O radar nasceu
para
contrapor a ameaça das aeronaves de combate. Detectar aeronaves
em mau tempo, à
noite e a longa distância se tornou objetivo das modernas defesas
aéreas. Isto
logo levou ao desenvolvimento de contramedidas, e estas contramedidas levaram a radares
melhores.
Uma delas foi a formação de sistema de defesa
aérea integrado (IADS).
A primeira IADS foi a britânica
da década de 1930. As informações das
estações
de radar eram passadas para centrais que criavam uma visão
única da situação. Isto
permitiu usar os poucos recursos de caça de forma otimizada
contra as formações de
bombardeiros alemãos. Ao mesmo tempo, os aliados usaram chaff e
jammers contra
os radares alemães e aartilharia antiaérea. Isto levou ao
nascimento da guerra
eletrônica.
A primeira tática usada pelos
americanos para contrapor as IADS vietnamitas foi
formar pacotes de ataque para saturar as defesas. A
experiência ganha no
Vietnã levou as táticas para destruir IADS. Em 1972,
já havia escoltas de
aeronaves de supressão de defesas e interferência a
distância (SOJ - Stand-off
Jammer). O resultado é que uma pequena quantidade de aeronaves
do pacote atacava os alvos e a maioria apoiava.
Outro resultado foi a perda de apenas 10 aeronave para mísseis SAM de um
total de 38 no último ano do conflito.
De qualquer forma, o Vietnã
estabeleceu o conceito de IADS moderna mostrando
que era impossível conseguir surpresa. A melhoria no
treinamento,
táticas, técnicas e as táticas de pacotes foram necessários para
penetrar as defesas e cumprir
a missão com perdas aceitáveis.
A IADS da URSS era considerada muito
superior sendo considerada a primeira IADS
moderna. Os pilotos de bombardeiros americanos sabiam que não
iriam retornar.
Seriam detectados, atacados e derrubados mais cedo ou mais tarde, na ida ou na
volta.
No Golfo em 1991, havia 600 baterias de
mísseis SAM com mísseis SA-2, SA-3, SA-6, SA-8,
Roland e HN-5, além de 10 mil peças de artilharia
antiaérea. As perdas neste
conflito foram de 1 por 1.800 missões ou 4,7 vezes menor que as
voadas em 1967
no Vietnã e 14 vezes menor que a Linebaker II em 1972.
A furtividade, ou a capacidade de
sobrevivência em geral, é função da
densidade
da ameaça esperada. Atualmente existem poucas áreas com
densidade de defesas
aéreas igual a do Pacto de Varsóvia, e nem tão
profundas e resistentes quanto a
da URSS. Serão densas apenas ao redor de alguns alvos como
ocorreu em Bagdá.
Os russo
perderam a batalha
de Bekka e da Líbia na década de 1980, mas agora tem sistema
novos com o SA-10, SA-11
e SA-12. Pelo menos em mísseis SAM estão claramente a
frente do Ocidente. A
USAF testou os mísseis russos clandestinamente e descobriu
que são bem
melhores que o esperado.
Em 1985, os EUA pretendiam ter no ano 2000 uma força formada
principalmente de
aeronaves furtivas. Seriam 800 aeronaves furtivas sendo 130 bombardeiros B-2 e
duas alas com
F-22, aém de
mais duas em formação (300 aeronaves). Metade da frota
embarcada da US Navy seria de aeronaves
A-12 (400 aeronaves) e mais de 150 A-12 estariam saindo das linhas de
produção. Em 2000, havia apenas 75 aeronaves furtivas
voando com o F-117 e B-2 ou 2,5% das aeronaves de combate da USAF. O
F-22 entrou em operação em 2005 e o F-35 entrou em operação em 2013.
As aeronaves
furtivas provaram ser um problemas para construir e eram mais caros
de
desenvolver que o previsto. O fim da URSS também resultou em cortes nos gastos
com pesquisas com
a diminuição da ameaça. O resultado foi que em
2000 havia apenas 21 B-2 e pouco
mais de 50 F-117 operacionais. O alvo das aeronaves furtivas
também mudou.
O F-35 JSF foi concebido como uma alternativa de baixo custo ao A-12
ATA da US
Navy e de certa forma ao F-22. A furtividade pode dar acesso
irrestrito ao
território inimigo em qualquer tempo. O F-35 JSF irá
permitir que os
porta-aviões americanos operem em cenários com grande
ameaça de mísseis SAM sem
depender apenas de mísseis cruise ou da USAF.
Sofisticação das Defesas
Para sobreviver às defesas integradas inimigas (IADS) uma
aeronave pode usar
táticas (velocidade, altitude, pacote de ataque, etc),
contramedidas
eletrônicas, supressão das defesas, armas de longo alcance
e agora a tecnologia
furtiva. Também serve uma combinação destas
técnicas que podem ser
convencionais ou furtivas. A escolha vai depender da ameaça e
dos meios
disponíveis.
A primeira variável a ser considerada na escolha dos meios de
sobrevivência é a
sofisticação das defesas inimigas que podem ser divididas
em várias categorias:
- Defesas de baixa intensidade. Em cenários de baixa intensidade
as forças e
os meios inimigos estão bem espalhadas, são pouco
concentrados e com
capacidade de recuperaçaõ limitada. Os sistemas de
armas podem incluir armas
portáteis leves, artilharia antiaérea (AAA) guiada
opticamente com calibre
acima de 12,7mm, lança-foguetes portáteis (contra
helicópteros) e mísseis antiaéreos
portáteis (MANPADS). As táticas e técnicas
empregadas pelas forças inimigas
normalmente não exigem medidas de planejamento de
missão significativos antes
do lançamento da missão e o ambiente permite
operações usando contramedidas
passivas para evitar detecção e engajamento pelo inimigo.
Operar em altitudes
médias (acima de 3.000-4.000m) pode ser o suficiente para
não ser engajado
pelas armas disparadas do solo.
- Defesas de média intensidade. Os cenários de
média intensidade contêm ameaças
significativas. A concentração, mobilidade e tipo de
armas empregadas pelo
inimigo requerem medidas ativas e passivas para evitar ou degradar as
ameaças e
prevenir engajamentos subseqüentes. Os sistemas de armas esperados
incluem
sistemas de baixa intensidade, mísseis antiaéreos (SAM)
de gerações anteriores e
aeronaves com capacidade look-down/shoot-down. Deve-se realizar
planejamento
pré-missão extensivamente.
Durante a missão, deve-se esperar o emprego ostensivo de
táticas de evitamento e
técnicas evasivas, de contramedidas internas e sistemas
defensivos, supressão
de defesas inimigas (SEAD) e proteção por outras
aeronaves (escolta, SEAD e
guerra eletrônica), e operações noturnas para
evitar engajamentos. O inimigo
tem capacidades de engajamento por radar e eletro-ótico limitados
a alcances
médios e um Sistema de Defesa Aéreo Integrado (IADS) de
capacidade moderada. O
vôo a baixa altitude em alta velocidade a noite pode ser a
tática preferida de
penetração pelos países com meios menos
sofisticados.
- Defesas de alta intensidade. Os cenários de alta intensidade
tem forças
hostis em uma grande área de cobertura, densamente
concentradas, dividida em camadas,
capazes de recuperação rápida e com alta
mobilidade. As armas incluem
mísseis SAM avançados ou de última
geração, contramedidas eletrônicas (CME),
artilharia antiaérea integrada e aeronaves com capacidade
Look-Down/Shoot-Down.
Os ambientes de alta intensidade são caracterizados por uma IADS
de alta
capacidade, redes de comando e controle e capacidade de guerra
eletrônica.
Os sistemas terrestres podem ser altamente protegidos em
fortificações e
difíceis de serem destruídos ou colocados fora de
ação. O planejamento de
missão deve ser extensivo e detalhado e é
necessário escolta para derrotar ou
degradar as ameaças. As aeronaves furtivas e mísseis
cruise são as ideais no
início de uma campanha aérea para tentar colocar o
sistema de comando e
controle inimigo fora de ação e permitir a
utilização de aeronaves menos
sofisticadas.
Configurações de Redução da Assinatura
Gráfico polar
de
várias configurações de assinatura radar.
Fuzzball. Uma aeronave convencional, não furtiva, tem essa assinatura, que é constante em todos os aspectos. É uma forma ideal para aeronaves furtivas, com redução significativa do RCS em quase todos os ângulos. É o padrão necessário de uma aeronave de ataque contra alvos muito bem defendidos.
Teoricamente, uma aeronave furtiva
Fuzzball
perfeita tem uma redução uniforme de RCS de 55
decibéis que pode negar o
retorno de radar. O B-2 tenta ter uma assinatura Fuzzball e concentra
os spikes
em quatro setores (spikes). Uma aeronave furtiva com
configuração de RCS
Fuzzball poderia ser aproximar do alvo de qualquer ângulo sem se
preocupar com
as defesas radar.
Bowtie. Esta assinatura hipotética apresenta RCS menor no aspecto frontal e traseiro em relação ao lateral. O gráfico de assinatura polar é parecido com uma gravata borboleta (Bowtie). De forma simplificada, a forma Bowtie teórica tem uma redução de pelo menos 15 dB no RCS no aspecto frontal e traseiro. O F-117 têm está configuração para penetrar e fugir de um alvo relativamente bem defendido.
Pacman. Este tipo de assinatura é uma aproximação simples do RCS de uma aeronave convencional reformada para reduzir a assinatura radar apenas no aspecto frontal. É uma configuração certamente usada no F-22 e no F-35 que tem dificuldade de diminuir a assinatura do escape dos motores, sendo facilmente visíveis por trás. Penetram facilmente no alvo com a ajuda do baixo RCS frontal, mas na fuga precisam usar a velocidade para escapar. Se engajados no ar ou em terra, o F-35 pode voltar para atacar passando novamente para o modo furtivo. Abrindo "buracos" na cobertura radar, a ameaça vai ficando sempre a frente.
Uma aeronave modernizada tem uma assinatura
remanescente da
criatura do jogo de vídeo game da década de 80, o Pac
Man. O SR-71 era outra
aeronave com configuração furtiva Pacman. Tinha um RCS baixo
no quadrante frontal,
mas como era ruim nos outros quadrantes acabava sendo detectado de
qualquer
forma pela densa cobertura de radares nas áreas onde operava. A furtividade
frontal ajudava na fase de ataque dos mísseis SAM e para
aumentar a efetividade
das ECM.
Para o propósito da
análise, os níveis de
assinatura de radar de uma aeronave se dividem em 5 categorias.
Começando com o
menos avançado elas são:
-
Assinatura convencional e grande RCS;
- Nível
LO1 (Low Observable) e LO2 de redução
de RCS na zona furtiva, mas ainda não tão baixo quanto uma
aeronave pode
alcançar. Como exemplo temos as aeronaves convencionais que
receberam
tecnologia furtiva como o F-16 ou que tiveram alguma tecnologia furtiva
considerada no projeto como o SR-71 e F/A-18E/F;
- VLO1
(Very Low observable) - Redução de RCS
desejável e possível de se alcançar como no F-117,
B-2, F-22 e F-35;
Após
entendido os princípios da redução de assinatura e
como funciona, é
precisa saber como aplicá-la para ter vantagem tática. Para
simplificar o
espectro de ameaça teremos como exemplo três
cenários representando os espectro
citado para ser estudado:
- Ataque direto: simula uma
missão em uma
região de defesa altamente defendida para atacar um alvo de alto
valor como um
centro de comando e controle ou sítio de armazenamento de armas
de destruição
em massa;
- Ataque tático: simula um
ataque contra um
alvo que é parte de uma força militar de campo.
São relativamente bem
defendidos e correspondem a 70% dos alvos no conflito do Golfo em 1991;
Cenários
genéricos.
A seguir serão ilustrados
os resultados de
uma simulação desses três cenários
genéricos. A simulação será mostrada para
ilustrar como vários níveis de reduções de
assinatura são o fator principal na
capacidade de sobrevivência da aeronave e no planejamento da
campanha aérea.
Estes três cenários
foram estudados usando
uma versão simplificada de um modelo de defesa aérea. O
modelo usa variáveis
como as decisões tomadas pelo sistema de comando e controle, a
localização e
operação de baterias de mísseis SAM, e a
habilidade de vários radares em cada
componente do sistema para rastrear o atacante e disparar um
míssil válido.
Várias variáveis foram simplificadas no sentido de
extrair os resultados
mostrados aqui.
Missões simuladas produzem
um certo número
de detecções válidas que podem levar ao disparo de
um míssil SAM. Os gráficos
mostram várias detecções como levando a um disparo
válido. Uma vez disparado, a
ação não pára. O modelo continua a correr e
o número total de resultados de
detecção que podem resultar em disparos de cada forma de
assinatura na rota de
ingresso e regresso.
Cenários do Futuro
As simulações mostram que uma aeronave furtiva
padrão Pacmam não é suficiente
para atacar um alvo de alto valor. Voar baixo pode ajudar em algumas situações.
Para
ter perdas aceitáveis tem que ser furtivo VLO padrão
Bowtie ou levar arma de longo
alcance como um míssil cruise.
No cenário tático uma aeronave furtiva LO2 com
padrão Pacmam pode atrasar a
detecção o suficiente para fugir. O atrito melhora ainda
mais com apoio de
supressão de defesas. Voar baixo melhora a capacidade de
sobrevivência após o
ataque e uma aeronave convencional passa a ter capacidade de
sobrevivência de
uma aeronave LO2 com padrão Pacmam.
No cenário de evitamento de ameaça, uma aeronave LO
padrão Pacmam é suficiente
se voar baixo e a noite. Uma aeronave furtiva VLO padrão Bowtie
quase não é
rastreada.
A defesa final de um engajamento com manobras evasivas não
é mais considerado
contra os mísseis de última geração. Um
Tornado IDS britânico tentou de tudo
para evitar ser atacado por um Patriot PAC3 do US Army que o atacou por
engano
inclusive manobras. As manobras evasivas até que poderão
a voltar a entrar na
equação com os futuros UCAV capazes de puxar 20g´s
instantâneo, mas para os
caças isto está fora de cogitação.
A degradação das defesas é outro meio importante
para aumentar a capacidade de
sobrevivência. As baixas tentem a serem maiores nas primeiras
missões e podem
ser mantidas baixas depois em uma campanha prolongada. Com contramedidas
modernas
como despistadores rebocados e IADS degradada em 70%, a capacidade de
sobrevivência
de uma aeronave convencional pode se igualar as aeronaves furtivas
(curva G1).
Em um cenário de ataque direto basta uma
degradação de 15% para se igualar as
aeronaves furtivas.
Uma aeronave furtiva equipada com armas guiadas tem três vantagem
contra alvos
bem defendidos: é pouco provável que vai ser derrubado;
destroem os alvos com
razão mais alta; e podem atacar defesas integradas facilmente,
diminuindo ainda
mais a ameaça.
No Afeganistão, a USAF pôde usar o B-52 para apoio
aéreo aproximado de longa duração
devido às defesas insignificantes na região. Já as
perdas de B-52 esperadas em
1991 era de 30%. O uso de táticas de pacote e o uso de
mísseis cruise evitaram
as perdas.
Mesmo com as tecnologias atuais os mísseis SAM continuam
efetivos. Os sérvios
já provaram isso derrubando um F-117 em Kosovo e conseguindo
evitar perder suas
defesas para os americanos. Meios considerados obsoletos podem ainda
ser
efetivos com táticas criativas. Uma tática bem simples é
disparar vários mísseis de
várias baterias contra uma única aeronave. Esta armadilha
de mísseis evita que
o jammer da aeronave interfira em todos os radares de controle de que operam em
bandas
diferentes e a aeronave só conseguirá manobrar para evitar
alguns mísseis
podendo seguir uma rota ótima para outros. Um ataque com o uso
da mesma banda
de freqüência pode atrapalhar o ataque de um míssil
anti-radiação que irá mudar
de direção várias vezes olhando para vários
radares. Outra opção é ligar vários
radares em momentos diferentes para guiar um único míssil
para enganar o jammer
e mísseis anti-radar.
Armas de longo alcance podem ser usadas contra os poucos
alvos bem
defendidos. A capacidade de supercruzeiro pode ser somada futuramente
para
diminuir o tempo em contato e/ou fugir. Estes meios podem ser suficientes
para
atuar em uma guerra de coalizão no exterior participando da
segunda fase da
campanha quando as defesas estiverem bastante degradadas.
Uma
função recente descoberta para o uso da
furtividade é evitar fratricídio. Uma bateria de
mísseis SAM Patriot americana atacou
caças Tornados Britânicos no Iraque em 2003. Os pilotos tentaram reagir
sem sucesso
pois os mísseis atuais são bem efetivos. O F-22 evitaria
fratricídio ao evitar
detecção pelos sistemas defensivos amigos.
Próxima
parte: Custos da Tecnologia Furtiva
Atualizado
em 6 de Dezembro de 2005
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