Pista de Dispersão no Brasil

O Brasil possui cerca de 2.600 aeródromos homologados, classe 1, 2 e 3, espalhados em um grande território o que representa uma grande oportunidade para a FAB usar táticas de dispersão a partir de suas bases principais. Esta grande opção de pistas de pouso é uma forma de aumentar a capacidade de persistência combate podendo voar por mais tempo contando com pistas próximas para caso de emergência. Uma frota de 800 aeronaves, divididas em esquadrilhas de quatro aeronaves, será dispersa em 200 aeroportos ou menos de 10% do total de aeródromos homologados. Ainda não foi considerado trechos de rodovias e campos de pouso que podem ser usadas facilmente por aeronaves leves e a hélice e as bases de dispersão de helicópteros. Uma outra fonte cita que o Brasil tem 4.276 aeroportos estando em segundo lugar no mundo atrás dos EUA com 14.858. Outros países como a Rússia (1,623), Alemanha (554), França (477) e Reino Unido (471) tem muito menos opções.


A FAB tem doutrina de pulverizados suas aeronaves em dezenas de aeródromos, em nível de esquadrilha ou mesmo de elemento (dois aviões) em caso de conflito. A FAB usa material modular em containers aerotransportados para facilitar a mobilidade aérea. Esses containers têm tudo que uma esquadrilha dispersa precisa, como combustível, munição, alojamento, laboratório fotográfico, cozinha, peças de reposição, centros de comando e comunicação, apoio médico, etc. A parte de manutenção também usa o conceito de unidades celulares de apoio, intendência e manutenção (UC-A, UC-I e UC-M) para permitir a operação das suas aeronaves em operações de dispersão. Os Grupo de Comunicações e Controle (GCC) são responsáveis pelos radares, navegação, comunicações e centros de comando para apoiar as bases de dispersão.

Entre as outras medidas passivas de defesas, a FAB não terá dificuldade de usar a camuflagem, ocultação e engodos. O que não se tem notícias é sobre o treinamento nestas técnicas. Aeronaves falsas são efetivas como mostrado em Kosovo. Os países do primeiro mundo tem muita facilidade em atacar um alvo após o uso extensivo de armas guiadas, mas o conflito mostrou que ainda é muito difícil diferenciar um alvo falso de um alvo verdadeiro. Esta tática pode inibir um inimigo a arriscar suas aeronaves ao procurar e atacar alvos nas bases. As pistas seriam o alvo principal e mesmo assim podem ser reparadas em alguns dias ao contrário de uma aeronave precisa de vários meses para ser produzida.

As bases principais da FAB não demonstram ter nenhum tipo de medida de proteção do tipo reforço com as aeronaves ficando alinhadas no pátio ou em abrigos contra o mau tempo e sol. Apenas os centros de comando do CINDACTA estão abrigados em locais subterrâneos.

A distância das bases em relação a fronteira é a principal defesa contra ataques surpresa vinda do Continente com os inimigos tendo que voar grandes distâncias a grande altitude sendo detectados facilmente e com um grande tempo de alerta e reação até para chamar os pilotos em casa. Os centros de manutenção ficam dispersos em Parques de Manutenção (PAMA) sendo difícil colocar todos fora de ação simultaneamente. As defesas ativas existem na forma de mísseis portáteis SA-16/18 Igla e nos Batalhões de Infantaria da Aeronáutica.

O problema da grandes distancias do pais é a logística. Para relembrar, um esquadrão de 24 Harrier gastava cerca de 80 saídas de C-130 por semana só em munição. A força de Harrier na Alemanha (três esquadrões)usava 660 caminhões para apoio e logística em uma área de operação dezenas de vezes menor que o país.

Operações Rodopista

As operações de dispersão em trechos de rodovias são chamados de Operação Rodopista na FAB. Estes exercícios são realizados com frequência. Nos anos oitenta e noventa, os esquadrões Poker e Centauro (BASM) realizavam com seus AT-26 a decolagem nas rodovias federais que ligam Santa Maria à São Sepé e São Pedro do Sul, no Rio Grande do Sul.

Os exercícios mais recentes foram melhores descritos na imprensa. Em dezembro de 2004 o 2o ETA realizou uma operação rodopista entre os km 117 a 121 da BR-230 na Paraíba com suas aeronaves Bandeirantes. O treino foi usado para treinar situações de emergência, apoio a calamidades e infiltração de tropas. O trecho de rodovia usado tinha 2 km de comprimento por 10 metros de largura.

No dia 17 a 18 de maio de 2005 foi realizado a operação Rodopista 2005, com aeronaves AT-27 Tucanos Esquadrão Flecha em um trecho da MS-080 entre Campo Grande e Rochedo no Mato Grosso do Sul.
 
Rodopista
O trecho usado pelos Tucanos da Rodopista 2005 tinha 600 metros de comprimento.

Rodopista
No fim de 2006 O Esquadrão Pacau (1°/4°  GAV) realizou uma Operação Rodopista na Paraíba em Campina Grande. Caças AT-26 Xavante decolavam em duplas de hora em hora de Natal, navegavam a  baixa altitude e pousavam na  BR 230, a 30 km de Campina Grande. Na primeira passagem faziam reconhecimento da área, depois toque e arremetida e depois pousava. A operação durou entre as 8h as 16h. O transito local era interditado por 10 minutos antes de cada pouso ou decolagem.



Estratégia

Em caso de conflito convencional no continente é possível pensar em três cenários onde se poderia, e seria muito necessário, usar pistas de dispersão: teatro de operações da Amazônia (TOA), Atlântico Sul e Cone Sul.

Um conflito na Amazônia em particular lembra a Campanha do Pacifico, onde um inimigo teria que capturar as bases aéreas para progredir em uma conquista de território. Com as bases aéreas sendo um dos pontos capitais mais críticos a luta seria para tomá-los.

Em um conflito na Amazônia os aeródromos na região Sudeste e Sul podem ser usadas com "santuários" para manter as aeronaves fora do alcance de um inimigo mais forte. Bases avançadas podem ser usadas apenas para reabastecer e rearmar como pontos de "pit stop". De uma certa forma simplificaria a logística evitando usar muitas aeronaves para transporte para apoiar uma base principal. Na região do Sétimo Comando Aéreo Regional existem cerca de 175 aeródromos homologados que podem ser usados como bases ou pontos de "pit stop".

Uma pista de 1.600 x 18 metros com uma área de estacionamento de 120 x 80 metros capaz de receber um Boeing 767 pode ser o mínimo necessário para uma operação de dispersão com caças. Em 1985 havia cerca de 53 pistas com esta característica na Amazônia. Além destas pistas existem centenas de aeroportos menores. Este número deve ser bem maior atualmente. Para comparação, o Iraque tinha 66 bases em 1991, mas eram super reforçadas e bem defendidas.

Essas pistas, fora as rodovias, são relativamente fáceis de ser mantidas sob vigilância e atacadas. O que complica é o número muito grande de pistas que precisam ser mantidas sob vigilância. Se as pistas no Sudeste, Centro Oeste e Nordeste passarem a ser consideradas a vigilância passa a ser considerada impossível ou inefetiva.

A Suécia tem um território 18 vezes menor que o Brasil, mas com uma rede de rodovias pavimentada do dobro do tamanho. São cerca de 100 sites de dispersão nesta pequena área para 500 aeronaves. A maioria tem estoques de combustível, armas e peças de reposição. Se os suecos acham possível se esconder de um inimigo bem ao lado em um pequeno espaço assim, então não deve ser muito difícil se esconder em um grande país com possibilidades dezenas de vezes maior.

Os locais a serem vigiados por patrulhas de longo alcance, aeronaves não tripuladas, reconhecimento aéreo e por satélites é muito maior. Talvez o meio mais efetivo sejam sensores remotos lançados em locais suspeitos, mas que podem ser engajados com alarmes falsos como sons das turbinas gravadas.

No caso de um conflito no Atlântico Sul a ameaça viria de incursões a partir de navios aeródromos. Uma característica da ameaça é a mobilidade que pode ameaçar todo o litoral. As táticas de dispersão podem ser usadas para concentrar forças, para sobrevivência e para organizar ataques.

Este tipo de ameaça tem a característica de não ser muito numerosa e pode ser enfrentada em um conflito convencional. A US Navy pode concentrar no máximo cinco NAes ao mesmo tempo (considerando metade da frota em manutenção, descanso ou treinamento). Serão no máximo 250 caças F/A-18 até 2015 quando o F-35 começar a entrar em operação. Mesmo assim os NAes operam em um padrão de dois atacando e um rearmamento/reabastecendo. Dos dois que estão operando, os pacotes não são lançados com todas as aeronaves ao mesmo tempo. Serão vários pacotes por dia com apenas uma parte da frota. Uma outra parte da frota estará sendo usada para defesa permanentemente.

No caso de um inimigo muito móvel as bases de dispersão poderão ser usadas como "pit stop" para busca e concentrar um contra-ataque rápido. Contra um inimigo mais forte a utilidade será para dispersão e proteção da força.

Um conflito no Cone Sul lembra um conflito convencional contra um vizinho ou uma coalizão com apoio de um país mais forte. A região é importante devido a importância econômica da Região Sul e da proximidade com a Região Sudeste. A dispersão será muito necessária devido as distancias mais curtas na região em relação amazônica. Caças próximos a fronteira podem ter sua base detectada se o inimigo tiver acesso a aeronaves de alerta aproximado. As aeronaves podem ser acompanhadas e o local de pouso plotado devido ao padrão de baixa velocidade e convergência de aeronaves para a região.

Requerimento de Pista

Os caças atuais da FAB não tem muitos problemas para operar em pistas de dispersão em rodovias. O problema é encontrar estes trechos adequados como os existentes na Europa. Um F-5E já fez um pouso de emergência em uma rodovia no passado. Seus dados técnicos falam em uma distância de decolagem de 1.800 metros. O F-5A já foi testado em pista de terra mas era mais leve. O Mirage 2000 já foi usado em exercícios em rodovias na Polônia e Taiwan. O AMX sempre foi pensado para operar em rodovias e pistas de dispersão semi-preparadas. Nos exercícios da FAB os Boeing 707 de reabastecimento ficam em pistas de 2.300 metros, os F-5 em pistas de pelo menos 2000 metros e os C-130 podem usar pistas de pelo menos 1500 metros. Em tempo de guerra estas distancias podem ser diminuídas com uma menor margem de segurança.

Na atual concorrência do Projeto FX, o Rafale tem desempenho de pista adequado para operar em pistas limitadas apesar de não ser um requerimento importante para os franceses. O Su-35, como qualquer outro caça russo, foi projetado desde o inicio para operar em pistas semi-preparadas. O vetoramente de empuxo é muito útil nesta situação, tanto para decolagem curta quanto para pouso. Os dados de desempenho do Flanker citam que decola em 450 metros com peso padrão e pousa em 650 metros. O problema é a resistência da pista por ser um caça pesado e o tamanho que vai dificultar o ocultamento e camuflagem. O alcance das duas é adequado para usar dispersão em pistas de retaguarda e as duas já tem capacidade de serem usadas para reabastecimento em vôo.

Hercules
Um C-130 afundando o asfalto de um pátio de um aeródromo. Os aeródromos tem tabelas para medir a resistência a deformações que devem ser comparadas com a da aeronave. Uma delas é o California Bearing Ratio (CBR) que é a uma medida de deformação de superfície. O CBR de uma rua de terra é dez e de uma estrada 16. Para comparar, o A-10 tem um CBR de 10, o F-16 um CBR de 14, 0 F-4 mais de 14 e o Harrier seis. Uma outra tabela usada é o ACN/PCN.

PSP
Um meio de melhorar o requerimento de pista, principalmente em locais semi-preparados são as placas de metal perfuradas (Perforated Steel Planking - PSP) que podem ser usadas para reforçar pistas e locais de estacionamento.

Mi-26
A FAB está tentando comprar helicópteros pesados no programa CHX. Um deles é o Mi-26 como o exemplar da foto operado pela Venezuela. A FAB irá usar para mover radares móveis na Amazônia, mas sua capacidade de carga permite levar até aeronaves pesadas como um Flanker. Fica mais fácil ainda se os motores forem retirados. A idéia lembra as táticas usadas pelos Vietnamitas de esconder seus MiGs longe das bases.

Atualizado em 14 de Setembro de 2007 

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