Furtividade na Guerra Terrestre |
A
guerra
terrestre é diferente da guerra aérea no que se refere a
furtividade. Enquanto
uma aeronave furtiva tenta se proteger principalmente dos radares, as
tropas e
plataformas terrestres se preocupam mais com a assinatura visual,
sonora e
térmica. Os radares que ameaças plataformas terrestres
são radares de busca de
alvos móveis (MTI) como o JSTAR, radares de imagem SAR e alguns
mísseis guiados
por radar como o Brimstone britânico.
O equivalente das técnicas de forma e materiais absorventes de
radar das
aeronaves furtivas são as técnicas S e M (Shape, Surface,
Shine, Silhouette,
Shadow, Spacing and Movement) das tropas terrestres. Não faz
muito sentido tentar esconder a assinatura radar de um alvo fixo como
uma base aérea e basta deixar um blindado parado para não
ser detectado por um
radar MTI.
As
táticas das
aeronaves furtivas também tem seus equivalentes na guerra
terrestre através das
técnicas CCD (camouflage concealment deception - camuflagem,
ocultação e
despistamento). As técnicas CCD tem o objetivo de diminuir a
probabilidade de
detecção pelo inimigo. A maioria das técnicas
é barata e simples de
implementar, sendo muito útil para defesa ou como medida contra
inimigo mais
forte. As técnicas são complementares com o ocultar a
presença, fundir com o
fundo, atrapalhar a identificação, alterar a forma e
contorno ou característica
e usar alvos falsos como isca.
As técnicas furtivas terrestres também seguem os princípios da cadeia de destruição (Kill Chain) formada pela detecção, acompanhamento, identificação e engajamento. Um soldado deve evitar ser detectado pelo inimigo, se não conseguir deve evitar ser acompanhado, também deve evitar ser identificado e se não der certo deve sobreviver ao engajamento.
A
disciplina de
luz, barulho, movimento e uso de camuflagem são as principais
armas para evitar detecção. A dispersão é
de uso
freqüente para evitar a destruição de várias
unidades de uma só vez em caso de ataque, principalmente de
artilharia.
Uma arma disparando emite
várias assinatura e estas emissões alteram o meio. A
luz, brilho, fumaça, temperatura e som são
indesejáveis como este canhão sem
recuo de 106mm. O F/A-22 usa a furtividade para se aproximar do alvo e
disparar. Depois foge por perder a furtividade durante o ataque.
São táticas
para aumentar a sobrevivência como as táticas e de fogo e
movimento das tropas
terrestre.
O Armbrust é um
lança-rojão furtivo que emite pouco barulho,
brilho, fumaça e som. Pólvora sem fumaça,
supressor de som e brilho são outros
exemplos de técnicas que tornam a arma furtiva.
O
filósofo
chinês Sun Tzu já dizia há 1500 anos
atrás que todas as guerras eram baseadas no despistamento. Como
exemplos temos
as armadilhas de Mig no Vietnã ou operações
intensas como a Operação Fortitude
na Normandia.
A
Operação
Barbarosa, invasão alemã da Rússia, foi
meticulosamente encoberta com rumores
falsos, desinformações e operações de
contra espionagem para que fosse pensada
como a invasão da Inglaterra. Cerca de 400 mil tropas foram
movidos em um mês e
o ataque aéreo inicial destruiu 1400 aeronaves em um dia.
Na
operação
Fortitute, despistadores foram colocados no Passo de Calais, como
planadores,
LCUs, caminhões, blindados, etc, e foram realizadas
comunicações falsas. A
invasão da Normandia foi identificada como sendo um ataque
diversivo e a reação
demorou.
Os
Egípcios
condicionaram os israelenses a acharem que manobras no canal de Suez
eram
treinos de rotina. Assim conseguiram ganhar surpresa na invasão
de 1973. Os
israelense sé reagiram nos primeiros treinos. Os israelenses
fizeram o mesmo
com os Sírios no vale de Bekka condicionando os operadores de
radar dos mísseis
SAM sírios com vôos de UAV e aeronaves. O ataque real
só foi levado a sério
quando as bombas começaram a explodir.
Em
outubro de
1991, as forças armadas americanas realizaram o exercício
Joint CCD (JCCD)
para medir a efetividade das técnicas CCD (Camouflage,
Concealment, Deception)
para aumentar a capacidade de sobrevivência de
instalações em terra e meios
moveis contra aeronaves de ataque tripuladas.
A aeronaves da USAF e US Navy como F-15E, F-15, A-6E, A-10, F-111,
F-117 e
F/A-18 realizaram 1695 ataques simulados com armas guiadas e de queda
livre
contra alvos com e sem proteção CCD. Os testes foram em
Eglin simulando
ambiente temperado, Fallon com ambiente desértico e Volk para
subártico. Foram
11 alvos de cinco categoriais: grande linear (intersecção
de rodovia);
grande-médio, isolado (armazém simulando
estação naval e armazém de arma em
floresta); grande-médio, complexo (estacionamento de aeronave,
HAS e PC em meio
a outros prédios similares); pequeno, isolado (lançador
de mísseis balístico
móvel estrada em floresta, e radar terrestre em floresta),
pequeno e complexo
(viatura de comando e gerador).
As técnicas CCD eram rede camuflagem, padrão despistador,
superfícies falsas,
aeronaves e estruturas falsas, obscurecentes, refletores de radar de
canto,
técnicas de supressão térmicas e uso de
matérias como lona, água e parede de
isolamento.
A conclusão foi que as técnicas CCD eram efetivas para
aumentar capacidade de
sobrevivência dos alvos. O número de ataques aos alvos
corretos caíram de 70%
para 48%. Também aumentou o número de ataques abortados.
Quando era usado uma
iscas, eram atacas em 27% das vezes. A probabilidade do alvo sobreviver
sem CCD
foi de 9-38%, aumentado para 42-90% com CCD. O erro de pontaria variou
de
2-155m sem CCD e aumentou para 640m com CCD. As técnicas CCD
também diminuiu a
distância que os tripulantes adquiriam e designavam os alvos e
alterava
a
sincronização de eventos críticos no ataque.
O DIA (Defense Intelligence Agency) também conduziu 13 testes de inteligência de imagem (IMINT) durante o JCCD com interpretes de imagem de satélite para avaliar seu julgamento contra alvos usando técnicas CCD. O teste mostrou que o tempo de avaliação não aumentou, mas o número de alvos falso sim. A dificuldade aumenta com fundo complexo, CCD complexo e uso de iscas de alta fidelidade com assinatura aumentada.
Durante a batalha da
Inglaterra na segunda
guerra mundial, os britânicos usaram despistadores Starfish que
eram sites
próximos a cidade que criavam incêndios quando a cidade
era atacada. O objetivo
era desviar os alemães do alvo principal durante os bombardeiros
noturnos.
Despistadores inflaveis pode
ser usados também como alvos em treinamento. Um despistador
realistas podem ser inflável, esqueleto com baixa fidelidade com
lona,
forma em poliurenato ou plástico, e multiespectral, com
assinatura
adiciona IR e ou radar adicional. O realismo dos despistadores depende
do tempo
para analisar. Um caça atacando um blindado tem poucos segundos
para observar o
alvo e qualquer despistador serve. Para um analista de imagem, o
despistador
precisa de muito realismo como rastro dos veículos.
Foto de um
lançador de mísseis Scud iraquiano sendo iluminado por um
designador laser para ataque com caças armados com bombas
guiadas a laser. Analise posterior mostrou que era um
despistador como pode ser percebido pela diferença na traseira
do lançador.
A USAF usa o
despistador ITT Gilfillan AN/TLQ-32
para proteger os radares de busca AN/TPS-75 contra ataques de
mísseis anti-radar.
Guerra Blindada
Os
blindados usam
furtividade com menos entusiasmo que as aeronaves, e apenas tentam
diminuir o
peso extra. Exceção é a GIAT francesa que testou a
redução de RCS nos blindados
AMX10RC e AMX30B2 como parte do programa Demonstrateur Furtif Chenille
(DFC -
demonstrador furtivo de esteira) para testar tecnologias furtivas em
blindados.
Os kits de supressão de assinatura usavam material
multipespectral nas bandas
visível, IR e radar, com painéis duplos na traseira. A
emissão de calor é
reduzida com isolamento, maceramento duplo, pintura térmica e
mistura de gases
no exaustor com ar ambiental. A assinatura radar foi diminuída
com painéis com
material RAM, principalmente na base da torre, aberturas e
transmissão. A
assinatura visual foi reduzida com camuflagem simples sem atrapalhar
outras
assinaturas.
Demonstrador
AMX-30B2.
O blindado
da Bielorússia Stalker de reconhecimento com tecnologia furtiva.
Os blindados
são fortes candidatos para usarem técnicas CCD por serem
alvos prioritários. A
outra opção é o uso de blindagem extra ou
proteção ativa para proteção
adicional, que são caros ou pesados.
A
Armscor sul
africana levou a assinatura eletroótica para outro nível.
O
demonstrador Armoured
Technology Demonstrator, baseado no blindado sobre rodas Ratel, usa
pintura de
baixa emissividade com formas e cores para dar um padrão de
camuflagem e que
também diminui a temperatura de 40ºC para 28ºC quando
visto de um visor
térmico.
Israel equipou os seus blindados com esteira toda de metal. Além de diminuir a assinatura térmica, a nova esteira dura bem mais que as equipadas com tiras de borracha e dá menos manutenção por não precisas trocar as tiras. Por outro lado, a esteira de metal estraga o asfalto e os blindados já devem estar posicionados no campo de batalha. Uma assinatura difícil de reduzir nos blindados é a assinatura sonora. Um carro de combate em alta velocidade, até um blindado leve como o M-41, faz até a terra tremer.
Um veiculo parado e desligado tem assinatura IR menor. No frio
tem
mesma assinatura do ambiente e é indetectável. O aparecimento e
uso em larga
escala de armas guiadas levou a máxima de "se você pode
ver o alvo, pode
destruído". As miras automáticas também tiveram
uso comum nos carros de
combate (foto). Os novos sistemas de mira térmica, telêmetro
laser e computador
balístico agora tem o apoio de sistemas de reconhecimento
automático de alvo e
acompanhamento de alvo. Os blindados agora tem capacidade de detectar
alvos a
longa distância e atacar com grande precisão, até
alvos móveis, sem muito
treinamento da tripulação.
A
empresa sueca Barracuda Technologies desenvolveu a camuflagem
multiespectral
para veiculos Mobile Camouflage System (MCS) que cobre a banda visual,
quase
IR, térmica e radar. A parte externa de PVC e poliuretano tem
varias camadas e
inclui camada para diminuição do calor (evita
emissão e penetração em deserto
de até 50%). A camuflagem é removível e pode se
adaptar a vegetação da área de
operação. Um total de 400 kits foram compradas para
Leclerc do UAE e foi
testado no VC90 e Leopard 2 suecos. A Alemanha instalou nos seus
Leopard 2. A
Austrália comprou o MCS num contrato de US$670 mil para equipar
90 Leopard AS1
e 8 veículos de resgate e 5 lança-ponte. A Barracuda
também produz a rede de
camuflagem A camuflagem Barracuda Multi-Spectral Ultra Lightweight
Camouflage
Screen (BMS-ULCAS) para substituir redes de camuflagem comum e
dá proteção
radar e térmica.
A
Barracuda Technologias também produz a camuflagem High Mobility
on Board System
(HMBS) protege equipamentos como obuseiros quando disparam e deslocam,
diminuindo a assinatura em até 90%, e supressão
térmica permite que motor e
geradores fiquem ligados para permitir partida rápida. A
camuflagem é formada
por módulos, sendo o que a TOPCAM é um guarda-chuva e o
COMCAM é um modulo
manuseável.
US ARMY
usa a
rede de camuflagem Lightweight Camouflage Screen System (LCSS) no
padrão
floresta, deserto e ártico com capacidade de
proteção anti-radar nas bandas
6-94GHz e quase-IR. A versão ártica usa padrão de
anti-reflexão de luz UV da
neve. O LCSS tem conceito modular com módulos hexagonal unidos
de acordo com o
objeto a ser protegido.
O
Ultralightweight Camouflage Net System (ULCANS) da BAe Systems
irá usbsituir
LCSS sendo 2/3 mais leve, mais resistente e fácil de manusear.
dois soldados
podem levar um kit ULCANS completo de 135g/m2 contra 4 do LCSS. A rede
cobre a
banda radar 6 a 140GHz e proteção visual, quase IR e IR.
A
ocultação com
fumaça complementa as técnicas CCD e permite cobrir uma
grande área em pouco
tempo dando proteção contra armas laser, térmicas
e visual. Junto com chaff
pode dar proteção contra armas guiadas por radar.
2005
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