DRONES EM COMBATE NA GUERRA DA UCRÂNIA
A imagem acima mostra a unidade de drones ucraniana Sêneca, pertencente à Nona Brigada. Os quatro braços dos rotores dos quadricópteros passarão a compor os distintivos (“bolachas”) das unidades responsáveis pela operação de drones no futuro.
O termo “drone” é um apelido de uso comum, com provável origem francesa, e será utilizado neste texto. Era a denominação mais frequente na década de 1960. O termo técnico adequado é Aeronave Remotamente Pilotada (ARP), ou RPV (Remotely Piloted Vehicle) em inglês. No Brasil, a nomenclatura oficial é VANT (Veículo Aéreo Não Tripulado), equivalente ao termo inglês UAV (Unmanned Aerial Vehicle). Também é utilizado o termo SARP (Sistema de Aeronaves Remotamente Pilotadas), que reconhece o emprego do drone como parte de um sistema integrado composto por aeronaves, estação de controle e sistemas de comunicação.
No conflito recente entre Ucrânia e Rússia, observou-se, pela primeira vez, o uso massivo e sistemático de drones em um cenário de guerra convencional. Vídeos disponíveis na Internet mostram diversas situações em que os drones demonstraram seu potencial e novas formas de aplicação em combate. Foram utilizados desde pequenos drones comerciais até modelos maiores e mais sofisticados, como os drones de ataque Bayraktar TB2.
O objetivo dos drones é acrescentar novas capacidades operacionais, sem necessariamente substituir os meios já existentes. Eles podem executar com maior eficiência diversas tarefas rotineiras. Além disso, os drones têm o potencial de ampliar a eficácia dos recursos já disponíveis, funcionando como multiplicadores de força no campo de batalha.
Este artigo tem como objetivo avaliar se os drones representam apenas um modismo, uma resposta pontual ao conflito na Ucrânia, ou se constituem um caminho irreversível que precisa ser encarado com seriedade. Caso tenham vindo para ficar, discute-se como seria a introdução em larga escala de drones no Exército Brasileiro (EB) — embora os princípios aqui analisados também se apliquem ao Corpo de Fuzileiros Navais e aos Batalhões de Infantaria da Aeronáutica. A primeira parte do artigo apresenta a evolução do uso de drones ao longo da guerra russo-ucraniana; a segunda parte propõe um modelo de implementação para o EB.
COMPANHIA DE DRONES DE ATAQUE
Os ucranianos não criaram um manual sobre a operação de drones porque as mudanças ocorrem diariamente e as táticas evoluem rapidamente. Os vídeos de operações de drones geralmente mostram drones bombardeiros ou ataques de drones FPV, mas as informações que interessam são as operações das equipes de drones. Estão disponíveis em russo ou ucraniano, mas um tradutor automático das legendas permite entender. Não são vídeos curtos como os ataques dos drones, mas vídeos mais longos, geralmente com cerca de 15 minutos, e que mostram os detalhes das operações dos drones. É possível determinar o modo de operação das equipes e é a fonte principal usada no artigo. É raro encontrar informações detalhadas sobre as operações das equipes de drones em pesquisas textuais.
Acompanhar pessoalmente as ações das equipes de drones ucranianos é uma forma de entender as operações de drones. São equipes de reconhecimento de curto e longo alcance, equipes de drones bombardeiros e drones FPV Kamikaze, drones de caça, postos de comando das equipes de drones, além das equipes que criam e preparam os drones e munições nas bases de retaguarda. Os países que estão investindo pesado em drones, como o Exército dos EUA e os britânicos, devem ter enviado observadores com esta missão para a Ucrânia, mas os dados estão disponíveis para quem souber pesquisar na internet.
Antes da guerra, a Ucrânia operava apenas com um Regimento com drones a jatos para reconhecimento fotográfico. Tinham pouca experiência com drones Raven fornecidos pelos EUA. Os superiores encaravam a inovação com ceticismo, não a levavam a sério nem a apoiavam, até que os escalões mais altos reagiram. Os comandantes russos chamavam de brinquedo e preferiam usar o binóculos.
A operação de drones na Ucrânia iniciou de forma amadora com as tropas comprando drones chineses por conta própria logo após a invasão. Depois atuavam como um Pelotão de Reconhecimento com drones Mavic e reportavam aos superiores. Os operadores de drones passaram a contatar diretamente as equipes de morteiros e corrigiam os fogos.
Os operadores de drones ucranianos atuavam inicialmente sozinhos. No inicio davam drones para todos os pelotões na linha de frente tentando saturar o local com o máximo possível de drones. Eram usados para corrigir artilharia. Passaram a ter uma pequena equipe de segurança e apoio. Depois passaram a atuar em equipes como equipes caçador-matador. Depois se juntaram em unidades maiores como Pelotões e depois como Companhias de Drones (CDA) equipada com Pelotões de Reconhecimento e Pelotões de Ataque. Os Pelotões atuam em equipes dispersas com cerca de quatro membros. As CDA tem um posto de comando com instalações para manutenção, reparos e suprimentos. Algumas Companhias de Drones de Ataque aumentaram tanto de tamanho que passaram para Batalhões de Sistemas Não Tripulados (incompleto). No EB seria um Batalhão do Tipo 1 com apenas uma Companhia e Pelotões de apoio. Uma unidade maior opera com drones de reconhecimento e ataque de maior alcance e unidades de drones terrestres.
No fim de 2023 já existiam unidades de drones de ataque e quase todas as Brigadas tinham unidades de drones. Inicialmente eram apenas pequenos grupos e queriam formar pelo menos um Pelotão. Idealmente seria o tamanho de uma Companhia com cerca de 100 tropas. Os oficiais mais antigos não acreditavam na idéia. Tiveram ajuda externa como orientações sobre o uso de antenas e podia ser até na forma de tutoriais em vídeos. Levou cerca de seis semanas para iniciarem o uso em combate dos pilotos treinados em drones FPV. No inicio faltava de tudo e o acesso aos recursos necessários foi melhorando progressivamente. No fim de 2024 não havia mais escassez de meios e tripulações.A Ucrânia opera cerca de 60 Companhias de Drones de Ataque ou uma por Brigada. Nem todo Batalhão da Brigada tem uma unidade de drone (Pelotão ou Destacamento) além de ainda poder receber apoio da unidade de drones da Brigada. A Companhia de Drones de Ataque só apoia um Batalhão de cada vez durante uma operação ofensiva e outros Batalhões podem ficar sem apoio de drones. Os Comandantes de Companhia dos Batalhões tem drones que observam apenas a própria infantaria, mas com missão principal de apoiar as decisões. Um Batalhão teve uma das suas Companhias de Infantaria convertida para operar drones, mas sentem falta de uma terceira Companhia para manter a rotação ideal na linha de frente ou nos combates.
Em julho de 2025, a estrutura de um batalhão de drones ucranianos que apoia uma Brigada tinha uma Companhia de reconhecimento com 12 equipes de drones, uma Companhia de drones Kamikazes com 14 equipes de drones FPV e Companhia de drones de ataque com 18 equipes de drones do tipo quadricóptero e FPV. Também conta com uma oficina de reparos e um pelotão de suprimentos. A taxa de consumo diário permitido de FPV é de 115 drones diurnos e 25 noturnos (no caso de 60 Brigadas seria 3 milhões por ano).
Além das unidades que apóiam as Brigadas, os ucranianos e russos criaram a partir de 2024 os Batalhões, Regimentos e Brigadas de drones independentes que são usadas para apoiar de forma ofensiva setores na frente de combate que varia de 40 a 70km. O objetivo é concentrar drones no local e conseguir superioridade. Em janeiro de 2025, o 9o Batalhão de Infantaria Independente foi convertido na 59a Brigada de drones. O 414o Regimento de Drones de Ataque Independente foi reorganizado como Brigada. Outra unidade de drones é o 412o Regimento de Drones de Ataque Independente (Nemesis). As operações em Pokrovskii incluíram o uso concentrado de drones guiados por fibra ótica operado pelas unidades independentes. Um batalhão de 700 tropas pode expandir para formar um regimento de 2.500 tropas.
Em março de 2025, os russos criaram o 7o Regimento de Reconhecimento Independente de Sistemas Não Tripulados. O regimento é composto por três Batalhões de drones de ataque e reconhecimento e um Batalhão de drones de ataque. O regimento tem 1.300 tropas, 41 equipes de drones de ataque e 61 equipes de drones de reconhecimento.
Imagem do inicio da invasão russa quando um piloto de drone de 20 anos detectou uma coluna blindada do 6o Regimento de Blindados russo e direcionou a artilharia contra o local, na vila de Skybyn em 9 de março de 2022.
As Companhias de Drones de Ataque ucranianas tem a capacidade de transporte dos operadores de drones com veículos 4x4. Os veículos 4x4 não são alvos prioritários e tem boa mobilidade. Os 36 veículos da imagem acima seriam suficientes para transportar entre 140 a 180 tropas sem contar os caminhões para apoio logístico. Também são mostrados os vários tipos de drones usados (curto, médio e longo alcance). No EB seria usado veículos como o Marruá.
Bolachas usadas pelas equipes de drones. As equipes também tem nomes usadas para comunicação de rádio como Quimera, Condor, Adam, Rubi, Punisher, Corvo, Asgard, Phoenix, Astro, Atay, etc.
COMPANHIAS DE DRONES DE ATAQUE EM AÇÃO
As Companhias de Drones de Ataque operam em pequenas equipes, geralmente formadas por um piloto, um navegador/co-piloto (comandante da equipe), um especialista em explosivos e um auxiliar. O tamanho é determinado principalmente pelos veículos 4x4 que geralmente transportam as equipes e levam no máximo cinco pessoas. Dependendo da situação, essas equipes podem contar com mais pilotos, menos apoio, ou até trabalhar em conjunto com outras equipes. As equipes combinam pilotos novatos com experientes para fins de treinamento. No início, os novatos acompanham outras equipes por cerca de um mês apenas como observadores, atuando como auxiliar ou apoiando os pilotos, antes de operarem por conta própria. Um piloto de bombardeiro precisa de muito treino para ter boa pontaria, mas podem treinar longe da linha de frente com bombas de treinamento.
A atuação das equipes varia conforme o local na frente de batalha, pois cada região na Ucrânia apresenta diferentes desafios, como sistemas de interferência, tipos de drones, interceptação de rádio e características do terreno, incluindo a escolha de posição e esconderijo. Inicialmente, as equipes eram pequenas e atuavam por curtos períodos na linha de frente.
Inicialmente trabalhavam em turnos diurnos ou noturnos, retornando à base após a missão. Frequentemente operavam em duplas junto com observadores avançados de artilharia. Carregavam apenas o essencial e podiam receber suprimentos de emergência, como baterias, drones reservas e munições, por meio de veículos ou motocicletas. Cada equipe levava três drones, e ao perder um, já pediam o substituto. Se perdiam dois, operavam com apenas um. Também estavam preparadas para se defender, carregando armas anticarro como o AT-4. A primeira tarefa era sempre instalar a antena Starlink para se conectar com a base e transmitir imagens dos drones.
Com o tempo, as operações evoluíram e as equipes passaram a se posicionar mais na retaguarda, em abrigos previamente preparados. Os ucranianos constroem pequenos abrigos subterrâneos, também utilizados por tropas convencionais. Esses locais se tornam organizados com o tempo, com paredes e tetos forrados com plástico. Evita-se deixar lixo no local, utilizando sacos pretos ou enterrando resíduos, para não revelar a posição. Quando a base está instalada em uma casa ou porão, o gerador é integrado à rede elétrica para permitir o uso de todas as tomadas.
A engenharia militar é responsável por parte das defesas, mas raramente utiliza máquinas escavadoras a menos de 7 km da linha de frente, devido ao risco de serem detectadas por drones inimigos. Nessas áreas, as posições defensivas são cavadas manualmente, o que demanda tempo e esforço para garantir ocultação e resistência. As tropas recebem ordens para aperfeiçoar continuamente suas posições, mesmo que temporárias. Na retaguarda, equipes especializadas constroem as posições para evitar o desgaste das tropas da linha de frente.
As equipes recebem a missão pela manhã ao chegarem na base da unidade e se preparam para irem até a frente de batalha de madrugada. Desde o início da guerra, as forças ucranianas adotaram o modelo de dispersão, evitando concentração em bases fixas. Nessas bases descentralizadas, as equipes de drones contam com uma sala de preparação onde passam o dia configurando drones, organizando munições e reunindo os equipamentos necessários. Alguns materiais são rotativos, enquanto outros permanecem escondidos nos esconderijos para uso de outras equipes. Em caso de retirada emergencial, a prioridade é evacuar todos os equipamentos.
O momento mais perigoso da missão é o deslocamento da equipe de drones até a linha de frente ou o retorno. Esse movimento é feito durante a noite, substituindo a equipe anterior que se retira ao anoitecer. O transporte pode ser feito por veículo 4x4, caminhão ou blindado. Leva-se muito material em containers: combustível, gerador, estação de energia ECO-FLOW, laptops, telas, água, suprimentos, colchões, mochilas e armamento. A permanência no local de operação varia de 2 a 5 dias consecutivos, podendo ser estendida. Raramente dura mais de 8 dias. No último dia, tudo é desmontado para o retorno à retaguarda.
O transporte geralmente é feito em veículos 4x4, como pickups, e a viagem até a posição costuma levar de 1 a 2 horas. A entrada na posição consome cerca de 1 hora adicional. Idealmente, cada equipe deve ter um veículo próprio, de preferência blindado para operar áreas com risco elevado de artilharia. São utilizados detectores de drones e, ao identificar presença inimiga, as equipes se escondem. Bloqueadores de sinal portáteis podem ser montados no teto dos veículos e transportados até os esconderijos para proteger o local. Durante a noite, a condução é feita com faróis apagados ou em luz mínima. Um motorista com óculos de visão noturna e consegue enxergar a até 50 metros à frente. As janelas permanecem abertas para ouvir drones. Em um caso, uma equipe ouviu o disparo de dois mísseis anticarro passando próximo ao veículo.
Os membros da equipe usam celulares com VPN ativada e modo avião para não serem rastreados pelos russos. Antenas russas de 4G/5G próximas da linha de frente podem “pingar” os dispositivos e revelar sua localização. Drones russos segundo veículos civis podem identificar comportamento militar suspeito, como descarregar caixas ou esconder o veículos sob árvores. As equipes treinam defesa da posição, podendo usar os próprios drones. Os operadores levam 10 carregadores de fuzil, enquanto as tropas de linha de frente levam no mínimo 22 carregadores. Para comparação, o padrão do Exército dos EUA é de 7 carregadores.
As equipes operam entre 2 a 5 km da linha de frente, em posição protegida contra fogo direto. Por serem alvos de alto valor, a prioridade é minimizar riscos. Os operadores de drones são comparáveis a snipers: atacam de longe e logo mudam de posição, cientes de que serão perseguidos. Mudam de local todos os dias, dependendo dos alvos e da situação Esperam a noite chegar para mudar de posição ou sair da linha de frente.
Preparar as antenas externas é importante para aumentar o horizonte de rádio. Uma antena externa de 7 metros de altura pode dobrar o alcance da transmissão. Sem uma antena externa o operador de drone tem que ficar fora do abrigo e até em pé para melhorar a recepção, mas pode ser o suficiente se estiver nas trincheiras na linha de frente cobrindo alvos próximos. O operador deve usar capas camufladas para proteção térmica e visual. Usar uma antena externa direcional serve para ajudar a aumentar a vida útil dor drone por ser mais resistente a interferência com um lóbulo estreito. Tem que estar bem direcionada para o drone e pode ser movida automaticamente para evitar expor os membros da equipe. Um drone com maior alcance permite operação em locais mais seguros na retaguarda. Com poucos pilotos disponíveis, a tática é priorizar a segurança.
A posição de operação tem que ser bem oculta e camuflada. O esconderijo pode ser um abrigo reforçado ou o porão de uma construção. Permanecer por muito tempo operando em um mesmo local, com o drone decolando e retornando, expõe a equipe. O drone pode ser seguido até a base por outro drone inimigo. Um vídeo mostra uma equipe capturando o vídeo de um drone russo e depois viram que o local onde se escondiam era o alvo. O esconderijo foi atacado por 6 horas e teve que ser abandonado.
Para bases improvisadas, as equipes preferem usar redes de camuflagem térmica, já que os drones inimigos utilizam câmeras infravermelhas. O gerador, fonte significativa de calor, precisa estar bem coberto. Os membros da equipe também precisam de roupa termal para operar fora do esconderijo. Óculos de visão noturna são necessários durante a noite, inclusive para localizar drones que caíram próximo. Uma câmera termal é necessária para verificar se estão sendo seguidos por drones inimigos.
Mochila de uma pequena equipe de drones no inicio das operações. Um drone MAVIC com autonomia de 30 minutos com duas baterias significa até duas saídas por hora ou até 24 saídas em um turno de 12 horas. Serão necessárias 48 baterias (sem considerar recarga). Na prática é bem menos, mas permite ter uma noção do consumo diário. Uma bateria custa cerca de US$ 100 e pesa 270 grama. Em tempo muito frio usam mochilas com cobertura térmica para manter as baterias "aquecidas" e não perder o desempenho.
Equipamento de uma equipe de drone após retirada do veículo e antes de ser levada para o esconderijo (ou voltando para a base).
O equipamento de uma equipe de drone tem que caber em uma pickup. O equipamento mais frágil fica por cima.
Viatura operativa leve não blindada de uma equipe de drone em um esconderijo camuflado próximo da linha de frente.
Detector de drone usado por um veículo levando uma equipe de drone até um esconderijo na linha de frente. O veículo ainda pode ter um bloqueador eletrônico no teto.
Uma das primeiras ações na base é preparar as antenas externas.
Antena camuflada em cima de uma árvore. Uma escada improvisada foi colocada no local.
Container de antena externa de drone. O tamanho e peso dos equipamentos de drones dificultam a operação pela infantaria a pé que só usaria drones de curto alcance.
Uma equipe de drones preparando o lançamento de um drone bombardeiro. As equipes são alvos prioritários e também deveriam ter proteção térmica para operar a noite sem muito risco de virarem alvo ou da posição da equipe ser detectada.
Os membros da equipe trabalham em turnos. Algumas equipes estão operando e outras descansando. Uma equipe em ação pode ter todos os membros operando ou operando parcialmente em caso de operações contínuas. No caso de ataque russos, todas as equipes no local podem ser acionadas. Pode ter equipes noturnas e diurnas, mas as equipes noturnas podem ser acionadas para proteger posições amigas. Os operadores quase não dormem e estão sempre ocupados em um ritmo de operações intensa. Mesmo no horário de descanso, um membro da equipe está sempre em alerta acompanhando o rádio, chat de mensagens e vendo streaming de vídeos de drones enquanto o resto descansa. Em operações de longa duração podem se revezar no descasando e apenas dois estão em ação. Todos são treinados em bombardeio para reagir a um assalto russo. Todos treinam reconhecimento de armas e veículos e até usam a internet para conferir informações.Um drone está sempre no ar e outro pronto para ser lançado. Quando não estão voando ficam recarregando as baterias, preparando drones e munição, revendo vídeos gravados ou vídeos de outras equipes ou apoiando lançamento e recuperação. Também tem trabalho externo como camuflar o local e cavar. Os membros da equipe tem sempre que sair do esconderijo para lançar e recuperar drones, além de outras tarefas como conferir as antenas e ligar o gerador. Se são atacados por artilharia tem que conferir os cabos e as antenas. Drones de reconhecimento que caem próximo da base e dentro das linhas amigas, geralmente devido a interferência eletrônica, podem ser recuperados. É uma missão perigosa devido a ameaça de artilharia e drones inimigos. Geralmente tentam ficar o mínimo possível fora do esconderijo.
As operações iniciam preparando as antenas e observando vídeos das equipes próximas. As equipes usam duas antenas sendo uma para o canal de vídeo e outra para o canal de controle. As antenas ficam separadas em pelo menos 20 metros. As antenas podem ficar camufladas em arvores ou arbustos. Podem usar uma conexão de internet para receber os vídeos e transmitir as imagens dos próprios drones. Os russos sabem disso e tentam encontrar e destruir as antenas GSM.
Quando operam com drones recuperáveis, tentam pousar longe da posição e esperam que algum drone perseguindo vá embora. Sabem que a autonomia é curta e podem usar sensores sensores de detecção de drones. O detector indica a presença de frequência adicional além da frequência do próprio drone voltando. Se não tem drone seguindo recuperam o drone logo após pousar. Os drones equipados com câmera termal podem varrer ao redor e tentar detectar drones seguindo. A equipe de drone é valiosa e os russos usam até bombas planadoras disparadas pelos caças Su-34 para atacar o local.
Os drones FPV são operados por uma dupla formada por um piloto e um navegador. O navegador usa um tablet ou laptop repetindo o vídeo do piloto e auxilia o piloto citando dados como pontos de virada de navegação, velocidade, altitude, situação da bateria, tempo até o alvo e situação da espoleta. Também observa o vídeo do drone de reconhecimento no alvo e acompanha os dados do sistema de comando e controle Delta. A câmera dos drones FPV não tem zoom para ter uma visão mais ampla e o piloto pode voar mais alto para ter uma visão melhor para se localizar no terreno. Sem apoio do GPS, o piloto precisa navegar apenas com base nas referências do terreno.
O navegador também é o comandante da equipe e é um piloto experiente. O navegador coordena a equipe e monitora a situação. A equipe se comunica com o PC da Brigada por um aplicativo de mensagem seguro e por rádio. Em uma missão, o navegador planeja, grava e controla o curso da missão apoiando o piloto do drone.
O planejamento da missão considera a meteorologia como o vento e a chuva. Vento de cauda ajuda muito e pode dobrar a velocidade. Os drones não voam com vento forte pois não conseguem pairar sobre o alvo e um vento de 40 km/h pode fazer a bateria acabar muito rápido. Também não voam com chuva ou neve pesada. No nevoeiro não conseguem ver nada. Gotas de chuva na lente da câmera atrapalham a visão. Apenas drones sofisticados e caros conseguem operar em mau tempo.
O segundo piloto geralmente é um novato. O piloto checa o vídeo e a telemetria antes de decolar. Fala no rádio a posição do drone FPV indicando pontos de navegação. Pode pedir para direcionar as antenas externas para melhorar a recepção de vídeo. Nas missões de reconhecimento o piloto e o navegador dividem a área da tela para fazerem reconhecimento e aumentar as chances de detectar alvos. Nas missões de reconhecimento e ataque pode tentar se posicionou com o sol pelas costas, dificultando a detecção pelo inimigo.
O auxiliar geralmente faz as operações externas. A comunicação durante o lançamento e recuperação do drone pode ser feito por voz, rádio ou com as câmeras do drone (por exemplo, liga o drone e faz sinal de positivo na frente da câmera). Na recuperação fazem sinal para se aproximar e pousar. Recolhem o drone com a mão e é difícil a noite sem luz. Usam sinais manuais para a câmera termal para o piloto desligar o drone. Depois da recuperação do drone podem trocar a bateria, trocar os cartões de memória e rearmar rapidamente para um novo lançamento. As equipes usam o próprio drone para ver se a posição está bem camuflada. Com muita artilharia caindo ao redor significa que tem drone russo observando os movimentos. Então não operam do lado de fora por falta de segurança.
Equipe de drones FPV operando em uma trincheira. No inicio do conflito operavam mais em trincheiras e depois passaram a operar em abrigos preparados. Continuam operando de trincheiras dependendo do local, mas sempre com mata ao redor para ocultação.
Esconderijo de uma equipe de drone com um membro da equipe preparando os drones para uma missão. A grande quantidade de equipamento não permite que acompanhem as tropas na linha de frente e é o que difere dos operadores de drones atuando junto com os Pelotões de Drones do Batalhão.
Esconderijo de uma equipe de drone mostrando a quantidade de equipamentos usados por uma equipe durante uma missão de alguns dias.
Carregadores de bateria de uma equipe de drones em um esconderijo na linha de frente. Os drones Mavic consomem muita bateria por operarem praticamente continuamente. A bateria perda a vida útil após 2 meses. Podem ser recuperadas ao serem abertas e trocando as pilhas.
Equipe de drone operando ao ar livre. O navegador acompanha as imagens dos drones de reconhecimento e um repetidor do óculos do piloto de drone FPV.
Esconderijo de uma equipe de drones no fim de 2024. Nesta época já não havia tanta escassez de recursos. O abrigo da imagem tem recursos diferenciados como mobília, cadeiras e beliches de fabricação industrial. As paredes tem isolante térmico de boa qualidade.
Um navegador guiando dois pilotos de FPV ao mesmo tempo. As duas elas repetidoras estão visíveis assim como uma lista de 22 vídeos de outras equipes.
Um navegador apoiando um piloto de drone FPV. Estão visíveis o repetidor da imagem do drone, a imagem do drone de reconhecimento (borrado) e tablet com o sistema Delta com mapa apoiando a navegação e designação de alvos.
A equipe de drones usam Laptops para ver as imagens dos drones de reconhecimento e as imagens do sistema de C2 Delta que mostra a posições das unidades amigas e das tropas inimigas conhecidas.
Laptop mostrando uma página da internet com os vídeos em tempo real de várias equipes de uma Companhia de Drones de Ataque operando em uma parte da frente de batalha. Geralmente apóiam uma Brigada que defende uma frente de cerca de 12 km. Os postos de comando na retaguarda usam telas maiores para coordenar as ações das equipes. A antena de satélite Starlink é outro recurso para comunicação com a retaguarda.
Cavar é uma das tarefas das equipes de drones para criar esconderijos.
A engenharia também ajuda a criar esconderijos das equipes de drones de forma mais rápida, mas só opera meios mecanizados a mais de 7km da linha de frente.
EXPLOSIVISTAO explosivista prepara e instala as munições, enquanto o engenheiro de voo é responsável pela montagem, manutenção e preparação dos drones. O drone é conectado a um laptop para ser configurado, como por exemplo, definir qual botão do controle acionará o lançamento das bombas. Preparar um drone FPV para combate inclui ajustar as frequências dos rádios conforme o ambiente operacional. É necessário saber soldar peças dos drones, pois componentes podem se danificar durante o transporte. Em seguida, é feito um voo de teste. Os membros da equipe passam por treinamento cruzado para garantir que todos saibam executar tarefas essenciais como pilotar, armar e preparar os drones.
O explosivista é o responsável por preparar o drone para a missão. Nos drones de ataque, a munição e a espoleta são instaladas antes da decolagem. Ele verifica o balanceamento do drone segurando-o pelas extremidades e observando se o centro de gravidade está equilibrado. Todos os membros da equipe podem auxiliar na preparação dos drones, especialmente em situações com múltiplos alvos, necessidade de apoio imediato ou quando parte da equipe está em descanso. O explosivista é essencial na equipe devido à ausência de padronização das munições. Ele também atua na criação de munições específicas e na adaptação de munições convencionais para uso com drones. A presença de um especialista se justifica ainda pela enorme diversidade de munições e espoletas utilizadas.
Os ucranianos utilizam munição russa capturada, adaptando-a para uso com drones. Estimam-se várias toneladas capturadas mensalmente. Aproveitam submunições de artilharia, foguetes de aviação, armas antitanque, granadas, minas, entre outros. Usam qualquer recurso disponível e o adaptam, inclusive garrafas com napalm. É possível lançar granadas incendiárias dentro de veículos blindados para causar incêndios.
O tipo e peso da munição variam conforme o drone. Drones bombardeiros maiores podem transportar armamentos mais pesados, como morteiros de 81 mm ou 120 mm, em maior quantidade. A carga mais pesada costuma ser minas antitanque TM-62 de 9,5 kg, adaptadas com espoletas e estabilizadores de cauda.
O explosivista converte as munições existentes para instalar nos drones. Desmonta a munição e adapta para o drone. Por exemplo, a granada de 40mm recebe um furo na ponta para receber uma espoleta com extensão (daisy cutter).
Explosivista trabalhando com impressoras 3D na fabricação de peças de bombas para drones.
As munições explosivas e antipessoais são as mais utilizadas pelos drones. Os alvos principais incluem tropas, abrigos e trincheiras. Também podem ser empregadas contra veículos e blindados, como quando visam a cúpula aberta de um blindado. Os pilotos consideram as granadas de mão com espoleta de tempo como a pior opção de todas. Por isso, adaptam as granadas M67 com espoleta de impacto e cauda estabilizadora. Há preferência pela munição de 40 mm, considerada superior à de 30 mm. Contra blindados, são usadas principalmente as ogivas da RPG-7 e granadas anticarro RKG-3. A ogiva da RPG-7 tem capacidade de penetração de 400 a 500 mm, enquanto a da RKG-3 atinge até 220 mm.
A munição termobárica é utilizada principalmente para explosões em ambientes fechados, como construções e estruturas. Uma munição termobárica tem no mínimo o dobro da potência do TNT. Uma carga de 1kg equivale a 2 a 2,5kg de TNT. Drones incendiários do tipo "dragão" empregam termita para incendiar áreas de vegetação ao redor das posições russas. Isso facilita a localização das posições inimigas e pode ferir o pessoal presente. Drones bombardeiros pesados são frequentemente usados para lançar minas em estradas e criar campos minadas. Também podem lançar garrafas com estrepes (caltrops) para perfurar pneus de veículos em estradas. Munições iluminativas, como a granada WOG-19, e munições fumígenas são pouco utilizadas.
As munições utilizadas por drones bombardeiros geralmente possuem quatro componentes: corpo explosivo, detonador, cauda estabilizadora e um kit de fixação ao drone. O kit de fixação é necessário para lançamentos rápidos ou para fixação com abraçadeiras. Em munições fabricadas especificamente para drones, o detonador e a cauda geralmente são rosqueados ou presos com fita ao corpo explosivo.
As munições utilizadas por drones FPV são diferentes das dos drones bombardeiros. Enquanto estas requerem cauda estabilizadora e extensão na espoleta, as FPV utilizam uma placa de iniciação, podendo empregar espoleta de tempo caso não haja detonação por impacto.
As munições mais eficientes são aquelas produzidas especificamente para drones em impressoras 3D, pois oferecem melhor desempenho, menor peso e custo reduzido. Novas munições são testadas diretamente em combate devido à falta de tempo para pesquisas sistemáticas. São fabricadas munições antipessoais, anticarro e multifuncionais — estas últimas combinam ogiva anticarro com uma manta de fragmentação. Munições de drones FPV não exigem alta precisão de fabricação, já que não necessitam manter qualidades balísticas ideais em voo.
Reduzir o peso da munição é um objetivo essencial, e isso é mais viável com munições projetadas exclusivamente para drones. O detonador também pode ser fabricado em impressora 3D. Para atingir infantaria, são utilizados drones FPV com munições fragmentadas entre 1,0 e 1,5 kg, acopladas a drones com hélices de 7 a 10 polegadas (18 a 25 cm). A munição anticarro pode pesar cerca de 2,5 kg, exigindo drones FPV maiores. Bombas de fragmentação usadas por aeronaves de ataque como a Rockeye usam a submunição Mk118 para destruir blindados. Com apenas 53 mm de calibre, esse tipo de munição mostra que as armas para drones podem ser bem compactas.
A experiência em combate indica que fragmentos facetados são mais eficazes que esferas de aço, pois transferem mais energia ao impacto. O tamanho também é relevante, já que fragmentos maiores carregam mais energia. A granada VOG de 30 mm geralmente incapacita um soldado por até duas semanas, por gerar apenas pequenos estilhaços.
Drones bombardeiros geralmente utilizam munição antipessoal, pois não requerem impacto direto como ocorre com veículos blindados. Já os drones FPV possuem a precisão necessária para acertos diretos contra alvos blindados.Um vídeo da guerra na Ucrânia mostrava um drone disparando um lança-foguetes portátil contra uma posição russa. A imagem sugere que era um RPG-22 que foi alijado logo após o disparo. O custo do RPG-22 é estimado em US$ 500 sendo o mesmo custo de um drone FPV kamikaze, incluindo a ogiva e a bateria. O peso de 2,8kg indica que vai ser disparado por um drone FPV de maior tamanho que custa mais caro. As equipes de drones perdem muitos drones antes de chegarem até a área do alvo o que indica que serão vários drones caros equipados com uma arma relativamente cara que serão perdidos. A ogiva pesa cerca de metade do peso do lançador indicando que um drone bombardeiro poderia levar duas ou três ogivas projetadas para drones. Um drone bombardeiro com a mesma capacidade de carga pode atacar mais alvos ou realizar vários ataques contra o mesmo alvo. As ogivas fabricadas para drones são consideradas mais efetivas e leves. A pontaria é outra questão, com um RPG-22 podendo ser mais difícil de disparar por precisar ser apontado de perto para garantir a pontaria. Uma missão onde os RPG-22, ou equivalentes, podem ser úteis são para atacar veículos e tropas protegidos por túneis de redes instalados em estradas. O foguete pode cortar ou passar pela rede sem dificuldade e atingir os alvos. Lançar caltrops para furar os pneus e paralisar os veículos pode ser uma medida tomada previamente para preparar os ataques.
Exemplo de bomba fabricada para uso por drones bombardeiro mostrando o corpo com esferas de aço ao redor, a cauda e a espoleta. As munições fabricadas para drones podem receber designação própria considerando o drone (bombardeiro ou FPV) e o alvo (antipessoal, anticarro ou uso duplo), além do peso que é um requisito importante comparado com o calibre que é o usado na designação da munição dos canhões.
Munição pré fragmentada fabricada para drones com esferas de aço e cobertura de fragmentos de aço romboides.
Montagem de uma munição de drone com estilhaços de aço.
Os foguetes propulsores dos RPG são aproveitados para criar explosivos. Prendem pregos ao redor para gerar fragmentos.
Munição RPG russa adaptada para uso em drones FPV. A imagem mostra a espoleta, o adaptador e uma granada fixada na cauda para criar melhor efeito contra pessoal ao redor.
A munição anti-pessoal é mais fácil de ser fabricada em impressora 3D por ser um explosivo C4 rodeado por esferas de aço para funcionar como munição pré-fragmentada. O invólucro é de plástico para diminuir o peso. Prendem uma espoleta de contato de um lado e uma cauda estabilizadora do outro. Usam até fita adesiva. No corpo é adicionado um adaptador para ser preso em um lançador de bombas (payload drop).
Munição escalável Sphere 1.1. Cada anel pesa 200 g e pode chegar a 1,1kg com as quatro partes. Os especialistas em explosivos das equipes de drones são treinados para criar munição em impressoras 3D e adaptar munição já existente.
Drone FPV sendo detonado acima de um alvo durante a guerra na Ucrânia. O raio letal da ogiva pode até dobrar contra alvos "moles" comparado com a detonação por contato.
Ogiva tipo mina Claymore com 315 esferas de aço. Na explosão, os esferas atingem cerca de 2.300 m/s. A 30 metros serão espalhados 5-7 esferas por metro quadrado. No caso dos drones, o objetivo é se posicionar acima das tropas e detonar remotamente. Uma função secundária é atacar drones inimigos.
A imagem é de uma munição airburst do Carl Gustav detonando acima do alvo. O operador usa um telêmetro laser para determinar a distância até o alvo e regula a munição para explodir naquela distância. A mira também é ajustada para passar acima do alvo naquela distância.
Drone Mavic com duas granadas russas feitas em impressora 3D. A espoleta de contato também foi feita em impressora 3D.
As espoletas das munições lançadas por drones bombardeiros contam com uma extensão para detonar acima do solo e aumentar sua letalidade. Já as munições de morteiro e artilharia tradicional penetram o solo antes de explodir, com parte da energia sendo absorvida pela terra. A explosão resulta em um cone de estilhaços direcionado para cima. É possível escapar se deitando ao ouvir o som do projétil. Os estilhaços da munição de artilharia geralmente são grandes e em menor número. Por outro lado, a munição dedicada aos drones é lenta e não enterra no solo, detonando na vertical com uma extensão na espoleta para explodir logo acima do terreno. Os estilhaços se espalham em todas as direções.
As munições dedicadas ou adaptadas para drones bombardeiros são formadas por um anel de esferas de aço envoltas por uma cobertura plástica. Isso gera um padrão expansivo de estilhaços que atinge todos dentro de um raio letal de 3 a 5 metros. Mesmo os fragmentos plásticos da cobertura podem causar ferimentos leves. Em vídeos, é comum ver soldados caindo após detonações próximas ou fugindo mancando. Os ferimentos geralmente atingem as pernas, enquanto o tronco protegido por coletes blindados raramente é perfurado. Tropas imobilizadas são frequentemente eliminadas por ataques subsequentes dos drones. O uso de blindagem leve em todo o corpo pode oferecer proteção suficiente.
Após vários incidentes de detonações prematuras durante a decolagem, as equipes passaram a utilizar um pino de segurança preso a um cabo, que é removido após a decolagem do drone, mantendo os operadores a uma distância segura. Após a remoção do pino, a munição só é armada após 30 a 60 segundos, quando a placa eletrônica de ativação entra em funcionamento. Os drones bombardeiros também deixaram de ser lançados manualmente e passaram a utilizar plataformas dedicadas ou adaptadas. Em alguns casos, utilizam-se até cavidades no solo para acomodar a munição instalada na parte inferior do drone.
Drones FPV utilizam uma placa eletrônica que controla a detonação da munição. A estação de controle possui botões de segurança e de acionamento remoto. Esse acionamento remoto permite criar o efeito "airburst" ou desarmar a munição para pousos seguros. São feitos quatro testes antes da decolagem, sem conectar o explosivo. Em um vídeo, um drone pousa sobre a torre de um blindado e é detonado após os tripulantes abrirem a escotilha. Em outro, o drone pousa sobre uma porta e é acionado remotamente quando esta se abre. As espoletas de drones FPV também podem incluir um temporizador de 20 minutos para autodestruição.
Mesmo que o drone FPV caia sem detonar, as tropas suspeitam que se trata de uma mina de contato ou uma armadilha temporizada, já que os detonadores podem ser ativados por movimento ou remotamente. Por isso, costumam atirar à distância para tentar detonar o explosivo ou inutilizar a espoleta.
Quando são utilizadas munições pesadas, como as termobáricas, pode-se empregar uma munição auxiliar menor com espoleta própria como redundância, caso a principal falhe. Essas munições são geralmente reservadas para alvos de alto valor estratégico, como bunkers.
Drones bombardeiros utilizam kits de lançamento (drop kits ou payload droppers). Cada tipo de munição pode exigir um kit específico, que normalmente é fabricado em impressoras 3D. Esses kits também podem ser adquiridos online.
Embora existam sistemas de fixação universais para diferentes munições, na prática cada tipo de drone ou munição costuma exigir kits específicos. As equipes precisam de muitos kits, já que podem ser perdidos junto com os drones, e devem ser capazes de fabricá-los em impressoras 3D. Experimentam diversas opções até encontrar a mais eficaz. Kits que se fixam na cauda da bomba são considerados instáveis. Em modelos como o Mavic, a lanterna de pouso é usada para acionar o sistema e liberar a bomba.
Os kits de lançamento evoluíram para um sistema de gancho que fixa a munição diretamente ao lançador. A própria munição recebe um kit universal com aberturas que permitem o uso de braçadeiras plásticas, facilitando sua fixação tanto na bomba quanto no lançador, adaptável a vários modelos. Esse kit também permite testes práticos com objetos inofensivos, como latas, para simular o lançamento. Uma cauda longa oferece melhor estabilização em voo, mas pode prejudicar a aerodinâmica e dificultar a instalação da carga no drone.
Alguns kits de lançamento possuem formato de tambor (tipo revólver) e são exclusivos para drones bombardeiros pesados. Outros são formados por tubos verticais voltados para baixo, compatíveis apenas com munições dedicadas.
Granada adaptada com espoleta de contato para explodir acima do solo. A granada também recebeu uma cauda estabilizadora para atingir o solo na posição correta.
Drone Skydio do US Army testando um drop kit com granada M67.
As unidades do US Army já estão criando munição para drone com impressora 3D como já feito na Ucrânia.
CONTEXTO OPERACIONAL
O melhor resultado das operações dos drones foi afastar os equipamentos militares para longe da linha de frente, em geral a mais de 10 km no caso dos blindados, exceto durante a noite. Os postos de comando russos ficavam próximos da frente de batalha, já que os oficiais não confiavam nos subordinados. Esses postos tornaram-se alvos prioritários dos drones e logo foram recuados, o que resultou na redução da eficiência das tropas na linha de frente. Os drones passaram a atacar grupos de soldados e até combatentes isolados, como fazem os snipers.
No início do conflito russo-ucraniano, os combates eram predominantemente entre unidades de infantaria. As trincheiras podiam estar a até 100 metros umas das outras. Com a disseminação dos drones bombardeiros, essas trincheiras passaram a se afastar cada vez mais. A chamada "zona cinza" passou a ter cerca de 5 a 6 km de extensão, sendo uma área dominada por drones. Essa distância está relacionada ao alcance da maioria dos drones. Além dos 6 km, entram em operação drones com maior alcance.
A zona cinza é o local onde os russos tentam avançar em pequenos grupos, enquanto os ucranianos procuram impedir que se estabeleçam ali. Os ataques russos são geralmente conduzidos por grupos de 8 a 30 soldados mal treinados, conhecidos como Storm-Z. Raramente utilizavam mais do que um pelotão. Em 2025, passaram a atacar com apenas dois soldados tentando não serem detectados pelos drones. Esses grupos são normalmente transportados por um ou dois veículos ou blindados, desembarcando antes de entrar em contato com o inimigo. Realizam reconhecimentos para forçar as posições ucranianas a revelarem sua posição. Quando identificam uma posição, passam a enviar seções sucessivas para atacá-la e mapeá-la com mais precisão. Depois disso, o local é atacado com artilharia, drones e bombas planadoras UMPK.
Uma brigada registrou uma média de 27 seções atacando setores defensivos diariamente. Geralmente são realizados de 150 a 200 ataques por dia, com um ou mais grupos de combate de 7 a 10 soldados. Os ucranianos tentam antecipar as rotas de ataque, preparando o terreno com minas e posições fortificadas para engajamento com fogo direto. Os norte-coreanos, por sua vez, atacavam até o nível de companhia ou batalhão em um único setor. Apesar de sofrerem pesadas perdas, às vezes obtêm sucesso, pois as defesas ucranianas são esparsas e otimizadas para enfrentar ataques russos de menor escala.
A principal causa de baixas ucranianas na frente de batalha passou a ser o uso de bombas planadoras UMPK. Em 2024, os russos lançaram 44 mil bombas com pesos variando de 250 kg a 1.000 kg e planejam fabricar 70 mil kits de conversão em 2025. O alcance dessas bombas varia de 60 a 90 km e elas são lançadas por caças Su-34, bem longe da linha de frente. As UMPK também têm grande impacto sobre a moral das tropas ucranianas.
A resposta ucraniana tem sido dispersar as tropas e empregar numerosos alvos falsos. Um grupo de combate é responsável por defender uma frente de 70 a 200 metros, com posições de tiro separadas por 50 metros e compostas por 2 a 3 soldados. Uma brigada pode defender até 27 km de frente com quatro batalhões, mas a defesa é estruturada também em profundidade. Uma companhia cobre cerca de 3 km de profundidade e um batalhão até 7 km. O alcance ofensivo chega a entre 10 e 15 km.
O uso de interferidores de navegação por satélite um recurso contra que tornaria as UMPK muito menos precisas, obrigando-as a operar apenas com guiamento inercial (INS). Atacar as bases aéreas dos Su-34 pode ser uma alternativa, mas os russos precisam de apenas 50 a 100 saídas por dia e podem adaptar as UMPK para uso em outras aeronaves, como os Su-25 e Su-27. Forçá-los a operar a partir de bases mais distantes reduziria o número de missões diárias. Outra possibilidade seria empregar o mesmo tipo de armamento contra posições russas na linha de frente, como as AASM, JDAM, JDAM-ER e SDB, que estão disponíveis em quantidade limitada.
No início da operação dos drones FPV, as tropas não reconheciam a ameaça nem o som característico dos drones. Não sabiam o que estava acontecendo e não adotavam medidas defensivas. Com o tempo, passaram a receber treinamento para enfrentá-los: não correr, tentar atingi-los com o fuzil e buscar abrigo em matas ou construções próximas. Fingir-se de morto tornou-se uma tática, mas os drones passaram a atacar até os corpos no solo. As tropas sabem que um drone FPV tem autonomia limitada, e se houver alerta, podem se esconder e aguardar, pois ele cairá em poucos minutos com o fim da carga da bateria. Os drones de reconhecimento têm maior autonomia, embora também seja limitada quando operam longe da base.
Os drones de reconhecimento passaram a ter mais dificuldade em detectar a infantaria do lado oposto. Os soldados se escondem a maior parte do tempo e se deslocam sempre correndo. Eles passaram a reconhecer a ameaça, sabem diferenciar o som de drones de reconhecimento e de FPV, e já se escondem apenas ao ouvir o barulho. Ficar fora de um abrigo por mais de 15 minutos passou a ser suicídio.
Os russos passaram a se movimentar mais durante a noite, mas o risco de minas aumenta nesse período, e os soldados preferem se deslocar durante o dia para ver onde estão pisando. Os drones de reconhecimento percebem o comportamento cauteloso dos soldados, que olham constantemente para o chão. Até mesmo os veículos precisam se mover mais lentamente para tentar identificar minas colocadas nas estradas por drones.O melhor horário para avançar é a "hora cinza", no amanhecer e entardecer, quando as câmeras termais e diurnas são menos eficazes. É o horário em que os russos geralmente atacam. Quando realizam ataques contínuos, a cada 2, 3 ou 4 horas, as tropas nas trincheiras correm o risco de ficar sem munição e precisam de um bom apoio logístico. Se não recebem munição ou reforços, são obrigadas a recuar.
Após uma grande ofensiva em um local e com muitas perdas, os russos podem ficar meses sem realizar ofensivas maiores devido à falta de blindados. É raro ver blindados em avanço. Geralmente são apenas pequenos grupos de tropas. Normalmente, chega uma Companhia por semana tentando avançar em pequenos grupos, com um Batalhão podendo ser destruído em três dias (metade das tropas de apoio não avança). Pode haver até a perda de três Brigadas em três meses para os drones, na tentativa de controlar uma vila com alguns quarteirões. Com apoio de intensa interferência eletrônica, conseguem avançar até 3 km em um dia.
Sem blindados, os russos arriscam muitas tropas. Os maiores avanços chegam a usar 15 veículos, geralmente variando entre 9 e 12 blindados. Os ucranianos avançavam com pequenos grupos, e os russos passaram a imitar essa tática. Os russos passaram a se infiltrar até mesmo com grupos de apenas dois soldados. Tentam se concentrar lentamente e de forma discreta. Por isso, é necessário atacar tudo e manter vigilância constante.
As tropas que avançam na frente de Storm-Z são as que sofrem mais perdas. Desertores russos relatam que as tropas podem ser mortas minutos depois de chegarem à linha de frente. Quando os russos tomam uma posição, começam a ser caçados. Relatam baixas muito altas. De cada sete, apenas um volta, com ataques quase suicidas. As baixas nas tropas que avançam chegam a 80%, atingindo quase 100% nos batalhões penais. Quando uma unidade sofre 30% de baixas, deve ser substituída por outra para ser recomposta. Soldados que se ferem para escapar da batalha são enviados de volta mesmo feridos, quando conseguem andar. Os vídeos dos drones confirmam soldados usando muletas.
No geral, os drones diminuíram as chances de as posições ucranianas serem atacadas pelas tropas inimigas, que são atingidas antes de se aproximarem, e isso ocorre sem perdas do lado ucraniano. Os drones, apoiados pela artilharia, conseguem barrar a grande maioria das infiltrações. Os sucessos dos avanços russos estão relacionados com o mau tempo (quando os drones não conseguem operar), vento forte, falhas temporárias na cobertura aérea, interferência eletrônica, falta de munição para a artilharia ou drones, presença de mata ou construções que permitem esconderijo, ou ataques sucessivos que esgotam a munição das tropas na linha de frente, que então precisam ser evacuadas.
Os russos passaram a usar menos blindados e a empregar mais veículos leves 4x4 durante o dia. Eles se movem rapidamente, permanecem expostos por menos tempo, levantam pouca poeira e são menores. Em janeiro de 2025, aumentou a infiltração por motos. Antes, eram poucas e usadas principalmente para apoio logístico, levando suprimentos para tropas na linha de frente. A mobilidade das motos é ainda maior, e elas se deslocam com muita rapidez. A falta de blindados também pode estar relacionada às altas perdas causadas pelos drones e à dificuldade de reposição com veículos novos ou retirados dos estoques da Guerra Fria.A guerra muda muito a cada seis meses. O que funciona agora não vai funcionar bem daqui a alguns meses com o inimigo se adaptando. Os grandes drones TB2 são um bom exemplo sendo muito usados nos primeiros meses do conflito até serem todos derrubados e depois descartados.
As táticas mudam praticamente todo mês. Os assaltos russos tipo "moedor de carne" estão diminuindo de frequência cada vez mais assim como os assaltos motorizados. Fica cada vez mais difícil detectar o inimigo. As infiltrações são cada vez menores e tentam explorar pontos fracos nas defesas ucranianas. Os comandantes russos passaram a enviar dois soldados para plantar uma bandeira em um local e filmar com drones para documentar avanços. A realidade é que as linhas russas estão vários km mais atrás. Para barrar todas as infiltrações é necessário vigiar cada metro quadrado da frente de batalha, o que é impossível. A prioridade continua sendo a manutenção de uma zona tampão de 1-2 km onde o inimigo não penetra. Também atacam a logística e comunicações inimigas.
Em julho de 2025, a linha de defesa ucraniana era 3 homens em cada posição, com grandes lacunas entre eles. Muitas vezes, a infantaria apenas fica sentada no abrigo e não se entrega, a menos que seja necessário. Os russos estavam atacando com pequenos grupos de infantaria de 2 a 3 homens, raramente de 4 a 6, que tentam se infiltrar entre as posições ucranianas e se firmar no local. A maioria desses grupos é destruída, mas não todos, o que permite pequenos avanços táticos. O mesmo se aplica a grupos em motocicletas e buggies.
A maioria das posições visíveis em mapas de satélite nunca será ocupada. Eles estão obsoletos e os ucranianos não têm infantaria suficiente para defendê-los. A guerra atual deixou de ser uma guerra de trincheiras, passando a ser uma guerra de posições individuais em plantações e porões. As rotações tornaram-se muito difíceis, a infantaria pode não deixarInicialmente, todos os alvos detectados eram imediatamente atacados. O drone de reconhecimento detecta um alvo e uma missão de ataque com drone bombardeiro ou FPV Kamikaze era lançado. Os ucranianos passaram a fazer pausas de 2 a 6 dias, fazendo reconhecimento nas posições russas e sem atacar alvo nenhum. Os russos passam a relaxar e ficar descuidados. Depois atacam em massa, com 10 a 15 drones FPV.
Os combates variam muito dependendo da região, podendo haver maior presença de artilharia ou de guerra eletrônica. Quando o Batalhão Azov foi transferido para outra área, a artilharia russa passou a disparar dezenas de vezes mais contra as posições ucranianas, assim que souberam de sua presença. A superioridade russa varia de 2 para 1 a 6 para 1, conforme a localidade. Quase metade das tropas russas está concentrada nas regiões de Donetsk e Luhansk. No sul, o objetivo russo é fixar as tropas ucranianas naquela área. Do lado ucraniano, cerca de 25% das 800 mil tropas estão na linha de frente em algum momento.
Uma tática ucraniana é atrair e isolar forças inimigas em posições pré-selecionadas. Os russos pensam que os recuos são falhas na defesas, mas são armadilhas preparadas para as tropas que avançam no local. Os ucranianos até emitem mensagens de "pânico" no rádio para indicar retiradas. Funciona especialmente bem em áreas urbanas, cinturões florestais, plantações, áreas de trincheiras e transições de relevo. As tropas que entram na armadilha são sistematicamente atacadas por equipes de drones e artilharia já preparada. Até blindados apoiados por drones ficam a postos para reagir aos avanços no local.
Em resumo, os drones permitiram concentrar uma grande quantidade de poder de fogo (utilizando enxames de drones), mantendo a descentralização de suas próprias forças. Drones pequenos e FPV violaram o principal fundamento do pensamento militar clássico: a concentração de esforço e massa em áreas específicas. Eles impedem que se mobilizem e concentrem forças maiores do que uma Companhia. O defensor não pode mais depender de áreas fortificadas concentradas. A arquitetura da defesa moderna é uma rede descentralizada e profunda de posições, incluindo um grande número de posições simuladas e iscas.
A arquitetura da linha de frente evoluiu para uma "linha da morte", que está se expandindo por até 40 quilômetros, onde permanecer ao ar livre por mais de 15 minutos leva à morte inevitável. A ofensiva agora se baseia na concentração de fogo e armamentos, e não na concentração de forças e manobras. Isso fez com que o atacante avance extremamente lentamente, dependendo de pequenas unidades. Qualquer centro logístico avançado ou quartel-general se transforma em uma armadilha mortal devido ao seu volume. A solução para a logística é a descentralização, e para os postos de comando, esconder-se no subsolo e depender de comunicações com fio e via satélite.