Durante
a década de 1980, já se suspeitava da
existência de aeronaves furtivas
nos EUA. O Pentágono dizia que era secreto. Em 1977, já
havia rumores de um
projeto de uma aeronave furtiva chamada Have Blue. Uma queda de aeronave em 1978
era
suspeita de ser a aeronave. As peças foram recuperadas e
colocados peças de um
F-101 no local. Referência sobre o projeto Have Blue foi
publicado em 1981 na
Aviation Week. Artigos sobre a tecnologia furtiva apareceram pela
primeira vez
na Jane´s International Defence Review em 1984. Em 1988, os
projetos F-117 e
B-2 foram tornados públicos com as fotos mostradas em 1991. Foi
seguido em 1989
pelo Have Blue e Tacit Blue e depois em 1990 pelos concorrentes do ATF.
O F-117 é considerado a primeira aeronave furtiva verdadeira a
entrar em
operação. É considerada uma aeronave furtiva de
segunda geração sendo que o
SR-71 seria de primeira geração. As aeronaves de terceira
geração são o B-2 e
F-22. O F-35 JSF já estaria na quarta geração.
F-117
Ainda em 1975, a DARPA, Agência de Projetos de Pesquisas
Avançados, se
interessou por aeronaves furtivas que pudesse penetrar um sistema de
defesa
aéreo moderno. O projeto foi iniciado após a
experiência israelense na guerra
do Yom Kippur, em 1973, quando os F-4 Phantom da força
aérea israelense sofreram
perdas pesadas para as baterias de mísseis SAM móveis SA-6 do Egito.
Enquanto isso, no Vietnã,
a USAF usava metade de suas aeronaves para supressão de
defesas ao invés
de bombardeio. A USAF estava preocupada por não acreditar que
poderia vencer as
defesas Soviética na Europa pois as perdas seriam muito altas. Os
estudos seriam
para uma aeronave invisível que seriam difícil de
detectar e engajar se
detectada.
O projeto se chamava Project Harvey, nome de uma comédia sobre um
coelho
gigante invisível, para projetar uma plataforma de teste
invisível
(experimental survivable testbed - XST) com baixo RCS. Os estudos da
DARPA eram
baseados nas experiências dos RPV usados no Vietnã que eram
difíceis de serem
detectados no Radar. A USAF já estudava
projetos furtivos no programa CSIRS (Covert Survivable in-weather Reconnaissance/Strike).
Cinco companhias receberam um contrato de US$ 1 milhão para
desenvolver seus
projetos de aeronaves com baixo RCS: a Northrop, McDonnell Douglass,
General
Dynamics, Grumman e Fairchild. As duas últimas não se
interessaram pelo projeto.
A General Dynamics enfatizou o uso de contramedidas e não tinha
conhecimento
sobre as técnicas de controle de assinatura. A Northrop e a
McDonnell Douglas
mostraram ter conhecimento sobre o assunto.
A Lockheed ficou de fora inicialmente por estar fora dos projetos de
caça há
muito tempo, mas conseguiu entrar depois devido a experiência com
tecnologia
furtiva no U-2 e SR-71. A Lockheed e a Northrop foram selecionadas para
construir os demonstradores de tecnologia que voariam.
A Lockheed mostrou uma forma final de um diamante achatado que
não podia voar e
passou a se chamar diamante sem esperança (Hopeless Diamond). O Hopeless
Diamond teve o
RCS predito confirmado em testes e era bem menor que o Drone D-21 ou
cerca de
1/10 do RCS. Nos testes de radar o modelo não era detectado.
Os modelos do XST da Northrop e Lockheed em escala 1/3 foram testados
contra
radares em 1975. Os testes com modelo real foi no ano seguinte. O
modelo da
Lockheed tinha RCS 10 vezes menor que o modelo da Northrop. Acharam até
que não estava na
torre de teste ou tinha caído. A aeronave tinha que ser limpa
frequentemente
pois excrementos de pássaros aumentava o RCS em cerca de 50%. A Lockheed
foi escolhida
em abril de 1976 para dar continuidade ao projeto.
Seria construído dois demonstradores sendo um para testar a
aerodinâmica e o segundo
para testar a tecnologia furtiva. O segundo protótipo foi
coberto com RAM e era
muito difícil de ser detectado no radar e só quando
estava bem perto.
O XST teria 60% do tamanho de uma aeronave e sem compartimento interno
de
armas. A entrada de ar usava com uma grade para esconder os motores, o
escape
dos jatos era plano, não tinha flap ou freio aerodinâmico
e nenhum dispositivo
de sustentação. A cauda era em V para dentro igual a do SR-71. O XST usava
peças de outras aeronaves como o trem de pouso do F-5A, sistemas
de FBW do F-16 e
motor J-85 do T-2. Os dois protótipos caíram em acidentes.
A aeronave foi testada contra radares em terra, E-3 AWACS e radares
soviéticos.
O E-3 só detectava por curto período e os radares em terra
só quando estava já
dentro do alcance mínimo dos mísseis que não
conseguiam trancar no alvo. Em uma
ocasião, o protótipo apareceu fácil em um teste de
radar. Foi descoberto que
eram três parafusos não apertados direito e que estavam
aparecendo 1-2
milímetros para fora na superfície.
O Hopeless Diamond
não parecia com nada que voava e não iria voar.
Era só para testar o conceito. Os testes com o XST mostrou que
voava melhor do que o
esperado. A Lockheed estudou 20 configurações com o software ECHO
I até chegar no Hopeless Diamond.
Foto do
protótipo do XST da Lockheed.
A abordagem
da Northrop para o XST foi mais empírica, deduzindo quais as
regras que dão
forma de baixa assinatura e não tinham muita experiência
com RAM como a
Lochheed. Outra fonte cita que a Northrop trabalhava com estudos de
diminuição
do RCS desde 1966. Em 1970, a Northrop propôs um programa de
computador para
predizer o RCS de várias formas, incluindo cabides com o uso de RAM. A
segunda
geração do programa foi chamada de GENSCAT e foi capaz de
predizer o
RCS de um F-4C com precisão. Levou três semanas para
entrar os dados de
dimensões da aeronave e uma semana para rodar o programa.
O projeto Harvey não era secreto e depois dos resultados foi
tornado secreto. A
palavra stealth não poderia mais ser citada. O projeto passou a
ser chamado de
Have Blue.
Em 1978, a Lockheed sugeriu dois projetos de aeronaves furtivas, um
bombardeiro
médio com quatro motores e dois tripulantes, e um caça
bimotor com um
tripulante. A USAF se interessou pelo caça e contratou a Lockheed em
novembro de 1978 para
o programa Senior Trend que seria um XST maior com o dobro do tamanho
que se
tornaria o F-117A.
Os retornos de radar do protótipo do F-117 apareciam raramente
no radar e seus
ecos eram confundidos com ruído de fundo até que a
aeronave estivesse no
alcance mínimo das defesas de terra. Apenas o E-3 Sentry e
alguns radares de
baixa freqüência e radares VHF tiveram sucesso em
detectá-lo, mas devido a
antena muito grande dos dois últimos, eles não são
úteis para o campo de
batalha.
O F-117 era muito
ágil, com baixa carga alar, mas não faz
dogfight ou apoio aéreo aproximado. Com pouca potência a
aeronave perde
velocidade rapidamente. Foi feito um compromisso entre velocidade,
alcance e
agilidade em favor do controle de assinatura. A aeronave foi projetada
para
voar sozinha contra defesas pesadas e atingir alvos estratégicos
com precisão.
O primeiro F-117A voou em 18 de junho
de 1981, ou 18 meses após
o contrato. No
total foram construídos 59 aeronaves contando os
protótipos. O contrato também
incluía o desenvolvimento de um míssil cruise furtivo.
O custo de desenvolvimento e
produção foi de US$ 6,260
bilhões, incluindo US$ 2
bilhões em pesquisa, com um custo unitário de US$106
milhões. Era planejado a
construção de 100 aeronaves mas era muito cara. O F-15E
custava 50 milhões na
época.
O F-117 saiu de operação em 2008 e foi substituido
inicialmente pelo F-22 armado com bombas JDAM e SDB. Em
1991, foi estudado
a compra de 18 células adicionais, antes do ataque contra o
Iraque, talvez
prevendo algumas perdas.
Foram propostas várias variantes do F-117. O F-117A+ seria a
versão mais atual
com motor F-414 do F/A-18E/F e equipado com pós-combustor. A
conversão de um protótipo
custaria US$ 79 milhões. Em 1983, foi proposto uma frota de 89
aeronaves com a
conversão das já entregues. Levaria radar LPI e o AGM-88.
Poderia ser chamado
F-117B.
O F-117N Sea Hawk seria igual ao F-117A com poucas
alterações para operar
embarcado como o trem de pouso do F/A-18. Foi anunciado em 1993 e
proposto a
fabricação de 40-70 aeronaves. Seria uma força baseada em
terra que
voaria até os NAes se
necessário. A US Navy criticou a aeronave por só servir para um tipo de
missão e só operar a noite. As aeronaves embarcadas tem que ser multifuncionais. A US Navy já tinha estudado uma versão naval do
F-117 em 1984. A alta
velocidade de pouso era inadequada para uso embarcado.
A Lockheed voltou a prancheta para um substituto do programa A/F-X que
foi cancelado e propôs o A/F-117X Sea Hawk em 1994. O
A/F-117X era um
caça multifuncional derivado do F-117N. Também foi
proposto como alternativa ao
Joint Advanced Strike Technology (JAST) que se tornou o JSF. A aeronave
custaria US$ 3,1 bilhões para desenvolver e US$ 70
milhões cada para um lote de
255 aeronaves. A aeronaves seria equipado com o turbofan F-414 com
pós-combustor, radar multimodo LPI, capacidade de levar o míssil AMRAAM
e
compartimento interno para 4.500kg de armas mais 3.600kg externo em
dois
cabides. O raio de ação seria de 980 milhas contra 570
milhas do F-117A. A
aeronave apoiaria os F/A-18E/F nos cenários mais
difíceis. A aeronave preenchia
todos os requisitos do programa A/F-X menos o espaço no
convés. Se o projeto
fosse a fosse adiante a USAF compraria uma versão terrestre que
se chamaria
F-117B.
Foto da proposta do A/F-117X.
Tacit Blue
Logo depois do XST, a DARPA iniciou estudos do Battlefield Surveillance Aircraft, Experimental (BSAX) em 1976. O programa fazia parte de vários sistemas para parar um ataque blindado soviético na Europa com uso de munição guiada sendo que o BSAX seria o meio de aquisição de alvos. A Northrop foi a contratante única aproveitando sua experiência com aeronaves furtivas.
Em 1978, a Northrop recebeu um contrato de US$ 165 milhões para desenvolver a aeronave. Seria uma plataforma radar de vigilância terrestre para o programa Pave Mover da USAF e SOTAS do US Army. Também mostraria que uma aeronave furtiva poderia ser produzida com formas curvas. Os programas Pave Mover e SOTAS foram unidos e se tornou o JSTARS.
Para o programa a Northrop desenvolveu o demonstrador de tecnologia Tacit Blue. O Tacit Blue era uma aeronave monoposta, com 17 metros de comprimento, 14,6 metros de envergadura, 3 metros de altura e peso máximo de 13,6 toneladas. Voaria a 250 milhas por hora a 7,900 m de altura. Era propulsado por dois turbofans Garret ATF3-6. A entrada de ar ficava na parte superior da fuselagem. O RCS lateral foi considerado importante por fazer busca lateral e não para penetração. A aeronave voou 135 missões entre 1982 a 1985 e era muito difícil de pilotar. Foi mostrada ao público em 1996.
Tacit Blue era um
componente secreto do programa Assault Breaker.
Demonstraria o conceito de uma plataforma de reconhecimento e
vigilância
com capacidade de penetração no território inimiga. Foi construída em volta de um radar
AESA da banda
X. O radar
também funcionaria como datalink de banda larga de longa
distância com
capacidade LPI. A aeronave voaria além da linha de frente para
detectar forças
blindadas do Pacto de Varsóvia. O Assault Breaker era um sistema
de mísseis com
submunição guiada de longo alcance.
O Tacit Blue demonstrou que era possível usar técnicas de formas furtivas com formas curvas. Também demonstrou que uma aeronave de vigilância furtiva podia operar na frente de batalha com alta capacidade de sobrevivência e monitorar além do campo batalha. O JSTAR acabou sendo instalado no Boeing 707 escolhido em 1984.
A Northrop depois participou do programa ATF em 1978, do programa Stealthy Cruise Missile (depois chamado de TSSAM) e depois do ATB em 1979 (que virou o B-2).
Próxima parte: Advanced Tecnology Bomber (ATB)
2005
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