DRONES APOIANDO AS FORÇAS ESPECIAIS

As forças especiais apóiam os comandantes dos escalões superiores contra alvos estratégicos no Teatro de Operação enquanto os drones orgânicos das forças convencionais cobrem os alvos táticos. Então é de se esperar que os drones apoiando os escalões superiores e o teatro estão apoiando as forças de operações especiais.

Apoiando as unidades de forças especiais, os drones podem substituir parte das missões de alto risco ou podem apoiar diretamente as missões das forças especiais. As missões das forças especiais costumam ser as mais arriscadas e é exatamente um problema que os drones tentam resolver ao realizar as missões mais perigosas.
 
Os drones podem realizar parte das missões das forças especiais principalmente nas missões de reconhecimento e ação direta. Algumas operações reais podem mostrar como seria o uso de drones pelas forças especiais. Na época não havia drones, mas é possível imaginar como seria a mesma missão sendo realizada na atualidade com o apoio dos drones.
 
As equipes Jedburgh atuaram na França atrás das linhas durante a Segunda Guerra realizando sabotagem de linhas ferroviárias, emboscada de tropas e comboios de estrada com o objetivo de desviar forças alemãs de outras frentes para o local. Em um cenário semelhante atual, os drones operados pelas equipes poderiam realizar as missões, colocando as cargas nas linhas férreas, ou atacando os comboios e tropas com as equipes operando os drones sem se arriscar.

As patrulhas do Long Range Desert Group (LRDG) operaram atrás das linhas alemãs no norte da África durante a Segunda Guerra. Os drones levados pelas patrulhas poderiam fazer reconhecimento da rota a frente da patrulha ou na área do alvo. Outra missão seria usar os drones para atacar os alvos no caso de missões de ação direta como os ataques contra as bases aéreas. O LRDG era apoiado por duas aeronaves Waco usados para ligação, evacuação médica, ressuprimento e lançar peças de reposição para as patrulhas motorizadas. Os drones podem substituir parte das missões de ressuprimento.

Os comandos anfíbios dos Recce da África do Sul atacaram bases logísticas em Angola e Moçambique durante a Guerra Fria. Eram lançadas de lanchas de ataque que agora seriam a base de drones de reconhecimento e drones letais lançados além da linha do horizonte, sem a necessidade de arriscar os comandos anfíbios. Quando o alvo era uma refinaria ou tanque de combustível, tentavam colocar minas em depósitos de combustível. Se na hora do ataque o local estivesse muito vigiado usavam lança-foguetes RPG-7 com munição incendiária com um timer para acionar o gatilho. O RPG-7 ficava instalado em um tripé para ficar apontado para o alvo a cerca de 200 metros de distância. Uma carga de auto-destruição era usada para evitar que o lançador fosse usado posteriormente pelo inimigo.

Com a tecnologia atual é possível usar drones letais ou drones bombardeiros para realizar parte das missões de sabotagem com muito mais precisão e segurança para os operadores. Nas missões de sabotagem de ponte, um drone de carga poderia auxiliar as equipes transportando os petardos para um local próximo do alvo apoiando uma equipe menor que apenas instalaria as cargas explosivas. A guerrilha dos Houtis do Iêmen atacaram uma refinaria da Arábia Saudita com drones de longo alcance fornecidos pelo Irã a uma distância de mais de 1.000 km.
 
Durante a guerra das Malvinas, as equipes do SAS e SBS criaram 26 postos de observação ao redor da ilha para vigiar o movimento das tropas argentinas e possíveis locais de desembarque. Agora poderiam ser rondas de drones operando de forma autônoma a partir de navios ou operados a partir de bases do SAS e SBS na ilha em locais mais seguros.

As tropas do SAS realizaram uma incursão contra a pista de pouso de Peble Island para atacar as aeronaves argentinas baseadas no local, principalmente as aeronaves de ataque Pucará. Após um reconhecimento do local, as tropas fizeram uma ação direta a noite e sabotaram as aeronaves. Drones letais poderiam realizar a missão de ataque sem expor as tropas.
 
Durante a caça aos mísseis Scud durante a guerra do Golfo em 1991, equipes do SAS em veículos Land Rover usaram mísseis anti-carro Milan para atacar os lançadores de mísseis no deserto no oeste do Iraque. Um drone de longo alcance como o Predator poderia realizar esta missão sem a presença das tropas no local. O Predator pode cobrir uma área muito maior em um tempo menor comparado com uma patrulha motorizada. Outra opção seria as equipes usarem drones portáteis da Categoria 1 para realizar reconhecimento ao redor sem se expor em locais perigosos como próximo de rodovias e depois atacar com drones letais. As patrulhas tinham capacidade de permanência muito alta, mas cobriam uma área ao redor muito pequena. Os caças fazendo busca cobriam uma área muito grande, mas tinham pouca capacidade de detecção.

As patrulhas de longo alcance (Long Range Patrol - LRP) apoiam os Corpos de Exército nas missões de reconhecimento a longa distância. Geralmente cada Corpo de Exército é apoiado por uma Companhia com dois pelotões de oito patrulhas de quatro operadores.

As LRP fazem reconhecimento, localização de forças inimigas, designação de alvos para a artilharia e aviação e avaliação de danos de batalha. São capazes de operar por longos períodos a entre 80 a 250km da linha de frente. Podem operar independentemente por até 13 dias sem apoio externo, mas as missões geralmente duram entre 1 a 7 dias. Um destacamento pode deslocar a até 80km em seis dias e em casos especiais podem operar por mais tempo.

A estratégia da OTAN na Europa era baseada em uma defesa em profundidade e contra ataques contra a retaguarda inimiga. O objetivo era atacar os principais pontos de ataque inimigo e as rotas de suprimentos, além de localizar os centros de comando, logísticos, defesa aéreas, sítios de artilharia e mísseis e área de descanso. As LRP fariam aquisição de alvos para aeronaves e artilharia de longo alcance.

O US Army já substituiu a maioria das suas unidades de LRP pelos drones Shadow e Gray Hawk. O raio de ação de 250km é compatível com a operação das LRP. No caso de operações onde é necessário a presença de tropas podem usar os Ranges, Boinas Verdes e Força Delta.
 
Durante o conflito no Afeganistão em 2001, os Seals vigiaram e monitoraram um pequeno aeroporto no Afeganistão para atuar como base avançada que se chamaria Campo Rhino. Foram inseridos a noite de aeronaves e vigiaram o aeroporto por quatro dias. Quando os fuzileiros chegaram os Seals aturam como precursores marcando a área de pouso.

O filme "Lone Survivor" foi baseado em uma missão real com quatro operadores dos SEALs que estavam em uma missão de reconhecimento nas montanhas do Afeganistão. O alvo era um líder local. A equipe foi detectada e perseguida com três membros mortos. Os drones com sensores de imagem de longo alcance poderia realizar a missão de vigilância por longos períodos com sensores de longo alcance.
 
Algumas missões das forças especiais só podem ser realizadas com a presença de tropas no local como a avaliação de danos de batalha, resgate de combate, resgate de prisioneiros, captura de pessoal para inteligência, despistamento, operações psicológicas. Existem cenários onde os drones não podem substituir as forças de reconhecimento e um deles é a selva fechada.

No Vietnã, as patrulha de longo alcance (LRRP) eram muito usadas para reconhecimento pois a selva escondia a maioria das operações inimigas do reconhecimento aéreo. Uma tropa sempre deixa sinais que passou pelo local e quando passou, deixando a assinatura da presença ou passagem, e as LRRP eram o recurso disponível.

Em 1967, cada Divisão no Vietnã tinha uma Companhia LRRP com um quartel general e dois pelotões de 8 patrulhas de 6 operadores. A missão era localizar e reportar forças inimigas para os batalhões de manobras engajarem, além de realizar vigilância e designação de alvos para artilharia e apoio aéreo aproximado. Apesar do nome só realizavam patrulha de curto alcance.

As patrulhas de 4 a 6 operadores duravam cerca de seis dias cobrindo uma área de 2 por 2 km com mais uma zona de segurança de 1 km do tipo "no fire zone". Seis patrulhas (cerca de 30 operadores) eram capazes de cobrir em seis dias uma área maior que o possível por um Batalhão de Infantaria que ainda precisa de apoio de artilharia e helicópteros de transporte. A área de operação das LRRP não precisa de preparação de artilharia antes de entrarem no local. Se encontram inimigos no local as LRRP continuam a missão evitando serem detectados.

Um único sistema de drone de categoria 2 ou 3 com um sensor WAMI já consegue cobrir sozinho uma área superior as seis patrulhas citadas (40km2 contra 80km2 do drone), mas com a limitação de só observar as áreas desmatadas, estradas ou vilas na selva. O drone não exclui a operação das LRP, mas os dois podem operar em conjunto aumentando ainda mais a capacidade de detecção.


Um drone de uma equipe de forças especiais ucraniana sobrevoando uma aeronave de alerta aéreo antecipado A-50 russo ma base aérea de Machulishchy. As aeronaves foram sabotadas posteriormente.


Um drone kamikase ucraniano atacando uma fragata russa em outubro de 2022 russo durante a guerra russo-ucraniana. É uma missão que seria realizada pelos mergulhadores de combate.

 
APOIO AS OPERAÇÕES ESPECIAIS
 
Nas operações no Afeganistão, o apoio de um drone acima virou parte do planejamento das missões. As forças especiais americanas não operavam mais sem o apoio dos drones. As unidades do Comando de Operações Especiais (SOCOM) foram os primeiros a usar os mini-drones Raven e Puma. A primeira unidade de drones MQ-1C Grey Eagle foi criada 2009 como parte do SOAR. O esquadrão 160 SOAR apóia as forças especiais americanas auxiliando na infiltração, exfiltração, ressuprimento, segurança de área, reconhecimento, supressão, apoio aéreo aproximado, ataque, dispersão de minas, comando e controle, guerra eletrônica e retransmissão de comunicações.

Uma operação de forças especiais pode ser dividida em várias fazes que podem ser apoiada pela aviação e por drones como o planejamento, ensaio, inserção, infiltração, ressuprimento, extração de emergência e apoio aéreo.

Geralmente é feito um reconhecimento de imagem da área de operação para coletar dados para auxiliar o planejamento da missão. Os drones passam a ser uma plataforma para coletar as imagens e podem ser os drones orgânicos das unidades de operações especiais. As forças especiais americanas no Afeganistão usavam drones orgânicos com autonomia de 2 horas e era pouco. Precisavam revezar vários drones para observar o alvo.

Uma zona de pouso de helicópteros ou de lançamento de pára-quedistas pode ser vigiada por drones por 48 horas antes da operação para garantir que não exista ameaças no local. O destacamento de precursores de Brigada Pára-quedista já usou drones FT100 para avaliar áreas para serem usadas como zonas de pouso e fazem quase todas as tarefas dos precursores.

Em uma infiltração na praia, um mergulhador de combate (GRUMEC) vai na frente para garantir que a praia está segura. O ponto de desembarque muda dependendo da presença de civis ou ameaças no local. Um drone também pode realizar esta missão de forma mais rápida e cobrir uma área maior. Uma operação noturna tem no máximo 12 horas para ser realizada.

Entre a infiltração e a aproximação até o alvo, um drone pode dar cobertura para permitir que as tropas avancem de forma mais rápida e segura. Vídeos de ações das forças especiais israelenses mostram as tropas avançando a noite na cidade com a filmagem sendo feita por um drone acima.

Durante uma operação, como a sabotagem de um alvo, um drone pode fazer cobertura e dar alerta de ameaças que surjam durante a operação. Se for um drone maior e armado pode até apoiar a reação contra a ameaça. Os drones letais Switchblade 300 foram desenvolvidos para as forças especiais americanas para dar apoio sem precisar da artilharia, que pode estar fora do alcance, ou de apoio aéreo, que pode demorar. Um drone maior lançando drones FPV pode simular que foram tropas infiltradas que realizaram o ataque.

Com apoio de um drone, o comandante da missão pode acompanhar a operação em tempo real. O drone também pode ser usado para retransmissor de comunicações.

Os snipers são são forças especiais, mas são uma especialidade que os membros podem treinar. Os drones permitem realizar parte das missões dos snipers como vigilância e ataque a longa distância sem precisar do treinamento especializado.

Os drones de carga podem apoiar as equipes atuando atrás das linhas lançando suprimentos. No caso dos EUA, são usados os MC-130 com capacidade de operar a noite a baixa altitude para apoiar equipes atrás das linhas. Um drone tem a vantagem de não colocar as tripulações em risco. O MQ-1C Gray Eagle pode levar cargas de até 250kg no cabide central e pode ser casulos com cargas.

Equipes de forças especiais podem ter equipes de drones para apoiar forças irregulares que estão apoiando e até treinar os operadores de drones dessas forças, além de ensinar a se defenderem dos drones.
 

Em 2006, foram mostradas na TV uma incursão de FOpEsp israelense contra um hospital no norte do Líbano toda filmada por UAVs. O local era suspeito de ser uma base terrorista, mas estava abandonado. As tropas puderam avançar com o UAV funcionando como batedor dando uma visão da situação a frente do avanço. A incursão durou 20 minutos com as tropas infiltrando e exfiltrando de helicópteros CH-53. Na foto acima mostra as imagens onde os comandos israelenses são marcados pelos círculos vermelhos.


O sistema de extração de emergência STABO consiste de ganchos no uniforme da tropa que é presa em um cabo lançado por um helicóptero. O objetivo é realizar a extração rapidamente de um local e depois pousa em outro local para as tropas embarcarem no helicóptero. Um drone de carga pode ser usado para usar a técnica STABO com apenas um operador em extração de emergência.


No Vietnã, as patrulhas de forças especiais realizando reconhecimento na selva controlada pelo Vietcong tinham um destacamento de controlador aéreo avançado dedicado operando com os O-1. Os SEALs eram apoiados pelos OV-10 Bronco. O controlador aéreo avançado vigiava o local da operação antes da missão, as rotas de infiltração, avaliava as zonas de pouso se estão seguras e acompanhava as equipes durante a operação para o caso de precisarem de apoio aéreo ou exfiltração de emergência. O controlador aéreo avançado atuavam como retransmissor de rádio para as equipes em terra. Os recursos atuais seriam drones com sensores capazes, armas para apoio imediato, escuta de rádio, e poder realizar pelo menos parte da missão pelo ar.


Os mísseis guiados por fibra ótica já foram planejados para serem usados por equipes de forças especiais operando atrás das linhas para atacar alvos fora da linha de visada. O Spike ER é usado pelas forças especiais israelense com este objetivo. A imagem é uma concepção do Polyphem operado por equipes de forças especiais.
 

MOTOCICLETAS VOADORAS
 
As motocicletas voadoras (hoverbike) são veículos de diversão bem interessantes e podem ser pensados para uso militar. A primeira coisa a considerar seria o uso no lugar das motos de cross ou quadriciclos usados por forças especiais operando atrás das linhas. O lado negativo do conceito seria a segurança em caso de acidente. Uma queda em terra seria bem grave, mas se operasse apenas sobre o mar não seria um problema tão grande assim. Uma limitação de velocidade de 60km/h pode deixar o veículo relativamente seguro em caso de queda. Em alguns casos pode ser permitido aumentar a velocidade por alguns minutos como no caso de fugir de fogo inimigo.

Os comandos anfíbios e mergulhadores de combate seriam os mais beneficiados com o uso de motos voadoras. Seriam usadas na fase de infiltração e exfiltração na costa ou próximo da praia se o local permitir. Teria que ser uma moto voadora de dois lugares para permitir levar um operador e um piloto. Uma versão drone permite infiltrar e voltar de forma autônoma ou ir buscar na forma autônoma.

Uma autonomia de pelo menos 90 minutos permite percorrer 30-40 km com a decolagem a partir de um navio além da linha do horizonte e fora do alcance de sensores na costa. A pilotagem pode ser bem simplificada para não exigir um piloto de aeronave. Seria basicamente uma moto que flutua com limitação de altitude e velocidade. Outro requisito é ser bem silenciosa.

Um tipo de exfiltração pode ser com um cabo preso com a técnica SPIES (Special Patrol Insertion/ Extraction Rig) como no caso de exfiltração na água. Exfiltração dentro da costa também seria possível como no caso de extração quente.

O uso de um cabo para levar tropas lembra que a moto voadora pode ser usada como um drone de carga sem tripulantes. A capacidade de carga seria de aproximadamente 200kg ou o equivalente a um helicóptero Robson R22. O peso máximo de decolagem seria de 600kg.


Modelo de hoverbike em desenvolvimento. Os COMANF já testaram paragliders para auxiliar a infiltração e lançamento de suprimentos.
 

 


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