Guerra Anti-Superfície

Os textos abaixo descrevem as operações anti-navio do Tornado IDS da RAF e Tu-22 da URSS em operações antinavio.

A RAF mantinha até alguns anos atrás, oito esquadrões de Tornado IDS em funções primárias de reconhecimento, GSup com o Sea Eagle, ataque de precisão com o TIALD/LGBs, e SEAD com o ALARM, e que também desempenhavam missão secundária de bombardeiro convencional. Cerca de 40% das missões eram para treinar a função primária. Hoje, os Tornados da RAF não têm mais a capacidade de GSup com o Sea Eagle, que foi retirado de serviço.

Os Tornados da RAF também podem usar Bombas Guiadas a Laser (LGB - Laser Guided Bombs) apontadas pelo designador TIALD contra alvos em águas costeiras. Esse armamento pode colocar a aeronave dentro do envelope letal das defesas do navio.


Tornados IDS da RAF equipados com o míssil anti-navio Sea Eagle seguidos por um Nimrod MR.2

As táticas antinavios da RAF são chamadas de MARTAC - Maritime Tactics. A formação básica é de quatro aeronaves, sendo que mais de 16 podem atacar um navio ou GT (Grupo Tarefa). A RAF já testou um grupo com 6 aeronaves para atacar um GT com o cruzador de batalha soviético Kirov.

Devido às defesas do alvo e à necessidade de múltiplos acertos, é necessário conseguir um bom Tempo Sobre o Alvo (TOT - Time On Target). Se os mísseis antinavios forem disparados com 30 s de diferença, eles serão alvos fáceis para as defesas do navio.

A compressão de tempo deve ser máxima e é a principal tática antinavio. O objetivo é sobrepujar as defesas com a saturação do alvo. Dependendo do navio, o ataque deve ser concentrado em uma direção ou de várias direções.

No Briefing de uma missão antinavio, é indicada a natureza do alvo e se o ataque é contra um alvo de alto valor (HVU - High Valour Unit) ou atrito. No último caso, algo tem que ser atingido. No primeiro, pode ser um NAe, cruzador ou navio logístico vital.

Também é informada a última posição conhecida do alvo, para desenhar o raio de ameaça  - área de possibilidade - no mapa, natureza das defesas esperadas e apoio ao ataque. As defesas do alvo e apoio definem as táticas usadas e a linha de ataque.

A linha de ataque entre a posição do alvo e a posição fora do raio máximo das defesas é definido como "portão", onde os Tornados voam até iniciarem o ataque. As defesas do alvo também determinam se será usado um eixo de ataque único ou múltiplo e se o disparo será curto ou de longa distância.

A distância não influencia  na pontaria dos mísseis. As informações de aeronaves  de patrulha, interpretação do quadro do radar (se usado) e densidade do GT é mais importante. A situação tática e as regras de engajamento (ROE) podem determinar o lançamento curto por aeronaves em situação vulnerável. As ordens também  incluem mudanças de rotas, altitudes especificas e informações de trafego aéreo para evitar conflitos entre forças amigas.

- Rota. O quadro de superfície (SURPIC - Surface Picture) é adquirido via rádio HF no solo. Ele é enviado a cada 15 minutos em manobras táticas por aeronaves de patrulha marítima. Enquanto em rota para o "portão", o SURPIC continua sendo atualizando com dados da configuração do GT. O GT pode usar táticas para diminuir a utilidade do SURPIC, como mudanças rápidas de direção ou ficar muito próximos para dificultar a identificação dos navios e depois espalhar novamente. É tarefa da aeronave de patrulha marítima redesenhar o SURPIC e identificar o HVU (high value unit).

- Encontrando alvo. É uma tarefa difícil, devido à movimentação da aeronave de patrulha  marítima, atacantes e navios. A aeronave de patrulha marítima usa radar e MAGE para localizar e identificar os navios que compõem o GT.

O T-fix, tempo em que alvo foi localizado pela última vez, é zerado sempre que se recebe um novo SURPIC.

O TARPOS dá a posição do alvo (target position), tem um baixo T-fix, compressão máxima, precisão máxima e disparo silencioso  dos mísseis - é a combinação perfeita de ataque (de acordo com o tac note 28 da RAF).

O TARPOS é passado para todos os atacantes e não só para o líder do grupo, assim como o VASTAC  - vector assisted attack, com distância e direção a ser seguida. É conveniente que se tenha um GPS em todos aviões para determinar a hora precisa. O VASTAC é passado por data link encripitado (link 11).

O SURPIC é orientado para o norte para mostrar a configuração do GT, localização dos navios e indica o HVU.

- Sondagem por radar. Sem o apoio de uma aeronave de patrulha marítima, será necessário enviar uma aeronave do grupo na frente na área provável do alvo para localiza-lo. Essa técnica é usada contra navios menos sofisticados e é arriscado, pois o alvo pode estar mais perto que o esperado e quando o caça aumenta a altitude (manobra pop-up) para ligar o radar, pode estar ao alcance dos mísseis de longo alcance do alvo. As emissões do radar são detectadas e perde-se o elemento surpresa. O RHWR do Tornado também é menos sensível que os do navio.

A busca radar é feita a cerca de 1.200 m ( 4 mil pés ). A linha de visada do radar (LOS) é de 150 km nessa altitude. O fenômeno de "radar trap" não deixa ver acima de 1.200 m. As condições meteorológicas prendem os reflexos do radar nesta camada.

O alvo no radar é marcado com uma cruz que zera o T-fix e passa o TARPOS para a formação. A aeronave também se junta para o ataque.

Essa sondagem não tem a precisão da realizada por uma aeronave de patrulha marítima Nimrod e sem meios de diferenciar entre  navios do grupo. Só é possível  identificar grandes e pequenos navios.

Com o TARPOS fixado, a formação inicia o procedimento tático passando pelo "portão" e voa em direção ao TARPOS. A perna de ingresso é feita em vôo a baixa altitude, no manual ou com o piloto automático, de acordo com as condições meteorológicas.

A formação em vôo paralelo é melhor para ver caças inimigos, mas é pior para manobrar. A formação em linha é melhor para manobra O ataque é feito a 900 km/h. É uma velocidade econômica e dá energia para manobras.

O ataque em eixo único, com espaçamento visual, é feito com boa visibilidade. O grupo passa pelo "portão" (geralmente um IP em  terra) até o ponto de lançamento e dispara, simultaneamente. O objetivo é saturar um setor do navio ou GT.

O ataque em eixo dividido é feito para atacar um lado único ou duplo antes de disparar. Para ser feito com mal tempo depende de navegação e sincronização  precisas. No caso de eixo múltiplo de ataque, a sincronização é feita a partir do tempo de chegada dos mísseis no alvo para trás até o lançamento.

- Variante de depistamento. É um ataque em lado único, com a aproximação numa única trilha e, no ponto de virada, o grupo de ataque se volta para o TARPOS,  todos para o mesmo lado.

Com as aeronaves espaçadas na nova direção oblíqua, elas podem virar, simultaneamente, para o TARPOS e disparar os mísseis  para cobrirem um grande setor de defesa.

É preciso gerenciar bem os pontos de baliza. Quanto se planeja o ataque, um TARPOS é entrado (x). A sincronização é feita a partir do impacto do míssil e o mesmo para os pontos de baliza. É usado um ponto de lançamento, ponto de virada para a  linha de ataque (LOA - Line Of Attack), ponto de separação de formação e "portão". Os pontos são ligados ao "x". Com a aproximação do alvo, o "x" é mudado com o novo TARPOS e as balizas mudam, automaticamente, para manterem o TOT.

- Mudança no LOA. O LOA pode mudar se aparecer alguma ameaça. Pode depender de um aperto de botão. O ponto de baliza de lançamento é crítico e cada tripulação trabalha para lançar no ponto e hora certos, sempre com cuidado com a altitude, para evitar colisão nas mudanças de rotas de cada um na formação.

- Lançamento. O míssil Sea Eagle recebe dados de distância e direção direto no sistema NAVATAC. O processo de programar o míssil com os dados de posição e direção do alvo se chama VASTAC - Vector Assisted Attack. O piloto seleciona o míssil, modo de lançamento e bias de busca. No disparo, é dito o código "magnum". É usado um bias de estação para não haver conflito com outros mísseis ao deixar a aeronave.

O Sea Eagle é disparado até 300 m ou acima de 3.000 m de altura; geralmente, na distância máxima de 92 km e mínima de 35 km em um disparo curto.

O radar altímetro calcula o estado do mar e determina altitude de vôo baixo. O INS direciona o míssil até o TARPOS.

- Padrão de busca. A 35 km de distância, o míssil sobe para buscar o alvo. Primeiro, ele olha para o TARPOS. Se o alvo não estiver lá,  ele realiza uma busca padronizada.

Quanto mais distante, maior será o erro. O movimento do alvo, vento, erro de INS e T-fix alto podem atrapalhar a busca. O míssil passa a buscar células cada vez mais distantes do TARPOS.

Se não encontrar, vai para o bias de direção determinado antes do lançamento. Se ataca por trás do GT, será determinado um bias de busca longo. Se não vir nada no TARPOS, procura células mais para a frente. Se ataca pela lateral, ele passa a buscar em células para a direção de avanço do GT. Para achar HUV, tem que usar poucas células e estreitas. O bias pode ser usado para procurar em direção que não tem outros navios.

Após adquirir o alvo, o míssil desce com o radar ativo em direção ao alvo. A 2 km, ele desce ainda mais, mirando em 2/3 da altura inicial. O objetivo é atingir próximo da linha d'água.

Em treino, a aeronave desce e imita o míssil  após o "magnum". A aeronave realiza um pop-up para busca (AMBIT). Busca alvo como o míssil e desce novamente, voando para o alvo, passando por cima. Também treina a tripulação do navio.

O Sea Eagle teve papel diminuído de importância com o fim da Guerra Fria e mudança de prioridade  para guerra no litoral. O Sea Eagle não discrimina alvos de pequenas  ilhas a não ser em curto alcance. Nesse caso, o Penguim guiado por IR seria um míssil mais aconselhável ou então uma LGB. O Tornado IDS pode usar TFR nesse cenário para mascarar o ataque. Um alvo pequeno precisa de menos armas e por isso introduz formação de quatro aeronaves, ao invés de seis.
 

Blinder e Backfire

Os requerimentos do bombardeiro soviético Tupolev Tu-22 era de uma aeronave com raio de ação de 2.000 km, equipado com dois mísseis supersônicos Kh-45 Molniya.

Os regimentos de longo alcance equipados com o Tu-22 tinham duas missões:atacar alvos da OTAN de alta prioridade e CVBG americanos, como a 6ª frota no Mar Mediterrâneo. Cobriria alvos no Atlântico Norte, Europa e Pacífico, mas sem alcance para atacar os EUA.

Os soviéticos retiraram a sonda de reabastecimento para passar nas limitações do tratado SALT II. A sonda pode ser recolocada, mas a força soviética de aeronaves REVO seria mantida pequena para garantir que não poderia apoiar Tu-22 em missões estratégicas.

Durante a Guerra Fria, os soviéticos mantinham uma divisão de Blinder no Mar Báltico e 3 divisões de Backfire que cobriam o norte e o Mar Báltico, o Mar Mediterrâneo e o Mar Negro, e outra que cobria o Pacífico e o Japão.

Antes de ser atacado, um NAe precisava ser encontrado. Os primeiros modelos do Tu-22, chamados Blinder, tinham uma versão de reconhecimento, o Tu-22R. Ele era apoiado por outros meios de inteligências como o traineiras, submarinos e detectores de emissões em terra (HF-DF direction-finding ou Huff Duff) e aeronaves Tu-142 Bear. Serviam como batedores estratégicos ou exploradores.

Em um ataque de Blinders, quatro aeronaves voariam baixo em conjunto. Um par seria a escolta que sobe, enquanto o outro continuaria voando baixo. O par que sobe realiza interferência contra radares de vigilância e retransmite dados para os incursores. O incursores fazem detecção precisa. Como o radar do Tu-22 não distingue NAes de escoltas, era preciso a identificação visual com transmissão dos dados para os Tu-22K. Era uma missão claramente suicida.

Um ataque era realizado por um regimento com 20-24 Tu-22K e 4-8 Tu-22P para guerra eletrônica. Os Tu-22P faziam interferência contra radares da frota e contra caças. A penetração era a baixa altitude em um perfil Hi-Lo-Hi, mas esses vôos eram evitados para evitar problemas de fadiga. Um regimento com 18 aeronaves saturaria um CVBG com 50-75 mísseis.

Os Tu-22K eram armados com o AS-4 Kitchen. Os mísseis AS-4 Kitchen eram lançados à distância teórica de 550 km a 14.000  metros de altura ou 400 km a 10.000 metros. O usual é lançar a 250-270 km, se tiver que adquirir o alvo com radar.

A tática contra o Blinder apareceu com a dupla F-14/Phoenix apoiados pelos E-2 e EA-6.

Designar um alvo como um NAe é muito mais difícil que encontrar sua área genérica de operação, que pode, durante um período de 24 horas, cobrir várias centenas de milhas de oceano. Os meios de inteligência, vigilância, reconhecimento e planejamento de missão são complexos e precisam de recursos caros, sofisticados e numerosos.

Na década de 70, os satélites substituíram os Blinder de reconhecimento na tarefa de coleta de informações. Já na década de 50,  era estudado um satélite de reconhecimento naval e designação de alvos naval MKRT designado para substuir o Blinder nas missões de reconhecimento naval.

Os satélites US-A RORSAT e US-P EORSAT do programa MKRT enviavam dados para serem analisados em postos de comando em terra, que eram passados por rádio ou satélite SATCOM Molniya para os Tu-22.

O satélite US-A RORSAT de reconhecimento radar foi lançado em 1970. O radar NII-17 era usado para vigilância e era equipado com um reator nuclear Toaz.

O US-P EORSAT de inteligência eletrônica iniciou as operações em 1975. Ele também enviava dados para o Backfire por rádio ou satélite Molniya.

No inicio de 1970, os escritórios de projetos de mísseis Zvezda, Novator e Raduga participaram de um estudo inicial do instituto GOSNIIAs de um míssil ar-superfície estratégico (Penaid - Penetration Aid) para ser usado contra estações de radar e mísseis. Ele teria a capacidade de subir a altitude muito alta em um padrão aerobalístico para sair do envelope de mísseis como o AIM-54 Phoenix que equipa os F-14 da US Navy. Esse estudo foi seguido do programa Cetkosp P. Nele, os projetistas se concentrariam em poucos mísseis multiuso.

O míssil escolhido foi o Raduga Kh-15 (AS-16 Kickback). O projeto teve início em 1967 com o Kh-2000. Era impulsionado por um motor foguete sólido. O míssil sobe até 40 km e desce a Mach 5 sobre o alvo em um perfíl aerobalístico. O míssil usava velocidade e altitude para reduzir a vulnerabilidade contra os mísseis Phoenix e Standard.

O Kh-15 tinha uma versão anti-radar e outra antinavio. A versão de exportação com radar de ondas milimétricas se chamava Kh-15S. A versão nuclear se chamava Kh-15P e só tinha navegação inercial.

A partir de 1984, os Blinder foram substituídos pelos Tu-26 Backfire. Os Tu-26 M3 também atacavam a baixa altitude em conjunto com o A-50, o MiG-31 e o Su-27.

Os EUA chegaram a testar o uso de satélites de vigilância e alerta antecipado de lançamento de mísseis da série DSP IR no programa Slow Walker, para detectar a decolagem dos Backfire ou na fase terminal quando ligavam o PC. Os dados eram passados para o CVBG para alerta de aproximação da força hostil.

Próxima parte: ABRA-PT

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