Programa FX e a ameaça atual

Num conflito no TOA - Teatro de Operações da Amazônia - contra superpotências estrangeiras,
o Brasil enfrentaria, no ar, uma força várias vezes maior. Para comparação da ameaça atual podemos comparar as FAB e Marinha com os EUA em relação à quantidade de aeronaves
de combate:

 

USAF US NAVY USMC FAB/MB
F-15    880 - - -
F-16 2.216 - - -
A-10    274 - - -
F-117      54 - - -
F-14 -  229 - -
F-18 -  885 * -
AV-8B - -  192 -
Mirage - - -  20
F-5E - - -  50
AMX - - -  50
Xavante - - -  90
AF-1 - - -  23
Total 3.424 1.134 192 233

OBS: USAF dados de Janeiro de 2001.
* Os F-18A/B/C/D do USMC estão junto com os da US Navy. Dados de junho de 1998.

Os números parecem assustadoramente desfavoráveis, com uma superioridade numérica de 20 contra 1 a favor dos EUA, assim como a superioridade qualitativa.

Faltou citar outras aeronaves que realizam outras missões ofensivas e de apoio de combate como o AWACS, JSTAR, U-2, UAVs, Rivet Joint, KC-135 e bombardeiros, além das forças da OTAN.

No caso da OTAN, seria considerada a Força de Reação Rápida (Euro Korps) planejada para ter 400 caças e 60 mil tropas, que atualmente incluem Tornado, Mirage 2000, F-4F, F-18, F-16, Harrier, Jaguar e AMX.

Ao se passar esses números para o nível operacional, mostrando como seriam na prática ao operarem no TOA, a diferença já parece mudar.

TOA no Nível Operacional

O número de aeronaves que podem ser deslocadas para o TOA pode ser predito ao considerar o número de aeronaves em prontidão para operar no exterior e a partir de dados de conflitos recentes como Golfo em 1991 e Kosovo em 1999.

Os níveis de prontidão dos esquadrões da USAF são divididos em 3 níveis operacionais. Do total de esquadrões, 1/3 está pronto para se deslocar ou já está participando de algum conflito ou deslocamento, 1/3 está em preparação e treinamento e 1/3 está descansando e na reserva com um nível de operação bem baixo. Junta-se a esses números as aeronaves em reserva, manutenção, modernização, atrito e desenvolvimento. O número padrão é ter 20% das aeronaves disponíveis.

Na prática, o número de aeronaves deslocadas para o TOA, considerando em detalhes sua prontidão, é bem menor que o número total de aeronaves.

Nos cálculos abaixo, serão priorizadas as aeronaves de longo alcance devido às distâncias a serem percorridas no TOA.

Vejamos o número relativo de caças que os EUA deslocou para o Golfo em 1991 (Desert Storm)
e para o Kosovo em 1999 (Allied Force):

 

1991 1999 2003

TAI Desert
Storm
Allied 
Force
PAA TAI
Iraque
 
TAI

PAI
B-52 191 66 8 56 94 28
84
50
B-1 96 0 5 69 93 11
78
50
B-2 3 0 6 8 21 4
21
16
F-4 164 60 0 0 0 0
0
0
F-14 450 100 28 84 210 56
-
-
F-15 903 172 51 475 731 90
735
616
F-16 1575 247 64 924 1444 60-131
1391
1158
F/A-18 607 190 24 468 840 188
-
-
F-111 248 84 0 0 0 0
0
0
F-117 55 42 24 36 53 12
52
44
A-6 340 115 0 0 0 0
0
0
A-7 248 24 0 0 0 0
0
0
AV-8 185 52 8 120 180 70
-
-
A-10 626 132 22 274 369 60
328
291
EA-6B 126 39 31 100 120 35
-
-
TOTAL 5817 1332 271 2614 4155 686


TAI = Total Aircraft Inventory (aeronaves destinadas a forças operacionais, incluindo atrito e reserva)
PAA = Primary Aircraft Authorization (aeronaves qeu cumprem missão)

Cerca de 80% da frota de F-117 foi usada, assim como cerca de 1/3 da frota de EA-6B, F-111 e A-6, todas aeronaves de alcance respeitável.

A maioria dos caças foi usada em menos de 25% da frota total.

No Golfo, de um total de 1.350 caças (máximo) deslocado para a região, incluindo os de países locais, a USAF deslocou 700 aeronaves (cerca de metade do total), o USMC deslocou 240 aeronaves (9% do total) e os outros países deslocaram mais de 600 aeronaves de caça e apoio (cerca de 25%). A USN deslocou 6 NAEs com mais de 400 caças ou cerca de 16%. Os Europeus deslocaram 350 caças.

Na época, a USAF tinha 5.800 aeronaves de combate e usou 25% (1.300 aeronaves). O TAI era de 4.100 e 2.600 estavam em prontidão (PAA).

Pela quantidade de caças que os EUA têm, atualmente, é possível prever qual seria a quantidade de aeronaves a serem deslocadas para o TOA.

No Golfo, foram deslocados 130 F-15C e 48  F-15E (4 esquadrões). O PMAI atual é de 348 e 132 respectivamente. Supondo-se que 20% sejam usados, temos que seriam 54 F-15C/D (três esquadrões) e 26 F-15E (dois esquadrões). Devido às necessidades do TOA, que serão detalhados posteriormente, pode-se supor que seria adicionado mais um esquadrão de F-15C/D e um número maior de F-15E (4 esquadrões no total). Portanto, o total de F-15 esperado seria de até 130 aeronaves.

No Golfo foram usados 216 F-16 ou 3 alas.  Usar 20% do total atual (2.216) no TOA seria mais de 400 aeronaves, mas, devido ao alcance reduzido, pode-se consider que 3 alas seja suficiênte ou até muito. 20% das aeronaves em PMAI (924) seria o número esperado (180 aeronaves). Os F-16 seriam encarregados das missões de curto alcance.

Cerca de 20% das força ativas de A-10 seria de 28 aeronaves. Não são ideais para operações de longo alcance.

Todas as aeronaves F-117 em PMAI, ou cerca  de 36,  podem ser ativadas, como aconteceu no Golfo.

Bombardeiros:
B-2: 21 no total e 16 em prontidão de combate
B-1B: 93 no total e 52 em prontidão de combate
B-52H: 94 no total e 44 em prontidão de combate

A maioria dos bombardeiros podem estar disponíveis para atuar no TOA. No Golfo, foi usado 1/3 da frota de B-52. Considerando as PMAI são mais de 150 bombardeiros disponíveis para operar sobre terra e mar.

Uma operação de longo alcance que melhor exemplifica o cenário do TOA é a operação Enduring Freedom no Afeganistão em 2001. Neste conflito foram usados, aproximadamente, 37 bombardeiros, 390 caças, 220 aeronaves de apoio de combate e 160 helicópteros. 

Na Segunda Guerra do Golfo (Operação Iraq Freedom), o número de aeronaves de combate utilizadas foi cerca de metade da operação Desert Storm 12 anos antes. Em compensação as forças iraquianas estavam enfraquecidas por 12 anos de embargo, com armas com disponibilidade, e já desgastadas pelas zonas de exclusão. Já as aeronaves americanas estavam todas equipadas com armas guiadas o que era mais exceção na Guerra do Golfo.

Air Expeditionary Wing

Na verdade, os números acima são divididos em 10 Air Expeditionary Wing. Os EUA estão testando a mesma formula da marinha e exército para juntar suas forças. A exemplo de armas combinadas empregadas pelo exército (cavalaria, infantaria, artilharia, engenharia e comunicações) e de grupos tarefas da marinha (NAes, escoltas, submarinos, apoio logístico, grupo aéreo embarcado, etc), a USAF está misturando seus esquadrões de caça, bombardeiro, transporte, reabastecimento e apoio de combate para formar alas aéreas mistas.

Pode-se esperar que metade dela esteja operando no TOA. Cada uma a partir de uma base principal ou conjunto de bases próximas. Cada Ala mista tem um esquadrão de F-15C e de F-15E, em um total de mais de 150 aeronaves de todos os tipos.

Já a US Navy empregou metade de seus NAes no Golfo (6 na época) e pode-se esperar a mesma quantidade atuando no TOA. São 50 caças operando embarcados em cada NAE, em um total de 300, ou cerca de 6 esquadrões de F-14 (84 aeronaves) e 18 esquadrões de F-18 (216 aeronaves).

Um detalhe é que os 6 NAes deslocados no Golfo foram divididos em 2 grupos de 3, um no Mar Vermelho e outro no Golfo Pérsico. Enquanto um NAe era reabastecido os outros dois realizavam operações militares. Isso já diminui em 33% as forças aeronavais em uso direto no conflito.

O USMC deslocou uma força pequena para o KTO de cerca de 84 F-18 (mais 106 embarcados pela USN) e 52 AV-8B Harrier para dar apoio aproximado para suas tropas. É uma missão que vai ser excluída a princípio por não se pensar em uma invasão por terra e ser uma tarefa secundária.

Os números brasileiros estariam invertidos. Dos 220 caças brasileiros, 20% estariam em reserva ou manutenção. A grande maioria seria usada operacionalmente. Considerando apenas os Mirage III, F-5 e AMX como tendo utilidade, a frota disponível seria de quase 100 aeronaves.

Fazendo as contas considerando as estimativas acima:



PMAAI TOA
F-15C 342 72
F-15E 132 48-60
F-16 924 180
A-10 274 36
F-117 54 36
F-14 - 50
F-18 150 
AV-8B - 48
Total 570-630
A superioridade já cai para 6 para 1 a favor da USAF e USN. As coisas já estão melhorando, mas ainda não foram consideradas as forças européias, que podem chegar a 400 aeronaves se considerarmos o Euro Korps inteiro. A ameaça que o FX terá que combater já não parece
tão assustadora assim.
 

Apoio de Combate

A capacidade de penetrar defesas hostís e lançar armas são parte de um processo que depende de aeronaves de apoio. As aeronaves de reabastecimento aumentam o alcance das aeronaves de ataque, as aeronaves de comando e controle coordenam a luta e as aeronaves de reconhecimento e inteligência coletam dados para planejar a batalha.

Aeronaves de baixa densidade e alta demanda são os meios críticos para realizar todas as missões de uma campanha aérea. Pode-se esperar que até 50% de cada tipo de aeronave estejam disponíveis para deslocamento.

Entender o ciclo do processo de decisão do oponente é um fator crucial na guerra. Este ciclo é definido como o tempo para o sistema de comando, controle, comunicações e inteligência (C3I) coletar e analisar as informações do campo de batalha. Apenas após esta análise ser feita é que será possível dar ordens as forças de ataque.

O sistema C3I é apoiado por meios de vigilância, reconhecimento e designação de alvos (SRTA). Estes meios podem ser um valor limitador no números de ordens de ataque que podem ser gerados. Estes meios estão exemplificados por aeronaves AWACS, reconhecimento fotográfico, SIGINT etc.

As aeronaves de alerta aéreo antecipado (AEW) são usadas para vigilância do espaço aéreo contra alvos móveis aéreos. Para defesa estratégicas as aeronaves AEW são usadas para detectar, acompanhar, identificar e notificar caças para conduzir rotina de interceptação. Em operações ofensivas a plataforma AEW funciona como centro de comando que coordena tráfego, dá aviso de ameaças aéreas e coordena grupo de ataque.

Considerando todas as aeronaves usadas pela OTAN e USAF (34 E-3 da USAF, 17 E-3 da OTAN, 4 E-3 da França, 7 E-3 da RAF, 4 R-99 da Grécia e até os 6 S-100 Erieye da Suécia e cerca de 90 E-2 da US Navy) seriam 72 aeronaves AEW baseadas em terra e cerca de 24 no mar nos navios da US Navy. Metade dos AEW estariam disponíveis ou cerca de 36 mais um reforço de 20 E-2 da US Navy operando no solo.

Se considerar que uma base precisa de 3 aeronaves AWACS para dar cobertura de radar por 24 horas e considerando uma força de 25 E-3 e 15 AEW de curto alcance (E-2, R-99 e S-100),  metade da força deslocada para a região, é possível defender no máximo 13-14 bases ou
conjunto de bases próximas sem deixar reserva.

Se os E-3 americanos forem usados nas operações ofensivas, serão 17 E-3 disponíveis para operações ofensivas e 21 aeronaves para defender 7 regiões. A OTAN não usa suas aeronaves AEW em operações ofensivas. Os E-3 usados no Golfo apoiaram 38 dos 40 combates aéreos daquele conflito e gravaram toda a campanha aérea.

Se todos estiverem sendo usados defensivamente para proteger bases aéreas, não irá sobrar nenhuma para operar ofensivamente acompanhando um grupo de ataque em profundidade.

Se considerar que para manter uma estação de AWACS à longa distância durante 24 horas é necessário mais de 5 aeronaves, então são 3 estações no máximo. Apenas uma pequena parte do TOA estaria sob cobertura de vigilância aérea permanente.

Os EUA operam atualmente cerca de 8 aeronaves de reconhecimento radar E-8C JSTAR de um total que poderá chegar a 13-15 em 2003. Eles são capazes de gerar imagens radar do solo de qualidade quase fotográfica de áreas a 50-250 km de distância e identificar alvos móveis no solo, em qualquer tempo, podendo informar quais áreas estão tendo algum tipo de tráfego ou não, para gerenciar a batalha terrestre.

Outros países da OTAN têm programas semelhantes, como o SOSTAR da França, Itália, Alemanha e Holanda e o ASTOR britânico. Estas aeronaves operam em áreas de pouca ou nenhuma ameaça. Só realizariam operações no TOA e as missões de longa distância seriam realizadas pelo U-2 com casulos ASARS ou UAV (Global Hawk) ou então com escolta pesada de caças, EA-6B e AWACS.


Imagem do radar do JSTARS.

A USAF tem cerca de 14 aeronaves de SIGINT Rivet Joint (8 RC-135V e 6 RC-135W) e a USN tem 10 EP-3E Eries II. Eles são usados para detecção, classificação e localização de emissores eletrônicos como rádios e radares a distâncias de até 240 km. São um meio de designação de alvos para aeronaves de ataque e SEAD. No TOA, a cobertura de vigilância eletrônica também será ruim devido ao pequeno número de aeronaves e a grande área de cobertura.

Outros países da OTAN também  possuem aeronaves SIGINT de longo alcance como a França (1 DC-8 Sarigue NG e 2 C-160G Gabriel), Alemanha (6 Atlantic) e Reino Unido (3 Nimrod R.1). Estas aeronaves só operariam no TOA. O U-2 ou UAVs são as plataformas mais seguras para realizar operações a longa distância fora do TOA.

Os EUA têm, atualmente, 35 aeronaves de reconhecimento de grande altitude e longo alcance U-2R/S, incluindo 4 aeronaves de treinamento. As missões de reconhecimento realizadas pelo U-2 precisam de 5 aeronaves para poder manter uma área em vigilância por 24 horas ou no máximo 6 áreas se considerar o uso de todas as aeronaves. Operando a distâncias maiores, o número necessário aumenta.

Os U-2 realizaram 80% das missões de reconhecimento fotográfico (IMINT) na campanha de Kosovo. Um total de 12 aeronaves foram deslocadas para o Golfo em 1991, sendo a maior operação realizada pelo U-2. As imagens captadas podem ser transmitidas em tempo quase real para uma estação em terra a 400 km de distância ou armazenadas para serem transmitidas quando a aeronave está no alcance direto da estação. O U-2 pode permanecer até 12 h no ar, mas as missões geralmente duram no máximo 9 h. No conflito do Golfo em 1991, eles voavam em áreas seguras e com escoltas de caças e EA-6B.

Os U-2 levam cargas modulares podendo realizar missões de IMINT (alcance de 120 km), SIGINT (alcance de 280 km) e imagem por radar (advanced synthetic aperture radar system II -ASARS-II  com alcance de 180 km).

Para demostrar a importância das aeronaves de reconhecimento fotográfico é só considerar  que um piloto de combate americano geralmente leva pelo menos uma foto do alvo que foi tirada a no máximo 24h. Todo alvo também é fotografado após ser atacado para avaliação dos danos. Estas aeronaves são limitadoras do número de alvos que poderá ser atacado. São apoiadas por outras aeronaves como o F-14 equipado com casulo de reconhecimento TARPS e satélites de reconhecimento como o KH-11 e KH-12.

Estas missões consomem muitos meios técnicos especializados e humanos. Mesmo usando satélites espiões, satélites fotográficos civis e suas próprias aeronaves de reconhecimento de imagens, como U-2 e F-14 com TARPS, os EUA precisaram de ajuda dos caças Mirage IV franceses. Isso para um país relativamente pequeno como o Afeganistão.

Outra fonte de reconhecimento por imagem são os satélites de reconhecimento. Eles cruzam em órbita baixa (KH-11) e cobrem distâncias de 500km para cada lado da órbita. São necessários três satélites para cobrir toda a superfície da terra em 24h. Esta fonte de informação é criticada por ser de uso dos serviços de inteligência como a CIA e não estão diretamente ligados diretamente aos centros de comandos das operações aéreas. As informações demoram a ser repassadas e geralmente estão desatualizadas.

Os EA-6B Prowler vão dar cobertura de Guerra Eletrônica, sendo que metade dos 120 em uso atualmente podem estar disponíveis no TOA. Eles também operam embarcados nos NAes da USN. A USAF está usando os EA-6B da USN e USMC após a retirada de serviço dos EF-111 Raven em 1998. Após a derrubada  de um F-16CJ e um F-117 nos primeiros dias do conflito de Kosovo, todas as missões ofensivas passaram a serem escoltadas pelos EA-6B sem nenhuma perda.

Os 6 EC-130E Commando Solo são usados para localizar e interferir em comunicações inimigas incluindo AM/FM e TV. Os 13 EC-130H Compass Call / Rivet Fire são usados, exclusivamente, para COMINT e interferência em sistemas de comunicações militares. Estas aeronaves são os principais meios de Guerra de Informações da USAF.

Durante o conflito no Golfo, a USAF usou 256 KC-135 e 46 KC-10 apoiadas por 20 KC-130 do USMC para realizar reabastecimento em vôo (REVO), fora as aeronaves REVO dos outros aliados. As operações de  REVO são normalmente executadas em áreas de baixa ou nenhuma ameaça. As aeronaves de REVO da USAF raramente chegam próximas do TO. Durante o conflito no Afeganistão, os Tristar da RAF reclamavam quando tinham que se aproximavam a menos de 100 milhas do TO.

A necessidade de aeronaves REVO é grande mesmo em conflitos onde as distâncias não são importantes. A experiência no conflito de Kosovo mostrou que é necessário uma aeronave KC-135R para apoiar 4 caças ou um KC-10 para apoiar 8 caças. A experiência da USAF desde a década de 50 vem mostrando que estes números sempre se repetem.

Durante a Guerra Fria, os países da OTAN na Europa nem tinham aeronaves REVO devido a ameaça próxima dos caças do Pacto de Varsóvia. Apenas a França e Reino Unido tinham frotas respeitáveis de aeronaves tanque e ficavam longe da frente de batalha. A USAF tem cerca de 577 KC-135, atualmente.

Os EUA também deslocaram 50 aeronaves de operações especiais para o Golfo. Os helicópteros de resgate não têm capacidade de cobrir todo o TOA e ir até o Sul. Nem mesmo o CV-22 Osprey terá esta capacidade. Nesse caso, o resgate de pilotos estará limitada aos MC-130 Talon equipados com o sistema de resgate Fulton.

Outra aeronave fundamental na doutrina da USAF são os 7 EC-130E ABCCC (posto de comando aéreo). Ao contrário do que parece ser o normal, não é o AWACS  que conduz a batalha aérea e sim o ABCCC. Ele recebe dados de todas as plataformas aéreas, como AWACS, JSTAR, Rivet Joint, EA-6B, U-2 e UAVs, entre outros, para coordenação e gerenciamento global da batalha. As outras plataformas têm tarefas especificas. São uma limitação do número de ataques em massa coordenados a serem executados.

O ABCCC é parte integral do Sistema de Controle Aerotático funcionando como extensão das autoridades de C2 em terra junto com o TACC (Tactical Air Control Center) e aeronaves AWACS baseado em um roteiro de ordens de ataques único criado pelo Centro de Operações Aéreas Combinadas (CAOC). Sua missão primária é dar flexibilidade no controle tático de todos os recursos aéreos. Tem controle positivo sobre as operações aéreas e pode manter comunicações até com comandos superiores.

Os ABCCC foram retirados de serviço em 2001. Serão substituídos pelo E-10 MC2A que fará o papel de E-8 JSTARS inicialmente em 2012, seguido do E-3 em 2015 e depois do RC-135 e EP-3 Aries.

O CAOC é basedo em terra e pode ser considerado um sistema de armas por si mesmo. Pessoal de todas as forças aéreas participantes de uma operação fazem parte do seu estado-maior. A estrutura do CAOC segue a de uma estado-maior aéreo convencional com ramos de inteligência, operações, logística, planejamento, mobilidade aérea e comunicações.

O CAOC é um meio de coordenação que permite que os comandantes da OTAN/EUA tenham unidade de comando de uma força multinacional. Ele permite coordenação segura do espaço aéreo no TO. Estes objetivos são atingidos com a produção de mensagens de tarefa aérea (air tasking messages - (ATM) que traduzem a intenção da OTAN em ordens (air tasking order - ATO).

O CAOC também é responsável pelas regras de engajamento (ROE) das aeronaves voando na área de operação. O CAOC tem controle sobre a permissão de ordens de ataque contra aeronaves hostis de todas as aeronaves do TO através de controle centralizado.

O processo de produção das ATM começa com as diretrizes ditadas pelos comandantes (Southern Command, CINC Atlantic etc). É feito uma planilha eletrônica que cobre seis semanas de operações. Entre os dados do planejamento estão indicados missões, armas, ameaças e descanso dos pilotos. Se aprovada é feito um planejamento semanal, que passa por um ciclo de 72h. O estágio final é a apresentação das ATM das próximas 24h.

A ATM é um documento de 12-16 páginas que dita a posição da base de cada aeronave e sua missão. O documento é editado as 13:00 e passa a ter efeito as 3:00 do dia seguinte. As ATM podem ser mudadas de acordo com os acontecimentos como missões de apoio aéreo.

O CAOC também fica conectado a CNN para receber informações do contexto político e dar umas risadas das desinformações.

Enquanto as informações necessárias para a condução da operação Desert Storm demorou seis meses para ser mostrada ao CAOC do General Charles A. Horner, o CAOC do General Ward levou alguns dias para ser montado e permitir a condução da operação Enduring Freedom no Afeganistão.

Com os dados acima é possível perceber que os EUA não teriam condições de defender muitas bases aéreas e nem cobrir todo o TOA com aeronaves radares. É bem provável que a USAF só vá usar intensivamente seus  B-2, B-1 e mísseis cruise lançados de B-52 para atacar alvos fora do TOA (sudeste, centro-oeste e região sul). Os EUA estão priorizando o FSA (Future Strike Aircraft), também chamado de B-3, considerando a China como ameaça.

Os números agora parecem ficar até favoráveis para a FAB. Considerando que os EUA só operam ofensivamente com cobertura de aeronaves AEW, escolta de EA-6B e coordenadas por um ABCCC, seriam relativamente poucos ataques a serem realizados fora do TOA. Isso significa que a USAF não tem condições de manter superioridade aérea (numérica) em todo o Brasil e nem mesmo em todo o TOA. Até a US Navy vai ter dificuldade de cobrir toda a costa brasileira.

Um ABCCC coordenava ataques de 40 aeronaves contra a Iugoslávia. Considerando que só seria possível realizar um ataque destes a regiões mais ao sul, devido ao pequeno número de ABCCC disponíveis, a FAB poderia concentrar até 100 caças contra 40 aeronaves de combate americanas em um flanco.

Para se ter uma idéia do que são 40 saídas de combate é só considerar que as bases aéreas iugoslavas receberam em média 600-700 projéteis americanos em até 50 ataques.

Outro flanco coberto pela US Navy por dois NAes seria de até 80 caças, mas uma parte é usada como reserva e para proteger os NAes. Na Guerra do Golfo, cada NAe podia realizar uma média de 35 sortidas de ataque por dia, o que dava no máximo 140 sortidas por dia realizada pelos quatro NAes disponíveis para a região. Esse número seria maior se eles estivessem próximos do TO. Eles permaneciam à distância por motivos de segurança e é possível que essa medida se repita.

Fica difícil quantificar a superioridade numérica agora, mas qualitativamente fica duvidoso dizer de quem seria a vantagem. Está mais fácil perceber a importância que o FX terá no futuro da FAB e do Brasil.

Para determinar o poder de um oponente é necessário muito mais do que conhecer sua ordem de batalha. Suas capacidades e limitações também são importantes para determinar onde e como irão atacar e vice-versa.
 

O Problema das Bases Aéreas

Durante a Guerra Fria os EUA tinham uma solução bem simples para resolver o problema de bases aéreas na Europa Central: suas aeronaves ficavam baseadas lá mesmo no TO esperado. Agora o próximo TO não tem local previsto e suas aeronaves ficam baseadas em casa.

O número de aeronaves deslocadas no TOA estará limitado não só pelo números de caças e aeronaves especializadas, mas também pelo número  de bases aéreas disponíveis. Um ataque em massa é precedido da construção de uma força nas imediações do teatro de operações.

Já foi citado que o número de bases aéreas que podem ser usadas está limitada pelo número de aeronaves AEW disponíveis, a não ser que estejam agrupadas na mesma área, como aconteceu na Itália durante a crise de Kosovo, onde os AWACS operavam em órbitas avançadas, concentrando-se no território da Iugoslávia. Nesse caso, as aeronaves inimigas eram detectadas logo que decolavam.

Sem considerar as distâncias a partir de bases fora do TOA, as aeronaves de caça terão que percorrer distâncias consideráveis em qualquer missão.

Os meios especializados geralmente ficam baseados longe da área de operação por motivos de segurança. No Golfo em 1991, essas aeronaves ficavam em bases próximas do Mar Vermelho. Os caças é que ficavam próximos da fronteira do Kuwait e Iraque para aumentar autonomia e resposta rápida. Os NAes americanos ficaram distantes no Mar vermelho. Os bombardeiros atacavam de bases distantes no Reino Unido, na Ilha de Diego Garcia no Oceano Índico, e nos próprios EUA.

Os EUA levaram 6 meses para prepararem as bases na Arábia Saudita, que já tinham sido construídas anteriormente para este tipo de operação. É um ponto fraco a ser explorado. No caso da FAB, haveria a necessidade de um caça de penetração de longo alcance, qualquer tempo, qualquer altitude armado com armas de longo alcance de precisão como resposta.

Durante o conflito de Kosovo em 1999, cada base na Itália tinha algumas dezenas de aeronaves estacionadas. As bases ficaram superlotadas e os recursos disponíveis eram limitados, o que limitava o total de missões. As aeronaves ficavam desprotegidas e concentradas ao serem estacionadas lado a lado, tornando-se alvos fáceis para ataques assimétricos, que podem incluir mísseis balísticos.

Outro exemplo é a base aérea de Prince Sultan na Arábia Saudita mantém constantemente cerca de 100 aeronaves e 4 mil homens continuamente para apoiar operações americanas e aliados na região do Golfo.

Uma medida que a OTAN pretende tomar é usar aeronaves STOLV, como o JSF. Existem 10 vezes mais pistas de cerca de 600 m do que pistas de 2.500 m necessárias para operar aeronaves convencionais.


As Aeronaves deslocadas para uma pista na linha de frente costumam ficar estacionadas lado a lado. Isso não acontece quando a base é planejada para receber esse tipo de contingência.

No conflito de Kosovo em 1999, os EUA deslocaram a 6th Air Expeditionary Wing, 31st Air Expeditionary / Fighter Wing em Aviano, 86th Air Expeditionary / Airlift Wing em Ramstein e 100th Expeditionary Air Refueling Wing no Reino Unido.

Foram usadas quatro bases na Turquia com cerca de 10 a 30 aeronaves cada:

Balikesir:  16 F-15E e 12 F-16CJ
Incirclik:  20 KC-135
Taszar: 24 F18D e 5 KC-135
Ghedi: 11 F-16

Foram usadas 17 bases na Itália. Aviano tinha 167 aeronaves estacionadas e metade das bases estacionava menos de dez e outra metade menos de 60 aeronaves.

Sigonella: 5 U-2 e 5 KC-135
Tuzla: 2RQ-1A
Aviano: 12 F117, 25 F-15E, 66 F-16, 32 EA-6B, 2 EC-130H, 2 C-130 ABCCC,  2 KC-135, 18 CF-18, 6 EF-18 e 2 E-3
San Giorgio: 20 F-15C
Gioia Del Colle: 40 A-10,  12 Tornado e 16 Harrier
Brindisi: 2 AC-130, 2 EC-130, 3 MC-130, 10 MH-53 e 2 MH-60
Amendola: 10 F-16AM, 6 ASA e 20 F-16AM
Grazzanise: 15 F-16
Istrana: 12 Jaguar, 6 F1CR, 15 Mirage 2000D, 1 C-160 Gabriel e 6 AMX
Solenzara: 10 Mirage F-1CT, 3 Etandard IVP e 12 Tornado
Grosseto: 8 Mirage 2000C
Avord: 2 E-3F
Piacenza: 14 Tornado IDS e 4 Tornado ECR
Brescia-Ghedi:  6 Tornado IDS
Cervia: 4 F-104ASA
Trapani/Prevesa: 4 E-3A
Ancona: 7 KC-135

Bases dispersas na Europa e mais distantes do local de ação. As aeronaves de maior alcance ficavam em 12 bases espalhadas nos EUA(B-2), Reino Unido, França, Alemanha e Espanha:

RAF Lakenheath: 5 F-15C
RAF Brize Norton: 21 KC-135R
RAF Fairford: 28 B-52, 5 B-1 e, 5 KC-135
RAF Mildenhall: 5 RC-135 e 25 KC-135
Istres: 6 KC-135
Spangdahlem: 24 F-16CJ e 12 F-117
Geilenkirchen: 4 E-3
Rhein-Main: 2 E-8 e 2 KC-10
RAF St Morgan e Ferihegy, Hungria:  14 KC-135R
Mont DeMarson:  20 KC-135
Moron, Espanha:  20 KC-135 e 5 KC-10
Whiteman AFB, EUA:  6 B-2

No conflito do Afeganistão em 2001 foram usadas 40 bases em 20 países para receber mais de 600 aeronaves e 160 helicópteros.

Pelos números acima, pode-se estimar que seriam necessárias dezenas de bases aéreas ao redor do TOA para receber centenas de aeronaves de caça, apoio de combate e transporte e que devem estar bem apoiadas por um sistema logístico de estradas e portos. Cerca de 40% das aeronaves estacionadas na região do Golfo em 1991 eram aeronaves de apoio.

Entre os locais onde é possível prever a instalação de bases fora do TOA temos:

- Flanco Leste: Navios aeródromos no Atlântico, Ilha de Ascensão, Guiana Francesa, Suriname, costa africana (3.000 km do Nordeste), África do Sul (6.000 km do RJ) e até mesmo Fernando de Noronha.

- Flanco Norte: Curaçao, Porto Rico, Guantanamo (Cuba), bases aéreas nos EUA.

- Flanco Oeste: Peru, Colômbia e Equador.

- Flanco Sul: Os EUA também estão pretendendo manter bases na Argentina e Bolívia para combate ao narcotráfico. Podem ser futuras bases para operações em um cenário no TOA.

O uso de bases na Bolívia, Argentina e Paraguai significa a permissão de usar o espaço aéreo do Peru e Chile para o deslocamento de aeronaves, principalmente a de transporte, até estes países. Isso significa que seria necessário um apoio maciço de países sul-americanos para realizar este tipo de operação.

Uma rota no Atlântico ou pela África pode ser usada para atingir a Argentina. É uma bela oportunidade causar baixa, mas precisa de um interceptador de longo alcance para realizar a missão.

Não está sendo considerada a tomada de bases dentro do TOA.

Uma outra questão em relação as bases aéreas ao redor do TO é o tempo de preparação/ocupação das mesmas. Durante o período inicial de ocupação de uma base aérea por uma força de caças, o número de aeronaves disponíveis será pequena e desorganizada. Esta força estará dispersa, sem coordenação com outras forças e meios de apoio e muito mais vulnerável que uma força já implantada na região há muito mais tempo e já adaptada ao cenário. É um ponto fraco reconhecido dos EUA e que pode ser explorado pelos seus inimigo potenciais.
 

Jungle Shield/Jungle Storm

Ao considerar-se o ambiente das operações em relação ao tamanho de forças e áreas de interesse, a vantagem numérica americana é diluída, consideravelmente, tornando-se até negativa.

O efeito do tamanho do campo de batalha é extremamente negativo para as força invasoras.  Em nenhum conflito após a Segunda Guerra Mundial, os EUA lutaram em um TO tão distinto em relação às distâncias percorridas. Em todas as guerras das últimas décadas, os EUA lutaram em regiões onde as distâncias estavam dentro do alcance de suas aeronaves de caça.

Um estudioso dos conflitos aéreos modernos, onde ocorreram combates de média/alta intensidade, irá perceber que a grande maioria ocorreu em um espaço aéreo mais ou menos  restrito, onde as distâncias percorridas eram relativamente curtas ou estavam presentes na maioria das vezes. Quando isso não ocorria, as operações aéreas ficavam prejudicadas.

Na Coréia, Vietnã, Conflitos entre Árabes e Israelenses, guerras Indo-Paquistanesas, Malvinas,  Golfo e Kosovo, os Teatros de Operações estavam dentro do alcance dos caças baseados em terra. Até mesmo um conflito leste-oeste na Europa seria um TO apropriado para caças com alcance restrito.

Porém, em todos esses conflitos, houve situações onde o alcance dos caças era exigido além do previsto. Isso é resolvido com o uso de REVO e por um número menor de aeronaves de penetração de médio/longo alcance.

Até mesmo no conflito recente contra o Afeganistão/Talibã foram usadas aeronaves de curto alcance para percorrer distâncias de 1.500-1.800km. Os seis caças F-15E baseados em Ali Al Salem no Kuwait realizavam 5-6 reabastecimentos em vôo para alcançar o TO. As aeronaves REVO estavam baseadas próximas do TO e operavam em espaço aéreo seguro.

Neste conflito foi atingido um pico máximo de 100 saídas de ataque por dia (média planejada). Destas 80 eram realizadas por aeronaves embarcadas (90% no início do conflito), 12-14 por aeronaves baseadas em terra e 8-10 por bombardeiros (8 B-1B e 10 B-52H em Diego Garcia). Os bombardeiros lançaram cerca de 80% das munições em peso voando apenas 10% das surtidas.

O número de missões diárias realizadas no Afeganistão foi baixa mas o número de horas voadas foi alta devido a longa duração de cada uma. Um dos motivos foi a inexistência de grandes forças de ataque baseadas em terra como no Golfo em 1991 e Kosovo em 1999. A média de duração de uma missão de um F-14 embarcado era de 6,5 horas para atacar alvos a cerca de 1.300km contra uma média de 2,5 horas que seria o usual. Uma consequência do uso intensivo das aeronaves foi a falta de peças de reposição.

Enquanto no Golfo em 1991 e Kosovo em 1999 as operações tinham saiam predominante de terra, no Afeganistão elas foram predominantemente marítima devido as longas distâncias. Os bombardeiros só operavam de dia devido a inexistência de oposição aérea.

O Afeganistão também era uma situação extrema. Era um país sem ligação para o mar, cercado de países pobres e com poucos alvos de valor. Os alvos principais eram o próprio inimigo.

Na Coréia, os jatos americanos tinham pouca autonomia sobre a região quando operavam a partir de bases no Japão até serem preparadas pistas no país. Caças baseados na Tailândia tinham que ser reabastecidos em vôo para operar sobre o Vietnã do Norte. Nas guerras árabes-israelenses, as bases inimigas e o campo de batalha estavam na grande maioria das vezes dentro do alcance da aviação inimiga. Nos conflitos indo-paquistaneses, os indianos usaram o Gnat, que tinha raio de ação muito curto.

Nas Malvinas, os dois lados tinham problemas para operar à distância de bases em terra. Os caças argentinos ficaram muito limitados em relação ao tempo sobre o alvo e não puderam se defender adequadamente. Na Guerra do Golfo, os americanos tiveram que usar bases à distância do TO e precisaram usar aeronaves REVO em grande escala. Em Kosovo, as aeronaves eram reabastecidas pelo menos duas vezes durante uma sortida.

Mesmo operando em TO pequenos, as aeronaves de caça têm dificuldades relacionadas com alcance. O TOA é uma situação totalmente adversa do que se observa nos conflitos habituais em relação às distâncias. É possível afirmar com certeza que nenhum país do mundo está preparado para combater em um TO tão grande e cobri-lo, continuamente. Um lado forte da nação brasileira é o gigantismo natural do seu território.

Isso nos leva a crer que, em um conflito no TOA, não haverá muito espaço para operações convencionais, como as que ocorreram nas últimas guerras aéreas. A conquista da superioridade aérea será dificultada por uma  simples questão matemática: não existem aeronaves de longo alcance em quantidade ideal para a missão.

Um avaliação do TOA e dos últimos conflitos pode sugerir o uso preferencial de aeronaves de longo alcance, disponíveis em menores quantidades, como os bombardeiros e lançadores de mísseis cruise. Os meios para conter esse tipo de ameaça são bem mais simples do que os necessários  para conter caças de alto desempenho, como F-15 e F-22.

Estudos americanos de 1999 sobre vulnerabilidade de bases aéreas mostraram que a USAF planeja suar caças táticos em larga escala e isto as colocaria em perido de contra-ataques de mísseis inimigos se os caças estiverem baseados próximos do conflito. Outras análises tiveram conclusões similares e uma contramedida é manter os caças a pelo menos 700km de áreas de lançamento de mísseis conhecidas.

Por outro lado, outros estudos sugeriram a instalação de bases bem próximas ao conflito para aumentar a razão de surtida, diminuir o tempo de reação e a necessidade de aeronaves REVO. O número de surtidas ofensivas diárias no Afeganistão foi cerca de 1/6 de Kosovo em 1999 e Golfo em 1991 (600 surtidas), mas devido a distância, o número de surtidas de REVO foi aproximadamente o mesmo. Para cada saída de combate no Afeganistão havia uma saída de uma aeronave REVO. O número de aeronaves para REVO também podem ser um fator limitador no número de surtidas ofensivas.

No Afeganistão, os F/A-18 Hornet da US Navy eram reabastecido pelos S-3 Viking após decolarem e as vezes antes de pousar. Antes e após entrarem na área do conflito eram reabastecidos por aeronaves VC-10 da RAF. Os Hornet chegavam a realizar até 5 REVOs numa missão de 6 horas de duração. Já o F-14, que leva 9 t de combustível, só era reabastecido antes de pousar ao entrar no circuito de espera.

Os estudos da USAF também favoreceram o uso de grandes bases aéreas conhecidas com infra-estrutura otimizadas para operações de acordo com as características ocidentais. Elas devem estar em países reconhecidamente aliadas.

O curso de ação das operações aéreas realizadas pelo inimigo será determinado pelos alvos e meios disponíveis.

As operações dos EUA/OTAN nos últimos conflitos também mostraram que os alvos principais seriam os centros de comando, liderança, defesa aérea, produção energia, comunicações, produção de armas e transportes.  Esses alvos estão concentrados fora do TOA, ou seja, no Centro Oeste, Sudeste e Sul do Brasil.

Esta seria a área principal a ser defendida, por ser a primeira a ser atacada. Até mesmo no recente conflito contra o Afeganistão, os EUA atacaram esses tipos de alvos, que não têm influência direta sobre o objetivo da Guerra.

O uso de aeronaves de longo alcance será a regra quando os alvos estiverem fora do TOA (mais ao sul) e a defesa será mais fácil nessa situação. A própria Amazônia pode ser considerada um tampão verde que protege o Sul, Sudeste e Centro-Oeste.

As táticas americanas são voltadas para explorar as fraquezas inimigas e aproveitar as próprias  vantagens (coordenação, operações noturnas, furtividade, armas de precisão, mísseis cruise, guerra eletrônica,  UAVs, etc). No TOA, suas vantagens serão pequenas.

O Vietnã é um exemplo de uma guerra onde nem sempre quem tem a superioridade numérica e tecnológica vence uma guerra. Há outros fatores, como o terreno (nos dois casos a selva) e a mobilidade (restrita pelas distâncias).

Os dados acima não consideram as questões mais complicadas como logísticas e disponibilidade de pilotos. Os países da OTAN já tem dificuldade de manter a quantidade necessária de pilotos e terão problemas maiores ainda num conflito prolongado. Um exemplo é o destacamento holandês no conflito em Kosovo. Durante o conflito seus 12 F-16 voavam 600h por semana e cada piloto voava 20 missões num mês e ficava um período na Europa para outras tarefas. Foi calculado que num conflito prolongado o número de pilotos se tornaria insuficiente devido aos desgaste. As aeronaves também teriam disponibilidade diminuída devido a manutenção mais frequênte.
 

Logística - Task Force Hawk

Em março de 1999, os EUA decidiram enviar dois batalhões de helicópteros AH-64 Apache para a zona de combate em Kosovo. O objetivo era aumentar a capacidade de ataque contra blindados e artilharia pois as aeronaves estavam restritas a vôos a média altitude o que limitava sua capacidade de atingir alvos pequenos e móveis.

O deslocamento de bases na Europa foi planejado para durar 10 dias mas durou 17 dias para que os 24 helicópteros chegarem completamente na Albânia.

Os helicópteros eram apoiados por 26 UH-60L Black Hawk e CH-47D, uma companhia de infantaria, um pelotão de lança-foguetes MLRS com 3 lançadores, uma compania anti-carro com 38 HUMVEE armados, um pelotão de inteligência, um pelotão de PE e uma equipe de apoio de combate. Depois foi decidido que os helicópteros deveriam ser acompanhados por uma companhia de infantaria mecanizada com 14 M-2 Bradely, uma companhia blindada com 15 M1-A2, uma bateria de artilharia com 8 peças de 155mm, uma companhia de engenharia de construção, uma bateria antiaérea com 8 Bradley armados com mísseis Stinger, um pelotão de geração de fumaça, um complemento de posto de comando de brigada e outros elementos. No total, para apoiar 24 helicópteros, a Força Tarefa Hawk tinha um contingente de 5.350 homens.

Para comparação, os Fuzileiros americanos deslocaram 24 caças F/A-18D para a Hungria com um apoio muito menor pois o país era um aliado da OTAN.

Inicialmente foi estimado uma necessidade de 200 saídas de aeronaves C-17 mas foram realizadas mais de 500 saídas para transportar 22 mil toneladas de material. O custo total foi de US$254 milhões sendo a maioria relacionada com os vôos dos C-17.

Os Apache não voaram nenhuma missão na operação Allied Force devido as defesas aéreas sérvias que se mantiveram efetivas durante todo o conflito, o exército sérvio estava disperso e o tempo melhorou e permitiu que os A-10 pudessem operar na mesma tarefa.

Os Apache não foram treinados para participar de grandes grupos de ataque. Eles operam sincronizados com tropas em terra em contato com forças amigas. Em Kosovo eles teriam que operar independentemente e procurar seus alvos por si mesmos. Para voar missões em profundidade os Apache teriam que trocar armamentos por tanques extras. Seus rádios também não tinham alcance para poderem operar a longas distâncias.

Na doutrina americanas, os lança-foguetes MRLS dariam apoio aos Apache para supressão de defesas aéreas disparando milhares de submunições para suprimir a artilharia antiaérea e mísseis SAM inimigos. O uso dessas sub-munições foi proibido durante as operações para evitar causar vítimas civis.

Sem o comando do CAOC, os Apaches estariam sem o apoio de meios de comando como o JSTAR, Rivet Joint e EA-6B. Sem a coordenação do CAOC através das ATO, o risco de fratricídio seria aumentado.

A Força Tarefa Hawk teve uso positivo quando a milícia de Kosovo realizou uma contra-ofensiva contra o exército sérvio. Os radares TPQ-36 e TPQ-37 rastreavam a artilharia sérvia e determinavam sua posição. Aeronaves EH-60 e RC-12 Guardrail localizavam o posto de comando dos sérvios. A contraofensiva do KLA forçou os sérvios a concentrarem força e manobrar, a se comunicarem por rádio e disparar sua artilharia e morteiros. Em resposta, os UAV Hunter localizavam as unidades sérvias e passavam os dados para os centros de comando que ordenavam a realização de ataque aéreos.
 

Guerra Terrestre

O conflito do Golfo foi favorável a uma campanha terrestre convencional e o cenário pedia este tipo de intervenção para a retomada do Kuwait. Já os conflitos de Kosovo e Afeganistão não havia necessidade de conquista de território e os terrenos montanhosos eram desfavoráveis. Muitas baixas seriam esperadas por favorecer o exército defensor.

Nos dois últimos conflitos os EUA tiveram o apoio de tropas locais, o KLA em Kosovo e a Aliança do Norte no Afeganistão. As tropas americanas se resumiam a grupos de forças especiais apoiando as tropas e/ou designando alvos para a aviação. A ação destas tropas levou ao contra ataque das tropas inimigas, que tiveram que sair dos seus esconderijos, o que facilitou sua localização e destruição. O KLA e a Aliança do Norte são forças reconhecidamente ligadas ao tráfico de drogas.

No TOA pode ocorrer uma situação semelhante. O terreno não é favoravel a uma invasão em massa e os EUA gostariam de ter forças locais como aliados. Estas forças não existem atualmente mas podem existir no futuro. As ações anti-drogas nos países vizinhos estão empurrando as guerrilhas nos países vizinhos, que tem relação com o tráfego de drogas, para o Brasil. Estas forças podem ser os futuros aliados dos americanos na ofensiva terrestre.
 

Conceitos Doutrinários

Alguns conceitos teóricos que foram usados no texto acima para facilitar o entendimento e orientação:

Os conflitos modernos são conduzidos em três níveis:
- estratégico-militar;
- estratégico-operacional;
- tático.

A estratégia militar é definida como a ciência e a arte de emprego das forças armadas de uma nação ou aliança para assegurar os objetivos políticos pela aplicação, ou ameaça da aplicação, de forças. Ela define basicamente os TO, a manobra estratégica, os grandes objetivos a serem alcançados, além se repartir as forças e alocar os meios.

A estratégia operacional é a arte de conduzir as operações de grandes comandos em um TO, criando as condições para o sucesso das manobras em nível tático e, em princípio, compreende o deslocamento estratégico, a concentração estratégica e a manobra estratégico-operacional.

A tática é a ciência e a arte de conduzir as batalhas mediante as quais se busca alcançar, ao final, os objetivos fixados pela estratégia operacional.

Poder relativo de combate :

(1) Deverá ser buscado, nos níveis estratégico-operacional e tático, o máximo desequilíbrio no poder de combate entre nossas forças e o inimigo, nos locais e momento decisivos.

(2) A manobra estratégico-operacional deverá buscar, por um lado, descoordenar a manobra do inimigo, impedindo-o de concentrar suas forças e, por outro lado, criar para a nossa força, em dado momento e local, as condições favoráveis para a realização da batalha, com significativa superioridade de nosso poder de combate no nível tático.

(3) A apropriada seleção da frente de atuação e a concentração oportuna de nossos meios possibilitarão, no momento desejado, que se obtenha, na ação principal, um poder relativo de combate em proporções superiores a 5 para 1 (respeitada a capacidade da via de acesso), o que é essencial para a rápida decisão da batalha, com o mínimo de perdas para as nossas forças.

Na próxima parte, serão considerados as ameaças futuras e mais detalhes sobre a operações  aéreas dos EUA e aliados.

"O conquistador é sempre um amante da paz. Gostaria de entrar em nossa terra sem oposição". Oto Von Clausewitz. 


SA 05/04/02


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