Comparação de Meios

A função dos combatentes de superfície é fornecer defesa aérea, defender outros navios de submarinos e dar apoio de fogo às operações anfíbias.

Os NAes leves não são viáveis em águas contestadas. A evolução dos modernos mísseis antinavio levaram à situação em que os navios devem ser defendidos das aeronaves lançadoras de mísseis a distâncias significativas, aumentando o peso e o tamanho das aeronaves embarcadas, ao ponto de só serem efetivas se levadas em NAes de ataque médios ou pesados, como os usados pela US Navy.

A composição habitual de um grupo de batalha com NAe é de pelo menos um NAe equipado com caças, aeronaves AEW e escoltas de vários navios de defesa aérea, anti-submarina e submarinos de ataque. O valor do NAe para o inimigo resulta em uma grande necessidade de proteção.

Se uma marinha não puder desdobrar um GT com NAe para missões de controle marítimo, a alternativa será o submarino. Os submarinos podem ser usados ofensivamente atacando alvos em terra e no mar com mísseis e torpedos ou lançando minas. Podem ser usados defensivamente ao engajarem submarinos inimigos.

As minas são armas valorosas por serem simples, baratas, confiáveis e persistentes. O uso correto de campos minados pode negar ao oponente o uso de portos, canais, vias e direcionar os navios para zonas patrulhadas por submarinos e aeronaves As minas modernas são muito difíceis de serem encontradas e removidas e podem ser facilmente lançadas por navios e aeronaves.

O controle do mar é geralmente empregado ofensivamente com um meio de bloquear as vias do oponente aos portos ou permitir que forças anfíbias conquistem uma cabeça de ponte em uma praia contestada. O bloqueio pode estrangular um oponente de seus recursos e material de guerra ao ponto de não poder sustentar o esforço de guerra e entrar em colapso, como aconteceu com o Japão em 1945.

A capacidade de qualquer marinha contemporânea, além da US Navy, de conseguir qualquer grau de controle marítimo em face aos modernos equipamentos das forças aéreas é questionável. Embora os modernos submarinos tenham chances razoáveis de evadir as aeronaves de guerra antisubmarina, sua habilidade de sustentar operações efetivamente sobre constante perturbação pode ser questionável. Todo engajamento com o inimigo mostrará sua posição e aumentará a vulnerabilidade ao ataque.

Grupos de ação de superfície (SAG) com cruzadores, contratorpedeiros e fragatas não são capazes de suportar ataques de saturação contra suas defesas antiaéreas com mísseis antinavio e antiradiação. Ao perderam suas defesas aéreas de área, os SAGs podem ser atacados por aeronaves com bombas guiadas a laser. As aeronaves podem atacar de distâncias seguras com mísseis de longo alcance até colapsar as defesas aéreas.

Como um NAe de ataque médio com capacidade de sobrevivência efetiva está fora da nossa realidade econômica, a frota da MB estará baseada em escoltas e NAes leves, no máximo.

A outra opção é usar uma força de submarinos e/ou uma plataforma aérea de ataque marítimo para realizar missões de controle marítimo com maior capacidade de sobrevivência que forças convencionais de NAe, escoltas e submarinos.

Várias implicações devem ser consideradas em tal circunstância:

- Flexibilidade - é a medida da rapidez de um meio para mudar de missão, rearmar e redeslocar para engajar o oponente ou outro alvo. Os tipos do alvo que podem ser engajados também é uma questão. Uma aeronave pode realizar várias missões ao mesmo tempo. O preço da versatilidade é o alto treinamento necessário para manter uma ou várias tripulações para cumprir todas as missões necessárias.

- Poder de fogo - é a medida da quantidade de armas que podem ser lançadas em um ataque de saturação contra uma força de superfície ou comboio.

- Capacidade de Sobrevivência - é a capacidade de sobreviver a engajamentos repetidos contra o oponente.

- Cobertura - é a medida da área do oceano que pode ser negada ao inimigo por uma simples plataforma ou grupo de plataformas.

- Raio operacional - é a medida da distância em que um oponente pode ser bloqueado ou engajado efetivamente. Enquanto 70% da superfície da terra é coberta por água, 100% é coberta por ar e uma aeronave pode ir a qualquer ponto do planeta. Para aumentar o raio de ação é possível usar reabastecimento em vôo ou operar em bases avançadas.

- Custo - são os custos de aquisição, atrito e operação a serem considerados.

- Persistência - é a capacidade de sustentar o controle de águas sustentadas pela manutenção da presença.

- Velocidade - é a capacidade de cobrir distâncias rapidamente e projetar força com pouco atraso.

A experiência alemã com a Blitzkrieg no início da Segunda Guerra Mundial é testemunha da importância de forças rápidas e móveis, no caso as divisões Panzer, que podiam atacar duramente e em profundidade em pontos de vantagem, ou simplesmente manobrar ao redor das defesas inimigas para alcançar seus objetivos. O rompimento, deslocamento e prevenção são as palavras chaves nesta filosofia de guerra de monobras. O objetivo central é atingir um rítimo operacional alto e atacar os centros de comando e controle inimigos ao invés de atritar diretamente com as forças inimigas.

A guerra de manobras é importante para um país que não tem condições de manter uma guerra de atrito com forças mais fortes.

- Perspectiva - é o modo que a força vê o campo de batalha. As forças terrestres olham o terreno, talvez até a próxima linha de montanha. As forças marítimas olham até o horizonte. As forças aéreas olham todo o campo de batalha. As plataformas aéreas podem operar fora do envelope das armas inimigas, complicando sua estratégia e táticas.

- Penetração - devido ao alcance, perspectiva e velocidade, o poder aéreo é capaz de penetrar o território inimigo, com grande capacidade de manobra no sentido estratégico, operacional e tático. Guerra de manobra se baseia em conter os pontos fortes inimigos, testá-lo para penetrar seus pontos fracos, e atingi-lo onde não é esperado. A presença de barreiras físicas e velocidade  limitada levou ao conceito de batalha aeroterrestre, onde os meios aéreos são indispensáveis para penetrar e atingir o inimigo decisivamente. Também pode ser usado para atingir alvos bem dentro do território inimigo.

A flexibilidade favorece o poder aéreo (não foi usado o termo Força Aérea). Uma aeronave pode deslocar-se a centenas de km/h, enquanto os navios deslocam-se a dezenas de km/h. Os navios devem retornar à base para rearmarem-se e reabastecerem ou encontrarem-se com navios de apoio logístico. As aeronaves podem ser rearmadas muito mais rápido que os navios de guerra e submarinos e podem engajar navios, submarinos, aeronave e alvos em terra.

Enquanto os submarinos podem dominar apenas a superfície e a área submarinas sob circunstâncias favoráveis, as aeronaves podem dominar o ar, o mar e o meio submarino. Escoltas e submarinos podem defender áreas em terra, mar e ar de tamanho menor que as aeronaves e têm armas com alcance muito menor que as das aeronaves.

O poder de fogo favorece o poder aéreo, pois meia dúzia de aeronaves pode levar a mesma quantidade ou mais mísseis antinavios e torpedos que um submarino ou escolta. No caso de ataques contra alvos em terra, um esquadrão de aeronaves de ataque pode ter o mesmo poder de fogo de vários submarinos ou escoltas, que pode ser multiplicado em um determinado período, se for permitido retornar à base e rearmar para reengajar, pois a aeronave leva bem menos tempo em relação aos navios e submarinos. Por exemplo, no intervalo de tempo para um navio transitar 1.000 milhas a 20 nós até uma zona de disparo, um caça-bombardeiro de médio alcance pode fazer cerca de 6 surtidas com 3 horas de intervalo para rearmar e reabastecer em cada surtida.

A capacidade de sobrevivência favorece o poder aéreo em relação aos navios de superfície, pois um jato moderno pode lidar com caças, aeronaves de patrulha e navios de superfície muito efetivamente. As ameaças aos submarinos como escoltas e aeronaves patrulha e que devem ser evadidas são alvos fáceis para os jatos. Um jato pode sempre desengajar e fugir muito mais rápido de um engajamento desfavorável que um submarino ou navio de superfície.

A cobertura favorece o poder aéreo pois uma aeronave usando o MAGE e radar pode varrer uma área muito maior e mais rápido que submarinos e navios usando sonar e radar. Os sistemas MAGE são do tipo linha de visada e o alcance no caso de uma plataforma aérea voando a grande altitude pode chegar a mais de 200 km de distância. Em cenários de controle marítimo, onde os navios são os alvos, as aeronaves oferecem cobertura muito melhor que os meios de superfície.

O custo favorece o poder aéreo em todas as categorias. Um submarino ou fragata pode custar o mesmo que um pequeno esquadrão de modernas aeronaves de ataque. A perda de uma única embarcação pode equivaler à perda de um esquadrão inteiro com perda de vidas muito maior.

Persistência e raio operacional favorece os submarinos e escoltas, onde o poder aéreo não tem capacidade de reabastecimento em vôo (REVO). Se houver apoio de REVO suficiente, o poder aéreo poderá ser usado.

O raio operacional favorece os navios, dependendo de onde está o inimigo. No caso do Atlântico sul, uma aeronave de logo alcance pode ser o suficiente. Para distancias maiores, os navios e submarinos levam vantagem, se houver apoio logístico suficiente. No caso das aeronaves, a disponibilidade de bases em países amigos iguala esse requisito.

As limitações do poder aéreo estão relacionadas com sua fragilidade, carga limitada, dependência de informações e bases aéreas. Estas limitações também servem para as aeronaves embarcadas.

A fragilidade de uma aeronave embarcada é da mesma magnitude de uma aeronave baseada em terra. Já a capacidade de sobrevivência de uma base aérea é imcomparavelmente maior que a de um navio que pode afundar e levar toda a sua dotação de aeronave junto para o fundo do mar.

O resultado dessa questão é a seguinte pergunta: é melhor gastar centenas de milhões de dólares em submarinos, escoltas e Naes leves ou investir em um esquadrão de aeronaves de ataque de longo alcance?

O controle do esquadrão é outra questão importante. A FAB deveria ser o operador e talvez não iria aceitar que a MB realizasse uma tarefa que deveria ser sua. Mas a luta por recursos e prestígio levaria a disputas e duplicação de recursos. A MB iria investir em NAes e escoltas para garantir sua supremacia e antiguidade. Um esquadrão misto poderia ser a solução para garantir a sobrevivência da idéia e evitar atritos entre as forças.

 
    Custos

A marinha britânica está planejando a aquisição de dois NAes médios no programa CV(F). Cada um será capaz de levar até 50 aeronaves sendo 30-40 de caça. Serão adquiridas 150 aeronaves para operarem embarcadas, sendo candidato mais provável o F-35.

Os custos dos dois NAes gira em torno de US$ 3,2 - 3,6 bilhões e os custos das aeronaves em torno de US$ 7 bilhões. O objetivo é ter sempre um NAe disponível.

Caso a MB pretenda manter uma capacidade equivalente, não sairá barato. Navios mais simples custariam pelo menos US$ 800 milhões e um caça bem simples, como o MiG-29K não sai por menos de US$ 30 milhões a unidade. Seria necessário pelo menos 80-90 caças para manter um NAe equipado com 30 caças sempre em operações (2 NAes).

Outros custos devem ser adicionados em relação às escoltas antiaéreas e anti-submarinos. As escoltas antiaéreas são necessárias para um sistema de defesa em camadas (alerta antecipado, interceptadores, mísseis de médio alcance, mísseis de área curta e defesas de ponto) complementando os interceptadores que cobrem áreas externas de um GT. As escoltas antiaéreas também funcionam como navios de comando para GTs sem NAe em cenários onde o NAe não é necessário.

Para manter um NAe em operação contínua no Atlântico, será necessário uma penquena frota de navios de apoio logístico.

Os custos totais podem girar em torno de US 6 bilhões (aquisição) para manter um NAe equipado com 30 caças. A área coberta pelo NAe seria de cerca de 1.000 km de raio ao redor do GT.

Já para manter 20 aeronaves Su-32 em operação com mais 20 em reserva seriam necessários cerca de US$ 1,6 bilhões (US$ 40 milhões por aeronave). A área coberta pode ser de pelo menos 3.000 km de raio, com apoio de REVO, a partir da base de operação, em várias bases em torno da costa.
 

"Dissuasão é o estado mental produzido por uma ameaça crível de retaliação, uma convicção que a ação que está sendo planejada não poderá ter sucesso, ou uma crença que o custo da ação excederá qualquer ganho possível. Assim, um agressor em potencial estará relutante em agir por medo de falha, custo e consequências."


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