Defesas Aéreas Contra
Aeronaves Furtivas
Até hoje só os Sérvios conseguiram engajar
aeronaves furtivas com sucesso.
Sendo muito mais bem treinados e capazes que os iraquianos, eles
colocaram em
prática o que existe no estado de arte sobre táticas de
defesa aérea, mesmo com
limitações de recursos e dificuldade de conseguir
peças de reposição.
A
História do F-117A Nighthawk Derrubado
O
F-117 não é totalmente invisível ao radar. Apesar
de ter um RCS de reflexão
estática do tamanho de excremento de pássaro, se ele se
aproximar de um radar
acabará sendo detectado, mas a curta distância.
Ele
pode ser detectado por sistemas de radar de vigilância, que
operam na banda D/E
(banda L), mas é mais difícil de ser detectado pelos
radares de acompanhamento
e controle de tiro operando na frequências maiores na banda I/J
(banda X).
Os
radares de vigilância mostram uma visão geral da
área ao redor do operador e
indicam onde os radares de rastreio devem ser apontados para guiarem
mísseis e
canhões. Então, o F-117 pode ser visto pelos radares de
vigilância, mas é um
péssimo alvo para os radares de acompanhamento. O operador pode
ver o alvo, mas
terá dificuldade de trancar seu radar de rastreio e conseguir
destruir o alvo.
Com
uma combinação de táticas inteligentes, bom senso,
habilidade do operador,
aprendizado rápido e sorte, os iugoslavos conseguiram derrubar o
F-117A Nighthawk #82-806, apelidado
de "Something Wicked", com codinome
VEGA-31, com um sistema de mísseis da década de 1960.
Operado
a partir da base aérea de Aviano na Itália, os F-117
voavam missões ofensivas
noturnas à média altitude entre 5 e 8 mil metros.
É perto o suficiente para
lançar bombas com precisão, mas fica no alcance da
maioria dos mísseis
antiaéreos da Iugoslávia.
Na
quarta noite da guerra de Kosovo, em 27 de março de 1999, por
volta das 20:15,
um F-117 estava voltando para a base, após lançar pelo
menos uma bomba de 900kg
guiada a laser em um alvo bem defendido em Belgrado. Repentinamente, um
míssil
antiaéreo Neva-M (SA-3 Goa) voando a três vezes a
velocidade do som, com
alcance de 25km, e guiado por uma rede improvisada de radares explodiu
a poucos
metros da aeronave, fazendo-a mergulhar. O disparo foi a cerca de 13km.
A ogiva
de 60 kg foi projetada para detonar a 7 m do alvo. O piloto ejetou logo
depois
de sentir uma força de gravidade negativa de até 5G's,
próximo à vila de
Brudjanovici, a 70 km de Belgrado.
Os
iugoslavos atingiram o F-117 com uma bateria de mísseis do
Terceiro Batalhão da
250a Brigada de Mísseis (250. Raketna Brigada PVO - JRViPVO). Os
mísseis
SA-3 tem nomes de mulheres escritos na fuselagem e os Tanja, Ivana e
Natalija
foram reconhecidos como disparados. Este
batalhão
conseguiu danificar outro F-117A no dia primeiro de maio de 1999.
Em um
documentário para de uma estação de TV da
Sérvia em 2000, o Coronel Zoltan
Dani, comandante do batalhão na época, disse que o alvo
foi detectado numa
azimute de 195 graus. A sequência foi automática como
treinado e o engajamento
durou menos de 18 segundos.
A
terceira
bateria fazia controle de emissões para sobreviver e usava
radares P-18 VHF de
modo mais liberal por ser imune aos mísseis HARM e ALARM da
coalizão sendo o
principal recurso para operar. Faziam comunicações
até com mensageiros a
pé. A bateria tinha quatro lançadores quádruplos e
mudava muito de lugar. Rodou
cerca de 100 mil km em 78 dias.
Radares
franceses, russos e chineses de baixa freqüência e o E-2C
Hawkeye podem
acompanhar o F-117 a distâncias de até 180km. Os
sérvios tinham radares de
baixa freqüência Spoon Rest e Tall King modernizados. A Royal Navy detectou
F-117 a cerca de 100km com radares navais da década de 1960
durante a Guerra do
Golfo em 1991 assim como os radares franceses operados pelo
Iraque.
O
VEGA-31 cometeu erros básicos, como voar na mesma rota
várias vezes, dia após
dia, seguindo rotas de outros F-117 e tornando seu caminho
previsível. Três
radares de alerta antecipado / vigilância de
fabricação russa P-12 (Spoonrest)
que trabalham em baixa frequência (147-161 MHz) foram deixados
intactos e
plotaram o vôo do F117.
Os
três radares trabalhavam em uníssono para triangular a
posição do caça. Os iugoslavos
usaram computadores para rastrearem o fraco sussurro de retorno de
radar do
F-117. Não se sabe como conseguiram determinar a altitude da
aeronave e os
mísseis podem até ter sido disparados, balisticamente,
sem controle nenhum após
o disparo.
Os
iugoslavos moveram baterias de SA-3 para o local certo e usaram uma
combinação
ideal de radar e guiamento ótico para lançar quatro
mísseis contra o F-117. O
SA-3 modernizado localmente não foi lançado de modo
normal, usando seu radar
para fazer pontaria, para evitar mísseis
anti-radiação.
Em
1998, a empresa iugoslava SDPR anunciou uma modernização
do S-125-Pechora
(SA-3) e do 2K12 Kvadrat (SA-6). A modernização
incluía a adição de câmeras de
imagem térmica e telêmetros laser no sistema de controle
de disparo do S-125
para o míssil ser lançado sem a aquisição
inicial com o radar RSN-125 (Low
Blow). Dados podem ser alimentados no sistema por outros radares.
Existem
suspeitas que os franceses tenham passado informações
sobre o horário de saídas
e alvos dos ataques aliados e o mesmo podia ser feito com um observador
na
cabeceira da pista, o que torna relativamente fácil prever o
horário de
passagem das aeronaves.
Agentes
na Itália podem ter visto o F-117 decolar, fazendo prever o
tempo em que
chegaria a Belgrado. Com essas informações, os operadores
de radar saberiam
quando e onde procurar a aeronave. Vários pilotos informaram que
os Sérvios
lançaram salvas de mísseis sem guiamento (2/3 do total de
mísseis lançados eram
balísticos), sugerindo que usavam táticas com dados de
guiamento mínimos para
lançar mísseis.
O
Vega-31 também tinha lançado uma bomba guiada a laser
próximo de Belgrado há
pouco tempo e as defesas estavam alerta. Existem suspeitas que o F-117
possa
ter voado abaixo de 3.000m e ser atingido pela artilharia
antiaérea. Outra
falha foi a incapacidade dos RC-135 Rivet Joint de reconhecimento
eletrônico de
detectarem emissões de radar na região.
Também
havia escolta de F-16CJ de supressão de defesa próximos,
mas eles foram desviados
para combater outra ameaça. Eles poderiam ter dissuadido os
sérvios a ligarem
seus radares. OS EA-6B estavam operando muito longe da região e
(mais de 150km)
e não puderam interferir nos radares com eficiência, seja
pela baixa potência
das interferências ou por mau alinhamento com a ameaça.
As
nuvens densas daquela noite podem ter tido um papel importante ao fazer
o jato
negro mostrar sua silhueta contra o céu cinza a partir do brilho
do fogo
antiaéreo no solo.
Nas
guerras passadas, as luzes da cidade eram apagadas durante um
bombardeio
noturno. Agora elas podem ser fonte de luz para detecção
de aeronaves furtivas
que, de qualquer forma, podem enxergar facilmente a noite.
Também
existem suspeitas que os chineses estavam ajudando os iugoslavos com um
sistema
PCL que estaria instalado na embaixada chinesa. Este pode ter sido um
dos
motivos para o ataque por engano da embaixada. Estações
de TV e rádio em
Belgrado foram atacados pelo mesmo motivo. Os ataques as centrais
elétricas
também tinham o objetivo de cegar os iluminadores.
O
F-117 tem um histórico de cerca de 2.100 surtidas de combate com
uma única
perda. Com uma taxa de perda de 0,047 % ele está bem abaixo das
perdas de
outras aeronaves no Golfo e no Kosovo, e se for considerado que
só voa contra
alvos muito bem defendidos as estatísticas têm um sentido
ainda melhor.
Buracos
na
estrutura dos destroços mostrava que ouve uma explosão
próxima. Outro F-117 foi
danificado por outro míssil. Mais de 5-10 aeronaves da OTAN
foram atingidas com
outro F-16 derrubado. Os Sérvios dispararam cerca de 600
mísseis SAM com um
"kill rate" de 0,3% (2 aeronaves com 600 disparos) sendo que a OTAN
teve um total de atrito de 0,01% com duas perdas em 20 mil
saídas.
Conclusão
A redução do RCS de aeronaves furtivas é difícil de conter. Melhorias nos radares devem demorar muito para alcançar o desempenho necessário contra aeronaves convencionais e para igualá-los contra aeronaves furtivas. Ganhar o jogo do radar permanecerá o centro das operações do futuro. Uma aeronave furtiva pode até ser detectada mas, dificilmente, será rastreada e o inimigo terá muito pouco tempo para conseguir disparar suas armas.
As ameaças da defesa aérea têm aumentado no século XX e permanecerá assim no século XXI. Devido às suas peculiaridades, a tecnologia furtiva poderá perder a briga da detecção, mas podem ganhar a briga da aquisição e pontaria final.
As novas tecnologias antifurtivas podem fazer as aeronaves furtivas usarem novos projetos ou táticas de evitamento de ameaça e mascaramento do terreno. Assim como aparece uma contramedida para cada ação do inimigo, logo aparece a contra-contramedida. As armas anti-radares podem fazer parte permanente do armamento e os radares de vigilância seriam a prioridade nos primeiros dias de uma campanha aérea.
A tecnologia furtiva também não é o único meio de escapar às defesas aéreas inimigas. O avião espião SR-71 usava velocidade, altitude e furtividade para ter capacidade de sobrevivência maior que o B-2.
De qualquer
forma, os sistemas
antifurtivos,
principalmente, se usados em conjunto, estão demonstrando serem
uma ameaça séria à tecnologia furtiva atual.
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