Após tratar a forma furtiva
de uma aeronave,
o próximo passo
em um projeto furtivo é cobrir com material absorvente de radar
(radar-absorbent material - RAM), chamado no Brasil de MARE (Materiais
Absorvedores de
Radiação Eletromagnética), para diminuir
ainda mais o RCS.
O primeiro país a usar o RAM foram os alemães que aplicaram o
material no
periscópio dos seus submarinos durante a Segunda Guerra Mundial.
O material era
chamado de "Sumpf" e era feito de um sanduíche de borracha com
carbono
granulado. Era efetivo em laboratório, mas no mar o sal removia
a cobertura e
ficava menos eficiente.
A
primeira arma furtiva foi o submarino confederado Hunley de 1864. Na
Segunda Guerra Mundial, os submarinos eram prezas fáceis enquanto recarregavam as baterias
na superfície. O snorkel voltou a torná-los furtivo. O radar das
aeronaves de
patrulha marítima acabou com esta vantagem. O RAM foi a
reação. O MIT
americano desenvolveu um pintura anti-radar chamada MX-410 em 1945, mas
com resultado desapontador.
Na década de 1960, o U-2 e o P2V-7 Neptune americanos foram
cobertos com
RAM em algumas partes para diminuir o RCS. O U-2 usava RAM baseado
em tinta com ferrite, mas não era muito eficiente para
torná-lo furtivo. Em
1970, a tinta foi aplicada no SR-71. Na década de 1980, foi integrada no
B-1, mísseis cruise e UAVs.
O RAM
reduz o sinal refletido absorvendo parte da radiação
incidente. Cerca de 90-95%
da energia de microonda ou rádio-frequência (RF) incidente
é convertida em
calor com pouco aumento da temperatura pois a energia envolvida
é muito
pequena. As
capacidades de absorção variam de material para material.
O RAM da Plessey, usado nos navios da Royal Navy para suprimir reflexos nos
mastros dos
seus próprios radares, supostamente conseguia uma
absorção de até 97% das ondas
nas faixas de 5,5 até 30Ghz, e tinha um peso de
apenas 0,3kg/m2.
Vários tipos de
materiais podem ser usados para absorver energia de microonda ao
impregná-los
com material condutivo como carbono, ferrites, grafites e compostos de
fibra de
carbono para absorver ondas de radar.
As
superfícies de
cobertura consistem de partículas ferromagnéticas (a
melhor para a
maioria das aplicações) envolvidas em plástico de
alta constante dielétrica. O
material dielétrico reduz as ondas e algumas partículas
magnéticas
absorvem a energia.
Cancelamento
de Eco
As
coberturas RAM
são projetadas de forma que pequenas reflexões não
absorvidas na face frontal
do material seja cancelada por uma reflexão residual na
estrutura
abaixo dela. O primeiro passo é fazer uma trilha igual a metade
do
comprimento de onda de forma que a reflexão residual esteja
exatamente na
mesma fase da reflexão da face frontal. Está
técnica também é chamada de
interferência destrutiva. Como a onda vai e volta a espessura do
material tem
que ter 1/4 do comprimento da onda. Esta dimensão varia de
milímetros a quase
um metro. Um RAM que cobre a banda de 100MHZ tem que ter espessura de
75cm.
Embora
os
projetistas de cobertura tentem usar material cuja constante
dielétrica varie de
modo a manter um comprimento de onda constante independente da
freqüência, a
realidade é que várias coberturas são
necessárias para cobrir várias larguras
de banda. Sua resistência é graduada de frente para
trás na borda e é
eletromagneticamente macio e gradualmente se torna mais atenuante
quando as
ondas passam pelo material. Isso é feito quando a camada não
pode ser tão profunda
quanto 1/4 do comprimento de onda. O absorvente interno é de
alta freqüência
para cobrir todas as freqüências.
O RAM
pode ser
projetado para otimizar a técnica de interferência
destrutiva. A
espessura da cobertura não é excessiva para comprimentos
de ondas curtas,
contudo, é impraticável instalar coberturas de espessura
suficiente para agir
contra radares de busca de baixa freqüência que
são absorvidos pelas
camadas mais internas. O RAM geralmente é usado para proteger
contra radares de
guiamento de mísseis ar-ar e SAM (banda L e acima da banda Ku).
Esquemas mais
elaborados são usados para cobrir todo o espectro de radar. O
B-2 usa RAM
otimizado para absorver ondas de radares de busca de baixa
freqüência (banda 1
a 3 Ghz).
Técnica de
cancelamento
do eco ou interferência destrutiva.
O RAM
que cobre
todas as bandas é chamado de banda larga. O otimizado para uma
pequena banda é
chamado de ressonante. É muito usado para mascarar retornos de
pontos altos em
aeroportos ou mastros de navios que operam em uma freqüência
conhecida.
Gráfico
mostrando o padrão de absorção de um material RAM
ressonante. O gráfico mostra um desempenho otimizado na banda de
8-9 GHz.
Tipos de RAM
Existem
dois
tipos de material absorvente de radar: o RAM dielétrico e o RAM
magnético.
Os
absorventes
baseados em carbono são chamados RAM dielétrico.
Adicionando produtos de
carbono em um material isolante é possível aumentar a
resistência elétrica e
mudar as propriedades elétricas. Os exemplos mais comuns
são as pirâmides
encontradas em câmaras anecóicas. O RAM dielétrico
são grandes, frágeis e não
podem ser usados onde há pouco espaço e muita
vibração mecânica.
Este
material
pode ser feito com espessura de 1,75 cm, que pode ser usado em aeronaves,
mas seu peso de 24,9 kg por m^2 é excessivo. O peso não é problema para
instalar em navios ou instalações em terra. A
cobertura do SR-71
eram bolas de vidros de menos de um micrômetro cobertas com
cobertura de
ferrite magnético.
O
RAM magnético usa derivados do ferro como o ferro
carbônico e óxido de
ferro chamados de ferrites. O ferro dissipa as ondas de radar na forma
de calor
e pode ser usado em tintas. Eles são agrupados em esferas que se
comportam como
ineficientes antenas de rádio, absorvendo ondas de rádio
e dissipando a energia
antes de refletir. A energia é absorvida pelos elétrons
da cobertura magnética.
Em um bom condutor como as antenas de metal, os elétrons podem
se mover
livremente e as ondas de rádio são retransmitidas. As
esferas cobertas de ferrite
são más condutoras e o movimento de elétrons
é amortecido pela resistência
elétrica do material.
O RAM magnético
é
mais efetivo
contra radares de alta freqüência usados nos caça
modernos. O RAM magnético é
compacto, fino e adequadamente resistente para aguentar cargas e
ambientes
abrasivos. Porém é caro e pesado. O RAM oferecido pelos
russos para instalação
em caças é vendido a US$5 mil o quilo. Como é
necessário usar cerca de 70-80kg
por aeronave o custo só do material chega a US$350-400 mil sem
considerar a aplicação
e testes.
O RAM
magnético é
geralmente embutido em
tiras de borracha chamadas de RAM parasita. É fácil de
aplicar e pode ser colado
no local desejado e são bons para entrada de ar. Em
locais de alta temperatura como ao
redor da tubeira de escape do motor, são usados RAM de
cerâmica.
Uma
abordagem consiste em um sanduíche de material
fenólico-fibra de vidro. Estas
estruturas convertem 95% da energia RF incidente em calor
usando a
resistividade do material de carbono negro e pó de prata. Este
material é
efetivo contra ondas de 2,5 a 13 GHz que abrangem muitos radares de
controle de
tiro e radares de guiamento de armas. O material é leve e
fino, mas não suporta as altas temperaturas e processos erosivos das
velocidades
supersônicas
O RAM magnético tende a ser pesado e a oxidar, diminuindo a eficiência que piora
ainda mais com calor e não pode ser instalado em aeronaves
supersônico que sofrem muito esquecimento na superfície.
O RAM magnético
funciona bem nas bandas de baixas freqüência e o dielétrico em
altas freqüências.
Geralmente os dois são combinados. Um material típico da
década de 1980 tinha três
camadas. A externa e interna eram magnéticas, refletiam e
faziam interferência
destrutiva, enquanto a central era dielétrica e fazia o reflexo interno
diminuir ainda mais.
A tendência atual é
desenvolver RAM mais leves, baratos e que absorvem
um espectro bem grande. O RAM pode ter melhorado em 10 vezes desde o
meio da década de 1980. O RAM perfeito tem que mudar com o angulo
de direção ao
feixe radar, cobrir uma grande banda de frequência, ser fino, durável e barato. O
RAM pode causar
problemas de peso, espaço e manutenção, não
sendo adequado para armas pequenas como
mísseis ou quando há problemas com custos de
manutenção e compra.
O RAM
do F-117
parece neopreme coberto com
ferrite
em uma matriz de polímeros sintéticos. Parece uma folha
de lino de 240x60cm
chamada BX 210 só que mais pesada. É colada a mão
no metal com cada peça na mesma forma da
superfície onde vai ser aplicada. O custo de aplicação é de
US$750mil penas instalar. As falhas eram freqüentes e tinham que ser seladas
com RAP. O
processo é caro e tóxico.
O RAM
BX144 foi
desenvolvido para ser coberto automaticamente com auxílio de um
robô. O
processo diminuiu em 20 a 50% a manutenção e tem uma
disponibilidade de 80%.
Pesa 0,63kg/m2 contra 4,89kg/m2 do modelo anterior. O F-117 levava
900kg de RAM
antes de receber a nova camada. O F-117 tinha sete
configurações de RAM e após
o ano 2000 passou a ter apenas uma configuração com o
novo RAM.
O bombardeiro furtivo B-2A carregava 2 toneladas de material RAM que também
cobre os
radares de baixa freqüências. O RAM é coberto
com fitas entre as falhas,
num total de cerca de 1km, e tinha que ser refeito a cada vôo.
Em
2004, a frota
de 21 aeronaves B-2A recebeu uma nova cobertura no programa Advanced
High-Frequency Material (AHFM). O AHFM é mais fácil de
manter e emprega robôs
para aplicar o RAM com spray. O peso total diminuiu para 1.562kg.
Serão
modernizadas três aeronaves por ano com o último ficando pronto em
2011. A nova
cobertura é 80%
mais rápido para ser aplicada e diminui a
manutenção total em 50%. A disponibilidade
gigra em torno de 80%.
Uma
característica do projeto furtivo é que não
é preciso usar RAM em todas as
partes. O RAM e o RAS podem
ser
concentradas em aberturas e bordas. As portas também são
projetadas para
sobrepor a estrutura principal para que não haja nenhuma
mudança no RCS se a
estrutura entortar durante o vôo. A chanfragem das bordas das
estruturas de
controle, visíveis no F-117 e F-22, eliminam qualquer
mudança de RCS devido a
pequena amplitude dos comandos de movimentos de controle
contínuos comandados
pelo sistema FBW.
O
F-22A não tem RAM em toda a aeronave sendo usado seletivamente
em bordas,
cavidades e descontinuações na superfícies. Os novos computadores
tornaram possível
modelar o efeito do RAM com maior precisão. As bordas são
de estrutura absorvente
de radar (RAS) de banda alta com colméia interna. O RAM de
cerâmica é usada nos
exaustores. Ainda assim, o F-22 tem um RCS suficiente para reduzir o
alcance de
detecção por um fator de 10 em relação a um
caça convencional.
O RAM de circuito análogo é
um tipo de RAM com padrão geométrico em várias
camadas de material dielétrico
que substitui a parte resistiva do RAM. Pode ser usado para substituir
a
cobertura metálica dos canopis. Ao invés de refletir
passa a absorver.
Pintando
padrões geométricos condutivo
em um material, é possível criar um circuito
análogo, mas são direcionados para
uma determinada freqüência.
Estruturas Absorventes de Radar
As
estruturas
absorventes radar (Radar Asborbent Structure - RAS) combina RAM com
material transparente ao radar. O RAS de banda larga usados nas quinas
das
aeronaves furtivas são como um sistema estéreo com um
alto-falante e um
alto-falante para baixa freqüência. O alto-falante é
o absorvente
ferromagnético aplicado sobre a camada resistente que reflete
altas freqüências,
mas permite que as de baixa freqüência passem. Abaixo desta
camada resistiva
tem o alto-falante de baixa freqüência que é uma
colméia de fibra de vidro
tratada de frente para as trás com material de resistência
cada vez maior usada
como absorvente de pulsos eletromagnéticos. É muito macio
na frente mas ainda
absorve muita energia dentro pois não permite que a energia
atinja a face
frontal da estrutura. O RAS
apresenta propriedades físicas (rigidez, leveza e
resistência térmica) que lhes permitem tomar o lugar dos
metais.
Plásticos
dielétricos bem duros foram desenvolvidos para aumentar a
durabilidade. É
possível bater com uma tábua de madeira na borda de
ataque do F-117. A tábua
terá um dente sem danificar a borda de ataque. Em áreas
de alta temperaturas
são usados RAM e RAS de matriz de cerâmica.
Esquema de um RAS.
Técnica de uso de RAM para cobrir falhas na estrutura.
O RAP
(Radar Asborbent Paint) - tinta absorvente de radar - é uma
tinta de ferrite
também chamada de tinta de bolas de ferro. Parece ser uma
cobertura baseada em
poliuretano que pode ser pulverizada com espessura variada e funciona
como uma
cola elétrica entre painéis adjacentes. A onda de radar
que atinge tinta, induz
um campo magnético com os elementos da tinta, o campo muda de
polaridade e
dissipa a energia elétrica do pulso de radar em forma de calor
ao invés de
refletir.
A RAP
é muito
susceptível a corrosão galvânica por ser um
material de ferro que estão todos
sujeitos a oxidação. O uso em aeronaves
embarcadas e navios exige muita manutenção.
A RAP
também pode
ser feita de milhões de fibras em orientação
randômica. As fibras trabalham
melhor se tiveram 1/4 do comprimento de onda em relação a
freqüência da ameaça prevista,
por isso são escolhidos vários tamanhos de fibras para
agirem em vários
comprimentos de onda. Como as ondas de radar têm comprimento de
onda da ordem
de centímetros, a cobertura pode ser mais fina que a maioria das
tintas.
No F-117, o último item checado antes do vôo é se
RAP secou. Ele sela o canopy
e paiol de bombas. Pintura RAP foi desenvolvido pelos japoneses e usado
no U-2, SR-71 e F-117, mas tinha capacidade limitada.
Material
composto não reflete,
mas não quer
dizer que seja furtivo. O DeHavilland Mosquito era feito de
madeira, mas não é
considerado uma aeronave furtiva. As ondas de radar passavam pela
madeira e refletia nas partes metálicas internas como os motores, mas ainda sim
tinha um RCS menor
que outros bombardeiros, mas não era uma redução significativa. Sua capacidade
de sobrevivência
vinha do alto desempenho. As aeronaves furtivas usam tintas
metálicas no material
composto para não refletirem internamente.
Os
Compostos
de Fibra de Carbono (CFC) tem sido empregados por algum tempo para
aumentar
a resistência/peso e espessura/peso da fuselagem. Os
benefícios podem conter o
aumento do peso devido ao controle de assinatura. Porém, os CFC
não tem as
junções disponíveis em estruturas metálicas
o que leva a danos da superfície e
arranhões. Este efeito é inaceitável em tanques
integrais das asas.
Compostos
não
metálicos de baixo peso como o CFC são polímeros
reforçados que permitem as
ondas de radar passarem por eles com mínima reflexão e
podem ser usadas na
fuselagem. As superfícies de controle de vôo podem ser
feitas de colméia que
refletem as ondas de radar ao invés de retorna-las ao radar.
Componentes de
metal como o motor, que produz reflexões de radar
significativas, podem ser
cobertas com sanduíche de metal e plástico cujas camadas
são espaçadas de forma
a criar reflexões permanentes (armadilhas de triângulos),
anulando qualquer
reflexão de radar.
O RAM não substitui um bom
projeto de formato furtivo e nem podem transformar uma aeronave convencional em furtiva
(VLO), mas
é muito útil para suprimir reflexos de canto ou alinhar
cavidades. O RAM chinês
SM-07 usado em blindados diminui reflexo na banda de 2 a 18 GHz em
-15dB
diminuindo o alcance de detecção em mais da metade. Se
considerar uma
aeronave como sendo uma bola de bilhar em uma mesa de sinuca, a
técnica da
forma é fazer a bola refletir para longe do jogador inclinando a
borda da mesa.
O RAM é uma borracha que dá amortecimento
adicional.
O Reinforced
Carbon-Carbon (RCC) são usados com proteção
térmica nos ônibus espacial e
podem ser usado para diminuir O RCS dos exaustores como no caso do
F-22.
Atualizado em 15 de Outubro de 2005
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