EQUIPES CAÇADOR-MATADOR

Os vídeos da guerra russo-ucraniana mostram muitas missões de "hunter-killer" com os drones atuando em equipes de caçadores-matadores. Enquanto um drone faz busca de alvos outro drone é chamado para atacar. O reconhecimento e o ataque são basicamente as duas missões principais dos drones no campo de batalha.

As equipes "hunter-killer" não são uma inovação, mas apenas mais uma forma de usar os drones. As Brigadas do US Army tinham um esquadrão de reconhecimento chamado de Brigade Reconnaissance Troop (BRT) que respondia diretamente ao comandante da Brigada. O BRT era formado por dois pelotões de reconhecimento com seis veículos Humvee equipados com metralhadoras ou lança-granadas. Eram equipados com o sensor Long-Range Scout Surveillance System (LRAS3). Outro pelotão era formado por observadores avançados da artilharia em seis Humvee não equipados com o LRAS3.

A função principal do BRT era encontrar alvos para os batalhões blindados atacarem. Durante os ataques, o BRT cobria os flancos e a retaguarda. As patrulhas operando junto com os observadores avançados faziam a mesma missão de "hunter-killer" dos drones atuais. Geralmente desmontavam dos veículos e tomavam posição para fazer busca de alvos e chamar a artilharia para atacar. Nos treinamentos conseguiam "dizimar" as unidades inimigas. Podiam até penetras atrás das linha e se esconder.

Já na guerra do Afeganistão, as patrulhas de reconhecimento equipadas com pequenos drones Raven perceberam que podiam usar os morteiros de 60mm e 81mm do Batalhão para atacar alvos detectados pelos drones, também atuando como "hunter-killer".


O sensor LRAS3 é capaz de determinar as coordenadas dos alvos e passar os dados para a artilharia atacar. O uso de drones apenas aumenta a mobilidade do sensor.
 

MISSÕES DE RECONHECIMENTO

Uma missão de sucesso precisa de muito reconhecimento e planejamento. Os drones podem ser fundamentais na fase de reconhecimento e seria a sua missão principal atuando, principalmente, como plataformas de sensores para apoiar as missões de IRVA (Inteligência, Reconhecimento, Vigilância e Aquisição de Alvos).

As unidades de infantaria geralmente realizam longas missões no campo de forma "cega" e esperam que a artilharia ou a aviação amaciem os alvos encontrados. As tropas navegam nas cidades sem ter noção do que está acontecendo na próxima esquina ou prédio, ou até mesmo atrás de um muro. Os drones são um recurso que permitem mitigar estes problemas.

A Inteligência, Reconhecimento, Vigilância e Aquisição de Alvos (IRVA) são termos militares relacionados, mas distintos. O termo IRVA se refere à integração das atividades de Inteligência, Vigilância, Reconhecimento e Aquisição de Alvos para fornecer uma compreensão abrangente do ambiente operacional e permitir o envolvimento efetivo dos alvos.

A Inteligência está relacionada com a coleta, análise e disseminação de informações sobre um adversário ou outras informações relevantes que possam apoiar a tomada de decisões militares. O reconhecimento é uma missão para coletar informações sobre o inimigo ou uma área por meio da observação. A vigilância refere-se ao monitoramento contínuo de uma área ou alvo para coletar informações. A aquisição de alvos refere-se ao processo de identificação, localização e rastreamento de um alvo para envolvê-lo com armas ou outros meios militares.

A IRVA pode ser feita no nível operacional e tático. O nível operacional cobre o nível de Corpo de Exército ou acima, operando bem distante das forças amigas e com objetivo de coletar dados dos movimentos das grandes unidades inimigas.

O IRVA tático pode ser a Inteligência tática e aproximada ou de combate, nos escalões inferiores para identificar tropas na linha de frente ou próximas de ter contato. A Inteligência tática produz conhecimento para processo decisório comandante como composição das forças inimigas, terreno, meteorologia e construções civis.

Os drones tem várias vantagens em relação a um esclarecedor humano. A imagem gravada é mais confiável que um relatório da tropa. Os drones permitem passar as imagens direto para o Comandante do Batalhão e até em tempo real. O drone não se importa se é uma missão suicida. Os drones operam sempre do alto e respeitam a regra número 1 do combate: quem domina o alto domina o baixo.

O objetivo final das missões de IRVA é detectar as ameaças o mais cedo e o mais longe possível, a fim de evitar surpresas, o que pode ser obtido com o emprego de drones compatíveis com cada escalão.

Uma Brigada pode necessitar de missões de reconhecimento a até 80km da linha de frente. O objetivo é detectar as forças inimigas, postos de comando, bases aéreas e bases logísticas e que podem ser atacados.

As patrulhas geralmente cobrem até 10 km a frente das tropas. Pode ser patrulha de combate, reconhecimento de líderes, reconhecimento QBR e de engenharia. Uma guarda avançada na rota de avanço pode ser posicionada para garantir a segurança e pode engajar os inimigos encontrados. Um posto avançado de segurança de combate fica a cerca de 1km a frente das posições defensivas. O objetivo é ocultar as posições defensivas, atrapalhar o reconhecimento inimigo, da alerta avançado, engajar as forças inimiga e desacelera o avanço inimigo. Os drones podem realizar patrulha aérea visando alertar quanto à aproximação de viaturas ou tropa inimiga.

Conseguir 100% de visibilidade no campo de batalha obviamente é impossível. O inimigo pode estar usando meios para ocultar suas posições e movimentos de forma eficiente ou não emitir com os rádios. Enfrentando os insurgentes no Iraque e Afeganistão, os EUA considerava ter cerca de 20% de visibilidade no campo de batalha pois o inimigo não emitia com o rádio.

Um drone pode fazer reconhecimento de ponto, área ou trecho/eixo/rota. O reconhecimento de ponto seriam locais de risco ou pontos de interesse e inclui viaturas, instalações e obstáculos. As posições das tropas inimigas seria o alvo mais comum na frente de batalha. Também pode incluir o reconhecimento de pessoal (grupo de pessoas ou pessoas armadas).

O reconhecimento de rota (varredura linear) seria o caminho que será usado por uma patrulha ou comboio. Outra opção é vigiar as rotas de suprimentos do inimigo próxima do campo de batalha para atacar os veículos e comboios ou determinar a origem da base de suprimento ou o destino final.

O reconhecimento de área podem ser na forma de reconhecimento de rotina em um setor ou área de operação e vigilância para detectar contatos inimigos antes de se tornarem uma ameaça. Como exemplo temos o reconhecimento de pequenas e grandes localidades e suas vias de acesso.

Uma missão de reconhecimento é o contra anonimato, detectando uma unidade inimiga e seguir sobrevoando para que as unidades apropriadas possam estar alertas.


Manter um drone fazendo vigilância de forma constante na área de operação do Batalhão significa manter várias duplas de operadores de drone e de sensor se revezando em turnos. Se encontrar um alvo e for necessário enviar um drone de bombardeiro vai precisar de mais operadores, mais o pessoal de apoio que arma e prepara os drones de substituição.


As posições russas na Ucrânia são facilmente detectadas pois tem muito lixo ao redor.


Uma equipe do Talibã detectada por um Hermes 450 britânico tentando plantar explosivos improvisados em uma estrada. O contra anonimato é detectar uma unidade inimiga e seguir sobrevoando para que as unidades apropriadas possam estar alertas.


Inteligência é dado processado por um analista de imagem. A imagem é um produto de um analista de imagem com os dados processados.


Um posto de observação detectado por um drone. O local foi atacado depois por um drone kamikaze. O reconhecimento em cenário urbano geralmente é rápido e a autonomia não é importante. O raio de ação do drone não precisa ultrapassar o alcance do armamento da fração que lançou. O drone também tem que ser leve para não sobrecarregar o combatente.


Existem vários tipos de Inteligência, dependendo da fonte de informação como Inteligência de imagem (IMINT), Inteligência humana (HUMINT), Inteligência de sinais (SIGINT), Inteligência de Comunicações (COMINT) e Inteligência Geoespacial (GEOINT).

Um exemplo de HUMINT ocorreu na invasão do Iraque em 2003 quando um informante iraquiano citou que os terroristas Fedayeen estavam concentrados em um estádio. Enviaram um drone Pionner para investigar e foi confirmado. O local foi bombardeado posteriormente. Este exemplo também ilustra o conceito de Inteligência acionável, usando a imagem em tempo real (olhos no alvo) para confirmar a informação e atacar um alvo. Dados muito antigos de HUMINT e SIGINT, até de horas, não permitem realizar um ataque.

Toda unidade tem uma área de operação com frente e profundidade que precisa sem mantida sob vigilância. A unidade pode ter que operar em espaços muito amplos, sem que possa manter tropas em constante presença por toda a área de operação. O drone pode cobrir áreas de retaguarda, vanguarda e flancoguarda de uma unidade proporcionando alerta antecipado. A vigilância pode ser de áreas, pessoas, instalações, materiais e equipamentos e realizada com meios eletrônicos, cibernéticos, fotográficos, óticos ou acústicos, entre outros.

O drone é uma forma de economia de forças ao manter uma grande área sob vigilância utilizando poucos recursos. Durante as operações nas Filipinas na Segunda Guerra e na invasão do Iraque em 2003, o USMC usou destacamento de aeronave para vigiar o flanco do avanço ao invés de unidades terrestres. No Iraque foi usado um destacamento de nove aeronaves vigiando o flanco esquerdo da Divisão. As aeronaves patrulhavam de dia as estradas e trilhas em busca de atividades e posições inimigas e recomendava rotas alternativa para ultrapassar potenciais engajamentos. Faziam reconhecimento e cobertura aérea para movimentos tropas e protegia flanco. É um exemplo de economia de recursos com o uso da aviação e poderia ser feito agora com drones para levantar ameaças em extensas áreas do terreno, cobrindo espaços vazios (não cobertos por F Spf), aumentando a proteção às unidades desdobradas e negando a surpresa às forças oponentes.


Um operador de drones recebe uma ordem de busca de alvos do líder do Grupo de Combate. O operador tira o drone do bolso e usa uma estação de controle do tamanho de um celular para detectar um alvo do outro lado de uma pequena elevação próxima. O operador também tem que localizar, classificar e identificar. Depois passa os dados para o líder do Grupo de Combate que passa a ter uma melhor consciência da situação. É a mesma missão realizada pelas unidades aéreas apoiando uma frente de batalha, mas agora disponível para as pequenas frações.


Um soldado alemão em monte cassino fazendo vigilância. Quem controla o alto controla o baixo. Os pontos alvos eram pontos estratégicos que deviam ser controlados durante o avanço ou recuo de uma frente de batalha. O drone elimina esta necessidade de dominar pontos altos.

 

MISSÕES DE COBERTURA

Os drones tem utilidade antes, durante e após a missão. Os drones auxiliam nas diversas fases do combate, seja no exame de situação ou na execução da manobra. A Inteligência para executar é diferente da Inteligência para planejar. No caso de um Pelotão no ataque, a inteligência deve ser de segundos a minutos.

Enquanto o Posto de Comando quer usar os drones para reconhecimento e monitoramento do alvo com o objetivo de detectar e mapear as posições inimigas, as tropas querem muito apoio de cobertura (overwatch) durante as operações para ajudar a guiar a progressão das tropas na função de segurança do deslocamento. Depois da missão terminar, os drones fazem avaliação de danos de batalha para determina o nível de destruição e se o alvo precisa ser atacado novamente.

A missão de cobertura consiste em voar acima de forças amigas em terra a procura de ameaças ou apoiar ações no objetivo. O objetivo é indicar onde está a ameaça e como reagir. As tropas que operam um drone portátil estaria em uma posição privilegiada. As missões de cobertura também podem apoiar bases amigas ou comboios.

A diferença entre um drone fazendo cobertura e de patrulha de reconhecimento é a presença de uma tropa que está sendo apoiada de forma imediata pelos dados coletados pelos drones. Já as missões de reconhecimento não estão participando do apoio direto de nenhuma tropa no local e os dados coletados serão usados para apoiar operações futuras.


Uma equipe de snipers australianos fazendo cobertura para tropas avançando em uma localidade no Afeganistão. Os drones permitem cobrir o local de várias direções.


Um vídeo logo do início do conflito da Ucrânia mostrava um Pelotão russo progredindo em uma localidade com o comandante na retaguarda da patrulha e do lado de um operador de quadricóptero. O comandante passava as informações e indicava os locais que o drone deveria cobrir para apoiar o avanço das tropas. Foi um bom exemplo do uso de drone civil militarizado realizando missão de cobertura. O objetivo seria dar alerta sobre a presença de ameaças atrás de um muro ou em uma esquina.


Os vídeos da guerra da Ucrânia mostram as equipes de ação de trincheiras sendo apoiadas pelos drones para tomar posições inimigas como as trincheiras. O contato por rádio com as tropas em combate é necessário para passar as informações dos contatos e ameaças. O print do vídeo original mostra imagens dos drones e de uma câmera no capacete de uma das tropas. Um recurso sofisticado seria o operador do drone passar indicação de alvos ou ameaças diretamente para as tropas apoiadas. Seria um ícone mostrado em um tablet do soldado ou, preferencialmente, em um visor no capacete (HMD) para evitar que desvie a atenção do alvo próximo. Mostrar a posição do alvo em uma mira no fuzil também é uma boa opção pois estão sempre preparando o disparo.


Outra imagem de um drone filmando um engajamento entre ucranianso (azul) e russos (vermelho).


Um quadricóptero apoiando tropas brasileira na MINUSTAH no Haiti. Conforme mencionado por um oficial das Forças Armadas brasileiras, “drones nos dizem o que vem pela frente”. Em uma missão real foi planejado explodir uma porta detectada, mas não era porta. Um sensor melhor ou vídeo continuo do local poderia perceber que ninguém usava a "porta".


Imagem de um drone apoiando tropas Filipinas em combates na cidade de Marawi contra terroristas em 2017. Os blindados são visíveis no alto da foto. Os fuzileiros navais usaram centenas de incursões e missões de reconhecimento. O drone Raven era o único com capacidade de operar a noite. O único drone Raven e os três DJI Mavic Pro realizavam uma média de 4 a 8 saídas por dia.


Print de um vídeo de um drone dos rebeldes do Karen atacando um posto avançado de Mianmar. Os rebeldes estão na parte superior da imagem.


Uma missão adicional do drone Predator foi a proteção de força. Usam os sensores para detectar ameaças as tropas e vigiar se fugiam do alvo. Os operadores de drones de longo alcance no Afeganistão e Iraque ficavam cerca de 15% do tempo apoiando tropas em contato com o inimigo e 20% do tempo apoiando tropas engajadas em operações e incursões (overwatch) pré-planejadas.

Um operador da CIA que atuava com as equipes controle de drones Predator operando sobre o Afeganistão passou a operar diretamente com as tropas dos SEAL ligando com o SIGINT tático e outras agências. Operavam a partir de pickups em contra alvos de alto valor do Talibã. Percebeu que viam muito pouco ao redor comparado com as imagens disponíveis para os operadores de drones voando acima devido as obstruções no terreno. Se moviam em locais que não permitia ver muito longe e com pouco tempo para reagir as surpresas. Inicialmente, os drones Predator apoiavam a navegação das equipes em terra, antes do uso do GPS, conferindo se estavam na rota correta e indicando pontos de virada na rota. O drone virou item critico de missão e não saiam se não estivesse disponível.

No Afeganistão, quando uma patrulha era apoiada por aeronaves de caça equipadas com casulos de vigilância e designação de alvo, usavam uma para cobrir a frente e ao redor da patrulha e outro para cobrir o objetivo.

Durante uma operação britânica no Afeganistão, um soldado britânico ferido ficou para trás após ser atingido e as tropas em retirada não perceberam. Dois helicópteros Apache levaram quatro soldados presos na parte de fora para tentar resgatar o soldado pois as imagens do FLIR dos helicópteros fazendo cobertura mostravam que estava se movimentando. Um drone acompanhando a operação de retirada do local poderia ter detectado o soldado sendo deixado para trás após ser ferido e evitado os problemas posteriores ou um drone poderia ser usado para chegar bem perto e se comunicar com um auto-falante e conferir se estava vivo sem precisar arriscar os pilotos, soldados e as aeronaves.

Os terroristas do ISIS perceberam os benefícios de usar drones para controlar suas unidades no solo para obter superioridade tática. Os vídeos mostram os drones sendo guiando carros bombas contra unidades militares. Ficavam escondidos e recebiam ordens para o ataque quando as tropas inimigas se aproximavam.

Um vídeo do conflito entre Turcos e Curdos mostra uma emboscada dos Curdos contra as tropas turcas subindo uma montanha. A emboscada poderia ter sido evitada se os turcos tivessem usado um drone para fazer reconhecimento do local antes do avanço.

Quando as tropas do SAS desembarcaram nas ilhas Georgia do Sul em 1982, primeiro criavam um posto de observação para vigiar os locais onde iam avançar. Podiam vigiar por até um dia inteiro e incluía as possíveis localidades onde poderiam ter tropas argentinas. A vigilância deixava o avanço bem lento, mas era necessária para garantir o sucesso. Com um pequeno drone seria possível acelerar o avanço com o drone podendo cobrir uma área até maior e locais fora da linha de visada.

Os drones maiores podem fazer "armed overwatch" (cobertura armada), com os drones sendo equipados com armas guiadas para proteger as tropas se for necessário, mas precisa ser um drone de maior capacidade que opera no escalão de Divisão e/ou Brigada.

Nas missões de reconhecimento e vigilância sobre o Iraque e Afeganistão, os drones da USAF conseguiam encontrar uma média de dois alvos por saída. Os operadores dos drones tinham oportunidade de atacar alvos a cada 0,5% a 3% das saídas em média, dependendo da época e do local. Na caça de terroristas preferiam prender os suspeitos para coletar informações como no caso dos líderes, mas os terroristas mais radicais eram atacados (cerca de 10%) devido ao risco de se explodirem.

As tropas em terra consideravam os drones o meio mais importante no sucesso das operações e mudaram o jeito das tropas lutarem. A experiência do US Army com os drones mostrou que são muito úteis para manter a consciência da situação, diminuir a carga dos soldados e a exposição ao fogo direto com o inimigo. Com a visão de pássaro acima, os comandantes podem mover as tropas mais rápido, confiantes que não serão emboscados, e sempre estão certos de onde o inimigo está ou não. O vídeo persistente deixou o inimigo em desvantagem, com os americanos podendo ver o que o inimigo faz sem serem vistos.


Um drone Reaper armado com quatro mísseis Hellfire (dois em cada asa). Os drones maiores podem fazer cobertura armada (armed overwatch). O equivalente do Pelotão de Drones seria usar um drone para busca de alvos e outro drone para atacar (drone bombardeiro) ou um drone letal. Os dois iriam operar em equipes "hunter-killer".
 

DRONES BOMBARDEIROS

Outra missão que pode ser realizada pelos drones nos Batalhões é como sistemas de armas realizando missões de ataque e bombardeio. O drone estaria realizando apoio de fogo em apoio a Força de Superfície, realizando o tiro como sistema de armas embarcado, ou apoiando a observação e a condução do tiro.

Os drones já são usados para indicar alvos e auxiliar a pontaria das armas de tiro indireto do Batalhão (morteiros de 60mm e 81mm) para atacar os alvos detectados durante as missões de reconhecimento e vigilância. O alcance de 5km seria o limite dos morteiros de 81mm. Alvos detectados em distancias maiores são atacados pela artilharia divisional, mas agora podem ser atacados pelos drones letais de maior alcance.

As aeronaves de ataque são responsáveis por procurar e atacar alvos fora do alcance da artilharia ou atacar alvos detectados com precisão insuficiente para serem atacadas pela artilharia. As aeronaves de asa fixa atacam alvos em profundidade enquanto os helicópteros operam acima das próprias tropas ou na linha de frente. Os helicópteros de ataque podem operar em profundidade no caso de assalto aéreo ou perseguição, mas costumam ser aeronaves com sistemas defensivos sofisticados.

Existem basicamente dois tipos de drones armados: os adaptados para atuar como plataforma de armas (drones bombardeiros) e os dedicados (drones letais). Os drones já estão preparados para receber acessórios e um kit de lançar bombas seria mais um item opcional transformando em drone bombardeiro.

Durante a Primeira Guerra Mundial surgiram as primeiras aeronaves de ataque que eram biplanos de reconhecimento com um dos tripulantes lançando projéteis de artilharia manualmente. Esta técnica continua sendo muito usada na Ucrânia, mas agora com os drones adaptados. Na Segunda Guerra Mundial, a artilharia divisional usava as pequenas aeronaves L4 como posto de observação aérea de artilharia. Os pilotos também aproveitavam para lançar pequenas granadas ou morteiros em alvos de oportunidade fora do alcance da artilharia ou alvos de pouco valor como tropas individuais. As aeronaves voavam bem baixo para lançar as granadas. Os drones bombardeiros são uma evolução desta técnica com os drones sendo adaptados para lançar bombas improvisadas (ou dedicadas).

Um drone improvisado para ataque não substitui a artilharia, mas pode complementar e pode ser usado como arma psicológica deixando os soldados inimigos desconfortáveis. O operador de drone não pode indicar alvos para a artilharia diretamente e precisa de um Observador Avançado (OA) para confirmar o alvo e chamar a artilharia. Para lançar suas próprias armas não seria necessário um OA.

A guerra russo-ucraniana viu o uso disseminado de drones bombardeiros com muitos vídeos disponíveis na internet. O uso de drones bombardeiros não é tão recente assim, já sendo usados pelo ISIS, na Síria e no Donbass. Os drones DJI Fantasma FC40 foram usados pelos terroristas do ISIS para reconhecimento desde agosto de 2014. Em maio de 2015 apareceram vídeos dos drone do ISIS realizando ataques em Ramadi. Geralmente usavam granadas de mão ou granadas de 40mm. Em 2017, os terroristas do ISIS chegavam a lançar até 100 ataques por mês na Síria e Iraque contra as tropas da coalizão.

A própria polícia federal iraquiana passou a usar drones DJI Matrice 100 para lançar bombas improvisadas contra os terroristas do ISIS em Mosul. O drone custava US$ 3.300 dólares sem a câmera. Podia levar uma carga de 1 kg com autonomia de 16 minutos com carga máxima. O alcance em uma missão de bombardeiro seria de 3,5 a 5 km dependendo do terreno.

A partir de julho de 2023 o US Army iniciou estudos para equipar seus pequenos drones com munição letal. Querem um drone com capacidade de levar pelo menos 500 g de carga e com munição mais potente que a granada M67. O objetivo é incomodar inimigo e pode ser mortal se for pego de surpresa. A capacidade de carga deve incluir uma ogiva anti-carro para complementar os mísseis Javelin.

O Pelotão de Drone Leves já citado anteriormente pode ter uma seção de drone de bombardeiro, ou drones quadricópteros maiores com maior capacidade de carga, para complementar os morteiros do Batalhão. Pode até ser o mesmo drone usado para reconhecimento, mas com uma adaptação para lançar pequenas bombas.

Os micro-drones de Categoria 0 também podem ser usados para levar cargas explosivas contra alvos de oportunidade. Um Grupo de Combate ou patrulha que apoiaria a operação dos drones que encontram e atacam os alvos de oportunidade. Os drones pequenos tem a vantagem de serem difíceis de detectar visualmente são silenciosos, podendo se aproximar ainda mais do alvo para aumentar a precisão.

As melhores aeronaves para apoio aéreo aproximados são as que levam muita munição e tem grande autonomia para poder sobrevoar o campo de batalha por longos períodos e realizar várias passadas de ataque. No caso dos drones teria que considerar a operação de um conjunto de drones para realizar muitas passadas e com vários drones se revezando para apoiar operações prolongadas. Os drones lançam suas bombas e voltam para a base para rearmar.


Drone bombardeiro capturado do ISIS.


Drone R-18 ucraniano desenvolvido para lançar bombas.


Imagem típica de um drone bombardeiro em ação. O print é de um vídeo de um drone do ISIS atacando um carro de combate M1 iraquiano em 2016. O drone lançou uma granada de 40mm adaptada.


Um operador de drone viu o cano de respiração de um bunker e lançou uma granada direto na abertura (no centro e abaixo da imagem). Os arredores estava seguro e permitia baixar.
A imagem no centro é o aviso do flash do drone sendo ligado e que acionou um sensor de luz no mecanismo que lança a granada.


Equipe de drones bombardeiros ucraniana.
 

Os drones bombardeiros podem ter várias configurações. A configuração de drone quadricóptero é a mais usada nos drones bombardeiros e é a mais fácil de adaptar e usar pairando sobre o alvo para disparar as bombas. Um rack de bombas feito em impressora 3D costuma ser usado para levar as bombas e granadas. A pontaria é feita com a câmera apontada para baixo com o drone sobrevoando o alvo.

Na guerra russo-ucraniana os dois lados passaram a usar drones tipo FPV (First Person View - voo em primeira pessoa) com sucesso. Consiste em um drone de corrida com o piloto usando um óculos de imagem FPV mostrando as imagens da câmera de forma a permitir a pilotagem como se estivesse dentro do drone. Seria equivalente a visão de um operador de míssil guiado por TV o que obviamente levou a adaptação para o uso como arma guiada. Os drones FPV são mais difíceis de pilotar e precisam de muito treino.

Os FPV usam motores potentes, mas se levarem ogiva ficam mais lento e o alcance diminui. Adicionam baterias adicionais para compensar o alcance menor, mas também diminuindo a velocidade. O alcance de 8 a 10 km passa para 6 a 8 km. O drone sem a ogiva custa menos de US$ 1 mil. A ogiva geralmente é o que está disponível com a RPG-7 ou granadas anti-carro RKG-3. A ogiva da RPG-7 tem capacidade de penetração de 400 a 500mm contra 220mm da RKG-3.

A empresa ucraniana Escadrone produz cerca de 1.000 drones Pegasus por cerca de US$ 500 cada sem a munição ou estação de controle. O Pegasus pesa 500g e leva até 1 kg de explosivos. A autonomia é de 3 a 13 minutos. A versão pesada leva até 2kg de explosivos e custa cerca de US$ 1 mil cada. Uma unidade ucraniana de FPV realizou uma média de quatro ataques por dia.

O modelo Wild Hornet pode levar até 2kg de carga e custa US$ 400 contra uma munição de morteiro de 1.500 a 2.000 dólares. Atinge uma velocidade de até 150km/h. Também não usa GPS e se comunica em uma frequência diferente dos drones civis para enganar os interferidores eletrônicos. A vida útil é de 10 a 15 voos.

Os terroristas do ISIS testaram um drone de configuração convencional com bombas nas asas, mas a precisão seria muito pequena se não tiver apoio de uma mira computadorizada com modos CCIP. Contra um alvo de área ou ou um comboio com os veículos bem próximos ou uma coluna de tropas pode ser viável disparar várias bombas sem refinar a pontaria, contando que a maioria vai atingir o alvo.

Um drone híbrido de asa fixa e VTOL (HVTOL) permitiria uma maior velocidade de reação para chegar até a área do alvo e voltar para rearmar. O lado negativo da configuração híbrida é a menor capacidade de carga, mas geralmente tem uma carga maior que um multimotor por não precisar usar muita energia do motor para voar e podem ser lançados com auxilio manual, elástico ou catapulta. A configuração híbrida HVTOL teria vantagem contra alvos mais distantes do operador.

O uso de um drone HVTOL de Categoria 1 como bombardeiro viabiliza usar os drones de reconhecimento também para ataque aumentando ainda mais a capacidade ofensiva do Pelotão de Drones. Uma torreta de sensor com telêmetro laser seria útil para gerar coordenadas do alvo e poderia auxiliar no uso de modos de ataque automático do drone.

O disparo de bombas em mergulho pode melhorar a pontaria e pode ser viável com o disparo de várias munições ao mesmo tempo para atingir uma área e não um ponto. Outra vantagem é poder mergulhar bem baixo e com o motor desligado para não dar alerta. A munição pequena não causa muita fragmentação que irá colocar o drone em risco, mas o drone pode ser danificado se atingir um depósito de munição que cria uma grande explosão (mas é um alvo compensador). Um drone de configuração híbrida mantém a capacidade de disparar pairando sobre o alvo além do disparo em mergulho/nivelado.


Um drone Matrice equipado com duas munições anti-carro de RPG-7. A capacidade de carga varia com o tamanho do drone.


Operador com um FPV. A carga explosiva fica abaixo do drone que no caso é uma ogiva de um lança-foguete RPG-7.


Operador com óculos FPV. O operador pode controlar a direção da câmera movimentando a cabeça.


Imagem de um drone FPV pouco antes de atingir um alvo. Outros alvos que já foram atacados podem ser visualizados.


Drone bombardeiro de configuração convencional ucraniano.


Imagem de uma câmera de um drone convencional voltada para baixo durante um bombardeiro de uma estação de energia na cidade de Liubimovka.


Drone bombardeiro ucraniano UJ-22 de Categoria 2 usado para bombardear Moscou.


Os russos equiparam seus drones Orlan com casulos de bombas para atuarem como drones bombardeiros.


Os terroristas do ISIS chegaram a usar drones com configuração convencional como drones bombardeiros. A capacidade de carga é muito maior que um quadricóptero, mas a precisão é bem menor comparado com um drone que dispara as bombas no modo pairado.


Drone israelense BlueBird adaptado para lançar bombas convencionais.


Um helicóptero CH-53 israelense armado com uma bomba Mk118 de 1.360kg. É o equivalente aos drones bombardeiros atuais, só que cerca de mil vezes mais potente. O Líbano também usou seus helicópteros UH-1 para lançar bombas. Atacavam a noite usando um GPS para pairar sobre as coordenadas do alvo. Usavam racks de bombas dos Mirage III para lançar bombas de até 450kg.


Um tipo de drone letal de reação rápida já em operação são as granadas guiadas como a Drone-40. São armas anti-pessoal que podem ser lançadas de lança-granadas de 40mm já existentes como o M203 ou M320. A autonomia é de 12 minutos de voo ou 20 minutos pairado. Velocidade chega a 36 km/h. A carga pode ser uma câmera para reconhecimento ou uma granada de 40mm para as missões de ataque.


Drone HVTOL civil adaptado para lançar cargas. A configuração tem algumas vantagens para atacar alvos a distâncias maiores.
 

A primeira consideração na operação de drones de bombardeiros são os alvos que vão ser engajadas na frente de batalha. Os alvos "moles" são as tropas em campo aberto e fora da linha de visada das tropas amigas e seriam a maioria dos alvos. Uma bomba anti-pessoal seria equivalente a uma granada de 40mm. Os alvos "duros" são tropas protegidas e blindados leves e precisam ser engajadas por uma munição maior equivalente a um morteiro de 81mm. No caso de carros de combate com melhor blindagem, o ataque na parte superior vai atingir locais onde a blindagem é menos espessa. Até mesmo os carros de combate altamente pesados podem ter a blindagem superior da torre penetrada por uma granada perfurante de 40mm.

Os drones kamikazes Lancet atacavam alvos com sucesso como mostram os vídeos do conflito russo-ucraniano. A ogiva varia de 1 a 3kg conforme o modelo. Geralmente manobram para atacar os alvos por trás e por acima onde a blindagem é mais fraca e se o terreno e vegetação permitir. Para atacar blindados não é preciso uma munição muito potente. A blindagem superior das torres e do compartimento motor até dos carros de combate mais pesados podem ser perfurados por uma granada perfurante de 40mm.

Uma casamata precisa de acerto direto de artilharia pesada ou bombardeiro aéreo de precisão com bombas pesadas. Um drone de carga poderia lançar explosivos pesados como petardos de 20kg. Na Ucrânia, uma trincheira protegida tem uma cobertura de toras de madeira coberta com sacos de areia. A proteção é suficiente contra munição de morteiros, mas não protege contra acerto direto de artilharia pesada. A carga de arrebentamento de uma munição de 155mm é de cerca de 7kg e pode ser a referência para o tamanho de um petardo lançado contra casamatas.

A munição de um drone bombardeiro tem que ser a mais leve possível com as versões anti-pessoal com a carcaça e invólucro aerodinâmico de plástico para diminuir o peso. Geralmente é um material explosivo com uma luva de estilhaço em volta e uma espoleta de contato ou tempo. O peso da munição é importante pois vai impactar na quantidade de munição e na autonomia do drone. O ideal é levar muita munição pois pode ser necessário "caminhar" os disparos até o alvo ou atacar vários alvos no local. As tropas que levam os drones e a munição também tem limite de capacidade de carga.

O drone deve manter a capacidade de levar as munições existentes adaptadas para o caso da munição dedicada não estar disponível. Uma granada de mão pesa entre 350g a 600g enquanto uma granada de 40mm pesa 250g (sem considerar as adaptações para ser levada no drone). Já uma munição de morteiro de 60mm pesa entre 1,5 a 2,0kg.

As granadas de mão tem um pavio e explodem após alguns segundos. Os vídeos da guerra russo-ucraniana mostram granadas sendo acionadas logo ao serem lançadas. Tem que considerar o tempo de queda para as granadas não explodirem muito acima do alvo ou tem que usar um pavio com maior duração para garantir que a explosão ocorra logo após atingir o solo ao serem lançadas de uma altitude maior.

Assim como os drones de reconhecimento, os drones letais também são divididos em categorias. Cada escalão tem seus requerimentos de drone bombardeiro. Os Grupos de Combate e Pelotões precisam de uma granada guiada enquanto a Companhia e o Batalhão precisam de um drone com mais alcance e maior poder de destruição para atingir alvos mais bem protegidos e distantes.

Os drones de Categoria 0 podem ser levados no bolso e são usados no nível de Pelotão ou Grupo de Combate. No caso de um drone bombardeiro seria basicamente uma granada guiada. Os de Categoria 1 podem ser levados na mochila e são usados no nível de Companhia e Batalhão. Devem ter a capacidade de atacar alvos blindados e a maiores distâncias. Os de Categoria 2 são levados em veículos leves e apoiam a Brigada enquanto os de Categoria 3 são transportados em caminhão. Os drones de Categoria 4 e superior são operados a partir de bases aéreas ou pistas de pouso.

O peso é importante para as tropas na linha de frente e o drone leva algumas vantagens comparado com os morteiros usados pela infantaria. Um morteiro L9A1 de 51mm pesa 6,2kg, tem alcance de 750 metros e dispara uma bomba explosiva de 900g. Um drone com capacidade de carga de 1k pesa cerca de 3kg e seria ainda mais leve se disparar apenas uma granada de 300g. Preferencialmente deveria levar mais de uma munição. O alcance chega a vários quilômetros, mas a autonomia de voo seria mais importante para realizar vários ataques ou procurar alvos. O drone não substitui a capacidade de fogo de supressão sustentada do morteiro para manter o inimigo de cabeça baixa, mas adiciona a capacidade de fogo de precisão e o maior alcance. Um requisito do drone bombardeiro é ser recuperado e rearmado rapidamente na linha de frente.


Munição de drone feita com impressora 3D. O lançador e também foi criado em uma impressora 3D. A munição foi instalada em um drone Mavic 3. A munição lançada pelos drones tem como característica serem bem leves, com uma estrutura de estabilização de plástico. Já as munições disparadas por um canhão precisam ser bem resistentes para resistir as pressões do disparo e por isso são bem pesadas.


Alguns vídeos da guerra na Ucrânia mostram as tropas correndo antes da explosão das granadas lançadas pelos drones. Uma bomba não pode fazer ruído durante a queda para não alertar o inimigo. O tempo de queda permite calcular a altura. 10 segundos de queda pode indicar que o drone está a cerca de 500 metros acima do alvo. Geralmente voam acima de 150 a 250 metros do alvo para não serem ouvidos. Disparar mais baixo pode melhorar a precisão, mas perde a surpresa e os alvos podem se dispersar ou esconder.
 

Os explosivos são apenas um tipo de munição que podem ser usados pelos drones bombardeiros. Os drones também podem lançar bombas de fumaça e munição química (QBR). O drone pode ser usado para criar uma cortina de fumaça em um local bem específico ou lançar gás lacrimogêneo na posição ideal em relação ao vento.

Em 2015, terroristas usaram um drone com areia radioativa que pousou no telhado do prédio do primeiro-ministro japonês. Uma tática usada pelos terroristas do ISIS na Síria e Iraque foi usar os drones para causar incêndios em instalações ou no terreno. O drone lança bombas incendiárias nas florestas durante a estação seca em diferentes áreas, aproveitando o vento e agindo de forma coordenada como ao redor de uma posição inimiga ou instalações para provocar incêndios.

Outra função dos drones pode ser a sabotagem como causar curto-circuito em linhas de alta tensão ou lançamento de um drone com substâncias tóxicas em um depósito de água.


Os vídeos de combates na Ucrânia não mostram muito o uso de cortina de fumaça. É uma função dos drones ao colocar a fumaça na posição correta para mascarar o avanço das tropas amigas.


Tropas usando gás lacrimogêneo para limpar uma trincheira. Um drone pode lançar a granada de gás no local exato.


Drones com lancha chamas são usados para queimar colméias de abelhas. O uso contra casamatas inimigas também pode ser considerado. Outras armas agregadas podem ser consideradas como lança-foguetes, lança-granadas, fuzil e pistolas.


Munição incendiária improvisada usada pelos drones bombardeiros na Ucrânia. Pode ser usada para causar incêndios.
 

SISTEMA DE CONTROLE DE TIRO

Os vídeos de drones bombardeiros na guerra russo-ucraniana mostram que podem ser necessários vários disparos para atingir um alvo de ponto como uma trincheira, veículo ou a escotilha de um blindado. O operador do drone pode precisar "caminhar" os disparos até o alvo. A precisão de um drone bombardeiro precisa ser muito alta para compensar a baixa potência das munições ou atingir pontos bem específicos como uma cúpula aberta de um blindado ou uma entrada de uma casamata. Os vídeos da guerra russo-ucraniana geralmente só mostram os sucessos.

Uma mira computadorizada, ou com auxílios digitais, pode ser necessária para aumentar a precisão. A câmera deve ser capaz de ser apontada diretamente para baixo com precisão e mostrar uma ponto de referência de pontaria.

Um mecanismo simples é realizar tiro de ajuste com uma munição sem explosivo e clicar no ponto de impacto para indicar uma referência (técnica splash spot). O ponto marcado seria onde os próximos disparos irão atingir. Os disparos reais também pode ser usados para ajuste com o operador marcando o local da queda que será usado como referência entre o ponto de disparo e o da queda. O ideal é a mira realizar o ajuste automaticamente. A munição de tiro de ajuste também serve para treinamento.

Os drones tipo quadricóptero conseguem se manter em uma posição fixa compensando o vento lateral. O mecanismo de ajuste de posição pode ser usado para estimar a velocidade e direção do vento local e ajustar a mira.

Os alvos mais complexos são os alvos móveis. A mira computadorizada tem que estimar um ponto futuro para o operador se posicionar e disparar. Pode ser uma simbologia simples de implementar contra tropas andando, mas pode ser inviável contra veículos muito rápido.

Uma ferramenta para atacar alvos móveis é a capacidade de trancar no alvo. A ferramenta deve ser capaz de calcular a velocidade e direção do alvo para prever onde uma munição deve ser disparada para atingir o ponto futuro. Um aplicativo seria capaz calcular o tempo que a munição leva para atingir o solo e usar este dado para criar um círculo relacionada com a velocidade de uma pessoa andando. O centro do círculo seria o local onde a munição irá atingir quando uma pessoa entrar em contato com o círculo. Outra variação é lançar várias bombas em direção a uma coluna de tropas bem próximas a partir do momento que o primeiro alvo entra no círculo e com o drone iniciando uma manobra em direção a coluna. Trancar e acompanhar um alvo diretamente por cima também garante boa precisão contra alvos móveis.

O disparo com o drone em movimento precisa de um mecanismo de CCIP (Continously Computed Impact Point - Ponto de Impacto Continuamente Computado) para indicar o ponto em que o projétil irá cair. Pode ser necessário no caso de disparo contra alvos em linha como uma coluna de tropas. O objetivo é atacar enquanto estão em uma posição fixa pois o ataque será mais difícil contra as tropas se dispersando, escondendo ou em movimento. Já um modo CCRP (Continuously Computed Release Point - Ponto de Lançamento Continuamente Computado) pode ser usado para o bombardeiro cego em mau tempo com o drone disparando contra uma coordenada. O objetivo é manter o inimigo sobre pressão e não perceber o mau tempo como sendo um momento seguro.

Drones com sistema de navegação de alta precisão podem realizar lançamento de bombas em mau tempo e seria necessário para realizar táticas de incomodação. Se o drone usa um sistema de navegação visual pode ser possível atacar alvos fixos de forma autônoma.

A maioria dos vídeos da guerra russo-ucraniana não mostram uma simbologia de pontaria. Uma adaptação simples, se não for possível mudar o software, é usar uma hardware que adiciona uma mira na tela. O primeiro tiro é usado para ajustar a mira. Um círculo indicando o raio letal da granada permite posicionar a mira para cobrir vários alvos próximos.


Tiro de ajuste com munição dedicada serve para treinamento.


Print de um vídeo de um drone atacando um blindado BMP se movendo em alta velocidade. O operador devia saber que estrada era reta e que o alvo não se moveria lateralmente. A simbologia mostra uma mira principal em verde e uma mira auxiliar em azul indicando onde as bombas atingem o solo. 


A imagem é uma montagem de como seria a interface de uma mira de um drone lançador de granadas contra alvos móveis. A velocidade de uma pessoa andando é de cerca 1,0 m/s. Se uma granada vai cair durante cinco segundos então tem que lançar a granada cinco metros a frente do alvo que seria o raio do círculo naquela altura. A altura é de cerca de 125 metros e um drone pequeno não é audível a esta altura. O ponto de mira do desenho seria o local onde a granada irá cair e o círculo ao redor é uma referência de 5 metros. Quando alvo entra no círculo é hora de disparar a granada. Os dois devem se encontrar no ponto de pontaria. Geralmente o alvo está em uma estrada e o trajeto pode ser previsível. O objetivo não é necessariamente atingir o alvo e sim um ponto próximo para atingir o máximo de alvos ao redor. Uma mira contra um alvo correndo também é possível, mas seria mais difícil de usar pois o alvo pode estar realizando evasivas. A interface também tem uma barra que seria uma indicação de onde uma série de bombas lançadas automaticamente cairiam se o drone manobrar naquela direção após o disparo da primeira bomba, seguida do disparo automático das outras bombas. Um alvo móvel como uma tropa costuma ser uma coluna com vários alvos.

 

TÁTICAS DOS DRONES BOMBARDEIROS

A artilharia realiza basicamente três tipos de missões: apoio de fogo, interdição e contrabateria. As duas primeiras são missões que os Pelotões de Drones poderiam realizar apoiando as tropas em contato ou engajando alvos na retaguarda do inimigo.

A aviação de ataque realiza missões de apoio aéreo aproximado, quando as tropas amigas estão em contato com forças inimigas, o reconhecimento armado realizando ataque contra alvos de oportunidade encontrados durante a missão, e a interdição aérea, atacando alvos pré planejados detectados anteriormente por outras aeronaves de reconhecimento. Os drones de bombardeiros podem realizas estas missões, mas com alcance muito limitado. A FAB cobriria os alvos mais distantes a mais de 100km da linha de frente.

A guerra russo-ucraniana lembra muito a guerra de trincheira da Primeira Guerra Mundial. Alguns vídeos mostram os drones apoiando os ataques de tropas contra as trincheiras. Os vídeos lembram as táticas dos Stormtroopers alemães, mas agora com o apoio de drones. Os Stormtroopers alemães eram tropas especializadas em infiltração e ataque contra trincheiras. As táticas eram baseadas no Pelotão dividido em seções de metralhadora, granada de fuzil, granadeiro e fuzileiros. Podiam ser reforçados por uma equipe de morteiro e de lança-chamas. Na época era difícil controlar uma unidade maior que um Pelotão sem o auxílio de um rádio.

A infiltração iniciava com um ataque de artilharia concentrada no ponto a ser tomado. Era seguido das metralhadoras e morteiros para suprimir as posições para permitir o avanço das tropas. Depois as tropas se aproximavam para lançar granadas. As tropas avançavam entre as crateras quando os morteiros estavam suprimindo os alvos. Na fase final, as tropas com fuzil eram usadas para apoiar as tropas lançando granadas de mão no alvo. Com as tropas amigas próximas do alvo não era possível suprimir a posição com a artilharia. As unidades eram treinadas para ter iniciativa com os sargentos sendo treinados para liderar e não apenas apoiar os oficiais. Estudavam muito as posições a serem atacadas e depois ensaiavam em modelos do alvo.

A novidade mostrada nos vídeos da guerra russo-ucraniana foi o uso dos drones para reconhecimento, ajustar os tiros da artilharia, atacar as posições e depois coordenar o avanço das tropas (fazendo cobertura/overwatch). O próximo passo seria apoiar um ataque noturno usando óculos de visão noturna, câmeras termais e apontadores laser, seja pelas tropas em terra e pelos drones. Um drone com um apontador laser pode indicar a posição das tropas inimigas sem precisar usar o rádio. O operador do drone pode usar movimentos do apontador laser para se comunicar com as tropas (círculos, pêndulos, piscar etc). Um drone armado com metralhadora leve ou lança-granadas poderia dar uma cerca capacidade de supressão atuando como um mini helicóptero de ataque.

Também na Primeira Guerra Mundial, os australianos usavam táticas de "incursões furtivas" (stealth raid) para atravessar a "terra de ninguém" e atacar as trincheiras inimigas. Se arrastavam a noite até a posição inimiga e esperavam por horas o momento ideal para atacar com revolveres ou baionetas para tomar a posição sem chamar a atenção das unidades do lado. Geralmente assaltam a trincheira com dois soldados para aumentar a furtividade e podiam ser apoiados por outros dois a quatro próximos. Conseguiam melhores resultados que as incursões convencionais com pelotões e artilharia de barragem e com bem menos baixas. Com muito sucesso passaram até a realizar "incursões furtivas" de dia aproveitando o terreno e vegetação. Capturar prisioneiros costumava ser uma das missões para identificar as unidades inimigas do outro lado e indicar se havia reforços no local indicando possíveis ofensivas.

As missões de supressão ocorrem quando o inimigo não consegue evitar que as tropas inimigas realizem sua missão. Um cenário onde um drone realizaria supressão seria no caso de uma patrulha ouvir um barulho acima e identificar como sendo um drone. Se escondem e tentam identificar como drone amigo ou inimigo. Se for inimigo, sabem que o drone pode chamar a artilharia ou atacar e se mantém escondidos confiando que não foram detectados. A patrulha paralisada está suprimida.

Para ocorrer supressão, as tropas inimigas tem que fazer a detecção visual ou aural do drone. Tem que se ocultar ou pelo menos se manter parados. Tem que considerar que podem ser detectados ou que já foram detectados pelos drones. Relacionam o drone com uma ameaça de ataque cinético, seja designação de fogo indireto ou fogo direto do drone. O inimigo não pode ter capacidade antidrone orgânica e a ameaça do drone tem que ser maior que outras ações em terra.

Os caças voando acima já fazem ataque não cinético com passagem baixa ou apenas com o barulho. No Afeganistão, os terroristas do Talibã quebravam contato e fugiam quando a aviação chegava. Geralmente atacavam e fugiam rápido antes que o apoio aéreo chegasse. O inimigo pode limitar suas ações ao período da noite para evitar a ameaça das aeronaves de dia. As aeronaves de transporte C-130 voavam em círculos acima das tropas simulando os AC-130 fazendo "overwatch" o que é indistinguível a 10 mil pés. A presença podia ser suficiente para inibir as ações inimigas.

Quando a artilharia ou apoio aéreo aproximado não está disponível, o drone voa baixo sobrevoando as posições inimigas para simular uma ameaça real ou indicar que vai chamar apoio. Os aeronaves lentas como os L-19 no Vietnã sobrevoavam os contatos inimigos após a munição do apoio aéreo aproximado acabar para simular missões de designação de alvos.

Um outra opção é usar um drone junto com capacidade de fogo direto e indireto de supressão. As tropas amigas lançam o drone para voar baixo sobre as posições inimigas tentando realizar supressão com a presença e barulho.

A tática de trolling era muito usada pelos OV-10 Bronco da US Navy no Vietnã. Uma aeronave voava baixo durante a noite com as luzes ligadas e outro OV-10 voava acima e atrás para mergulhava e atacar as posições que atiravam na aeronave com as luzes ligadas. O uso de drones não colocaria os pilotos em perigo e poderia ser feito até de dia. No caso dos drones pode ser atacar com um drone bombardeiro ou chamar a artilharia contra os alvos detectados.

De dia era usado uma aeronave voando baixo fazendo reconhecimento visual enquanto outra voava mais alto para atacar os alvos detectados. Os australianos usavam um helicópteros Sioux ou Kiowa voando baixo enquanto os U-17 ou PC6 apoiavam do alto. Uma rajada de foguete de 70mm equivalia a duas salvas de artilharia de 105mm.

Na Segunda Guerra Mundial, as aeronaves de reconhecimento nem sempre chamavam a artilharia para todos os alvos que encontravam. Uma aeronave L4 detectou uma coluna alemã e decidiram seguir para ver até onde iam. Perceberam várias colunas de tropas do tamanho de uma Companhia convergindo para uma floresta. Esperaram todas chegaram e chamaram a artilharia. O local virou alvo de uma ataque maciço da artilharia da Divisão com o ataque iniciando com a tática "time on target", com todas as baterias atingindo o local ao mesmo tempo.

Os vídeos da guerra russo-ucraniana também mostram os vídeos dos drones seguindo tropas. Encontrar a base de uma patrulha pode levar a um alvo mais valioso como um posto de comando. O local pode ter alvos de maior valor como veículos e blindados. O caminho seguido pela tropa inimiga indica locais seguros, sem armadilhas e minas, no território controlado pelo inimigo. Gerar um trajeto automático a partir dos alvos seguido pode ser um tipo de aplicativo de drone de reconhecimento. O drone pode até atuar como Sniper tentando identificar o líder que seria o alvo a ser abatido no fim da missão.

Outra tática é o ataque coordenado com morteiros. Os morteiros fixam o inimigo na posição e o drone bombardeiro aproveita para realizar ataque com mais precisão. Bombas explodindo próximo é uma indicação de drone de bombardeiro. Os morteiros dificultam perceber a presença de drones ao mesmo tempo que adiciona a capacidade de ataque de precisão.

Ação do drone tem que considerar o efeito macro em todo o campo de batalha. Os danos locais causados no inimigo são poucos, mas em uma frente bem ampla o efeito cumulativo pode ser significativo. Um pelotão de drones realizando 20 saídas por dia pode resultar em mais de 100 saídas por dia na frente coberta pela Divisão. Seria o número de saídas realizadas pelas tropas britânicas durante a guerra das Malvinas se estivessem usando drones bombardeiros. Depois de alguns dias causaria danos significativos no inimigo e pode influenciar a moral da tropa inimiga. Na operação Desert Storm em 1991, os B-52 faziam ataques de saturação nas posições iraquianas. Até as tropas da posição ao lado tiveram o moral baixado e se renderam em massa após o início dos combates.

A princípio um drone letal tem que ser mais barato que o alvo. Um caminhão de US$ 100 mil deve ser destruído por um drone que custa menos. Se considerar a carga destruída e o efeito causado no destino da carga pode até já causar uma boa vantagem. A tropa inimiga pode ficar sem suprimento e munição. O efeito cumulativo de vários caminhões destruídos e a longo prazo também tem que ser considerado. O mesmo vale ao gastar uma arma cara contra um pequeno grupo de guerrilheiros ou terroristas. O efeito moral das baixas cumulativas nas tropas vendo os amigos sendo mortos sucessivamente irá baixar a moral do inimigo. Entram na defensiva, se escondem e realizam menos ações ofensivas. Pode gerar rendição ou abandono e até atrapalhar o recrutamento de novos membros.

Um Pelotão de Drones apoiando um Batalhão na ofensiva pode pelo menos enfrentar um Batalhão na defensiva. Os alvos são três Companhias, com nove Pelotões, 27 Grupos de Combate e 81 equipes de tiros (nem foi considerado as Companhias de apoio e Comando). Se cada equipe de tiro estiver em uma trincheira com uma casamata reforçada, seriam necessários pelo menos 80 cargas de destruição pesada (considerando 100% de acerto). Destruir metade da força inimiga é suficiente para colocar a unidade fora de operação. Na prática apenas uma parte das tropas está na linha de frente e a maioria fica na retaguarda, mas apenas muda a distância dos alvos. Um destacamento com cinco drones, com cada drone bombardeiro realizando cinco saídas de ataque por dia, seriam necessários vários dias para cobrir todos os alvos na linha de frente. As operações são coordenadas com outros drones de reconhecimento e tropas em terra para detectar as posições defensivas inimigas. Outro cenário é fustigar o inimigo atacando soldados individualmente. Seriam centenas de ataques para conseguir causar baixas significativas no inimigo.

Na área de retaguarda o número de alvos também é grande. Um Batalhão logístico russo tem cerca 400 veículos de transporte (150 de carga e 260 especializados). É uma referência do número de alvos que um drone armado ou drone letal irá enfrentar cobrindo uma Brigada inimiga. A maioria dos alvos seriam atacados pela artilharia, mas tem que estar dentro do alcance com os drones letais podendo cobrir os alvos mais distantes e alvos móveis.

As melhores unidades de drones bombardeiros ucranianos realizam 30 a 40 ataques por dia. Os dados podem estar relacionados com o treinamento ou operar em local com muitos alvos. Uma unidade maior pode manter várias equipes de drones operando por muito tempo, de dia e a noite, para manter uma pressão contínua sobre o inimigo.

As aeronaves de ataque procuram alvos ou atacam além do alcance da artilharia. O objetivo é enfraquecer o inimigo antes de chegarem na linha de frente. A missão é chamada de interdição de campo de batalha e pode ser realizada pelos drones, seja na busca de alvo ou no ataque direto. As equipes de drones letais recebem áreas (kill box) para realizar busca na frente da unidade que apóiam. O local não pode ter presença de tropas amigas. As armas do Batalhão são basicamente de tiro direto. Até os morteiros disparam com apoio de um observador avançado. Os drones letais adicionam a capacidade de longo alcance. Mesmo limitados a 10-15km de distância, ainda podem ser muito úteis liberando os drones dos escalões superiores para se concentrarem em alvos em distâncias maiores.

Antes dos EUA invadirem o Kuwait e Iraque em 1991, realizaram uma campanha aérea que tinha como um dos objetivos amaciar as defesas iraquianas. Queriam destruir 50% das defesas para torná-las inefetivas. Os alvos principais eram peças de artilharia e blindados. Foram realizadas 100 mil saídas em seis semanas, mas seria 5 a 10 vezes menos se usassem munição guiada.

Em 2003, um pelotão de reconhecimento dos fuzileiros navais que avançou na frente das tropas por centenas de quilômetros cita que o caminho tinha blindados e artilharia em todos os lugares, mas raramente precisou disparar pois a aviação de ataque já tinha destruído tudo. Os uso de drones nas missões de ataque viabiliza a realização de uma mini-campanha aérea por um Batalhão contra os alvos na linha de frente. Os EUA usariam sua força aérea lançando bombas guiadas por GPS do tipo JDAM para amaciar as defesas, mas não é um recurso disponível para a maioria dos países.

As missões de interdição aérea são realizadas para atacar o inimigo antes de ser empregado na frente de batalha. Era realizada restringindo a capacidade do inimigo em trasladar abastecimentos, reforços e manobrar suas forças. A interdição aérea no nível tático consiste em destruir as tropas na linha de frente a até 50km e inclui as reservas da Divisão. A interdição aérea no nível operacional é para atrapalhar a coesão geral em larga escala, causar incapacidade de reagir, impedir de atingir objetivos, e quebrar a organização e o controle de grandes formações.

A interdição começo já na Primeira Guerra Mundial para isolar o campo batalha com as metralha e bombardear as linhas de comunicações. Os alvos eram ferrovias, pontes e comboios de caminhão. Na Segunda Guerra Mundial, consideravam que as missões de interdição causavam mais danos que as missões de apoio aéreo aproximado. Na época o apoio aéreo aproximado era uma situação extrema e difícil de coordenar.

A interdição aérea no Vietnã não funcionou devido a selva e mau tempo, inteligência inadequada e restrição de alvos que podiam ser atacados. Por outro lado forçaram a deslocar meio milhão de tropas para cobrir as linhas de suprimentos. O reconhecimento armado era feito nas estradas atrás de caminhões. Os ataques aéreos eram feitos contra pontes de estrada ou ferrovia, bases logísticas e tanques de combustível.

Para a interdição aérea ser efetiva é necessário conquistar a superioridade aérea, identificar alvos e tem que ser sustentada pois operações pontuais não funcionam. O inimigo tem que estar na ofensiva consumindo muito combustível e munição.

Em 1991 a interdição aérea funcionou bem contra o Iraque para isolar a frente de batalha e preparar o campo de batalha. Na época tinham capacidade de identificar e atacar alvos a noite e era um requisito para a interdição aérea ser efetiva.


Uma bomba guiada por GPS do tipo JDAM atacando uma posição de terroristas no Afeganistão (uma terceira é visível no alto da imagem). Em um cenário como a guerra russo-ucraniana os EUA atacariam as posições com as JDAM antes de atacar por terra com as defesas já amaciadas. Um caça F-15E armado com 12 bombas JDAM de 250 kg pode devastar uma frente de cerca de 500 a 1.000 metros e atacam em dupla ou esquadrilha. A grande maioria dos países não tem este recursos e os drones passam a ser uma opção barata.


O drone Adasi QX-3 foi desenvolvido especificamente para atuar como drone bombardeiro. Os drones podem fazer uma fazer mini campanha aérea para amaciar as forças inimigas na linha de frente. Um Batalhão na defensiva tem centenas de alvos para serem atacados, mas geralmente 1/3 fica na linha de frente e 2/3 na reserva.


Blindados ucranianos atacando uma posição russa. Os primeiros blindados foram desenvolvidos para avançar até as trincheiras inimigas durante a Primeira Guerra Mundial protegendo as tropas contra os fogos das metralhadoras. Outra tática era o ataque maciço de artilharia contra as posições inimigas para manter de cabeça baixa e permitir que as tropas avançassem. Estas táticas podem atuar em conjunto com os blindados sendo usados para levar as tropas rapidamente até as linhas inimigas. O apoio de drones é um recurso adicional para apoiar o ajuste dos fogos de artilharia e o assalto da infantaria.


Drone de ataque equipado com uma metralhadora leve e um lança-granadas. A configuração HVTOL seria mais silenciosa e poderia circular ao redor do alvo mais de perto. Se o drone de ataque aproximar muito do alvo vai denunciar a presença com o barulho, mas pode não ser problema a noite. Em algumas situações pode ser necessário fazer barulho para desviar a atenção e em outras situações tem que evitar para conseguir surpresa. A ficção científica usa drones humanóides como soldados, mas um drone aéreo com armas agregadas permite uma maior mobilidade e campo de visão.

 

MUNIÇÃO VAGANTE (DRONES LETAIS)

Os uso de drones adaptados para lançar bombas seriam o primeiro passo para apoiar as missões de ataque, mas também existem os drones de ataque dedicados, também chamados de drones kamikazes, drones suicidas, drones letais ou munição vagante (ou de espera). O primeiro drone letal dedicado entrou em operação em 2009. Os drones letais existem em vários tamanhos e os menores podem ser usados no nível de Batalhão (categoria 1). Os maiores chegam a ter alcance de 200 km podendo ser considerados mísseis de cruzeiro. Seriam usados contra alvos estratégicos.

Um comandante de um Batalhão precisa pedir apoio aos escalões superiores para atacar alvos de alto valor ou alvos de oportunidade detectados além do alcance dos morteiros de 81mm, se não tiver uma bateria de 105mm fazendo apoio direto. Os drones letais seria um recurso orgânico do Batalhão para atacar alvos fora do alcance dos morteiros e permite diminuir o tempo de reação. Seriam os alvos detectados pelos drones de reconhecimento do Pelotão de Drones.

Os EUA operam com os modelos Switchblade 300 e Switchblade 600. O Switchblade 300 foi desenvolvido para as forças especiais americana como resposta as emboscadas do Talibã no Afeganistão. O apoio aéreo aproximado demorava e custava muito caro. Os terroristas atacavam e fugiam rápido antes do apoio aéreo chegar. Os mísseis Javelin estavam disponíveis, mas eram relativamente pesados para serem levados nas patrulhas a pé nas montanhas e também eram relativamente caros. Tinham que usar mísseis Javelin contra metralhadoras pesadas ou canhão sem recuo fora do alcance das armas leves e queriam uma arma barata, leve e de resposta rápida.

O Switchblade 300 pesa 2,7 kg e o sistema completo pesa 8 kg com o lançador e tablet de controle, podendo ser levado em uma mochila. O míssil tem calibre 76mm e alcance de até 10km. Voa a até 150 metros de altura e a velocidade chega a 110 km/h. A hélice é acionada por um motor elétrico. O guiamento final é por câmera de TV colorida e infravermelho e apoiado por GPS. A autonomia de 15 minutos é insuficiente para realizar missões de reconhecimento, mas é suficiente para as tropas precisando de apoio aéreo e contra alvos a distâncias maiores e fora do alcance das armas de tiro direto da infantaria.

O Switchblade 300 é disparado de um tubo, voa até a área do alvo e mergulha para atingir o alvo. O guiamento final é por vídeo. O guiamento também pode ser feito contra uma coordenada no terreno com auxílio do GPS e o guiamento final pode ser refinado com o vídeo. O tablet de controle é o mesmo usado pelos drones Raven, Puma e Wasp. O Switchblade pode atacar alvos encontrados por outros drones recebendo as coordenadas por rádio.

A ogiva do Switchblade 300 equivale a uma granada de 40mm. A ogiva foca a explosão como um escopeta. A espoleta pode ser programada para acionar a uma certa altitude do alvo. O raio letal é de 4 metros sem risco acima de 10 metros. O operador pode cancelar o engajamento até 4 segundos do impacto e mudar de alvo ou tentar novamente. O drone é descartável e não pode ser recolhido. O operador aciona a ogiva para destruir o drone no ar se não encontrar um alvo.

O custo é citado como sendo US$ 6.000 para o Switchblade 300 e US$ 10.000 para o Switchblade 600. Outra fonte cita US$ 150.000 para o Switchblade 600, mas é vendido em um kit com 10 drones e outros itens como o tubo de lançamento e tablet de controle. Para comparação, o míssil Javelin custa US$78 mil apenas para o míssil. O Switchblade 300 foi comprado pelo US Army em 2011 e pelo USMC em 2012. Um contrato em abril de 2020 no valor de US$ 76 milhões foi feito pelo US Army. O drone foi classificado como munição de tiro direto e não como drone.

Um total de 4.000 Switchblade 300 foram enviado para o Afeganistão. Em 2017, foram 350 drones disparados pelo SOCOM contra os terroristas do ISIS na Síria. Os ucranianos receberam 700 drones Switchblade 300, mas preferem usar drones adaptados por serem mais fáceis de usar. Os alvos são caminhões, blindados leves, ninhos de metralhadora, posições de trincheira e tropas desmontadas.

A AeroVironment está lançando a variante Block 20 do Switchblade 300. A nova versão pesa cerca de 2kg e pode ser preparado para o disparo em menos de dois minutos a partir de plataformas terrestres ou navais, fixas ou móveis. A autonomia superior a 20 minutos oferece capacidade de reconhecimento tático, vigilância e aquisição de alvos, bem como de ataque direto a alvos determinados.


Switchblade 300 sendo disparado.


Print de vídeo de um engajamento real de um Switchblade 300 na guerra russo-ucraniana. O operador trancou no alvo e o drone atacou automaticamente. A imagem mostra a interface e inclui uma janela no canto superior esquerdo mostrando uma imagem de baixa resolução milisegundos antes da imagem digital chegar na estação de controle.


Lançamento de um Phoenix Ghost, equivalente ao Switchblade 300. Uma rede de recuperação pode ser vista ao fundo.


Drone Phoenix Ghost
recuperado após uma missão de treinamento.
 

Em 2020, a AeroVironment mostrou o modelo Switchblade 600 com capacidade de atacar blindados. O drone foi desenvolvido para os SEAL para equipar as embarcações de assalto Combatant Craft Medium (CCM) e Combatant Craft Heavy (CCH). O objetivo é apoiar a extração com contato inimigo, atacar alvos leves na costa e para auto-defesa contra lanchas patrulha.

O Switchblade 600 pesa 15kg com um calibre de 130mm. O sistema completo pesa 54kg. Foi armado com a ogiva do míssil Javelin para dar capacidade de atacar blindados e carros de combate. O raio de ação é de 40 km e tem uma autonomia de 40 minutos. O drone voa 40km em 20 minutos para depois sobrevoar a área do alvo por mais 20 minutos. É possível aumentar o alcance com uma antena adicional a 40 km do local de comando. A velocidade máxima chega a 185 km/h. O drone fica pronto em 10 minutos. Em 2021, o SOCOM comprou o um lote modelo Switchblade 600 por US$ 25 milhões. A versão sem ogiva do Switchblade 600 é chamado de Blackwing. O modelo é usado para reconhecimento naval para ser lançado a partir de submarino e navio ou até mesmo de terra.

O Pelotão de Armas das Companhias de fuzileiros do USMC estão recebendo drones letais passando a ter capacidade de atingir alvos a até 50km. A seção de morteiros de 81mm passou de dois para quatro peças com os alvos podendo ser designados pelos drones do pelotão de reconhecimento (scout platoon).

Os vídeos da guerra da Ucrânia mostram os drones letais operando em duplas caçador-matador (hunter-killer) com um drone fazendo busca de alvos e chamando outro drone para atacar, seja com um drone bombardeiro ou drone letal dedicado. Levar bombas diminui muito a autonomia e atrapalha as missões de reconhecimento. Já os drones letais geralmente são descartáveis e só devem ser disparados se tiver certeza que existe um alvo no local. Tropas na linha de frente indicando alvos seria outra fonte de aquisição de alvos, assim como chamam o apoio de artilharia e morteiros.

Os russos usaram muito o drone letal Lancet em equipes "hunter-killer" com os drones Orlan-10. O Orlan encontra o alvo e passa as coordenadas para os Lancet atacarem. Os vídeos do conflito mostram a visão dos dois drones com o Lancet trancando no alvo e depois mergulhando e a imagem muda para a visão do Orlan filmando o ataque por cima. Geralmente o Lancet manobra para atacar os alvos blindados por trás. O Lancet mostrou ser capaz de trancar em um alvo fixo, mas não trancava em alvos móveis e geralmente ataca de frente ou por trás. O Lancet tem custo estimado de US$ 20 a 40 mil. A autonomia é de 40 minutos e a velocidade máxima chega a 110 km/h. O peso máximo chega a 12kg e atinge até 300km/h no mergulho.

O US Army já estuda a compra de munição vagante no programa Low Altitude Stalking and Strike Ordnance (LASSO) a partir de 2024. A LASSO deve equipar as Brigadas para dar capacidade de engajar blindados a longa distância.


O Lancet tem configuração de asa em cruz que facilita o controle na fase final, mas não é indicada para a fase de cruzeiro por gerar um alcance menor. As superfície das asas são bem grandes devido a baixa velocidade do drone enquanto um drone ou míssil a jato usaria uma asa bem menor.


Print de um vídeo mostrando um ataque de um drone lancet contra um radard P-18 ucraniano. Uma imagem mostra a interface do operador e outra mostra a imagem do drone Orlan-10 com o Lancet pouco antes de atingir o alvo. Uma estatística do início do conflito citava que os drones letais russos atingiram 44 alvos e erraram 12 (probabilidade de acerto de cerca de 80%).


Drone Hero-400 lançado de catapulta sendo testado pelo USMC. A configuração é similar ao Lancet russo usado na Ucrânia. O Hero-400 pesa 50kg, tem uma ogiva de 10kg, alcance de 120km e autonomia de 2 horas.


As forças especiais italianas comprara o Hero-30. O peso é de 3,5kg, a ogiva pesa 500g, o alcance chega a 15km e autonomia a 30 minutos.


Os mísseis guiados por fibra ótica podem ser considerados os precursores dos drones letais dedicados. O Spike israelense é o melhor exemplo, tendo capacidade de engajar alvos além do alcance visual.


O fabricante do Switchblade 600 fez uma montagem com o número de alvos que um drone letal pode encontrar no campo de batalha. Na linha de frente tudo é alvo: posições inimigas, tropas, veículos, armas etc, e pode ser atacado por um drone letal.


O fabricante do drone Puma comercializa junto com o Switchblade 600 para atuarem em uma equipe "hunter-killer" totalmente integrada. O Puma encontra o alvo e depois o Switchblade ataca.


Durante as batalhas finais nas Malvinas, os PARA não conseguiam usar seus mísseis Milan contra as baterias de artilharia argentinas detectadas devido a limitações no alcance e pediram ajuda para os helicópteros Scout armados com mísseis SS.11. Um Scout pousou na linha de frente para os pilotos realizarem um reconhecimento em terra. Os três helicópteros se aproximaram com terreno ao fundo e atacaram em linha. Foram disparados dez mísseis a cerca de 3 km contra casamatas, peças de artilharia e postos de comando. Os britânicos usaram os mísseis anti-carro Milan contra as casamatas argentinas. Agora existe a opção dos drones letais.

 

Em 2023, o Exército Brasileiro lançou um RFI (Request for Information) para aquisição de drones letais ou drones kamikazes. Os drones letais são chamados no EB de SMRP (Sistema de Munições Remotamente Pilotadas). Serão comprados 14 drones de Categoria 1 com alcance de até 10 Km e seis de Categoria 2 com alcance de 40 Km que serão usados inicialmente para avaliação de doutrina e ensaios. Também serão fornecidos estação de controle, estação de lançamento, maletas de transporte, simuladores, treinamento e apoio logístico.

O ideal seria ter uma seção de drones letais em todo Pelotão de Drones dos Batalhões, mas a introdução dos drones letais dedicados pode ser centralizada no escalão de Brigada com uma Companhia de drones letais. As equipes de drones letais seriam distribuídas nas unidades na linha de frente. Um drone equivalente ao Switchblade 600 (Categoria 2) seria necessário em cenários com ameaça de blindados. O uso centralizado, como no Pelotão de Drones, permite cobrir todas as Companhias do Batalhão devido ao alcance e autonomia. O raio de ação permite até apoiar/reforçar outros Batalhões próximos.

Os poloneses compraram 96 helicópteros de ataque Apache junto com 2.300 mísseis e 7.650 kits de foguetes guiados. Junto com outros itens e armas o custo total chegou a US$ 12 bilhões. São cerca de 100 armas guiadas por helicóptero. Supondo uma média de 4 alvos por saída, seriam 25 saídas por aeronave sem considerar os alvos atacados pelos canhões de 30mm. O custo para equipar 25 Brigadas com um sistema de drones de reconhecimento de Categoria 2 junto com sistemas de drones letais de Categoria 1 e Categoria 2 (Lancet ou Switchblade 600) pode chegar a um custo dezenas de vezes menor para atacar o mesmo número de alvos. O custo pode ser menor ainda com o uso de drone tipo FPV para atacar os alvos mais próximos da linha de frente ou de curto alcance. O objetivo não é substituir os helicópteros de ataque, mas complementar com um recurso bem mais barato.
 

DRONE LETAL DE REAÇÃO RÁPIDA

As armas anti-carros da infantaria podem ser divididas em três tipos. O míssil anti-carro opera geralmente no nível de Batalhão; uma arma anti-carro multifuncional (MAAW) como o Carl Gustav opera no nível de Companhia, e os Pelotões e Grupos de Combate operam com armas leves anti-carro (ALAC) como o AT-4.

As ALAC operam melhor a curta distância, cerca de 50 metros, com as tropas esperando os blindados se aproximarem para atacar pela lateral ou por trás. A infantaria operando junto com os blindados ainda é a maior ameaça com a ALAC servindo mais para evitar que a infantaria entre em pânico de blindado. Geralmente tentam disparar vários ao mesmo tempo (2 ou 3) contra os blindados bem próximo, mas precisa de muita disciplina e coragem.

Os drones letais podem ter uma versão leve e uma versão peso médio para cobrir as necessidades do Batalhão. O sistema mais simples é o drone de corrida tipo FPV. Os FPV equipados com ogivas anti-carro fariam o papel das ALAC e até dos mísseis anti-carro de curto alcance. Substituindo as ALAC, um FPV armado permite atacar blindados próximos com o operador escondido.

Uma característica dos drones letais é só poder trancar no alvo após o disparo (LOAL - Lock-on After Launch). São lançados e depois o operador procura o alvo antes de atacar/mergulhar no alvo. Um drone letal com capacidade de trancar no alvo antes do disparo (LOBL - Lock-on Before Launch) ou com capacidade "dispare-e-esqueça" seria o próximo passo.

O objetivo de um drone com capacidade LOBL seria complementar as armas anti-carro como os mísseis anti-carro e os canhões sem-recuo de 84mm (Carl Gustav). Um drone letal com esta capacidade seria bem mais barato que os mísseis dedicados como o Spike e Javelin e permitiria introduzir uma arma guiada anti-carro nos Batalhões antes dos mísseis dedicados.

Outra relacionada com o modo LOBL é permitir trancar e acompanhar alvos móveis. Trancar em um alvo fixo já é um avanço em relação ao controle totalmente manual.

Outra desvantagem dos drones letais é a demora para entrar em operação. Chega a 10 minutos no caso do Switchblade 600, mas não seria problema contra alvos distantes, se tiver alerta suficiente, e se estiver apoiando um drone de reconhecimento com o sistema já em prontidão para tiro. Um drone com capacidade LOBL tem que ter a capacidade de estar pronto para ser disparado o mais rápido possível em caso de contato de emergência.

As novas versões do Switchblade 300 ficam prontos para o disparo em 2 minutos, mas um drone letal com modo LOBL precisa estar pronto ainda mais rápido. Liga drone, tira as tampas do lançador e destrava para ficar pronto para disparo.

Os canhões sem-recuo de 84mm foram citados pois um drone letal com capacidade LOBL poderia ter uma versão mais leve e outra mais pesada. Um exemplo é o míssil Spike SR de apenas 8kg que usa a ogiva do lança-foguetes Matador de 90mm. O alcance de 800 metros poderia ser multiplicada no caso de uma configuração de drone letal tipo quadricóptero. O peso das munições do canhões sem-recuo de 84mm variam de 2,2kg a 2,9kg sem a carga propelente. Podem atacar a grande maioria dos alvos menos a blindagem frontal de carros de combate pesados ou casamatas reforçadas. Para comparação, a ogiva do míssil Javelin pesa 8,4kg e permite atacar qualquer carro de combate. Os drones Lancet usados extensivamente na Ucrânia levam ogivas de 1 a 3kg e mostrou ser suficiente contra a maioria dos blindados. Os vídeos mostram que os ataques contra carros de combate são realizados contra a parte traseira onde a blindagem é mais fraca.

Além do modo "dispare-e-esqueça" (LOBL), a disponibilidade um link de rádio permitiria manter o modo "dispare-e-atualize" (LOAL) contra alvos fora da linha de visada ou mudar de alvo se encontrar um alvo de maior valor durante o trajeto. Um link de fibra ótica permitiria comunicações seguras no lugar do link de rádio, mas com limitação no alcance de cerca de 4 km. Um cabo mais curto pode ser usado apenas para subir, pairar, detectar o alvo, trancar no alvo e atacar após cortar o cabo de fibra ótica. A capacidade de pairar ou voar mais lento para aumentar a autonomia também seria interessante para fazer busca de alvos além da linha de visada ou poder voltar para o lançador caso não encontre ou perca o alvo. Também permite escolher o melhor angulo para atingir um blindado que seria a parte de trás e por cima onde a blindagem é mais leve. As desvantagens do link de fibra ótica é peso acional e tração diminuindo a velocidade, além de ter alcance limitado em relação ao link de rádio.

A velocidade é um requisito importante para um drone letal especializado e a configuração com asas seria a ideal. A configuração de quadricóptero de corrida é outra opção para aumentar a velocidade. Os mísseis são muito rápidos para atingir o alvo o mais rápido possível antes que algum obstáculo no terreno obstrua a linha de visada com o sensor do míssil. Outra vantagem da configuração quadricóptero é poder ser recuperado se o cenário permitir como no caso de busca de alvos de oportunidade.

Os mísseis tem o modo de disparo "soft launch" que causa pouca assinatura visual e térmica, sendo ejetados do tubo por uma cápsula de gás. Os drones a hélice não emitem fumaça no disparo e geram muito menos barulho que um míssil.

Um cenário onde um drone letal com capacidade LOBL poderia ter sido útil seria nos dias iniciais da invasão da Ucrânia. As rotas eram previsíveis e os russos avançaram rapidamente em grandes comboios. As possíveis rotas poderiam ter equipes com drones letais com capacidade LOBL que atacariam o primeiro e último veículo da coluna em trechos das estradas onde o resto não poderia manobrar facilmente e ficariam presos. Depois atacariam sucessivamente os veículos parados dando prioridades para os blindados pesados, artilharia, mísseis superfície-ar e caminhões de combustível.

Os drones tipo FVP também podem ser testado com a capacidade LOBL. São controlados manualmente e precisam de muito treinamento. A capacidade de trancar em um alvo fixo e alvo móvel facilitaria a pilotagem e permitiria trancar no alvo antes de decolar. Outras funcionalidades seriam visualizar as coordenadas do alvo, planejamento de missão, capacidade noturna com sensor termal ou visão noturna trocando a torreta e guiamento por fibra ótica opcional para o caso de cenário com muita interferência ou para evitar emitir.


Uma equipe de força especiais belgas em um posto de observação durante os combates contra os terroristas do ISIS. Um míssil Spike está de prontidão contra os veículos bombas do ISIS. É uma função que um drone com capacidade de trancamento antes do disparo seria útil.


A imagem é de um drone de reconhecimento lançado de tubo. Um drone com capacidade de trancamento antes do disparo também tem que ter uma capacidade semelhante para disparo rápido. Outro operador pode apontar o sensor enquanto um aponta o lançador na direção do alvo. A "alta velocidade" seria algo em torno de 200 km/h ou mais.


O NINOX 40 é um drone de reconhecimento de reação rápida disparado de lança-granadas. É um exemplo de drone anti-pessoal com capacidade LOBL.


A IAI desenvolveu o Point Blanc ROC-X lançado a mão. O drone tem formato de asa em X, mas tem capacidade de pairar. O peso máximo é de 6,8kg, autonomia de 18 minutos, atinge uma velocidade de 280km/h e tem uma ogiva de 1,8kg. A configuração de asa em X é a melhor para um drone letal por facilitar o controle na fase final.


A Rafael Firefly é uma munição letal de decolagem vertical. A configuração VTOL facilita o disparo e a recuperação. Um tipo de missão é reagir a um sniper, com o drone sendo lançado para procurar e eliminar a ameaça.
 

ATAQUE NÃO CINÉTICO

As missões de ataque são chamadas de ataque cinético. Existe também o ataque não cinético que visa influenciar no comportamento do inimigo sem o uso de armas. Nos conflitos no Afeganistão e Iraque, o ataque não cinético geralmente era feito com caças ou helicópteros de ataque fazendo passagem baixa com muito barulho e lançando flares para deixar claro para o inimigo que estão presentes ou para desviar a atenção. Um Batalhão pode fazer um ataque de morteiro ou munição de fumaça em um local próximo para desviar a atenção do inimigo.

Um drone barulhento com uma sirene pode realizar ataque não cinético em menor escala. A possibilidade de estar armado com bombas é uma preocupação para as tropas abaixo. A noite pode ser bem irritante para o inimigo.

Drones de ataque em mergulho seriam o novo "Stuka" se também causar muito barulho com uma sirene e poderia até usar o barulho para aterrorizar as tropas depois que a munição acabar fazendo mergulho "seco".

As "bruxas da noite" (Night Witches) eram russas que voavam biplanos U2 a noite a baixa altitude sobre as posições alemãs e atacavam com bombas leves. O objetivo era muito mais incomodar do que causar danos reais, mas eram tantas missões que os danos passaram a ser relevantes. O drones também podem realizar estas missões com ataque cinético como já estão fazendo ou com barulho de sirenes e luzes brilhantes. Se o incomodo é seguido de ataque de artilharia ou drone pode causar estresse adicional mesmo se não for sempre seguido de ataques. O sobrevoo frequente, e barulhento, durante a noite toda pode causar muito estresse sem arriscar as tropas amigas.

Em uma guerra convencional, o drone sobrevoaria as posições inimigas a noite e faria muito barulho. Depois seria seguido de bombardeio de artilharia ou de drones bombardeiros. Condicionaria as tropas com bombardeiros após o sobrevoo. Depois só faz barulho várias vezes para criar tensão podendo cobrir várias posições inimigas. Os drones podem aproveitar os voos de incomodação para fazer reconhecimento. Voa baixo com frequência no local para incomodar, mas aproveita para fazer reconhecimento aproximado.

Uma tática iniciada na Segunda Guerra era infiltrar uma unidade nas defesas inimigas com a aviação atacando alvos próximos para criar distração. O inimigo passa a se preocupar mais em olhar para cima e se proteger do que vigiar ao redor. No caso de um drone, seria voar próximo das tropas inimigas com uma sirene ou apito para distrair a atenção ou abafar o som de tropas amigas avançando. Também poderia fazer ataque cinético com bombas leves.

As bases avançadas no Afeganistão eram sobrevoadas por helicópteros ou caças e as tropas sabiam que naquela noite não seriam atacadas. Então os drones podem ser usados para fazer barulho ao redor para dissuadir ataques. Os drones Raven eram usados no Afeganistão e Iraque para sobrevoar as estradas para dissuadir as emboscadas e a implantação de explosivos. Voavam bem baixo para causar barulho. Iam e voltavam frequentemente nas rotas.

No caso de comboios de estrada com escoltas no ar como caças e helicóptero, as aeronaves cobrem trechos de estradas a cerca de 1 minuto a frente da progressão. O barulho da aeronave voando acima também serve como dissuasão de emboscadas como ataques com morteiros. Comboios americanos sem escolta acima eram geralmente atacados durante a guerra do Iraque e Afeganistão. Um drone "barulhento" voando baixo pode ser útil nesta função.

Na invasão do Iraque em 2003, os drones RQ-2 Pioneer precisavam apenas sobrevoar baixo as tropas inimigas para neutralizar a unidade. Voavam a cerca de 250 metros para serem ouvidos. Espantavam até tripulantes de blindados ou artilharia que fugiam do local. Durante a Guerra do Golfo em 1991, os soldados iraquianos se rendiam ao serem detectados pelos drones Pioneer, pois sabiam que depois de terem sidos espionados, era iminente o disparo contra eles.

Um outro tipo de ataque não cinético são as Operações Psicológicas, ou Operações de Apoio às Informações (OAI), por intermédio de lançamento de panfletos e difusão sonora. Os drones podem ser equipados com caixas de som para transmitir gravações ou barulhos. Na invasão do Iraque em 2003, as equipes de guerra psicológica usavam gravações de veículos e helicópteros para simular a presença de mais tropas que realmente havia no local. As unidade eram usadas para convencer as tropas locais a se render.

Os drones civis já vem com kits opcionais de alto-falante e holofotes que podem ser usados em operações psicológicas. O alto falante pode ser usado para se comunicar com as tropas amigas que se perderam e ficaram sem comunicação por rádio. Também pode emitir mensagem de voz gravada na língua do inimigo passando mensagens ou dando orientações caso se rendam. Enviar um drone com uma bandeira branca para conversar com o inimigo para negociar uma rendição (do inimigo) é bem menos arriscado. O holofote junto com o alto-falante podem ser usados para desviar a atenção do inimigo a noite e provocar para que disparem suas armas e denunciem a posição.

Nas operações na selva o objetivo é mais incomodar o inimigo pois a mata não permite ver abaixo a não ser em trilhas e vilas. As operações aéreas sobre a selva faziam o Vietcongue parar e se esconder o que diminuía a efetividade pois não sabia se foram detectados.

Na Segunda Guerra Mundial, as aeronaves L4 voavam a noite sobre as tropas inimigas. Não conseguiam detectar alvos, mas a artilharia não disparava pois seria detectada e atacada. Os Japoneses só atacavam os L4 se estivesse voando bem longe da linha de frente e fora do alcance da artilharia. Os alemães só atacavam os L4 depois que começassem a indicar alvos para a artilharia.

Lançar panfletos é uma missão das aeronaves de ataque e de transporte. É uma missão que passa a ser possível pelos drones do Batalhão cobrindo a área de operação. Os panfletos seriam lançados nas posições inimigas identificadas.


Um drone pequeno e barulhento pode ser usado apenas para sobrevoar as posições inimigas para incomodar. Em combate, faria o mesmo para forçar o inimigo a atacar o drone e denunciar a posição. Voando com frequência no local, o inimigo fica dessensibilizado e nem reage mais. Em um ataque real, o barulho do drone abafaria a aproximação das tropas.

 

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