TOA - Teatro de Operações da Amazônia

Como este artigo compara os concorrentes em função do alcance e a um possível conflito na Amazônia contra uma potência mundial, convém fazer uma comparação mais prática entre um caça de longo alcance e um de curto alcance.

Será utilizada uma comparação entre o Flanker e o Gripen, que estão nos dois extremos de tamanho entre os concorrentes do programa FX. Um dos objetivos é determinar se convém operar o FX de dentro ou de fora do TOA.

Serão estudados os poderios mais importantes do ponto de vista nosso e do inimigo, como capacidades de comando, controle, comunicações, inteligência, vigilância, reconhecimento e designação de alvos (C3ISRT), capacidades ofensiva e defensiva e questões de logística.
 

O Inimigo

Nos últimos conflitos em que os EUA/OTAN estiveram presentes, foram determinados alguns requisitos nos conflitos que esses países gostariam que fossem preenchidos:

- A guerra tem que ser barata e causar poucas baixas dos dois lados - de preferência, ser rápida;

- Deve existir um motivo politicamente correto para que façam uma operação militar;

- Atacar alvos civis e causar danos colaterais também não é politicamente correto. No mínimo, os EUA teriam  que procurar e se concentrar em atacar alvos militares em uma primeira fase,  como ocorrido em Kosovo.

Esses países têm três opções de ação, que são modelos gerais de ameaça que toda nação esta sujeita, por ordem decrescente de probabilidade e ordem crescente de custo, que são: incursão, bloqueio e invasão.

Uma invasão pode ser praticamente  descartada por  ser cara, demorada e causar muitas baixas. A tarefa de dissuasão contra invasão é principalmente do Exército, que já tem doutrina a respeito e treinamento dedicado (guerrilha).

O bloqueio pode acontecer para manter algum tipo de coerção econômica para a aceitação de uma força de paz na Amazônia do estilo feito em Kosovo e que seria a invasão real.

As incursões ou raides são  as ameaças mais comuns a que qualquer nação está sujeita. Para exemplificar, temos a invasão da fronteira por guerrilheiros e aeronaves clandestinas, invasão do mar territorial por navios pesqueiros e invasão do espaço aéreo por aeronaves não autorizadas.

Como exemplos mais gerais, temos as incursões de submarinos e aeronaves de reconhecimento americanos no território da URSS durante a Guerra Fria, os raides contra terroristas na Líbia em 86 e no Afeganistão em 93 e as zonas de exclusão aérea no norte e sul do Iraque com incursões diárias, incluindo ataques com frequências semanais contra alvos militares.

Uma zona de exclusão aérea pode ser em forma de raides constantes para vigilância e controle da Amazônia e seria como uma forma de invasão aérea, que já é um conceito da doutrina americana. O objetivo americano seria orientado na destruição do poderia militar e não na conquista de território.


Quanto maior o tamanho da operação militar e sua duração maior será seu custo e riscos. Operações de vigilância e reconhecimento já podem estar sendo realizadas por serem de baixo custo e baixo risco.

Caças de Curto Alcance x Caças de Longo Alcance

Uma sortida de ataque ou defesa aérea começa bem antes das aeronaves decolarem. Existe
todo um processo que determina desde o local em que as aeronaves estarão baseadas até a designação de alvos.

As aeronaves de caça  não atuam completamente independentes. Elas estão inseridas num sistema maior de Comando & Controle, que inclui postos de comando, redes de comunicação,
um sistema de informações, sistemas de vigilância e reconhecimento.

É esse sistema que irá determinar o modo de atuação da aeronave. Esse sistema aumenta de complexidade e capacidade de acordo com a intensidade do conflito. Em conflitos de baixa intensidade, como guerrilha, o sistema de C2 é o próprio comandante local. A complexidade do sistema também é seu ponto fraco.

Os EUA usam aeronaves AWACS para vigilância aérea, aeronaves JSTAR para vigilância terrestre, aeronaves Rivet Joint para vigilância e reconhecimento eletrônico, aeronaves não tripuladas para reconhecimento de imagem e forças especiais para coleta de informações, sendo todas apoiadas por satélites de várias funções como comunicação, navegação, reconhecimento foto e eletrônico, meteorologia e geodesia.

Essas informações são enviadas e analisadas em centros de comando, que fazem a designação de alvos de acordo com as diretrizes superiores. Devido à grande extensão do TOA e alcance relativamente pequeno para a região dos radares no solo e outros meios de C2, pode-se supor que as plataformas aéreas e espaciais seriam usadas extensivamente no TOA, até que seja possível estabelecer bases e radares fixos.

As plataformas aéreas de C2ISRT são geralmente lentas e com pouca capacidade defensiva.
São parte vital para o cumprimento da missão, custam caro e em alguns casos produzem muitas baixas se forem derrubadas. São o alvo principal por terem alto valor unitário e estarem disponíveis em pequena quantidade. Focar em alvos estratégicos (satélites, aeronaves AWACS e bases aéreas) ao invés de alvos táticos como tanques e caças é importante devido ao limite de recursos para combater em uma guerra duradoura.

O TOA é uma área muito grande e aeronaves dos EUA/OTAN operariam dispersas. Uma tática seria fazer incursões para conseguir superioridade local e garantir algumas baixas. É uma tática típica de guerrilha.

A Amazônia também é um local de geografia inóspita e agressiva aos meios que operam na região, tanto humanos quanto materiais, e já é um bom motivo para o inimigo não se interessar em se fixar na região .

Como as distâncias são longas e os pontos capitais são poucos (cidades, aeroportos, estradas, rios e clareiras) os sistemas C2 no Brasil teriam poucas opções para se instalar na região, além de serem em pequena quantidade e capacidade.

A doutrina americana considera o sistema C2 inimigo como alvo prioritário e esses serão os primeiros alvos a serem atacados e deve-se considerar desde de o início que não existe praticamente  nenhum sistema C2 instalado na região para efeito de planejamento de missão, vigilância, reconhecimento e designação de alvos.

Os sistemas de C2 que tem capacidade de sobrevivência são os sistemas passivos (visual, som, calor, MAGE) e com transmissão de dados por fio.


Esquema de um sistema C2IRST americano

Os C2 brasileiros (radares de vigilância e centros de comando) teriam que ter uma certa proteção especial como mísseis SAM de defesa de área e até caças, pois seriam alvos prioritários.

A doutrina americana cita a destruição do inimigo através da decapitação. As primeiras ondas de ataque contra o Iraque em 1991 foram contra radares de alerta antecipado, centros de comando e comunicações e usinas geradoras de eletricidade, que forneciam energia para esses sistemas.

Os sistemas de radares fixos instalados no TOA podem ser colocados fora de ação facilmente  por mísseis Cruise (Tactical Tomahawk e JASSM). Os radares móveis podem ter maior capacidade de sobrevivência, mas deve-se considerar que também não durariam muito.

O FX operando no TOA seria a partir de bases aéreas na região, aeroportos ou pistas de dispersão em rodovias. A região tinha, em 1985, 53 aeroportos com pista de pelo menos 1.600 x 18 metros  com área de estacionamento de 120 x 80 metros, sendo capazes de receber um Boeing 767. Além destas pistas existem centenas de aeroportos menores. Este número deve ser bem maior atualmente. Essas pistas, fora as rodovias, são relativamente fáceis de ser mantidas sob vigilância e atacadas. O que complica é o número muito grande de pistas que precisam ser mantidas sob vigilância. No mínimo podem ser usadas como pontos de "pit stop" para reabastecimento e remuniciamento.

No conflito contra o Afeganistão em 2001 os EUA usaram o UAV RQ-1 Predator armado com mísseis Hellfire sob comando da CIA. Eles dispararam 40 mísseis durante o conflito. O Predator tem alcance para operar em todo o TOA.

A forma mais barata de defender os caças no chão seria em dispersão ao redor das pistas ou em rodovias. A defesa passiva (camuflagem, ocultação e despistamento) é muito mais barata que a defesa ativa (mísseis antiaéreos, canhões AA, pistas numerosas e hangares reforçados).

A operação de caças em pista de dispersão em rodovias ocorre em trechos planos reforçados com áreas de dispersão ao redor. A pista de pouso e decolagem tem as margens expandidas para segurança das aeronaves e geralmente permite a operação até de aeronaves de transporte médio.

Elas ficam próximas às cidades para se aproveitar a infra-estrutura existente. A proximidade da população também inibe a incursão de forças especiais de reconhecimento. Apenas em tempo de paz o treino é feito em áreas isoladas para não incomodar a população.

Todos os caças russos foram feitos para operar em pistas de dispersão, mas raramente treinam este tipo de operação. Outros países Europeus como a Suécia (Gripen e Viggen), a Finlândia (F-18, MiG-21 e Hawk), a Polônia (MiG-29, MiG-23, MiG-21, Su-22 e AN-26) e o Reino Unido (Harrier GR 7) treinam esse tipo de operação com frequência, assim como os Fuzileiros Navais americanos (AV-8B Harrier).

Os Mirage 2000 franceses já participaram em treinamento conjunto em pistas de dispersão com os poloneses em 1998. Os poloneses usam uma pista de 2.000 m em uma autoban alemã que era usada como pista de pouso e decolagem na 2GM.

A FAB tem capacidade de operar desdobrada em aeroportos a nível de esquadrilha (4 aeronaves) e elemento (2 aeronaves) e treina esse tipo de dispersão nos aeroportos do TOA. A FAB usa material modular em containers aerotransportados para facilitar a mobilidade aérea. Esses containers têm tudo que uma esquadrilha dispersa precisa, como combustível, munição, alojamento, laboratório fotográfico, cozinha, peças de reposição, centros de comando e comunicação, apoio médico. etc.

No cenário em que os suecos usariam o Gripen, a URSS invadiria o país para tomar a Noruega e garantir o acesso ao Oceano Atlântico para que seus submarinos e navios passassem pelo Mar do Norte, com o objetivo final de fechar o Atlântico para cortar o reforço naval dos EUA para a Europa, no caso de um conflito leste-oeste.

Os suecos usariam mais de 300 caças para defender um pequeno país e cobrindo distâncias relativamente pequenas. A Rússia fica a cerca de 200 km da Suécia e o tempo de reação é mais importante que o alcance, visto que uma aeronave a 900 km/h leva menos de 15 minutos para cobrir essa distância.

O poder aéreo sueco seria numericamente inferior ao russo, mas o número de caças russos na frente sueca, a densidade de caças no local e a alta razão de sortida do Gripen diminuiria a diferença. Os suecos nem treinam patrulhas de combate aéreo (PAC), devido aos poucos minutos ganhos e ao alto custo, e as aeronaves de interceptação ficam em alerta com os motores ligados, o que acaba economizando combustível.

No TOA, não seria esperada uma invasão em massa. Pela doutrina ocidental atual, a atitude mais provável seria uma ocupação aérea, como as "No Fly Zone" sobre o Iraque. O Gripen no TOA teria que cobrir uma região 10 vezes maior (450 mil km² da Suécia contra mais de 5 milhões de km² da Amazônia) com 3 vezes menos caças (300 contra +/- 100 interceptadores da FAB).

Em tempo de guerra, a força aérea sueca seria dispersada em 24 locais ao redor do país. O Gripen opera integrado a um sistema de comando e controle chamado StriCa 90. A aeronave de alerta aéreo antecipado S100B Argus (Erieye) também deve operar dispersa e por isso devem  ter escolhido um turboélice para operar o radar Erieye.

O R-99 AEW também teria que operar em pistas de dispersão na Amazônia para manter a mesma capacidade de sobrevivência dos caças, o que não deve ser possível. No TOA, o equivalente do StriCa 90 seria o SIVAM/SIPAM.

O R-99 não tem capacidade de sobrevivência para atuar em cenários de alta intensidade com defesas fracas (do nosso lado) e são em número muito pequeno para cobrir todo o TOA. As cinco aeronaves adquiridas pela FAB são o suficiente para manter uma em vôo permanentemente e outra em alerta no solo a partir de uma única base.

Podem ser usados para a defesa da região sul de forma segura. Se operassem dispersos não teriam muito valor no TOA. Seriam alvos prioritários, junto com os radares do SIVAM. As aeronaves de caça acabariam dispersas, operariam sem designação de alvos e por conta própria, dependendo dos sensores internos, o que facilitaria a detecção pelo inimigo.

A Suécia está estudando uma aeronave não tripulada (UAV) chamada Gladen, com peso de 7 toneladas e com autonomia de 32 horas a 58.000 pés, que levará o Erieye, entre outras opções de sensores.

A dispersão aumenta a capacidade de sobrevivência, mas dificulta o C2. Com o R-99 tendo que operar à distância em bases no Sudeste para evitar ser atacado no solo se baseado em bases no TOA, o Gripen perderia parte de seu poderio e o mais importante : na Suécia, as distância são curtas e o Comando e Controle é mais fácil, seja por rádio ou fio.

O Gripen tem curto alcance e, mesmo atuando dentro do TOA, ele precisaria de tanques externos e apoio de reabastecimento em vôo (REVO) para cobrir grandes distâncias e os KC-137 e KC-130 não operam em rodovia. Se esses forem baseados em aeroportos serão alvos fáceis quando estiverem no solo.

As aeronaves REVO e AWACS têm que ter capacidade de sobrevivência igual ao Gripen para operar no TOA, ou seja, ter capacidade de operar em pistas improvisadas, o que significa usar plataformas STOL.

A malha rodoviária sueca é muito maior e concentrada que a do TOA. A região ao redor das rodovias, que deve ser pesquisada para encontrar-se os pontos de dispersão, é muito maior na Suécia que no TOA e as aeronaves operam próximas das cidades, onde há infra-estrutura preparada para apoiar, que também são mais numerosas e maiores na Suécia.

Os locais prováveis para a dispersão das aeronaves são próximos a grandes retas (800m no mínimo e russos se baseiam na distância de 1.200 m) e marcadas por áreas de segurança lateral  sem árvores. Os UAVs podem achar os caças com radares de abertura sintética, que atravessam as árvores.

Forças especiais podem fazer vigilância próximo a locais suspeitos e detectar a aeronave pelo som a distâncias relativamente longas e seguras. O uso de sensores sonoros com dados enviados por satélite é outra opção.

No Sudeste, existe um número de aeroportos bem maior que no TOA e as aeronaves podem operar a partir deles, dispersando-se nas imediações e mantendo a opção de operar de rodovias. No Brasil inteiro existem mais de 2.500 aeroportos classe 1, 2 e 3 que poderiam servir de bases de dispersão.
 

Considerações Sobre a Logística

Na Suécia, as bases de dispersão ficam próximas aos centros logísticos e o apoio vem por terra, pois os caças operam em bases de dispersão próximas às cidades com infra-estrutura de apoio.

No TOA, combustível, peças de reposição, suprimentos e armamento têm que vir do Sudeste  / Nordeste se já não estiverem estocados na região. Se forem transportados pelo ar então é necessário contar com pelo menos uma sortida de aeronave de transporte para cada sortida do FX, o que pode ser cerca de 5-10 t de combustível e/ou armamento no caso do Gripen.

Aeronaves de transporte ou helicópteros de transporte seriam alvos fáceis para varredura de caças inimigos. Essas missões de apoio precisariam de escolta, o que aumenta ainda mais os custos e poderiam denunciar a localização dos pontos de dispersão. Operar na proximidade daria maior probabilidade de localização da pista após os caças decolarem, por estarem próximos do alcance de radares inimigos. Os EUA usariam AWACS para essa missão.

Se os suprimentos viessem por terra ou rios, então os comboios seriam o alvo. Forças especiais colocados nas margens das estradas e rios e com equipamento de comunicação por satélite poderiam informar sobre o trânsito de comboios e até denunciar comboios camuflados de veículos civis. Aeronaves JSTAR e UAVs com radares de aberturas sintética (SAR) também podem fazer a varredura de comboios em terra.

Os militares que atuaram no TOA são enfáticos na questão da vulnerabilidade de equipamentos eletrônicos ao ambiente da Amazônia. Os sistemas do Gripen e de qualquer outro caça teriam problemas graves de disponibilidade se ficarem baseados no TOA. Teriam que ser projetados especificamente para operar lá.
 


Concluindo, um caça leve baseado no TOA operaria sozinho e disperso com apoio logístico vindo de longe pelo ar e sem apoio de C2 no solo e de aeronaves multiplicadoras de força, como AEW e REVO. Atuariam sem poder de superioridade numérica local e mal coordenados.

Com as conclusões acima, não parece recomendável o uso de caças baseados no TOA para serem usados em uma guerra e, principalmente, em uma guerra de desgaste.

Citei desgaste, pois existem duas possibilidades. Os iraquianos tentaram emassar a coalizão durante a Guerra do Golfo e foram massacrados, apesar das perdas relativamente altas que causaram na coalizão. Os iraquianos tiveram seu sistema de defesa aéreo colocado fora de ação nos primeiros dias.

Os iugoslavos usaram tática diferente no conflito de Kosovo. Ligavam suas defesas aéreas, esporadicamente, e fizeram uso intenso de táticas de dispersão, mobilidade, camuflagem e ocultação de forma muito eficiente. Não sofreram perdas grandes mas também não derrubaram muitas aeronaves da OTAN.

Os iraquianos eram tão ruins em táticas que os aliados criaram "No Fly Zone" no país. A OTAN não teve coragem de fazer o mesmo em Kosovo, devido à eficiência da defesa aérea da Iugoslávia.

Para citar outro tipo de tática para atuar no TOA, existe o modelo russo para a proteção da Sibéria no caso de um conflito leste-oeste. Os inimigos seriam bombardeiros americanos armados com bombas e mísseis cruise. Os russos não têm sistema de C2 na região, como postos de radares e redes de comunicação e, por isso, as aeronaves de interceptação têm que operar sozinhas ou sob controle de aeronaves AEW. As aeronaves usadas são os MiG-31 e que deveriam ser complementadas e depois substituídas pelo Su-30P.

Os MiG-31 tinham quatro modos de operação de combate. Controlados por radares no solo (GCI) ou aeronaves AEW, como o A-50 Mainstay, e realizando interceptação de longo alcance sob controle externo; semi-automático, com contato mínimo por GCI ou AWACS; lobo solitário, atuando sozinho; e como uma matilha de quatro caças, trocando informações por data link e com o líder em contato com GCI ou A-50 fornecendo solução para perseguição, busca e coordenação da formação dos quatro caças. Em todos os casos, as aeronaves fazem uso de data link, sendo que uma é a nave-mãe, que controla a esquadrilha e troca dados com o centro de comando.

Os Flanker têm capacidade de operar sozinhos, com um deles funcionando como mini-AWACS / nave mãe e servindo de centro de comando aerotático para um grupo de combate e transmitindo comandos para outros caças por data link.

O MiG-31 já nasceu com essa capacidade. Ele opera em grupo de  4 caças distantes 100-150 km um do outro em uma frente de cerca de 800 km. O radar dos caças russos tem longo alcance e permite um desempenho melhor contra aeronaves grandes do que os radares dos outros concorrentes.

Um radar de longo alcance precisa de uma antena grande e muita potência, como uma aeronave como o Flanker. O Gripen também tem essa capacidade e os suecos estão encomendando Gripens bipostos para usarem com mini-AWACS e posto de comando avançado e não para treinamento.

O modelo russo se encaixa como uma luva às condições do TOA e não tem os problemas encontrados por caças leves atuando em bases na região. Uma aeronave de longo alcance, no caso o Flanker, atuaria a partir de bases no Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste, com incursões esporádicas sobre o TOA para caçar alvos de alto valor ou atacar bases inimigas. Fora do TOA, eles ficam próximos dos centros de C2, o que facilita o ataque coordenado vindo de várias direções.

A própria rede de telefonia pública pode ser usada para coordenar ataques conjuntos a longa distância, enquanto as aeronaves estiverem no solo. A transmissão de rádio fica dispersa por uma grande área e necessita de um grande número de aeronaves para monitorar as transmissões. Essas aeronaves de reconhecimento eletrônico são alvos fáceis.

Longe do TOA, o Flanker estaria próximo dos centros logísticos, o que diminui os custos por permitir o transporte por terra e liberar a aviação de transporte para outras missões. A manutenção do fluxo de suprimentos pela malha rodoviária é mais garantida fora do TOA. O número de pontes a serem atacadas é consideravelmente grande para assegurar o corte das linhas de comunicações e caso o apoio venha pelo ar a ameaça às aeronaves de transporte é muito pequena.

As chances de sobrevivência aumentaria  em muito se operassem à distância. A área que os EUA teriam que vigiar para buscar alvos, no caso as bases aéreas, são de maior número. Os pontos de referências como cidades, trechos de rodovias e aeroportos são muito maiores. Os caças estariam muito longe da cobertura de radar e poderiam decolar sem problemas de ser dectados, prematuramente, e denunciarem as bases.

Como as bases de desdobramento podem ser mais numerosas, incluindo aeroportos para paradas tipo pit-stop para reabastecer, os caças podem usar táticas de despistamento com mais eficiência.

Os russos têm todo o material de apoio terrestre montado em caminhões adaptados para qualquer terreno, assim como os reboques. Eles têm doutrina para operar em pistas de dispersão ou pistas semi-preparadas ou danificadas. Os caças da aviação tática inclusive têm capacidade de acompanhar o avanço da tropa.

Uma grande vantagem na operação do FX de fora do TOA é que não ocorre divisão de forças. O FX vai ser o interceptador da FAB e terá que, pelo menos teoricamente, defender todo o território nacional. Concentrando os caças no Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste eles estariam defendendo os centros políticos e econômicos e ainda teriam condições de cobrir o TOA de forma ofensiva.

Se tiverem que operar a partir do TOA, a força de caças terá que ser dividida, e tanto a defesa do TOA quanto a da região sul ficaria enfraquecida. Operando a partir do Sul é possível conseguir economia de força e concentração de esforços.

No caso de uma força de 72 caças, seriam cerca de 18 elementos de 4 aeronaves desdobradas, considerando-se todas operacionais, para cobrir todo o país. Se metade for desdobrada no norte, serão 9 elementos em 9 locais de dispersão para uma região de 5 milhões de Km2. Cada elemento tem que cobrir uma área maior do que a Suécia, que tem o tamanho do Estado de São Paulo.

A força inimiga no TOA contaria com caças de longo alcance, como o F-22 e até o Typhoon e o Rafale, se for considerado apoio Europeu, enquanto que as aeronaves que atacariam alvos fora do TOA seriam aeronaves grandes, de longo alcance, como o B-1 e B-2 e UAVs de longo alcance, como o Global Hawk para reconhecimento e vigilância.

Antes de iniciar missões sobre o TOA, os EUA procurariam bases aéreas para seus caças pelo menos próximas do TOA, bases tomadas no TOA e também operariam a partir dos próprios EUA continentais. Aeronaves de longo alcance seriam a regra. Um dos objetivos da guerra de resistência seria causar perdas e tornar a guerra cara para os EUA.

A Guiana Francesa, o Suriname, a Guiana Holandesa e bases anti-guerrilha na Colômbia seriam pontos prováveis de instalação de bases. Porto Rico é outro local relativamente próximo.

Com um número pequeno de bases aéreas, é bem provável que ocorra congestionamento das mesmas.Durante a campanha em Kosovo, as bases da OTAN na Itália ficaram lotadas de caças. Algumas chegaram a ter quase 200 aeronaves operando juntas.

São alvos ideais para um ataque, com mísseis de longo alcance a fim de aumentar a capacidade de penetração e de sobrevivência da aeronave lançadora. A arma ideal seria mísseis cruise supersônicos.

O resultado pode ser mais promissor do que ficar tentando derrubar aeronaves no ar. Os B-52, B-1 e B-2 operavam de bases distantes na guerra do Golfo e Kosovo (B-2 e B-1), devido à falta de espaço em bases aproximadas e dificuldades logísticas, como portos para transportar bombas e combustível e liberava as bases para operação de caças táticos e aeronaves de transporte.

O Flanker é capaz de realizar missões de longo alcance com grande carga de bombas, cobrindo toda a América do Sul e Atlântico Sul a partir de bases no Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste, se for apoiado por aeronaves de reabastecimento em vôo.

Operações ofensivas também não teriam dificuldades insuperáveis. Os iugoslávios realizaram 31 saídas de apoio aéreo aproximado contra tropas do KLA em Kosovo com aeronaves G-22 Orao e G-4 Super Galeb. As aeronaves voavam muito baixo e só tinham seus sistemas de alerta radar iluminados quando passavam por cumes de montanhas. As saídas incluiam ataques em áreas onde havia aeronaves da OTAN operando. Os iugoslávos também realizaram 179 saídas com helicópteros (Mi-8 e Gazelle) e 19 saídas com aeronaves de transporte (An-26 e An-2). Nenhuma aeronave foi interceptada.

O uso de caças em aeroportos com apoio vindo pelo ar ainda é viável em caso de conflito de baixa e média intensidade, como contra-guerrilha e conflitos regionais e era a hipótese de conflito que a FAB pensava no passado, quando se preparou para esse tipo de operação.

O Flanker também pode operar em desdobramento da região, se for necessário. Por poder cobrir uma área maior que um caça leve (ter o triplo do alcance significa cobrir uma área nove vezes maior) eles podem ser considerados mais eficientes na defesa aérea de grandes áreas, onde o tempo de reação não é importante.

Um exemplo é a interceptação de um Ilyushin cubano que invadiu o espaço aéreo brasileiro sem autorização na sua viagem para a Argentina. Os pilotos dos Mirage de alerta foram chamados em casa e decolaram cerca de meia hora após a detecção da aeronave. No caso de um interceptador de longo alcance eles poderiam decolar assim que a aeronave fosse detectada, o que só seria possível com apoio de reabastecimento em vôo no caso de uma aeronave leve.

Um caça de longo alcance também é ideal em tempo de paz. Os EUA têm 100 F-16 para a defesa aérea do continente. Esse número serve de base para o Brasil, que tem dimensões semelhantes. Um caça de maior alcance, como o F-15 e o Su-27, cobre distâncias maiores e seria necessário em menor número.
 
 
     Operações Marítimas

Também seria de ser esperar operações aéreas por parte de aeronaves embarcadas a partir de NAes na costa leste da Amazônica. O Flanker também está bem indicado para operar no Teatro de Operações do Atlântico Sul - TOAS, tanto que a Sukhoi projetou uma versão de ataque e reconhecimento naval do Flanker chamada Su-32.

O Flanker tem maior capacidade antinavio que os outros concorrentes, devido ao seu alcance maior, que permite cobrir uma área maior, maior alcance do radar e capacidade de levar mísseis supersônicos antinavio de longo alcance. O Flanker pode ser usado tanto para busca quanto para ataque a uma esquadra em alto mar.

Aeronaves de busca, como o P-3 e o R-99, não teriam capacidade de sobrevivência suficiente para se aproximar de um CVBG e dar a localização, por serem muito lentas. Uma aeronave supersônica, com um potente radar pode penetrar rapidamente em uma área suspeita, fazer algumas varreduras e fugir com segurança, também em alta velocidade.

Um ataque com aeronaves de longo alcance pode vir de uma frente bem ampla, cerca de 200 km, convergindo contra o CVBG americano, como os bombardeiros soviéticos fariam na Guerra Fria.

Um caça leve precisa de apoio de aeronaves REVO para poder operar em alto mar a longas distâncias e poder encontrar um CVBG, e com mísseis de menor alcance teria que chegar mais próximo e se expor às defesas dos navios de escolta.

O cenário que o Gripen iria atuar em apoio aerotático às operações marítimas (TASMO) seria no Báltico e sem ameaça de um CVBG americano. O Gripen usa mísseis Maverick para atingir alvos pequenos, pouco defendidos ou próximos a costa e o RBS-15 para alvos maiores, mais bem defendidos e a distâncias maiores. Os suecos não precisam de um míssil de 300 km de alcance, pois a largura do Báltico é bem menor que isso.
 
 
     Guerra Espacial

Uma forma de derrotar os EUA seria atacando seus satélites. As longas distâncias do TOA são determinantes no uso de satélites para a comunicação entre as forças. Aeronaves de reconhecimento (UAVs) e forças especiais precisariam de um sistema de comunicação por satélite para evitarem detecção com a transmissão por rádio de longo alcance.

Os satélites de comunicação seriam um alvo prioritário para  atrapalhar o processo de C2 dos EUA. Os EUA têm grande dependência em sistemas espaciais para vigilância, reconhecimento, ELINT/SIGINT, comunicações, navegação e meteorologia. Cerca de 80% das comunicações realizadas durante a Guerra do Golfo foram por satélites.

As futuras armas de precisão do arsenal também terão sistema de guiagem por satélite GPS como a JDAM, JOWS, AARM, LOOCAS, Have Nap, SLAM, AGM-130, ALAM, Tomahawk (TLAM) e CALCM, entre outras, e algumas mais sofisticados também terão sistema de ligação de dados por satélite, como o JASSM e o Tactical Tomahawk (TACTOM), incluindo transmissão de imagens.

O Flanker poderia ser usado com uma plataforma de mísseis anti-satélite (ASAT), como a dupla F-15 / AGM-135, que era capaz de bater alvos a 1.000 km de altura.

Os russos tinham vários projetos de sistemas ASAT durante a guerra fria. O MiG-31D seria armado com um míssil ASAT da Vympel apelidado de "satellite-killer", em reação ao projeto Guerra nas Estrelas dos EUA. Atualmente, o MiG-31S usa um míssil Micron fabricado pela Fakel para lançamento de satélites. Ele é lançado a Mach 2.3 e 20-25 km de altura e é capaz de lançar 100 kg a 200 km ou 70 kg a 500 km altura.

Concluindo, a FAB precisa de equipamento e doutrina adequada para evitar que qualquer tipo de conflito na Amazônia seja resolvido por meios de coerção militar, e permanecer na área diplomática, principalmente, em um conflito assimétrico contra um país muito mais poderoso. Um dos meios seria uma aeronave como o Flanker.

Atualizado em 05 de abril de 2002

Próxima parte - Potencial de Crescimento do Flanker

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