Processo de Escolha


O Projeto F-X foi concebido com base na Diretriz DMA 400-6 que orienta as ações de planejamento e execução dos principais eventos do ciclo de vida de sistemas e equipamentos de interesse da FAB. O processo se inicia na detecção da necessidade operacional, seu atendimento e pleno emprego e estende-se até a desativação futura do material selecionado.

A Comissão de Avaliação formada por 70 oficiais da FAB adotou um critério abrangente e rigoroso, para atender os altos interesses do País e da FAB. A negociação para compra de novos caças durou dois anos e foi posta de lado após a eleição de 2002 quando o presidente Fernando Henrique deixou a decisão final para o seu sucessor. O Presidente Luís Inácio Lula da Silva paralisou o processo que deve ser decidido em março de 2004.

O processo de escolha tem  vários aspectos analisados baseado em um roteiro de avaliação montado pelo DEPED e COPAC. Após recebida as ofertas dos fornecedores, inicia-se o primeiro ciclo de análise das mesmas, dividido em cinco grupos principais e seus requisitos:


1 - Especificações técnicas

-  O caça deverá executar múltiplas missões (multi-role) e possuir automação e  motorização a reação com pós-combustão e capacidade de operação diurna, noturna e a qualquer tempo, com navegação autônoma, e operação com radar multimodo coerente. Deverá ter condição de fazer ataques nos modos ar-ar, ar-solo e ar-mar e operar com mísseis ar-ar (de curto e médio alcances), ar-solo, ar-mar, bombas e foguetes e sensores externos. Com a necessária adequação, deverá realizar missões de reconhecimento e missões de supressão de defesa. Os requisitos priorizam operações ar-ar em qualquer tempo, com capacidade ar-solo secundária.

- Possibilidade de aquisição de armamentos e diversidade de armamentos. Os armamentos previstos e os que serão integrados não podem ter restrição de fornecimento para o Brasil.

- A aeronave terá de possuir alta disponibilidade, com as falhas ou panes sendo sanadas na pista, por meio de substituição de módulo.  

- Desempenho da aeronave como um todo. O desempenho é baseado em superar a capacidade do Mirage III e F-5E como desempenho de pouso e decolagem, alcance, razão de subida, relação peso/potência, etc.

- Qualidade dos equipamentos e sistemas; A arquitetura dos aviônicos;  

- No caso da substituição dos Mirage o novo avião deverá possuir armamento de médio
alcance, radar de grande alcance e capacidade de reabastecimento em vôo.

- Na parte técnica, considerou-se também a atualização tecnológica, a superação dos requisitos mínimos, e
o atendimento aos itens desejáveis e o atendimento aos itens opcionais.

- Os componentes e acessórios, assim como os equipamentos de apoio de solo, têm que estar totalmente desenvolvidos. Todas as aeronaves serão fornecidas pintadas com as cores e símbolos da FAB.

2 - Apoio Logístico

- Suprimento de peças de reposição

- Publicações técnicas

- Treinamento de pilotos e mecânicos

- Transferência de conhecimentos de manutenção para a indústria brasileira

- Possibilidade de realização de reparos da aeronave no Brasil

- Análise do custo do ciclo de vida das aeronaves.

- Modularidade, modularidade, a confiabilidade, a manutenibilidade, a padronização e o

- Plano de Apoio Logístico Integrado

-  Empresas privadas, nacionais ou estrangeiras, poderão prestar apoio logístico às atividades de manutenção, na forma de Contractor Logistic Support (CLS).


3 - Capacidade Industrial

- Relaciona-se com os níveis de transferência de tecnologia e de software

- Independência tecnológica do ofertante em relação a outros países

- Previsão de atendimento ao cronograma de entrega

- Grau de maturidade e domínio das tecnologias em uso

- Experiência anterior com integração de sistemas de aviônica modernos e capacidade para a execução de grandes projetos.
 
- Envolvimento da indústria nacional, não na fabricação de aeronaves, mas sim na adaptação e no domínio do software embarcado, na fabricação/adaptação dos simuladores, na integração de novos armamentos/sensores, na execução das atividades de manutenção, no fornecimento de peças de reposição e numa possível
fabricação conjunta dos armamentos.

- Obsolência da aeronave


4 - Área Comercial

- Preço total do contrato para aquisição de um lote mínimo de 12 aeronaves, na proporção de 8 modelos monoposto e 4  biposto, com suporte logístico e outros itens considerados necessários

- Serão foram considerados os preços discriminados nas respectivas planilhas, as condições de pagamento e a oferta para o Acordo de Compensação.
 

5 - Offset (compensação)

- Geração de empregos no país e equilibrar a balança comercial equilibrar e beneficiar a indústria brasileira. A vencedora do processo poderá ainda adquirir produtos ou serviços da indústria brasileira e fornecer outras formas de compensação industrial, comercial ou tecnológica (offset) à indústria brasileira e agências
privadas e governamentais. No caso do F-X, ficou estabelecido, como exigência de offset, um mínimo de 100% do valor a ser contratado.

- Investimentos no Brasil junto ao parque industrial brasileiro. Os Offsets e transferencia de tecnologia devem priorizar a indústria aeronáutica.

- Nível de transferência de tecnologia

- Os setores da compensação previstos para o F-X BR são, pela ordem, o Comando da Aeronáutica, a indústria brasileira, instituições de ensino e pesquisa de alta tecnologia, indústria de alta tecnologia em geral e outros.

- As preferências são investimentos, transferência de tecnologia, suporte técnico e cooperação em treinamento com empresas e instituições brasileiras; produção de componentes, subconjuntos e equipamentos por indústrias brasileiras, com transferência de tecnologia e suporte técnico/treinamento; contratação de serviços com empresas brasileiras e instituições privadas ou governamentais; e transferência de tecnologia, suporte técnico, treinamento, atividades de cooperação científicas e educacionais relacionadas com empresas brasileiras e instituições privadas ou governamentais, para o incremento da capacidade tecnológica, comercial e industrial do país.

- A principal prioridade é o de permitir o máximo de autonomia nacional e capacidade para a operação e a manutenção das aeronaves e para executar suas futuras atualizações, bem como aperfeiçoar a autonomia e a capacidade do país em todas as áreas da tecnologia e do conhecimento.

- A configuração básica (aviônicos e armas) determinará as contrapartidas tecnológicas que incluem investimentos, transferência de tecnologia, suporte técnico e cooperação de treinamento para ter autonomia de apoio logístico, produção de sub-compontentes e equipamentos na indústria brasileira.

Um resumo de documentos reservados da Aeronáutica mostra que a transferência de tecnologias de equipamentos do caça a ser adquirido poderá garantir que uma proposta tenha sua pontuação multiplicada por até dez vezes. O multiplicador mais baixo é a oferta de compra de produtos brasileiros, sejam eles quais forem. O multiplicador atribuído a esse tipo de oferta é um.

Entre as contraparditas comerciais, a Sukhoi (Su-35) ofereceu comprar US$ 1,4 bilhão em gêneros agrícolas brasileiros. A Saab (Gripen) irá comercializar US$ 2,1 bilhões em produtos brasileiros de alta tecnologia, mas inclui produtos com muitos componentes importados e com saldo positivo bem menor. A RSK (MiG-29) ofereceu uma contrapartida comercial de US$ 1 bilhão. A proposta do Embraer (Mirage 2000) e da Lockheed (F-16) não incluem contrapartidas comerciais. A proposta do F-16 foi a única a não abrir a totalidade dos códigos fontes dos programas do computador de bordo. 


O modelo do Flanker oferecido para o Programa FX é o Su-35 junto com o modelo biposto Su-35UB. A aeronaves também concorreu no Programa FX da Coréia do Sul e Singapura. A aeronave é equipada com TVC e radar de varredura eletrônica. A aeronave satisfez 75% dos requisitos técnicos e superou os outros 25%. A oferta de contrapartidas dos russos foram as melhores. A compra de produtos agrícolas significa a criação de empregos por ser uma atividade econômica mão-de-obra intensiva.

A proposta americana inclui ajuda militar e sem Off-sets. Caso o F-16 seja escolhido haveria a transferência gratuita do seguinte material militar: 130 tanques M-1 Abrams e veículos de socorro especializados; um número ainda indefinido de blindados M-2 Bradley; 32 obuseiros autopropulsados M-109 para equipar mais um grupo de artilharia; material de comunicações; quatro fragatas FFG-7 armadas com os mísseis Harpoon e Standard SM-2; Dois NDD; 16 caças F-16ADF com entrega em menos de um ano e armados com o AIM-9L Sidewinder; 6 C-130H e 2 KC-135. Também existe a possibilidade de substituir, no futuro, os F-5 com versões mais antigas do F-16C/D, bastando a compra de um pacote de modernização de meia vida e suporte técnico da Lockheed. Também foi proposto uma reforma na catapulta do A-12 São Paulo para permitir o lançamento dos F/A-18C/D Hornet, que estarão disponíveis em grande número daqui há 2 anos. Os equipamentos também só poderão ser usados para defesa e dentro do território nacional.


Análise Técnica

No processo de seleção a FAB se baseia em uma sequência de ofertas e análises sucessivas, conhecida como Competição tipo BAFO (Best and Final Offer - melhor oferta final).

As análises segue um padrão qualitativo e quantitativa. Os diversos serviços, sistemas e fornecimentos são separados por categoria, devendo receber graus numéricos em diversos atributos previamente especificados. As médias ponderadas irão indicar a pontuação recebida pelos participantes em cada área, bem como seu resultado final.

Após o primeiro ciclo de análises é realizado a Reunião Face to Face (face a face ou cara a cara), para minimizar qualquer risco de dúvidas, onde a Comissão de Seleção discute com cada empresa suas Ofertas Iniciais onde são clarificados vários aspectos, confrontando as equipes de análise com os técnicos de cada empresa.

Na avaliação técnica foram realizados vôos de avaliação e visitas técnicas às empresas participantes.

Após a Reunião Face to Face, das visitas técnicas e dos vôos de avaliação, são emitidas Instruções para a Elaboração das Ofertas Revisadas.

As empresas entregam suas Ofertas Revisadas que são seguidas de um novo ciclo de análises e de novas instruções para viabilizar um conhecimento completo das reais potencialidades dos participantes.

Finalmente, a Comissão de Seleção reúne-se em separado para que seja entregue a última e definitiva oferta (BAFO).

Ao término do ciclo de apresentação das BAFO por todas as empresas participantes, a Comissão as reúne e procede a abertura das Melhores Ofertas Finais, diante dos seus representantes, garantindo que não houve quebra de sigilo. A partir daí, o ciclo final de análise tem início. Os resultados são compilados na forma de relatório conclusivo do processo de seleção e encaminhados ao Alto-Comando da Aeronáutica para análise e pertinentes decisões.

O Processo de Atualização Tecnológica da FAB cumpre padrões e metodologias consagradas e claramente compreendidas pelas empresas participantes, nacionais e internacionais, busca assegurar a manutenção da capacidade operacional da Força Aérea Brasileira, que se reveste de especial relevância estratégica para o Brasil

O programa de ensaio das aeronaves do Projeto F-X incluiu testes no solo, em hangar, em modelo biposto. Cada ofertante disponibilizou os sistemas da aeronave e respondeu aos questionamentos da equipe de ensaio brasileira. Foram feitas avaliações em simulador de vôo e em vôo real (cinco horas, com uma hora de duração para cada vôo), realizados por pilotos de prova da FAB, junto de piloto de prova de cada ofertante. Da aeronave de suporte ("paquera"), um engenheiro brasileiro acompanhou os testes em vôo. Com maior ou menor grau de eficiência técnico-operacional, todas as aeronaves avaliadas atenderam os requisitos e foram classificadas para a segunda fase.

Na etapa de negociação contratual serão feitos novos ensaios em vôo, em duas aeronaves (biposto e monoposto), em mais 10 horas de vôo (monoposto), para levantamento de dados, e 5 horas na aeronave suporte. Esses vôos serão realizados por pilotos da FAB, na versão monoposto. Por razões de segurança, o modelo biposto será voado por um piloto de prova da ofertante, acompanhado de um piloto brasileiro.

Os direitos de propriedade e "copyrights" dos serviços técnicos de engenharia e softwares desenvolvidos e produzidos para o F-X no âmbito do contrato, pertencerão ao governo brasileiro. Cada ofertante deverá atestar que os fornecedores de sistemas e tecnologias e seus respectivos governos não apresentam limitações ou restrições para a exportação para o Brasil dos equipamentos, dos armamentos e software usados na aeronave a ser adquirida. Em caso de limitações ou restrições, a ofertante terá de obter a licença de exportação necessária. Se a licença de exportação ou de uso não for fornecida ou, após ter sido liberada vier a ser revogada, a ofertante terá de administrar e executar as atualizações ou modificações de projeto ou engenharia, assim como realizar a pesquisa para a integração de outro sistema ou equipamento equivalente para substituir aquele cuja licença tenha sido cancelada. Nesta hipótese, o custo diretamente associado será de total responsabilidade da ofertante.

Antes da entrega oficial das propostas, cada ofertante ainda prestará esclarecimentos para a comissão técnica da Aeronáutica, formada por oficiais da COPAC e do CTA, sobre o detalhamento de sua proposta, incluindo as alterações introduzidas.

As propostas não selecionadas podem voltar a ser consideradas, em caso de impossibilidade de concretização do contrato, devido a fatores como a ocorrência de impasse nas negociações. As condições ofertadas estarão, ainda, sujeitas à negociação de detalhamento, visando à elaboração da Ata de Acordo. O processo de seleção se encerrará com a assinatura do contrato, mas, caso a obtenção do financiamento não se concretize, por questões relacionadas com o conteúdo da oferta, ou relacionadas com a ofertante ou com suas subcontratadas, o governo poderá convocar a segunda colocada no processo.

O processo de seleção vem sendo executado por meio de verificação do grau de atendimento às instruções e aos requisitos estipulados e da comparação de todos os fatores entre si, levando em consideração os aspectos técnicos, logísticos, comerciais, industrial, risco, qualificação, qualidade da documentação e avaliação estratégica. Seria pura especulação dizer qual oferta de aeronave foi a melhor ou a pior, pois os resultados finais das avaliações permanecem guardados a sete chaves.

A proposta do MiG-29 nunca convenceu e parece só estar concorrendo para manter as aparências. A última proposta da RAC-Mig foi oferecer o MiG-29MRCA.

Prazos

O Projeto F-X foi concebido para ser implantado no menor prazo possível, porém seu cronograma está atrasado em mais de cinco anos. O COPAC planejou emitir o IRI em 1995/1996 com o RFP terminado em 1998. O anúncio do concorrente vencedor seria entre 1999 e 2000. O primeiro exemplar deveria ser entregue entre 2002/2003, ou 48 meses contados a partir da assinatura do contrato. Todos os caças deveriam ser entregues antes de 2005 na época da retirada de serviço do Mirage III.

Em 2001, com o lançamento do RFP, era esperado que a escolha se desse em até o início de 2002 com a assinatura do contrato comercial em junho de 2002.

Devido a questões políticas a decisão final do Projeto FX foi passada pelo Presidente Fernando Henrique para o seu substituto. O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou no início de 2003 o adiamento da decisão sobre o Projeto FX para 2004. O objetivo seria utilizar os recursos de US$760 milhões, que virão de empréstimos internacionais e devem demorar 2 anos para serem aprovados, no programa de combate à fome. Também pretende reexaminar as propostas dos concorrentes.

Assim, em 2002, a FAB percebeu que o primeiro exemplar do novo caça só deve chegar a partir de 2007. Com isto, foi estudado o uso de um caça provisório para substituir o Mirage III até chegar todos os FX.


Caça Provisório

A FAB estudou várias propostas de caças temporário para cobrir o espaço entre a saída de operação do Mirage III e o FX. A primeira proposta foi o leasing de 12 caças Kfir C-10 israelense. O custo era de US$91,6 milhões por 48 meses, 5 anos ou 10 anos (depende da fonte). O Kfir tinha a vantagem de ser de fácil transição por ter características de pilotagem bem parecidas com o Mirage III e por isso 4 Mirage IIID bipostos serão mantidos para treinamento.

A VEM (Varig Engenharia e Manutenção) propôs à FAB a compra de 18 caças F-16 holandeses por US$120 milhões.

Os russos fizeram uma proposta de venda de 12 caças Sukhoi Su-27SK por US$190 milhões pagos em cinco anos. Após três anos a FAB poderá deduzir o valor pago (buy back) como crédito para a compra dos Su-35 que concorre no Projeto FX. A desvalorização pode chegar a 50% com um custo de US$ 90 milhões. Os 12 caças seriam entregues 60 dias após assinatura do contrato.

Ainda em 2002 o Su-35 foi oferecido com prazo de entrega de 33 meses e não os 48 pedidos pelo edital com a possibilidade de eliminar o vazio de 2 anos para entre a entrega e a desativação dos Mirage III, tornando a proposta de usar um caça temporário desnecessária.

A Dassault propôs manter os Mirage III em operação por US$20 milhões.


A África do Sul fez uma proposta de arrendamento de caças Cheetah.

O Kfir C-10 é uma versão do Mirage com nova turbina e aviônicos atualizados assim como o Cheetah.

Reinicio

O Projeto FX foi retomado em outubro de 2003 com o recebimento das propostas atualizadas. As empresas poderão incluir nas ofertas novos sistemas e tecnologias que conheceram nos últimos dois anos. As empresas interessadas terão 60 dias para entregar o documento a partir de agosto. O governo deve determinar o vencedor em março de 2004. O Presidente Lula tomará a decisão em sessão específica do Conselho de Defesa Nacional (CDN).

Nas propostas mais atuais há uma oferta dos franceses de manter o Mirage III voando por mais tempo e os russos oferecem o Su-27 até que a entrega do Su-35 se efetive. Os suecos têm a solução do Gripen JAS-39A estocados.


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