Técnicas da Forma

É possível mudar a forma de um navio, avião ou míssil para que a maior parte da reflexão do radar vá a uma direção diferente do radar que emitiu. Estas técnicas de forma são extremamente efetivas contra radares monoestáticos, com o transmissor e receptor na mesma antena, e com radares de comprimento de onda centimétricas (banda S a Ku).

Radares multiestáticos, de baixa freqüência (HF) e microonda (MW), são pouco usados, ou de curto alcance. A maioria dos radares de busca e guiamento usa banda centimétrica. Se usar um radar HF para detecção, vai precisar de um radar de banda centimetrica para atacar

Para que as técnicas de forma sejam efetivas, a configuração da plataforma deve ser modificada de acordo com os princípios da geometria ótica. Uma reflexão deve ser desviada para uma região sem importância do espaço (e não de volta para o radar emissor). O projeto de um navio deve evitar superfícies planas, cilíndricas, parabólicas ou cônicas em direção normal a direção do radar iluminador. Estas formas tendem a concentrar a energia e fornece um grande retorno de radar. O projeto deve incluir o uso de superfícies inclinadas duplamente que resultam em uma pequena seção transversal de radar.


O DD-51 tem um conjunto de 200 mil polígonos básicos junto com 250 mil seqüências de reflexos. Programa para analisar e calcular assinatura radar de formas complexas. O controle da forma precisa do uso de computadores poderosos capazes de simular o retorno  de uma forma. A vantagem das técnicas de forma é que o objeto de forma furtiva não precisa ser feito de material especial. Ruído nas partes altas podem causar boa reflexão de radar e mesmo forma furtiva simples pode não ser adequada se bem planejada.

Pesquisas realizadas tem mostrado que o potencial de redução do retorno de radar será linear acima de uma inclinação de 7 graus em relação a linha de visão do radar alvo, com uma taxa de benefício menor acumulada a inclinações maiores. Devido ao efeito das ondas, a inclinação deve também incluir uma margem para o balanço do casco.

O RCS de um ponto de vista de 10-30 graus não deve ser maior que 60-70m2 das bochechas e 10-15m2 da proa. A maioria das fragatas da década de 80-90 tem RCS de 500-700 m2.

O ângulo exterior do costado face à superfície marítima que tem que ser superior a 90º de forma a deflectir as ondas radar não absorvidas para cima. Reflexo na superfície pode aumentar a energia refletiva com trilha múltipla.

O ângulo entre o horizonte e a ângulo de inclinação da linha de visada do radar a partir do navio depende do alcance e altitude do radar em relação ao navio alvo. A grandes altitudes e alcances relativamente curtos, o ângulo da linha de visada do navio ao radar da aeronave ou míssil pode atingir 15-75 graus acima do horizonte. Para comparação, para um radar AWACS detectar um navio no alcance máximo ao horizonte radar, o ângulo da linha de visão será de 1,5-3 graus.

Os estudos sobre aplicação das técnicas de controle da forma em navios mostraram que as superfícies externas de um navio devem ser inclinadas em 9-10 graus no casco e 15 graus na superestrutura. Assim, o ângulo de inclinação das faces do navio pode ser de 12-15 graus para dar uma diminuição do RCS adequada contra radares de navios de superfície, mísseis ou aeronaves a baixa altitude e aeronaves a grande altitude e grandes distâncias, mais uma margem para o balanço do navio. Uma inclinação menor das faces do navio produzirá uma assinatura inadequada e pouca compensação a movimentação do navio. 

Outros estudos mostram que a forma da superestrutura que deve ter um ângulo similar ao do costado e deve ainda ser o mais baixa possível. Também deve ter a forma simplificada ao máximo como a classe La Fayette ou Sea Shadow.


O balanço do mar pode atrapalhar as técnicas furtivas em navios. As vezes estrutura fica próximo da vertical e cria um refletor de canto com água. Os protótipos do DDX da Grumman tem casco para dentro.


O Sea Shadow da Lockheed é um catamarã com lados para dentro. A inclinação é muito grande, mas a conseqüência é ter pouco espaço no convés para usar. Grandes ângulos de facetamento são geralmente impraticáveis para serem usados nos navios militares, apesar de desejáveis.

Também é importante evitar os cantos de grande angulação, como os característicos das superestruturas dos navios de guerra atuais. A interseção entre as partes longitudinais e transversais deve ser plana para prevenir a interseção de ângulos altos, mesmo nos navios com formas facetadas e tombadas. As junções de 90 graus formam um refletor potente ao produzirem reflexos múltiplos.

Um problema é que o RCS não pode ser reduzido em todas as direções. O RCS depende do aspecto apresentado ao radar, pois sempre existirá aspectos onde a reflexão é muito alta, com regiões de alta e baixa prioridade para diminuir o RCS.

Uma aeronave geralmente tem baixo RCS para frente e muito grande de baixo ou de cima. O navio deve se movimentar considerando estes pontos de grande RCS que devem ser escondidos dos radares inimigos. O ESM/MAGE fornece os dados necessários. O radar ameaça nunca deve ver uma superfície plana na direção normal.


A La Fayette emprega uma antenas de radar rotativo convencionais de grande assinatura (em oposição aos mais desejáveis radares planos multifuncionais) e lança-mísseis de defesa de ponto de grande assinatura. O radar principal tem lados com planos inclinados. O radar gira e aponta os planos em direção a ameaça quando não está em uso para diminuir a assinatura. Outras técnicas para diminuir o RCS de radares são o uso de cobertura seletiva a freqüência e radares de varredura eletrônica. Quando o radar emite estes detalhes perdem a importância pois emitindo não é furtivo. A La Fayette usa uma cortina de malha de metal na para diminuir o RCS da baleeira. A estrutura é contínua e não forma canto. Se possível, a superestrutura deve ser dividida para evitar um só centro de alvo (centróide). Duas estruturas também é considerado melhor para responder as forças de torção no navio.


Detalhes

Os detalhes passam a ser importantes após se ter à forma geral furtiva de uma plataforma. Um RCS pode ser grande se a plataforma tiver muitas partes não furtivas. Assim, também será necessário reduzir a reflexão de mastros, antenas, estações, fios, escadas, cantos e cano de canhão. As janelas devem ser cobertas com malhas metálicas para evitar que ondas radar entrem e saiam. Os principais elementos radiantes que devem ser evitados são os cantos quadrados, diedros e triedos, e elementos múltiplos que se reforçam.


Algumas protusões no convés são inevitáveis como o cano do canhão. O canhão da Visby esconde o cano. Em outros navios ele deve ser coberto com RAM. O canhão AGS de 155mm do DDX pode ser escondido (foto).

A tripulação também reflete e evitam ficar no convés com em um submarino. Em combate não é problema pois estão em suas estações de combate.

Os atuais mastros de tripé e treliça são também inaceitáveis. A redução da assinatura radar no arco frontal precisa do uso de um corta onda do tipo proa "cut-away". Contudo isto pode significar piora na navegabilidade.


Como ilustrado pelo projeto inicial do destróier da classe DDG 51, as formas das partes altas podem ser sem sentido se não forem tomadas precauções para controlar o efeito de outros refletores: postes de amarras, âncora, cercas, corrimões, fechaduras de compartimentos, escadas, plataformas de serviço, vigias e janelas de pilotagem, luzes de navegação, antenas e armas, qualquer uma pode comprometer o projeto de redução da assinatura.

Banda

Outro problema é o quanto se quer diminuir na assinatura radar e contra qual banda. A furtividade tem limites nas extremidades do espectro radar. Ondas longas dos radares de baixa freqüência (HF) são difíceis de contrapor e todo objeto do tamanho adequado reflete como uma antena. Por outro lado, os radares métricos são pouco efetivos, principalmente para guiar mísseis.

Plataformas inclinadas como o Sea Shadow não dá tanta redução do RCS como esperado contra freqüências mais baixas (HF). O casco é principal fonte. O tamanho das estruturas não é tão pequeno
em relação ao comprimento de ondas do radar de busca. Material absorvente de radar passa a ser a opção para diminuir o RCS.

A banda de freqüência de 3-10MHz não responde as técnicas de diminuição do RCS com forma. Enquanto o RCS de um navio auxiliar a 3GHZ  pode chegar a 10.000m2, na freqüência de 10MHz será de 100m2 e não pode ser reduzido.

Na década de 80, a Marconi testou um radar HF Surface Wave no mar. O radar foi capaz de detectar navios além do horizonte a uma distância de 300km e aeronaves a 400km. Eram efetivos contra aeronaves furtivas, mas não teve sucesso comercial. Suspeita-se que tenha sido usado nas Malvinas para substituir aeronaves AEW, mas parece que não foram efetivos. Modelos semelhantes são usados para defesa costeira no Canadá. A US Navy testou em navios em 1998 e mostrou precisar de muito potencia dos processadores.

A banda de freqüência milimétrica também não responde as técnicas de forma. Porém, está banda tem curto alcance e seria mais usada para radares de controle de tiro de mísseis.


Custos

Os princípios da tecnologia furtiva podem estar em conflito com outros requerimentos de engenharia importantes para o projeto da forma do navio ou aeronave, resultando num aumento do custo e desenvolvimento lento.

A fragata francesa da classe LaFayette usa um castelo fechado para fornecer uma área externa livre, desprovida de instalações geradoras de assinatura. Mas isto aumenta o peso, aumenta o centro de gravidade do navio e aumenta a área de perfil.

O projeto dos navios do passado tem mostrado que a forma do casco e superestruturas para terem uma redução moderada na assinatura de radar tem pouco impacto no tamanho e custo do navio. Contudo, o aumento do custo dos navios e redução da RCS está aumentando consideravelmente em relação ao projeto de similares convencionais, devido a necessidade de testes de engenharia e projeto e requerimentos de instalações de casco não convencionais, RAM e coberturas.

Um navio dura muito tempo e a furtividade não pode ser mudada facilmente. O desgaste provocado pelo ambiente deve diminuir as características furtivas progressivamente.

Um navio muito furtivo como o Sea Shadow tem pouco flutuabilidade com mais coisas internas. A parte alta terá menor flutuação. Se sofre danos debaixo dagua terá pouca margem para parte que afunda.


As ondas produzem deformações no casco, deixando o desenho dos cavernames a vista. A futura fragata de defesa aérea Type 45 britânica já virá com estas deformações feitas de forma controlada.


O casco da Visby é extremamente plano para dar um bom controle dos reflexos de radar. Um casco convencional com cavername amassado resulta em reflexos descontrolados que facilitem a detecção.


Seção frontal da fragata K-130 da Alemanha mostrando forma em X do casco. Cálculos e testes da Blohm+Voss mostrou que forma em X especificas diminuem o RCS significativamente. Está técnica está em uso na  usada na fragata MEKO A-100 Meko da Africa do Sul. Os estudos espanhóis mostraram que o desenho em X da MEKO 200 não é bom para refletir eco do mar. O melhor é o V invertido como o do Sea Shadow.


A história da Visby iniciou em 1985 quando a FMV iniciou estudos de furtividade em navios. A Suécia já tinha
realizado estudos de diminuição da assinatura IR na década de 70. Os estudos posteriores incluem simulações,
jogos de guerra e testes em campo com o navio Smige.


C
orveta israelense Saar 5 disparando um torpedo. Os tubos de torpedos ficam escondidos, mas o tripulante no convés está aumentando o RCS do navio.


Marterial Absorvente de Radar

Basicamente existem 4 métodos de redução da assinatura com material antiradar:

- Coberturas RAM (radar absorbent material - material absorvente de radar)

- Estruturas RAS (radar absorbing structure - estrutura absorvente de radar)

- Tintas RAP (radar absorbing paint - tinta absorvente de radar)

- Compostos de carbono CFC (carbon fiber composites - composto de fibras de carbono)

Os materiais absorventes de radar são usados para diminuir RCS de plataformas de forma não furtiva ou para freqüências que as técnicas da forma não cobrem (HF e microonda) em plataformas furtivas. As freqüências de 6-18 GHz cobrem os radares de mísseis. No futuro o material absorvente de radar deve cobrir a até a freqüência de 98GHz.

Os materiais absorventes de radar cobrem freqüência limitada. A cobertura do F-117 pode ser trocada e acordo com a freqüência do radar inimigo esperado, geralmente de vigilância ou iluminação de alvo.

O uso de material absorvente de radar para uso naval é bem antigo. Os alemães usaram tinta absorvente de radar nos periscópios dos seus U-boat durante a Segunda Guerra Mundial. Vários países da OTAN aplicavam material absorvente de radar em fragatas na década de 80 com ótimos resultados. O programa Outlaw Bandit foi desenvolvido pela US Navy para equipar as escoltas Spruance e Perry diminuindo em muito o RCS em algumas bandas de radar. A URSS usava um RAM próprio. Em 1991, durante a Guerra do Golfo, as marinhas da Austrália e Reino Unido usaram RAM em seus navios deslocados para o golfo que tinham um RCS sensivelmente menor.

O uso de material absorvente pode ser feito em novas plataformas e em navios já existentes. O uso de material absorvente de radar é a escolha óbvia caso não seja possível modificar a estrutura de plataformas já existente.

Os RAM dividem-se em 2 grupos: os dielétricos e os magnéticos.

Os RAM dielétricos são baseadas em plásticos de alta constante dielétrica. Usam materiais como o carbono ou grafite para alterar as propriedades elétricas do material. O RAM deste material é muito espesso e pesado. Precisa de muita manutenção.

Os RAM magnéticos usam material ferromagnético como o ferro carbônico e óxidos ferrosos (ferrites) e terras raras ferromagnéticos (bem mais caros). O material é utilizado em pequenas esferas revestidas embutidas em folhas de borracha. Estes materiais produzem maior absorção, mas podem induzir emissões parasitas. Também são mais pesadas.

Nos dois casos, uma camada do material resultante é associado a uma de material refletivo com pequenos sulcos de dimensão igual à metade do comprimento de onda da freqüência a absorver. Podem ser usados em várias camadas para cobrir várias freqüências.

A onda penetra na 1ª camada dielétrica onde uma parte dela é absorvida pelo material RAM. A camada refletiva com os sulcos vai refletir a radiação restante mas em oposição de fase pelo que a onda refletida e a incidente se degradam mutuamente. A radiação refletida residual é ainda absorvida outra vez pelo material. Entre 95-99% da radiação pode ser absorvida considerando que a onda corresponde ao tamanho dos sulcos e das esferas e à espessura do material. A energia é convertida em calor, mas como é muito pequena, não chega a alterar a assinatura térmica.

O RAM pode ser usado de várias formas:

. Painéis absorventes de radar. São de fácil transporte e com fixação temporária. Tem banda fixa e são colocados antes do combate ou área de ameaça.

. Laminas absorventes de radar. São igual as anterior mas para instalação mais prolongada. São mais leves, mas podem desestabilizar o navio se colocada no alto.

. Placas absorventes de radar. laminas com melhor especificação. São semelhantes a de aviação.

. RAS(radar absorbing structure) ou Structural RAM(SRAM) são as coberturas RAM melhoradas para uso em estruturas. São uma colméia de fibra de vidro tratada de dentro para fora com material cada vez mais resistivo. A fibra pode ser substituída por plásticos de alta resistência dielétricas ou cerâmica para zonas de alta temperatura. O RAS já são usados para evitar ecos em torres altas onde podem ser confundidas com aviões próximos de uma base aérea.

. RAP (radar absorbing paint) são tintas à base de micro-esferas revestidas a ferrite numa base de poliuretano tratado com alta constante dielétrica. A RAP é muito vulnerável à corrosão e para isto pode ser utilizado outras substancias ferromagnéticos como terras raras (neodímio, samário). Também pode ser usado outra variedade utiliza micro-fibras com 1/4 do comprimento de onda (ou com vários tamanhos para vários comprimentos de onda) orientadas em todos os sentidos. O RAP também pode ser chamado de RAM de spray e é usado em zonas de difícil acesso onde não é possível usar outro material. Também costuma ser mais pesado que outros materiais.

. CFC (carbon fiber composites) podem ser utilizados em algumas estruturas e por não serem metálicos refletem muito pouco. Uma técnica é a utilização de sanduíches de CFC e folhas metálicas espaçadas de forma a criar reflexões múltiplas em oposição de fase (armadilha triangular) até que a onda se degrade totalmente.

Outro tipo de material furtivos são as espumas leves usadas em locais transparentes ao radar como antenas e domos.

Outras técnicas não são consideradas como material absorvente como as películas refletoras de radar usadas em vidros e partes transparentes. Os navios furtivos precisam de aberturas eletrônicas, pois as antenas aumentam em muito o RCS. As antenas podem ser cobertas com material transparente a certas freqüências de radar para diminuir banda de radar visual. Obviamente esta transparência só cobre a freqüência que a antena opera.

O Exocet Block II irá usar cobertura do nariz otimizada e ficará com um RCS extremamente baixo. Estas coberturas não são necessárias em tempo de paz e é necessária para guardar segredo sobre o RCS verdadeiro da plataforma. Por outro lado, sistemas que usam técnicas de mudança na freqüência tem dificuldade de operar como no caso do uso de técnicas de salto de freqüência.

Existem várias abordagem para o uso de RAM nos navios de superfície, pode ser integral, onde o RAM é usado no centro dos painéis compostos da estrutura, ou modulares como cobertura externa. O RAM de cobertura é facilmente danificado pelo mar e de manutenção difícil. Por outro lado, a cobertura é inerentemente modular e é relativamente rápida de instalar prestando-se para surpresa técnica-tática e inovações. O uso de RAM no recheio de fibra de vidro ou painéis estruturais compostos foram avaliadas como mais custo efetivos em curto prazo, mas comprometem a efetividade a longo prazo e limita significativamente as oportunidades de crescimento.


O Advanced Enclosed Mast/ Sensor (AEM/S) foi testado no USS Radford. O material permite passar freqüências desejadas.


O navio de assalto LPD-17 da US Navy foi projetado para operar em ambientes hostil tradicional e assimétrico próximo ao litoral. Recebeu técnicas furtivas para diminui RCS. A proteção inclui apoio aos danos de combate, isolamento contra fogo, estrutura resistente a explosão e ejeção de fumaça. Terá dois Advanced Enclosed Mast/ Sensor (AEM/S) com forma e material avançados.

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