de tiro – por exemplo, 4 canhões NR-23 – a situação teria sido bem diferente.

No geral, os MiGs conseguiram o que queriam: a aviação da ONU não foi eficaz como a dos Aliados na 2ª Guerra, e o resultado final foi um empate. Foram criadas as duas Coreias, que de tempos em tempos se estranham, até hoje.

Nenhum dos lados ficou satisfeito com os resultados dos combates aéreos, e pediram novos caças após a guerra. Os caças resultantes foram o MiG-21 ‘Fishbed’ e o Lockheed F-104 Starfighter.

Outro ‘filho’ da guerra foi um canhão de alta cadência de fogo, o General Electric (hoje General Dynamics) M-61 Vulcan, de 6 canos calibre 20 mm, e cadência de 6.000 disparos/minuto (100/segundo, ou, mais realisticamente, 70 no 1º segundo de tiro). O primeiro caça projetado para levar o M-61 desde o princípio foi justamente o F-104 Starfighter.

 

CANHÕES DE MÚLTIPLOS CANOS

Ficou claro, num período em que os caças se cruzavam a mais de 1.500 km/h, que os tempos de encontro seriam sempre muito curtos. Nesse tempo, deveriam ocorrer impactos, pelo menos uns 2 ou 3 de canhão. Considerando-se a dispersão natural dos disparos, erros de pontaria, o tamanho das aeronaves, tempo de cruzamento, e outras variáveis, concluiu-se que seria necessária uma cadência de aproximadamente 100 disparos por segundo.

Isso demandaria muitas armas, pelos menos 6 canhões com cadência de 1.000 RPM. Além dos problemas de falhas associados a tal instalação, seria muito difícil, volumoso e pesado instalar tantas armas e sistemas de alimentação.

A solução, por irônico que possa parecer, tinha surgido mais de um século antes. Richard Jordan Gatling tinha inventado uma metralhadora multicano, com fonte de energia externa, que poderia, potencialmente, atingir cadências muito elevadas sem sobreaquecer os canos, pois apenas um cano estava disparando a cada ciclo. Na prática eram 6 fuzis de repetição em uma única arma.

Quando surgiram as armas projetadas por Hiram Stevens Maxim, autoalimentadas, as armas Gatling saíram de uso. Entretanto, a aparente desvantagem de acionamento externo poderia ser vantajosa, pois caso um cartucho falhasse, ele seria simplesmente ejetado numa arma Gatling, e causaria falha numa arma Maxim.

Fontes externas de energia agora estavam facilmente disponíveis na forma de motores pneumáticos e hidráulicos, confiáveis e compactos, em uso abundante na aviação, e a General Electric começou pesquisas durante a década de 1940.

Surgiu, algum tempo depois, a necessidade de armar as aeronaves com uma única arma, o projeto Vulcan. A necessidade de uma elevada cadência de fogo em uma única arma dava poucas alternativas, e como a GE estava na frente, ganhou a disputa. A arma era o canhão General Electric M61 Vulcan.

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Canhão General Electric (hoje General Dynamics) M61A1 Vulcan instalado em um Lockheed F-104G Starfighter da Luftwaffe.

O M61 é composto por 6 culatras e 6 canos, calibre 20 x 102 mm, o mesmo dos Hispano-Suiza da 2ª Guerra e que já estava em uso nos M-39 e nos Hispano-Suiza da 2ª Guerra. Ele dispara em uma cadência de 6.000 RPM (100 disparos/segundo ou aproximadamente 17 disparos/segundo/cano). O canhão em si pesa 112 kg, muito mais leve que 4 canhões como o M-39 (81 kg cada), um arranjo que daria a mesma cadência.

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Representação da instalação do Vulcan em um F-16

O sistema apresentava problemas de alimentação nas primeiras versões, mas isso foi solucionado na versão M61A1. Todas as armas do tipo precisam de algum tempo para começar a disparar, e mais algum tempo para interromper os disparos, considerando-se o momento em que se aperta e solta o gatilho. Levando-se tudo isso em conta, o M-61 dispara “apenas” 70 projéteis no 1º segundo de tiro, sendo que raramente é necessário mais que isso para abater um alvo.

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Saturamento de um MiG-29 por um M61A1 Vulcan em condições ideais. É possível atingi-lo com até 6 projéteis, o que seria mais que suficiente para abater o alvo.

Outras armas Gatling foram desenvolvidas nos EUA, como a Mini-Gun (calibre 7,62 mm, 6 canos) e o M-197 (20 mm, 3 canos), que geralmente são empregados em helicópteros, o GAU-12 (25 mm, 5 canos), usado nos Harrier, GAU-22 (25mm, 4 canos), planejado para os F-35, o GAU-8 (30 mm, 7 canos), que é o mais poderoso dos canhões já desenvolvidos para aeronaves, entre outros.

Os russos e chineses desenvolveram armas tipo Gatling apenas em anos recentes, e seu uso tem sido mais direcionado a sistemas Flak. O AO-9 russo (23 mm, 6 canos) chega a 8.000 RPM!! As armas russas, curiosamente, são autoalimentadas. O M-61 foi aplicado também no sistema Flak Phalanx, o GAU-8 e o GAU-12 também encontraram usos em Flaks, embora menos disseminados que o Phalanx.

 

GUERRA DO VIETNÃ

Entre a Guerra da Coréia e a Guerra do Vietnã, a performance das aeronaves subiu exponencialmente. De subsônicas a Mach 2 e além levou menos de 10 anos. Considerou-se que, com tais velocidades, os dogfights tinham chego ao fim. Outro fator que contribuiu, e muito, para essa mudança de paradigma, foi o surgimento dos primeiros mísseis ar-ar autônomos.

Cabe uma explicação: os primeiros mísseis ar-ar surgiram na Alemanha na 2ª Guerra. Eram filoguiados, ou seja, o operador transmitia as informações de correção para o míssil através de cabos, no princípio CLOS (comando à linha de mira). Isso simplificava o desenho do sistema de guiagem, mas complicava a operação, ainda mais contra aeronaves de alto desempenho. Mísseis filoguiados contra aeronaves supersônicas seria impraticável, ainda mais em aeronaves monoposto. As aeronaves armadas com foguetes e/ou mísseis geralmente não tinham canhões.

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Foguetes ‘Mighty Mouse’ sendo disparados pelo F-86 Sabre. Uma salva seria o suficiente para abater um bombardeiro.

Algum tempo depois da 2ª Guerra, surgiram mísseis SARH (guiagem por radar semi-ativo, ou seja, se orientavam pelos reflexos do radar sobre o alvo), e IR (infra-vermelhos) passivo automático e até mísseis BVR (alcance maior que o visual). Até foguetes com ogivas nucleares, como o AIR-2 Genie, foram criados para enfrentar as formações de bombardeiros. A promessa do combate BVR, como mencionado no site, ainda não se concretizou.

Exemplo da rápida transição da época foi o F-89 Scorpion. Ele teve todos os tipos de armamentos: iniciou a carreira com canhões, depois usou foguetes e, por fim, mísseis AIM-4 Falcon, tanto na versão IR quanto SARH. O F-86 passou por processo semelhante.

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Northrop F-89J Scorpion. As armas brancas no meio das asas são AIR-2ª Genie de ogiva nuclear, e as armas ao lado deles são mísseis AIM-4 Falcon. Observe-se os enormes depósitos de combustível, não descartáveis, nas pontas das asas. Essa versão não tinha canhões.

Tais mísseis foram concebidos para uso contra bombardeiros a grandes altitudes, e testes em ambientes controlados revelavam eficiências perto de 100%. Para que as aeronaves alcançassem suas velocidades máximas, era importante voarem a grandes altitudes, o que facilitava o serviço dos SAM (mísseis superfície-ar).

Alguns teóricos declararam o fim dos caças, pois os SAM e os interceptadores de voo em linha reta e grande velocidade poderiam dar conta de 100% das ameaças, com os SAM fazendo o grosso do serviço, e os interceptadores cobrindo as falhas de cobertura dos SAM.

Por alguns anos, a performance dos aviões cresceu mais que a dos SAMs. Imaginou-se que seria assim indeterminadamente, ilusão que acabou quando o U-2 de reconhecimento de Francis Gary Powers foi abatido a mais de 20 mil metros de altura.

A partir deste momento, as operações passaram a ser a baixa altitude, e a partir daí as performances de detecção e tiro para baixo passaram a ser mais importantes que o alcance e a velocidade dos mísseis a grande altitude.

O progresso dos mísseis e radares em termos de detecção e tiro para baixo foi mais lenta que das performances das aeronaves, devido à necessidade do avanço computacional para processamento dos dados Pulso-Doppler. Nesse intermeio, houve a Guerra do Vietnã.

Naquela guerra, os alvos não eram bombardeiros voando a grande altitude, contra o céu frio, e sim aeronaves pequenas voando perto do solo e rios. As ROE (regras de engajamento) impediam que aeronaves fossem atacadas a menos que fossem identificadas visualmente. Os pequenos MiG-17, -19 e -21 levavam vantagem contra os enormes F-105 e F-4. Além disso, os F-4 foram projetados como interceptadores de longo alcance, não como caças, e sofriam para tentar abater os caças soviéticos.

Os mísseis simplesmente não foram projetados para tais situações. A média de sucesso, que superava os 90% em tempos de paz, caíram para 18% (AIM-9) e 9% (AIM-7). Essa média ruim derivava de diversos motivos, entre eles a obrigação de identificar visualmente os alvos, o mau tempo comum na região, os alvos estarem manobrando e não estáticos, disparos fora do alcance máximo ou mínimo, ângulos de disparo elevados, etc.. Não se pode falar em ECM, pois os alvos eram simples demais e não dispunham de ECM.

Com isso, aeronaves projetadas basicamente como de ataque ou interceptadores, como o F-102, F-104, F-105 e F-106, nada obtiveram (exceto alguns abates isolados pelos F-105). Muitos abates foram, ironicamente, feitos com canhões. Isso foi um problema sério a princípio, pois o F-4 e o MiG-21 não tinham canhões internos.

No MiG-21 foi relativamente fácil adaptar um pod (casulo) com o excelente canhão duplo GSh-23-2, devido aos canos extremamente curtos e ao baixo volume da arma em si, mas no caso do F-4 o problema era bem mais sério, pois o Vulcan é uma arma extremamente volumosa. A montagem em pod mostrou-se ineficiente, com uma precisão muito baixa. A solução foi um redesenho quase total da frente do F-4, com o que se chegou ao F-4E.

Descrição: Descrição: C:\Users\Renato & Família\Desktop\Renato\d0056023_4ab8ea2938a6d.jpgDescrição: Descrição: C:\Users\Renato & Família\Desktop\Renato\d0056023_4ab8e6507ca2b.gif

À esquerda, Mc Donnell Douglas F-4 Phantom II da RAF, com canhão em pod. À direita, o redesenho pelo que o F-4 teve que passar para instalar a arma no nariz.

O principal problema, mesmo, foi o treinamento deficiente dos pilotos, de ambos os lados. Os EUA aprenderam a lição, a USN (Marinha dos EUA, englobando a Marinha e os Marines ou Fuzileiros Navais) criou Topgun (junto mesmo, Top Gun é o nome do filme) e a USAF (Força Aérea dos EUA) criaram as FWS (fighter weapon schools, escolas de caças) e os exercícios Flag, famosos até hoje.

Mais importante ainda, o desenvolvimento dos radares pulso-doppler e de novos caças e mísseis mudou a face dos combates aéreos para sempre, e a vantagem que os mísseis tinham foi dada como certa para eles novamente. O tempo provaria que não era assim.

Melhores caças: estadunidenses McDonnel Douglas F-4 e soviéticos MiG-17, -19 e -21. Melhores armas: estadunidenses M-61 Vulcan e M-39 Pontiac e soviética GSh-23-2.

 

GUERRAS NO ORIENTE MÉDIO E EM OUTROS LOCAIS

Não foram os EUA que se envolveram em guerras, obviamente. Das guerras que ocorreram em outros locais a importância dos canhões merece ser destacada nos confrontos entre Índia e Paquistão, o conflito das Falklands (Malvinas) e as guerras no Oriente Médio.

Entre Índia e Paquistão a situação foi mais ou menos um empate, com os canhões provando sua letalidade ao atingirem seus alvos. Os mísseis foram usados com frequência nestes conflitos, com resultados tão medíocres quanto os do Vietnã. As principais armas eram os M-61, M-39, Aden (do Hawker Hunter) e soviéticas, como o GSH-23-2.

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MiG-21 bis indiano disparando seu GSh-23-2. Observe-se o enorme flash do disparo.

Nas Falklands, os canhões foram importantes. Embora as informações não sejam confirmadas por fontes independentes, é possível que algumas das perdas que os ingleses relataram como acidentes foram na verdade abates dos argentinos. Os argentinos abateram helicópteros com canhões.

Os mísseis argentinos, tão ou mais antigos que os usados no Vietnã mais de 10 anos antes, foram ainda menos eficazes, pois o Harrier era um alvo difícil, pois o sistema de empuxo enviava grande quantidade de ar frio para trás, diminuindo a assinatura IR no quadrante traseiro. Os ingleses abateram alguns alvos com canhões. Armas principais: M-39 Pontiac e Aden.

No Oriente Médio, houveram diversas grandes guerras. A primeira foi a da Independência, (1947 – 1949), depois a de Suez (1956), a mais fantástica de todas, a dos Seis Dias, (1967), Yom Kippur(1973), Primeira Guerra do Líbano (ou Guerra do Vale do Beka’a, 1982). Entre elas, houve guerras de atrito, e os conflitos mais recentes, Segunda Guerra do Líbano (2006) e Chumbo Endurecido (2008 – 2009) não envolveram combates aéreos, mas o poder aéreo usou canhões nas funções de ataque ao solo e apoio aproximado.

A Guerra da Independência envolveu aeronaves e pilotos da 2ª Guerra, e Israel obteve uma vitória apertada. A Guerra de Suez contou com a ajuda de França e Inglaterra não envolveu combates aéreos. Mas os canhões foram vitais nas missões de ataque e suporte.

A Guerra dos Seis Dias é uma obra de arte da guerra moderna, envolvendo todo e qualquer aspecto a ser estudado, de engodo a ataque inaugural arrasador. Os árabes perceberam, após a Guerra de Suez, que precisavam de forças armadas modernas. Investiram pesadamente nas forças terrestres, e muito também nas forças aéreas, comprando bombardeiros Tu-16 e mísseis de cruzeiro. Como ainda hoje, os árabes não aceitariam nada menos que a expulsão total dos judeus do Oriente Médio. Temendo um segundo Holocausto, os israelenses agiram antes ao invés de esperar para um contra-ataque como nas guerras anteriores.

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Charge árabe publicada no 1º dia da guerra (obviamente antes dos ataques), mostrando Israel sendo esmagado por Egito e Síria.

Usando técnicas de engodo, os israelenses fizeram os árabes, especialmente os egípcios, que tinham a força aérea mais poderosa, pensar que o estado de prontidão deles era baixo. Enviaram alguns reservistas para a praia e adotaram uma rotina altamente previsível de voos de treino sobre o Mediterrâneo.

Fizeram isso por alguns dias, e quando perceberam que os egípcios baixaram a guarda, realizaram ataques devastadores no momento da troca da guarda das patrulhas aéreas, e pegaram os egípcios tomando café da manhã. Ataques poderosos com bombas, mísseis e canhões reduziram a Força Aérea Egípcia (EAF) a destroços e ferro retorcido. Alguns Tu-16 decolaram e atacaram Israel, mas foram repelidos por Fouga Magister, aeronaves de treinamento (da mesma classe e época dos nossos Xavantes), que eram as únicas aeronaves disponíveis para a defesa do país no plano ousado dos israelenses.

Descrição: Descrição: Descrição: Descrição: C:\Users\Renato & Família\Desktop\Renato\six day 2.jpgDescrição: Descrição: Descrição: Descrição: C:\Users\Renato & Família\Desktop\Renato\Egyptian_Aircraft_destroyed_on_runway.jpg

Resultados da primeira onda de ataque israelense. Resultados finais de abates: 452 aeronaves árabes x 46 aeronaves israelenses (aproximadamente 10:1)

Após os devastadores ataques iniciais, contra os aeródromos egípcios mais próximos, Israel atacou o 2º alvo mais importante, a Força Aérea Síria (SAF), e embora o efeito surpresa tenha sido menor, a eficiência dos ataques ainda foi muito alta. O mais importante ressaltar nessa guerra foi a pequena Real Força Aérea Jordaniana (RJAF). Ela era composta apenas por pouco mais de 10 aeronaves Hunter. A princípio, ninguém em sã consciência enfrentaria os Mirage III novinhos em folha com aeronaves 15 anos mais antigas.

Ledo engano: os pilotos jordanianos, ao contrário dos sírios, egípcios e iraquianos, eram treinados não por soviéticos e suas técnicas de interceptação vetoradas do solo, e sim pelos ingleses, com técnicas e táticas equivalentes aos israelenses. Resultados: os israelenses não conseguiam usar mísseis devido às manobras avançadas dos jordanianos, e os 2 canhões do Mirage eram do mesmo calibre e tipo que os 4 dos Hunter. A menor velocidade do Hunter era, em alguns casos, uma vantagem, pois permitia que os Mirage os ultrapassassem facilmente. Para felicidade dos israelenses, a RJAF tinha apenas 10 Hunters que foram, afinal eliminados.

Descrição: Descrição: Descrição: Descrição: C:\Users\Renato & Família\Desktop\Renato\rjaf005.jpgDescrição: Descrição: Descrição: Descrição: C:\Users\Renato & Família\Desktop\Renato\rjaf_hunter_kill_mirage_gun_in_64.jpg

À esquerda: Hawker Hunter da RJAF. À direita: Mirage da IAF sendo abatido por um Hunter jordaniano.

As ROE para os pilotos da IAF eram extremamente flexíveis. Mesmo sem contar com mísseis de alcance BVR, a eficiência da IAF foi muito, muito mais alta que os estadunidenses no Vietnã, que acontecia na mesma época. Ao invés de usar indiscriminadamente mísseis ou canhões, a IAF usou, inteligentemente, uma combinação dos dois. O resultado, tanto na Guerra dos Seis Dias quanto nas seguintes, foi o domínio total dos céus do Oriente Médio.

É claro que uma ação tão ousada teve seu preço político. A França aplicou um pesado embargo a Israel, recusando a entrega até mesmo de aeronaves já pagas. Felizmente, para Israel, os EUA preencheram o vácuo deixado pelos franceses, e já no Yom Kippur (1973) a IAF era, predominantemente, uma força aérea ‘americana’, sem contar a retroengenharia melhorada do Mirage, o Kfir.

Na Guerra do Beka’a, onde o F-15 e o F-16 foram usados pela 1ª vez, com efeitos devastadores: segundo a IAF, foram mais de 100 vitórias contra 0 derrotas. Mesmo se forem empregadas as cifras da Síria, as derrotas da IAF não chegaram a uma dezena, dando um kill ratio (razão de troca) superior a 10:1.

Isso não se deve apenas ao melhor treinamento da IAF, mas também ao uso de ECM, AEW (alerta aéreo antecipado) com o uso dos E-2 (então recém adquiridos), e à inferioridade das técnicas soviéticas, que davam autonomia praticamente zero aos pilotos sírios.

Os israelenses usaram Sparrows, Sidewinders e canhões para obter as vitórias. Não é difícil de imaginar como as vitórias foram tão altas: os F-15 e F-16 são bem mais ágeis que os MiG-23 usados pelos sírios, e posicionar-se para um kill com canhão seria fácil para os bem-treinados pilotos da IAF.

Armas principais: soviéticas NR-30 e GSh-23-2, francesa DEFA, inglesa ADEN e estadunidenses M-61.

 

GUERRA DO GOLFO E POSTERIORES

Houve guerras menores após a Guerra do Beka’a, notoriamente a Irã-Iraque (1982-1988), mas as técnicas soviéticas fizeram com que os combates fossem apenas posicionamento e disparo de mísseis, sem manobras e com pouquíssimo uso de canhões.

Na Guerra do Golfo (1991), a arma principal foram os mísseis, embora a maioria ainda dentro do alcance visual. Dois dos poucos abates com canhões, ironicamente, foram obtidos pelos A-10, que são aeronaves de ataque e não caças. Quando os pilotos de caça reclamaram, dizendo que era função deles, os pilotos dos A-10 retrucaram sugerindo que os pilotos de caça atacassem tanques com os M-61 e armas ar-ar.

Nas guerras seguintes, como a de Kosovo (1999) Iraque (2003-presente) e Afeganistão (2001-presente), houve poucos embates aéreos, os quais foram resolvidos por mísseis.

A tendência atual é que os mísseis de super-alta agilidade leve os pilotos a evitar dogfights com canhões, pois entrariam no alcance dos mísseis inimigos antes de poder usar os canhões.

As armas principais da época são as mesmas do período anterior.

 

 

ARMAS DE ENERGIA DIRETA

Há basicamente duas classes de DEW (armas de energia direta), EMP (pulso eletromagnético) e raios laser. As armas EMP visam a danificar os aviônicos, enquanto os lasers visam a causar danos físicos no alvo ao concentrar grande quantidade de energia em pouco espaço e tempo.

Não vou discutir os fundamentos de armas DEW neste artigo, embora possa, eventualmente, falar disso em outros artigos. As armas laser estão melhor desenvolvidas, embora por enquanto estejam restritas a sistemas grandes demais para ser instalados em caças.

Os sistemas EMP ainda são muito imaturos, pois, como quaisquer sistemas DEW, não distinguem amigo de inimigo, e seu uso teria que ser muito cauteloso, correndo ainda o risco de danificar a própria aeronave que dispare o sistema.

Os lasers estão melhor desenvolvidas, mas ainda tem duas limitações muito, muito sérias para a instalação de lasers em caças. A primeira é o tamanho do sistema gerador de energia. A tecnologia atual requer sistemas muito grandes, ocupando quase toda a fuselagem de um Boeing 747, ou de um caminhão. No caso do sistema do tamanho de um caminhão, o alcance útil é equivalente ao de um sistema de canhão de alta potência ou de um míssil portátil, em torno de 5 km ou mais. O sistema do tamanho do 747 tem alcance de centenas de quilômetros.

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Esquema interno do YAL1- ABL Note-se o imenso volume que o sistema ocupa.

A outra limitação deriva da primeira. Lasers são, basicamente, raios de luz concentrados e, assim como a luz, são absorvidos pela atmosfera. Deixando de lado a absorção e as limitações decorrentes da atmosfera, ainda mais em tempo adverso, há que se considerar que, pelas Leis da Termodinâmica, nenhum sistema tem eficiência energética de 100%, e as perdas de ordem térmica, em forma de calor, precisam ser dissipadas.

Sistemas para dissipação de calor são caros, pesados, volumosos e podem aumentar a assinatura IR da aeronave. Na atualidade, os únicos lasers aerotransportados que são práticos para caças são aqueles relacionados à telemetria (medida de distância), LADAR (ou LIDAR, radar laser/a luz) e LRMTS (sistemas de telemetria e/ou marcação/acompanhamento de alvos).

Um uso recente e particularmente eficiente é telemetria para ajudar nos cálculos do disparo de canhões. Inclusive, o projetista do MiG-29 disse que, se soubesse que o sistema instalado no caça seria tão eficiente, teria projetado a aeronave com a metade da munição!

 

 

CANHÕES MODERNOS

à M134 Mini-gun: EUA, arma utilizada no A-37 Dragonfly em desativação e helicópteros, principalmente como arma lateral, e em diversos sistemas terrestres. Cadência (aviação): 6.000 RPM, 6 canos, calibre 7,62 x 51 mm.

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M134 Mini-gun na porta lateral de um helicóptero Sikorsky S-70 Blackhawk em ação no Afeganistão

à Browning M2: EUA. A eterna ‘pesada .50’ continua em uso, principalmente como arma lateral em helicópteros e arma em aeronaves leves, como as de treinamento e o nosso A-29 Super Tucano. Cadência: 485 – 1.200 RPM (depende da versão), 12,7 x 99 mm

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Browning M2 na asa do Embraer A-29 Super Tucano da FAB.

à M-39 Pontiac: EUA, em uso apenas no F-5 atualmente, embora já tenha armado diversas aeronaves estadunidenses: Cadência: 1.500 RPM, 1 cano, 20 x 102 mm

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M-39 em um Northrop F-5 da FAB

à M197: EUA, arma principal do helicóptero AH-1 Cobra das últimas versões. Cadência: 730 RPM, 3 canos, calibre 20 x 102 mm.

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Canhão GD M197 instalado em um Bell AH-1 Cobra

à M-61A1: EUA, usado na maioria dos caças estadunidenses atuais, como o F-14, F-15, F-16 e versões mais antigas do F-18, além do sistemas Flak Phalanx e SeaRam (navais) e M163 VADS e Centurion C-RAM (exército). Cadência: 6.000 RPM (menor nos sistemas Flak), 6 canos, calibre 20 x 102 mm.

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Canhão GD M61A1 conforme utilizado no Boeing (ex-McDonnell Douglas) F-15E

à M-61A2: EUA, versão mais moderna do M-61, mais compacto e leve, instalado no F-22 e em versões mais recentes, como o F-18E. Cadência: 6.600 RPM, 6 canos, calibre 20 x 102 mm.

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Sistema de canhão GD M61A2 conforme utilizado no Lockheed F-22

à GSh-23: URSS/Rússia, usada em versões finais do MiG-21 ‘Fishbed’, MiG-23 ‘Flogger’, algumas versões do Mil Mi-24 ‘Hind’ e em diversos sistemas de pods, como no Su-15 ‘Flagon’ e torretas de bombardeiros. Canhões desse calibre também são muito comuns em Flaks. Cadência (em aeronaves): 3.400 – 3.600 RPM, calibre 23 x 115 mm.

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Canhão GSh-23-2 instalado em um MiG-23 ‘Flogger

à GAU-12: EUA, arma principal do AV-8B e do sistema Flak LAV-AD. Cadência: 4.200 RPM, 5 canos, calibre 25 x137 mm.

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GAU-12 e alguns cartuchos 25 x 137 mm

à GAU-22: EUA, derivado do GAU 12, previsto para uso interno no F-35A (versão de decolagem convencional) e em pods no F-35B (versão STOVL) e F-35C (versão embarcada). Cadência: 3.300 RPM, 4 canos, calibre 25 x 137 mm

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GAU-22 e alguns cartuchos 25 x 137 mm

à Mauser BK-27: Alemanha, usado no Tornado (1 no ADV, 2 no IDS), Eurofighter, Gripen e Alpha Jet. Muito poderoso, mais que o 30 mm ADEN/DEFA. Cadência: 1.700 RPM, 1 cano, 27 x 145 mm.

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Mauser BK-27 no Saab JAS-39 Gripen

à Aden: Inglaterra, arma principal dos Harrier, Sea Harrier e SAAB Draken, que estão em processo de desativação, e em pods em aeronaves como o BAe Hawk. Cadência: 1.200 – 1.700 RPM (depende da versão), 1 cano, calibre 30 x 113 mm

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Aden em uso em um BAe Hawk da Suíça. Observe-se o enorme flash do disparo

à DEFA 553: França, em uso em um número enorme de aeronaves, entre elas a família Mirage, muitas em uso e outras em processo de desativação. Uma versão derivada é usada no helicóptero franco-alemão Eurocopter Tiger (cadência de apenas 750 RPM). Cadência: 1.300 RPM, 1 cano, 30 x 113 mm.

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DEFA em montagem dupla, conforme usado nos saudosos Mirage III

à M230 ‘Chain Gun’: EUA, arma principal do AH-64 Apache. Curiosamente, embora tenha o mesmo calibre do Aden e do DEFA, as munições das 3 armas não são intercambiáveis! Entre os parâmetros acordados por França e Inglaterra não estavam alguns referentes à alimentação, então embora os projéteis em si sejam os mesmos, os cartuchos completos são incompatíveis! Cadência: 600 RPM, 1 cano, 30 mm.

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M230 ‘Chain Gun’ instalado em um Boeing (ex Hughes, ex  McDonnell Douglas) AH-64 Apache

àNexter (Ex-GIAT, Ex-DEFA) 30M791: França, usado no Rafale. A maioria dos canhões-revólver, como o Aden, o DEFA, o M-39 e o BK-27 usam cinco câmaras, o M791 usa sete, o que facilita a maior cadência de fogo, embora com possível redução da vida útil do cano. Cadência: 2.500 RPM, 1 cano, 30 x 150mm.

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Nexter 30M791, canhão-padrão do Dassault Rafale

à NR-30: URSS, usado ainda em aeronaves da época da Guerra fria, como o Su-7/22 ‘Fitter’ e derivados, MiG-19 e derivados, Nanchang Q-5 e derivados. Apesar de antigo, é um dos mais poderosos canhões já instalados em aeronaves, devido ao enorme tamanho e peso de seus projéteis. Tem um ‘flash’ tão grande que sua instalação requer que sejam instalados, perto da boca do cano, painéis de aço para aguentar o ‘tranco’!. Cadência: 1.000 RPM, calibre 30 x 155 mm.

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NR-30 instalado na raiz da asa de um MiG 19 ‘Farmer’, o primeiro caça supersônico a entrar em operação

à GSh-301: Rússia, versão mais recente dos canhões como o NR-30 e outros. Seu calibre foi fruto de um longo e cuidadoso desenvolvimento. Em alguns lugares é incorretamente denominado GSh-30-1. Uso nas aeronaves MiG-29 e derivados, Sukhoi Su-27 e derivados. Cadência: 1.800 RPM, 1 cano, 30 x 165 mm.

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Canhão russo GSh-301.

àGSh-30-2: Rússia, usado no Su-25 e derivados. Usado também nos sistemas mistos Flak/SAM Pantsir/Sosna. Cadência: 3.000 RPM, 2 canos, 30 x 165 mm.

Descrição: C:\Users\Renato & Família\Desktop\Renato\gsh30_big.jpgDescrição: Descrição: C:\Users\Renato & Família\Desktop\Renato\SU-25 su25_3 (1).jpg

Canhão russo GSh-30-2 (à esquerda) e à direita a instalação em um Su-25. Observe a grande boca dos dois canos do canhão.

à GAU-8: EUA, arma exclusiva do A-10 e do sistema Flak Goalkeeper. O mais poderoso canhão atualmente instalado em aeronaves. Cadência: 3.900 RPM, 7 canos, calibre 30 x 173 mm (o recuo da arma é maior que o empuxo de um dos dois motores do A-10!).

Descrição: C:\Users\Renato & Família\Desktop\Renato\d0056023_4ab8ed93064f1.jpgDescrição: C:\Users\Renato & Família\Desktop\Renato\gatling_gau-8.jpgDescrição: C:\Users\Renato & Família\Desktop\Renato\d0056023_4ab8ed2002866.jpg

À esquerda, a enorme boca dos sete canos do GAU-8 (note-se o tamanho do cartucho!). Ao meio, o sistema GAU-8 completo, com o tambor de munição, ao lado de um Fusca. Além de ser mais longo que o carro, o motor hidráulico que move o sistema tem aproximadamente 70 HP, mais ou menos o mesmo que o motor do carro! À direita, o sistema completo instalado no nariz do A-10. Ao contrário de outras aeronaves, o A-10 foi projetado em torno do canhão, a tal ponto que o trem principal teve de ser deslocado para a direita, para que o cano que dispara, que fica alinhado com o eixo central da aeronave, a posição ideal para que o enorme recuo não prejudicasse a precisão dos disparos.

 

Em anexo, uma tabela com as principais propriedades balísticas dos projéteis. Há uma infinidade de tipos diferentes de projéteis em uso, mas os mais destrutivos, sem surpresa alguma, são os do GAU-8, com a maior V0 e a maior massa.

Tabela 1. Calibres mais utilizados nas metralhadoras e canhões ar-ar modernos.

Calibre

Origem

Massa típica do projétil (g)

V0 típica do projétil (m/s)

Explosivo? (em geral)

7,62 x 51 mm NATO

EUA

9,7 – 11,3

790 – 850

Não

12,7 x 99 mm NATO

EUA

41,9 – 52

860 – 928

Não

20 x 102 mm

Inglaterra

100 – 102,4

1.035 – 1.050

Sim

23 x 115 mm

Rússia

175

715

Sim

25 x 137 mm NATO

EUA

184 – 215

1.000 – 1.040

Sim

27 x 145 mm

Alemanha

260

1.025

Sim

30 x 113 mm NATO

Inglaterra e França

237

820

Sim

30 x 150 mm

França

244 – 270

1.065

Sim

30 x 155 mm

Rússia

400

800

Sim

30 x 165 mm

Rússia

386 – 404

880 – 890

Sim

30 x 173 mm

EUA

360 – 425

990 – 1.070

Sim

 

 

Descrição: C:\Users\Renato & Família\Desktop\Renato\ModernAC.jpg

Munições da tabela acima. O 7,62 x 51 mm NATO não está na foto. O 20 x 110 mm é uma variação do 20 x 102 mm, usado apenas no Phalanx naval, e por isso não está na tabela. O 37 x 155 mm, último da lista, era a munição empregada no canhão N-37 usado no MiG-15 e no MiG-17, ambos já aposentados, e por isso não está na tabela.

 

Obs.: 1) Fonte: Wikipedia, principalmente

2) A V0 depende de diversos fatores, como: comprimento do cano, lote, temperatura ambiente, massa (‘peso’) do projétil, etc.. Os valores apresentados são apenas uma referência. Sem as propriedades balísticas e um programa apropriado para cálculo, fica difícil definir o alcance do projétil tendo apenas a V0, mas em geral quanto maior a V0, melhor o alcance.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Foi extremamente divertido escrever este artigo quase todo da cabeça (usei ‘colas’ apenas nos dados numéricos dos canhões e calibres rs), e trabalhoso também. Reduzi minha ignorância escrevendo-o, e espero que outros possam fazer o mesmo ao ler (confesso que ficou bastante longo!).