ARMAS COM TECNOLOGIA FURTIVA

A capacidade de permanecer no território inimigo sem ser detectado serve para ganhar tempo para planejar e executar um ataque de forma eficaz. Após o engajamento será difícil se manter sem ser detectado.

Uma aeronave de combate tem que chegar até o alvo, identificá-lo, atacar e depois fugir. Após disparar suas armas, o inimigo acabará notando sua presença, seja com a explosão ou a assinatura do disparo. Neste ponto, já está cumprida uma parte importante da missão. Esconder a assinatura diminui os riscos, mas fugir é mais fácil que atacar. O armamento lançado, a não ser que seja furtivo, será detectado. A plataforma lançadora, manobrando para outro ataque ou para escapar de um contra-ataque, poderá estar menos furtiva. Pelo menos o elemento surpresa já foi perdido.

As armas atualmente usadas nas aeronaves furtivas são as mesmas das aeronaves convencionais. No futuro pode ser esperado o uso de armas especialmente projetadas para as aeronaves furtivas. Parece sem sentido armar uma aeronave furtiva com arma não furtiva. É investido muito para esconder a aeronave que pode ser comprometida durante o disparo de uma arma convencionais com grande assinatura.

Pouco esforço tem sido gasto com armas furtivas. O míssil cruise JASSM e a bomba planadora JSOW podem ser consideradas exceções, mas é para proteger a arma e não a aeronave lançadora. A USAF planeja um substituto para as bombas JDAM e um dos requerimentos é a furtividade.

Compartimento Interno de Armas

Cargas externas são um problema para as aeronaves furtivas. Se a aeronave tem um RCS de 0,1m2, levando tanques e armas externas o RCS chega a 2 m2 comprometendo a furtividade da aeronave. Uma característica praticamente obrigatória das aeronaves furtivas é levar o armamento em compartimentos internos de armas. O compartimento interno de armas foi a primeira resposta a falta de armas furtivas.

Levar cargas internamente diminui o arrasto, melhora o consumo de combustível e aumenta a furtividade, mas resultam em uma menor capacidade de levar, comparado com mesma aeronave do mesmo tamanho com carga externa. A fuselagem será maior, com mais arrasto. O espaço interno de armas usa espaço que seria do combustível e limita a carga máxima. Acaba sobrando pouco espaço para modernização e atualização. Os sistemas de guerra eletrônica se desenvolveriam pouco no Vietnã se fossem obrigados a serem instalados internamente.

Os compartimentos internos de armas já são usados nos bombardeiros e aeronaves de patrulha. A economia de combustível já compensa por voarem missões longas. O peso extra não é problema pois não precisam ser manobráveis. Para um caça, um compartimento interno de armas não costuma ser uma boa solução devido ao pouco ganho em alcance que não compensa o aumento do peso.

Todas as aeronaves furtivas usam um compartimentos interno de armas como o B-2, F-117, F-22A e F-35 e será usado nos UCAV em estudo. O compartimento interno de armas pode ser único e grande, ou dois/três menores, com tamanhos diferentes e dedicados para armas especificas.

O YF-23 tem um compartimentos internos de armas único. O F-22A tem dois compartimentos pequenas para levar os mísseis AIM-9 e dois compartimentos grandes capazes de levar seis mísseis AIM-120C ou dois AIM-120C e duas bombas JDAM. O F-35 tem dois compartimentos internos de armas de tamanho médio capaz de levar uma JDAM e um AMRAAM em cada. São bem separadas na fuselagem para deixar espaço central para o motor de sustentação na versão STOVL. O F-35B STOVL terá um compartimento interno de armas menor para apenas uma JDAM de 454kg enquanto a versão F-35A e F-35C será capaz de levar uma JDAM de 900kg.

Um compartimentos interno de armas maior é mais flexível que vários menores para transportar vários tipos de armas. O YF-23 tinha compartimentos interno de armas único e as JDAM ficavam empilhadas. Se a de baixo não disparar a de cima fica travada.

O compartimento interno de arma lateral é melhor para combate aproximado em curva quando o míssil fica exposto e consegue olhar para parte de dentro da curva se apontado por um radar ou mira no capacete (HMS). No caso de um compartimento central, a fuselagem bloqueia a visão do sensor do míssil contra alvos na parte de dentro da curva (ou parte de cima da aeronave).

Um dos problemas do uso de compartimento interno de armas é o aumenta da assinatura quando aberto. O compartimento interno de arma lateral do F-35 abre para o lado mais furtivo em relação a ameaça sem mostrar a parte interna.

Existem dois tipos de compartimento interno de armas. O convencional tem portas abertas para o lado e lançadores trapezoidais como o F-102, F-105, F-111, F-117, B-2, F-22A e YF-23. Existem também o de porta única que roda 180 graus ao redor do eixo longitudinal, fazendo papel de ponto de fixação de armas como o XB-51, F-101 e Buccanner. O projeto CF-105 Arrow canadense era um interceptador de longo alcance que levava um grande compartimento de armas como parte integral da fuselagem inferior equipado com quatro mísseis Sparrow. Os mísseis eram expostos com portas separadas e trapézios individuais com lançadores.

O B-2 tem dois compartimentos de armas com lançadores rotativos. O compartimento é espaçoso e pode levar mísseis cruise AGM-129 ACM. O lançador rotativo Rotary Lauch Assembly (RLA) pode ser substituído pelo Bomb Rack Assembly (BRA) disparando bombas empilhadas. O RLA pode levar no máximo oito armas guiadas JDAM, JSOW ou JASSM. Os BRA são instalados em fila, cada um com 20 bombas burras Mk-82 ou GBU-38. Na operação Iraq Freedom, o B-2 lançou 80 bombas Mk-82 de 227kg de uma só vez em uma missão. A equipe de armeiros de quatro homens pode levar seis horas para carregar as 80 bombas Mk-82. Em tempo de guerra são usadas duas equipes.

stealth  LAU-142/A AMRAAM Vertical Eject Launcher
O AMRAAM é carregado pelo lado oposto no compartimento de armas do F-22A devido ao padrão de abertura do compartimento. O lançador trapezoidal LAU-142/A AMRAAM Vertical Eject Launcher (AVEL) ejeta o míssil a 8m/s ou 40g´s. O lançador LAU-141/A dispara o Sidewinder nos compartimentos laterais. O disparo do F-22 leva 2 a 4 segundos.

x-32 bay
A abertura da porta do compartimento de armas pode comprometer a furtividade. O compartimento de armas do X-32 abre em 1-3 segundos no modo ar-ar e só no painel inferior. Um spoiler se abre para desviar o fluxo de ar e disparar um míssil ar-ar. No modo ar-solo a abertura dura 6-8 segundos. As duas portas se abrem e a arma é estendida em um trapézio. A tática é abrir o lado não visível pelos radares inimigos, se for possível. Armas que adquirem o alvo antes de disparar (LOBL - Lock-on Before Launch) são um problema pois devem ser mantidas a mostra por mais tempo e devem ser evitadas para não comprometer a furtividade.

B-1B weapon bay
Cada um dos três compartimentos de armas do B-1B tem 4,6m de comprimento. As armas empilhadas são um problema se a inferior não for lançada o que trava as de cima. Este problema acontece rotineiramente.

YF-23
O compartimento interno de armas principal do YF-23 empilhava as armas. Se as de baixo não forem ejetadas as de cima ficam presas.

stealth RAH-66 comanche
O compartimento de armas do RAH-66 Comanche leva as armas na porta do compartimento. A experiência no Iraque mostrou que as armas de um helicóptero podem ser danificadas por armas leves e serem disparadas inadvertidamente. Se estivessem dentro de um compartimento de armas o resultado poderia ser catastrófico.

stealth F-35 weapon bay
Detalhes do funcionamento do compartimento de armas do F-35.

A-5 Vigilant
O A-5 Vigilant tinha como característica única o compartimento de carga de armas linear, na forma de um túnel entre os motores, com as cargas ejetadas para trás. O túnel tem trilhos e uma catapulta para lançar uma bomba nuclear. A bomba é fixada em dois tanques de combustível sendo que o traseiro funciona como estabilizador da bomba quando lançada. O compartimento podia levar casulos de combustível e outras armas. O sistema nunca funcionou bem com as bombas lançadas para trás voando reto por muito tempo e diminuindo a precisão. A US Navy acabou usando mísseis balísticos lançados de submarinos no papel de dissuasão nucelar. Sem poder levar muitas bombas externamente o A-5 acabou virando uma aeronave de reconhecimento fotográfico recebendo uma canoa sob a fuselagem. Foi usado no Vietnã com sucesso. Suas defesas eram a velocidade sendo que em 125 missões sobre a bem defendida Hanói só sofreu dois danos em combate nas missões de fotografia a média altitude a Mach 1,1. As perdas eram relativamente altas principalmente no final das missões de ataque quando os vietnamitas sabiam que a aeronave viria fotografar os resultados. A North American propôs uma versão de interceptação para substituir os F-106 da USAF. A aeronave se chamaria Retaliator. Em 1972, foi proposto mais uma versão com um terceiro motor no lugar do compartimento de armas. A aeronave seria armada com seis mísseis AIM-54 Phoenix.

Cargas Externas

O F-22A e F-35 têm compartimento interno de armas mas não precisam de muitas bombas para conseguir precisão. Mas isto sempre resulta na limitação de levar muitas armas. O F-102 e F-106 são caças e sempre levavam as armas internamente. O F-105 e F-111 têm compartimento interno de armas, mas geralmente levavam armas externas por serem grandes e numerosas. Aumentar o compartimento de carga interno é mais difícil que diminuir o tamanho das armas.

Os compartimentos internos podem ser necessários para os caças pois os mísseis ar-ar são levados por muito tempo em várias missões durante um conflito. O desgaste durante o vôo limita sua vida útil e tem que ser reformado após algumas centenas de horas de voo. Isto não acontece com as armas ar-solo que geralmente são disparadas quando são carregadas.

O F-22A e F-35 também têm opção de levar armas em cabides externos para cenários de menor ameaça. A estratégia é atacar primeiro as defesas no inicio de uma campanha. Depois das defesas serem suprimidas a furtividade diminui de importância. As armas externas ainda podem ser alijadas, junto com o cabide, caso a aeronave esteja ameaçada e vota a configuração furtiva. A própria USAF calcula que cerca de 5% das missões precisam de furtividade, mas são as primeiras e mais importantes.

Nem todos os alvos são bem defendidos e a maioria dos países não tem defesas aéreas sofisticadas. Para alguns tipos de missões, como o apoio aéreo aproximado, a furtividade não é muito importante pois a aeronave é esperada e não existe o objetivo de conseguir surpresa.

stealth F-35 JSF weapons
O F-35 JSF está preparado para levar armas externas em pelo menos quatro cabides externos. Um AIM-9X poderá ser levado em um cabide ou na ponta da asa dependendo da versão. A versão STOVL será equipado com um casulo canhão enquanto a versão da USAF levará um canhão interno. A versão da US Navy não levará canhão. As primeiras aeronaves furtivas só levavam armas ofensivas. A nova geração de caças furtivos está levando armas defensivas como o AMRAAM e podem usar o radar, IRST e ESM para apontar a arma. Elas operam de dia e estão sob ameaças dos caças inimigos. A USAF está estudando a insatalação de mísseis ar-ar no bombardeiro B-21.

stealth F/A-22 AMRAAM
O F-22A tem dois cabides em cada asa capaz de levar 2268kg de armas cada. Os cabides podem levar dois lançadores de mísseis.

stealth F/A-22 tanks
O F-22A tem quatro cabides para levar tanques de 2.270 litros e dois AMRAAM em cada. São usados para deslocamentos a longas distâncias e Patrulha Aéreas de Combate (PAC) quando as defesas inimigas foram enfraquecidas. Os cabides externos permitem diminuir o trabalho das aeronaves de reabastecimento em vôo e de carga. Os tanques externos tem a vantagem de poderem ser aliados antes de um combate.

O compartimento interno de armas limita a flexibilidade de opções e armas que podem ser escolhidas, assim como a quantidade e configuração das armas.

Um compartimento interno de armas não é fácil de instalar em aeronaves pequenas. Os protótipos do XST, Have Blue e Bird of Pray não tinham compartimento interno de armas. Por isso, as aeronaves furtivas tendem a ser relativamente grandes.

Um projeto de aeronave furtiva leve forçaria o uso de armas externas, obrigatoriamente furtivas, ou seria um interceptador armados com poucos mísseis. Isto levou a levou ao projeto de armas menores como SDB e adaptações como a versão de asas cortadas do AMRAAM (AIM-120C).

Uma outra opção é usar casulos furtivos. O projeto FB-22 americano inclui o uso de um casulo externo de armas com formas furtivas e a capacidade de levar armas furtivas externamente como o míssil cruise JASSM. Os navios de guerra já usam casulos de armas há muito tempo. Os casulos furtivos são uma opção para as aeronaves furtivas levarem armas adicionais sem degradar em muito a furtividade.

Um sistema semelhante já foi usado no B-58 Hustler na década de 1950. O casulo de armas MB-1C do B-58 tinha 17,4 metros de comprimento e 1,5 metros de diâmetro. Pesava 16,325kg carregado. Levava a bomba nuclear W38Y1-1 e combustível. A bomba ficava adaptada na fuselagem e coberta por um tanque ejetável menor. Um tanque maior cobria o arranjo menor. Os tanques eram alijados para diminuir o arrasto depois do combustível acabar.

stealth FB-22
A Lockheed está desenvolvendo um casulo furtivo capaz de levar duas bombas JDAM de 900kg para equipar o F-22A e o FB-22. No caso do FB-22 também será levado armas furtivas externamente. O formato exato do casulo não é conhecido. O cabide externo deve ter configuração furtiva, tem que ter as falhas seladas com pintura RAM e deve ser ejetado após o uso.


Armas Conformais

Os cabides externos não são o único método de levar armas externas. As armas podem ser levadas na fuselagem de forma conformal ou semi-embutidos. As armas ficam em um espaço na fuselagem. Este conceito foi introduzido na década de 1960 para diminuir o arrasto aerodinâmico com as arma parcialmente escondidas e enfileiradas para diminuir o arrasto da arma de trás. Um dos problemas é que as vezes é direcionada para uma arma única como os mísseis Sparrow e AMRAAM. Armas semi-embutidas está em uso no F-4 Phantom, Tornado ADV, F/CK-1 IDF Ching Kuo, Eurofighter e F/A-18. O os pontos semiconformais do Phantom podem receber casulos de guerra eletrônica ou de designação de alvos.

Armas instaladas de modo conformal ou semi-conformal ajudam, mas não substituem um compartimento interno de armas que são ainda mais importantes em aeronaves de ataque que usam armas grandes enquanto os caças levam apenas mísseis


Armas Furtivas

Um fator importante na capacidade do F-117 são suas armas guiadas. Sem elas não seria muito efetivo em cumprir a missão de destruir o alvo. A aeronave seria efetiva apenas para penetrar e fugir. As armas guiadas foram uma das tecnologias que permitiram que as aeronaves furtivas fossem efetivas assim como os computadores permitiram o desenvolvimento do FBW e sistemas de planejamento de missão automático, e os novos materiais e métodos de produção permitiram atingir a qualidade necessária para manter um baixo RCS.

Não faria muito sentido construir um caça invisível que não acerta o alvo. Antes das armas guiadas, os alvos importantes eram atacados por vários pacotes. Agora podem ser derruídos com uma única aeronave furtiva armada com armas guiadas. Na Segunda Guerra Mundial, eram necessários 108 bombardeiros B-17 lançando 648 bombas de 500kg para ter 96% de chances de acertar duas no alvo. Um único F-117 tem esta capacidade.

Como não é possível instalar um grande compartimento interno de armas em um caça furtivo, os EUA estão investindo em pequenas armas como a Small Diameter Bomb (SDB). O projeto SDB usa novos explosivos mais potentes para ser menor e compensa a menor carga explosiva com uma precisão maior. O AGM-130 de 900kg era sempre a arma de pior escolha no conflito de Kosovo por causar muitos danos colaterais.

No primeiro dia da operação Desert Storm em 1991, foram lançadas 1.223 ataques atingindo 203 alvos. Os F-117 realizaram 40 saídas e atacaram 61 alvos e eram os alvos mais bem defendidos. Agora a USAF está estudando o conceito de Global Strike Force onde quatro B-2 e 48 F-22A armados com minibombas SDB atacariam 380 alvos de uma vez só (com 52 saídas). Os quatro B-2 já podem atacar 320 alvos com as JDAM de 227kg atualmente (80 bombas por aeronave).


Armas como a GBU-39 (SDB - Small Diameter Bomb) ou miniaturização de outras armas é sempre importante para as aeronaves furtivas para garantir a destruição de vários alvos em uma única passagem, diminuindo o número total de saídas. Os danos colaterais também serão mínimos. A primeira fase do programa SDB será usada para atacar alvos fixos com o guiamento por GPS. As entregas devem iniciar em 2006. A fase 2 terá capacidade para atacar alvos móveis com reconhecimento automático de alvos e será entregue em 2009. A fase 3 terá capacidade de espera e busca de área, com capacidade e busca e ataque autônomo. A JDAM de 227kg seria a SDB provisória por ser bem barata e por levar 12 anos para desenvolver uma nova arma.

Lançador múltiplo da SBD com quatro bombas instalado em um F-15E. O lançador múltiplo permite que quatro bombas SDB sejam levadas no compartimento interno do F-22 e F-35. Cada aeronave passa a ter capacidade de atacar oito alvos em uma missão contra dois alvos do F-117. A USAF planeja modernizar os B-2 para levarem 192 bombas SDB.

slingshot
kits de conversão de bombas guiadas balísticas em bombas plantadoras como o Slingshot e Diamond Back são um método de aumentar o alcance sem usar propulsão adicional. A foto acima mostra uma JDAM com um kit Slingshot.

As técnicas da forma furtiva se forem usadas em armas furtivas tem que seguir o alinhamento superfície da aeronave se for levada externamente. Isto é complicado se for usada por várias plataformas que tem regras de alinhamento diferentes. As armas levadas internamente devem ter asas dobráveis ou curtas como a versão AIM-120C5 do AMRAAM.

O disparo da arma não deve comprometer a furtividade da aeronave com assinatura visual (fumaça ou luz do motor) ou radar com abertura das portas do compartimento de armas e pelo RCS da arma não furtiva, mas nesta hora a missão já está cumprida e o inimigo vai tomar conhecimento da aeronave furtiva de qualquer maneira. Uma aeronave em fuga é muito mais difícil de interceptar e atacar.

Os mísseis têm assinatura visual pequena por serem pequenos e a fumaça do rastro do motor é que pode criar problemas. As armas devem evitar ter motor foguete que tem assinatura visual, IR e radar momentâneo muito grande. De preferência, devem ser armas planadoras ou balísticas.

Caso seja impulsionada por foguete é desejável que a ignição seja longe ou atrasada. Os mísseis ar-ar tem motor de grande energia e tem que ligar rápido. O acionamento do motor foguete adiciona brilho e fumaça a assinatura visual. A assinatura IR é perceptível a longa distância e emite por um tempo considerável. Depois de ligado, o míssil mantém a assinatura IR com o calor cinético e a estrutura aquecida pelo motor. De certa forma o alvo deverá se preocupar em fugir e não em contra-atacar, mas outros caças podem estar por perto.

Pouco pode ser feito hoje com a tecnologia para diminuir a assinatura IR dos mísseis ar-ar. Caso tenha que disparar uma arma com foguete os problemas podem ser diminuídos se a arma tiver uma grande velocidade para dar pouco tempo de reação ao inimigo. Para aumentar a velocidade é necessário aumentar ainda mais a assinatura, mas é um problema que não tem como piorar. O motor ramjet é uma forma de criar um míssil de alta energia e o alcance adicional pode ser uma proteção extra. Se lançado a uma distância menor o inimigo terá poucas chances de fugir com manobras. A USAF estuda um míssil ar-ar com alcance de 150-200km para equipar o F-22A. Outro tipo de arma que precisa de grande energia são os mísseis anti-radiação como o AGM-88 HARM.

O sistema de guiamento das armas de uma aeronave furtiva devem ser preferencialmente passivos ou de baixa probabilidade de interceptação (LPI). O F-117 usa sensores térmicos para adquirir o alvo e só liga o laser nos 8-10 segundos finais antes do impacto. Os sensores GPS/INS, IR e TV são bons para armas de queda livre ou planadoras. O F-117 está sendo equipado com bombas guiadas por GPS/INS JDAM e WMCS. A aeronave não irá usar o laser para guiar as armas, mas pode usar o FLIR e o laser para determinar ou conferir as coordenadas do alvo.

Os sensores passivos têm limitação de alcance e os mísseis ar-ar de longo alcance precisam de um radar ativo, mas que liga por pouco tempo e dá pouco tempo de alerta e não precisa ser furtivo. Existem mísseis ar-ar de longo alcance com sensores passivos como os sensores IR já existentes em alguns mísseis (MICA, R-27 e R-77) e anti-radar (R-27 e R-77).

Os mísseis ar-ar de médio alcance precisam de um caça com radar ativo para detectar, engajar e atualizar a posição do alvo. Um radar LPI é o ideal, mas ainda pode denunciar a presença ou posição da aeronave lançadora. Uma tática é um caça sendo usado como lançador e que voa mais próximo do alvo e outro para iluminar o alvo de uma distância maior.

As armas que trancam no alvo antes do lançamento precisam ficar expostas fora do compartimento interno por um tempo que pode ser longo para uma aeronave furtiva. O ASRAAM que irá equipar os F-35 britânicos é a única arma com modo LOBL prevista para a aeronave. O F-22A usa o AIM-9X com modo LOBL.

Mísseis Furtivos

Mísseis com requisitos de baixa assinatura existem desde a década de 1960. A North American modificou o míssil cruise supersônico AGM-28 Hound Dog para diminuir o RCS após estudo que mostraram que o míssil era vulnerável a vários sites de mísseis SAM que deveria destruir. A Boeing colocou técnicas furtivas no seu míssil AGM-69 SRAM no fim da década de 1960. O SRAM foi usado pelos B-52 e B-1 até 1990. O programa tinha requerimento de baixo RCS desde a concepção.

No inicio década de 1970, era esperado que a URSS teria contramedidas contra os mísseis cruise. O AGM-86 ALCM e o Tomahawk tiveram medidas para diminuir assinatura radar e IR.

agm-86 alcm
Com pequenas modificações foi possível diminuir em muito o RCS do AGM-86. O AGM-86 CALCM Block I tem ogiva convencional de 1.360kg. Foram convertidos 140 mísseis nucleares até 1994 com alguns usados no Golfo em 1991. O block 1A foi equipado com GPS em 163 mísseis. Depois da operação Desert Fox foi iniciado a conversão de mais 95 mísseis block I. O Block II está disponível desde 2002 com a munição penetradora BROACH. A ameaça dos mísseis S-300 levou ao programa Have Rust para instalar ECM nos mísseis cruise americanos. Este programa ainda tem detalhes secretos.

O projeto Senior Prom era outro programa de míssil cruise furtivo da época. Foi iniciado no fim da década de 1970 após o Have Blue validar o conceito de usar formas facetadas para criar uma aeronave com baixo RCS. Era uma tecnologia considerada promissora. A Lockheed recebeu um contrato de US$ 24 milhões em 1977. O projeto ainda é secreto e algumas informações estão disponíveis. O míssil seria lançado do B-52 e teria perfil de vôo baixo, apesar de ter um alcance bem maior se voasse a média ou grande altitude. A propulsão é por motor turbofan único. O míssil não foi comprado e era considerado grande para ser levado no B-1B. A General Dynamics também desenvolveu um míssil cruise furtivo no projeto Teal Dawn que chegou a ser testado em vôo. O projeto ainda é secreto.

Senior prom
No fim decada de 1980, foram realizados testes com vários protótipos do Senior Prom lançados de um DC-130. Foram 13 vôos e todos com sucesso. O míssil não detectado pelo radar SPS-13 usado nos testes. A forma do míssil era similar ao Have Blue. As asas provavelmente seriam dobradas para poder ser levado internamente. Foram vários modelos incluindo com barbatana ventral. A entrada de ar instalada na parte de baixo sugere que pode voar baixo para se esconder dos radares. 

stealth AGM-137 Tri-Service Stand-off Attack Missile (TSSAM)
Uma arma prevista para o B-2 seria o míssil cruise furtivo AGM-137 Tri-Service Stand-off Attack Missile (TSSAM). O projeto foi cancelado e o B-2 ficou banguelo. A USAF logo cancelou o AGM-131 SRAM II em 1994 e o bombardeiro passou a ser armado apenas com bombas burras. As bombas guiadas GAM, predecessor das JDAM, foram usadas provisoriamente.

Em 1982, a USAF iniciou um programa de um novo míssil cruise lançado do ar de nova geração. Estudos da USAF de mísseis cruise furtivos mostrou que o AGM-86 seria facilmente detectado pelos sistemas de defesa aérea do futuro. O ACM (Advanced Cruise Missile) era um dos projetos que se seguiu após o sucesso do Have blue junto com o ATF e ATB. O ACM usaria tecnologia furtiva e estudos já estavam sendo feitos a respeito da diminuição do RCS com métodos de forma nos mísseis desde 1977 no projeto Senior Prom. A Boeing, a Lockheed e a General Dynamicas eram os concorrentes, com a última sendo a escolhida em 1983. O míssil foi designado AGM-129.

O preço unitário sugerido era de US$3 milhões ou um custo total de US$ 7 bilhões incluindo o projeto e desenvolvimento. O míssil deveria ter um RCS menor que o ALCM, com mais precisão, voaria mais baixo em uma velocidade subsônica e com alcance maior de 3.700km, ou 1.600km a mais que o ALCM, para poder voar ao redor das defesas ao invés de entre elas. O míssil atacaria alvos mais bem defendidos e ameaças futuras. Deveria estar operacional em 1991.

Inicialmente era planejado a compra de 3.418 ACM, mas a encomenda foi logo reduzido para 1.499 e depois 1.000. O míssil voou em 1985 com a primeira entrega em 1990. A produção foi encerrada com 463 mísseis em 1992 com a última entrega em 1993 devido aos tratados de redução de armas e o fim da URSS. Foi planejado para equipar o B-52, B-1 e B-2, mas apenas 48 bombardeiros B-52H foram adaptados para uso levando 12 em cabides nas asas e oito internamente. Uma proposta de uma versão convencional AGM-129B não foi aceita em 1998.

stealth AGM-129A ACM
O AGM-129 tem forma furtiva que inclui asa e barbatanas enflexadas para frente, entrada de ar tipo flush e exaustor plano. É guiado por acompanhamento de terreno (TERCOM) com precisão de 30-90 metros. Provavelmente deve ter recebido um GPS para melhorar a precisão. O míssil está equipado com uma ogiva W80 de 5-150kt semelhante a usada pelo AGM-86. Tem 6,4 m de comprimento, 3,1m de envergadura e diâmetro de 70,5 cm e pesa cerca de 1250kg. É propulsado por um motor Williams International F112-WR-100 com 732lb.

No fim da década de 1990, a USAF iniciou estudos de um míssil cruise com alcance de 1.800km chamado LRCM (Long Range Cruise Missile). O projeto não passou da fase de estudos. Os estoques de AGM-86 convencionais estavam acabando e a USAF precisava de um novo míssil cruise. Poderia ser até a abertura da linha de produção do AGM-86.

A bomba planadora AGM-154 JSOW (Joint Stand-Off Weapon) foi projetada para equipar os caças da US Navy. O alcance é de 27km a baixa altitude ou 74km a grande altitude. Foi projetada para atacar baterias de mísseis SAM e bases aéreas. A arma tem formas furtivas e conceito modular, podendo receber vários tipos de sensores, munição unitária ou múltipla e propulsão adicional. A JSOW pode ser usada como arma de supressão de defesa do B-2 com o sistema DMS localizando os radares inimigos.

Os europeus estão atrasados em relação aos americanos no projeto de aeronaves furtivas, mas não no uso da furtividade no projeto de mísseis. O Matra/BAe Dynamics Apache/Scalp EG já está em operação e tem formas furtivas. Outros exemplos são o Taurus alemão. Os russos citam que os mísseis cruise Raduga Kh-101 e Kh-102 que irão substituir o Kh-55 tem tecnologia furtiva e provavelmente na forma de cobertura RAM.

stealth  AGM-158 JASSM ( Joint Air-to-Surface Standoff Missile)
O novo míssil cruise furtivo da USAF é o AGM-158 JASSM (Joint Air-to-Surface Standoff Missile). O míssil é relativamente pequeno e compatível com o B-52H, F-16C/D, F/A-18E/F, F-15E, F-117, B-1B, B-2, P-3C e S-3B. O míssil pesa 1.020kg, tem alcance de 370km e está armado com uma ogiva de 454kg. O lançador de armas do F-117 desce por gravidade. O compartimento pode levar tanques internos extras para deslocamento a longa distância.

stealth F-35 NSM
A Kongsberg está estudando a adaptação do míssil antinavio NSM para funcionar como míssil multifunção para uso contra alvos em terra, mar e litoral para equipar o F-35 JSF. O míssil se chamará Norseman ou Norwegian Multi-Role Missile. Os estudos incluem a adaptação do míssil para que dois possam ser levados internamente. Além disso, poderá ser levado externamente e em outras aeronaves. O novo modelo tem 3,5m e pesa 350kg com alcance de 200km. A ogiva de 125kg é apontada por um sensor IR de banda dupla. A Austrália está interessada na arma. O míssil poderá ficar pronto em 2015 se for autorizado e na mesma época em que a Noruega irá receber o substituto dos seus F-16. O míssil poderá atacar de forma autônoma ou controlado por outra plataforma como a aeronave lançadora, um P-3C ou forças especiais em terra.

stealth have dash
No inicio da década de 1990, a USAF estudou mísseis ar-ar avançados no programa Have Dash. Em 1990, a Ford Aerospace (depois Loral) recebeu um contrato para desenvolver um míssil ar-ar de baixo RCS de longo alcance no programa Have Dash II. O míssil teria estrutura plana trapezoidal coberta por RAM a não ser no radome. A cauda teria quatro barbatanas. A forma permitiria ser levado embutido na fuselagem e daria sustentação adicional. O míssil manobraria pelo método "bank-to-turn" podendo puxar 50 g´s (contra 35 g´s dos mísseis convencionais da época). Teria capacidade de navegação de meio curso inercial com guiamento final duplo por sensor IR e radar ativo. Foi planejado a instalação de um motor ramjet, mas nos testes usaria o motor KM-58 do AIM-7F/M Sparrow. O programa terminou após testes de vôo em 1992/1993. O míssil tem um comprimento de 3,6m, peso 180kg, atinge uma velocidade de Mach 4 com alcance de 50km.

Guerra a Distância

A furtividade permite chegar próximo do alvo usando armas já em produção, mas a aeronave poderá ser detectada na fase final. Se não estiver equipada com armas guiadas a aeronave vai ter que se aproximar e passar pelo alvo. As armas de longo alcance podem cobrir a distância que sobra até o alvo. Como são caras, uma aeronave furtiva permite se aproximar mais um pouco e pode lançar a arma que vai até o alvo planando ou no modo balístico.

Os mísseis cruise são ideais no inicio de uma campanha contra alvos muito bem defendidos, mas são caros para serem usados em operações de paz. Devido ao seu custo, compensa investir em furtividade para garantir que passem pelas defesas.

Mísseis de longo alcance são um complemento e/ou substitutos para as aeronaves furtivas. Enquanto a USAF usava os F-117 durante a noite durante a Guerra do Golfo, a US Navy usava o Tomahawk durante o dia pois o F-117 não foi projetado para voar de dia.

O B-2 dispara suas JDAM no alcance máximo de 24km e foge do alvo. O inimigo pode pensar que a aeronave segue o trajeto da bomba e passa por cima do alvo. A velocidade ajuda e a aeronave pode acelerar um pouco antes para disparar de mais longe, manobrar e fugir.

O F-22A pode se aproximar a cerca de 25 km de um sistema S-300 russo sem ser detectado. É o alcance máximo de uma bomba JDAM de 1.000 libras. A JSOW e o JASSM têm alcance suficiente para serem disparados de uma distância bem maior, mas não podem ser levados internamente no F-22A. Se forem levadas externamente podem denunciar o caça a uma distância maior. Um míssil anti-radiação mais simples e menor que o HARM pode ser necessário nestas missões pois a aeronave pode chegar mais perto que os caças convencionais.

Existe os que defendem que uma aeronave não precisa ser furtiva para ser efetiva. A furtividade é mais necessária no inicio de um conflito quando as defesas aéreas inimigas estão intactas. Com a maioria das aeronaves com furtividade frontal e com uma pequena frota totalmente furtiva apoiados por interferidores de longa distância, uma força aérea pode realizar a maioria das missões e tarefas.

O F-117 não é desejável para uso em cerca de 90% das missões. Outras aeronaves podem levar mais bombas, outras armas e sensores, com mais alcance ou com melhor pontaria. O que o diferencia é a capacidade única de sobrevivência contra defesas intensas. Ainda não é versátil como os caças-bombardeiros atuais.

A US Navy não se preocupa com a furtividade do F/A-18 Super Hornet. O RCS frontal é suficientemente baixo para o combate aéreo a longa distância e os alvos em terra bem protegidos podem ser atingidos com precisão e segurança com o míssil AGM-84H SLAM-ER. Agora a US Navy irá receber o F-35.

Armas convencionais de longo alcance lançadas de aeronaves são idéias novas baseadas em velhos princípios. Matar um mamute com uma flecha é mais seguro que cravar uma lança nas suas entranhas. Manusear uma balista é menos perigoso que tentar derrubar uma muralha com um bate estaca. Nos dois casos, o ataque é feito fora do alcance das melhores defesas inimigas.

Armas de longo alcance (stand-off) como o Tomahawk e mísseis mais modernos e furtivos como o JASSM diminuem a necessidade de aeronaves furtivas, que são necessárias em algumas ocasiões, e existem poucos alvos muito bem defendidos que justifiquem aeronaves furtivas.

Próxima parte: Cenários do Futuro

Atualizado em  08 de Novembro de 2005


Voltar ao Sistemas de Armas


2000-2005 ©Sistemas de Armas
 


     Opinião

 

  FórumDê a sua opinião sobre os assuntos mostrados no Sistemas de Armas
  Assine a lista para receber informações sobre atualizações e participar das discussões enviando um email
  em branco para sistemasarmas-subscribe@yahoogrupos.com.br