AF-1 Falcões

A doutrina da MB é baseada no uso de Grupos Tarefa (GT) para cumprir suas missões. Nos cenários estudados pelo Estado Maior da Armada, foi observado a grande necessidade de defesa aérea para o GTs quando operam longe da costa.

A MB iniciou a procura de um caça em 1994. Já era esperado que a FAB fosse retirar o S-2 Tracker de operação em 1996. A MB enviou pilotos para iniciar treinamento no Uruguai e Argentina em 1995.

A MB estudou a compra de A-4 Skyhawk, A-7 Corsair II, Super Etandart e Harrier. A escolha foi determinada pela capacidade do A-11. O A-7 era muito pesado para operar no A-11, O Harrier era muito caro de comprar e manter e o Super Etandart não estava disponível. Só sobrou o A-4 Skyhawk.

A MB procurou o A-4 americano nos depósitos do ARMAC no deserto mas os custos para colocar em operação eram altos.

A aquisição dos A-4KU Kuaitianos foram estudados no fim de 1997. Os A-4KU eram os últimos Skyhawks construídos em 1976. Durante a invasão do Kuwait derrubaram cinco helicópteros iraquianos com os canhões. Operavam de rodovias antes de fugir para a Arábia Saudita. Durante a Operação Tempestade do deserto realizaram 1361 missões e um foi derrubado. Depois da guerra foram substituídos pelo F/A-18C/D. A MB comprou 20 monopostos e 3 bipostos por US$70 milhões, incluindo 20 motores extras, peças reposição e 217 mísseis AIM-9H. A media de horas voadas era de 1.700h. Antes do Brasil, Botswana e Filipinas tentaram comprar os caças.

Em 30 de abril de 1998, a Marinha do Brasil (MB) assinou um contrato para a aquisição de 20 caças monopostos e 3 bipostos McDonnell Douglas A-4KU/TA-4KU Skyhawk chamados na MB de AF-1 e AF-1A respectivamente, aumentando substancialmente sua capacidade de Guerra Aeronaval.

Os Skyhawk chegaram em 5 setembro de 1998 e foram chamados de AF-1 para o monoposto e AF-1A para o biposto. O primeiro piloto brasileiro a voar na aeronave foi o Tenente José Vicente de Alvarenga em 26 maio 2000.

O treino dos pilotos era iniciado nos T-34C Mentor e EMB-326GB Argentinos, depois nos TA-4J e T-45C Goshawk do VT-7. A US Navy retirou o TA-4J de operação. Agora os pilotos estão sendo treinados nos T-25, T-27 e AT-26 da FAB por ser mais barato. A MB estudou a comprar de TA-4J para treinamento.
Cada novo piloto passa três anos nos Estados Unidos, a um custo de US$ 750 mil.

O objetivo inicial da MB é formar a base para uma aviação naval e dar cobertura aérea a frota. Os caças realizam defesa aérea e superioridade aérea da frota diurna. As operações de ataque e anti-navio são secundarias.

Durante a operação Temperex de setembro 2002, foram qualificados 8 pilotos. Para 2004 estava previsto a disponibilidade de 23 pilotos tornando o esquadrão VF-1 Falcões operacional. A Marinha pretende inicialmente manter 26 pilotos operacionais até 2006 para passar para outras etapas. Os gastos totais chegam a US$ 120 milhões incluindo revitalização das aeronaves, peças de reposição, armamento, instalações em terra e treino de pilotos no exterior.

O AF-1A biposto é mais pesado e leva menos combustível que o monoposto e não é usado para operações embarcadas. Apenas 15 monopostos e 3 bipostos são mantidos operacionais com os outros cinco estocados em condições de vôo.

Em setembro de 2000, foi realizado o primeiro toque e arremetida no A-11 Minas Gerais. O primeiro trap foi em 18 de janeiro de 2001 com um piloto americano. O primeiro piloto brasileiro a pousar no A-11  foi o CT Alvarenga em julho de 2001. Os pilotos tem que ter 30 traps para se qualificar, o dobro dos pilotos americanos.

Em 17 de outubro de 2001, foi realizado o primeiro treinamento de reabastecimento com um KC-130H da FAB. A MB pretende comprar casulos de reabastecimento Sargent Fletcher para que um AF-1 reabasteça outro.

Está prevista uma modernização e a lista de desejos inclui radar multimodo, novo computador de missão, displays multifuncionais, HUD, RWR, ejetor e FLIR. O radar APQ-145, o sistema de armas WDNS e o HUD já estão ultrapassados.O radar APQ-145, o sistema de armas WDNS e o HUD do A-4KU já estão ultrapassados. O VF-1 solicitou uma modernização baseada no F-5BR mas devido às restrições orçamentárias esta na fila de espera.

Os 217 Sidewinder estão fora da validade e o AF-1 deverá usar o MAA-1 Piranha. Os Sidewinder são usados para publicidade.

O A-11 sempre foi considerado pequeno, lento e velho para operar jatos com segurança. O NAe francês R-99 Foch foi oferecido para venda em 1999 com entrada em serviço do Charles de Gaulle. Foi comprado pela MB em setembro 2000 por US$12 milhões e rebatizado A-12 São Paulo. Antes a MB tentou comprar o USS Saratoga mas foi considerado muito caro e grande para operar apenas 25 aeronaves.

A primeira operação do A-12 com o AF-1 foi em setembro de 2001 que pode levar facilmente 15 AF-1 e helicópteros. O R-99 já tinha testado o A-4 em 1972 numa concorrência para substituir o Etandart IVM. Seriam comprados 100 caças mas o Super Etandart foi escolhido.

A missão do A-12 São Paulo é defender o Brasil, a frota mercante e pesqueira e patrulhar águas territoriais. Ainda não existe intenção de ir ao exterior e nem existe condições financeiras para isto. O objetivo inicial é usar as novas aquisições para treinamento e desenvolvimento de doutrina de emprego.

O São Paulo fica cerca de 80 dias por ano no mar e por isto os pilotos simulam o pouso em uma pista desenhada na base de São Pedro de Aldeia semelhante ao convés do A-12.
A Marinha treina missões de interceptação com os AF-1 e possui controladores aéreos de interceptação (CAINT). Os primeiros foram formados na FAB.

Em 2005 o navio deve passar em mar aberto apenas metade dos 40 dias considerados o mínimo para manter a embarcação em prontidão total comparado com seis meses de um porta-aviões americano. O resultado é que a eficiência acaba prejudicada. Por exemplo, há três anos o São Paulo era capaz de lançar dois aviões ao ar num intervalo de 2,5 minutos. Hoje a operação toma 5 minutos.

Uma vez por ano, desde 1993, a Armada Argentina opera nos NAes da MB. Quando era usado o A-11 Minas Gerais não era possível lançar os Super Etandart argentinos.

AMEAÇAS

O AF-1 foi adquirido para suprir a tarefa de defesa aérea de um Grupo Tarefa (GT) nucleado em um Navio Aeródromo (NAe). Neste caso o GT pode estar operando no Atlântico Sul ou em qualquer outra região do globo.  

Poucos países tem condições de operar aeronaves de ataque de longo alcance a partir de bases em terra capazes de ameaçar as nossas linhas de comunicações no Atlântico Sul. Como exemplo temos os B-52 da USAF, Tu-22 da Rússia, P-3 Argentinos e outras aeronaves de longo alcance que poderiam estar baseados na costa oeste da África.

O A-4 já foi usado pela US Navy como interceptador contra este tipo de ameaça e os Sea Harrier britânicos, com desempenho similar ao A-4, também foi concebido para operar neste modo enfrentando as aeronaves de reconhecimento Tu-142 Bear russos no Atlântico Norte.

As ameaças de aviação de asa fixa embarcadas atuais são os países que possuem NAes como os EUA, Rússia, França, Reino Unido, Espanha, Itália, Índia, Tailândia e futuramente a China. São ameaças improváveis de aparecerem em cenários no Atlântico Sul, ou impossíveis de serem contrapostas com os meios atuais, a não ser os submarinos, e que provavelmente usariam outros meios como os submarinos caso precisem operar no Atlântico Sul contra o Brasil.

Outra ameaça seriam aeronaves de ataque leve baseadas em terra. Pensando apenas em termos de superioridade numérica, o número de aeronaves embarcadas no A-12 é uma amostra do tamanho máximo que deve ser a frota de aeronaves de ataque do inimigo para valer uma tentativa de contrapor a ameaça.

Este tipo de ameaça só existe quando o GT se aproxima da costa inimiga devido à limitação do alcance e disponibilidade de aeronaves de reabastecimento em vôo que ocorre com as aeronaves dos dois lados. Foi essa ameaça que os NAes britânicos enfrentaram na Guerra das Malvinas em 1982. A tática britânica foi manter-se afastado da ameaça e poucos ataques foram realizados pelos argentinos, pois estava limitado pelo número de aviões tanque KC-130 e armamento adequado - o Exocet.

Em caso de necessidade, a MB não tem capacidade logística para manter um GT a longa distância, fora dos limites do Atlântico Sul, por longos períodos de forma autônoma. Como visto acima, ela também não tem capacidade de operar de forma eficaz contra ameaças relativamente bem equipadas e que pode ser até um esquadrão de aeronaves de treinamento a jato.

É pouco provável que uma ameaça as nossas linhas de comunicações marítimas não ameace também outros países. Um exemplo recente foi a Guerra dos Petroleiros, quando o Iraque tentou obstruir o transporte de petróleo no Golfo Pérsico na década de 80. Vários países enviaram navios para o Golfo para proteger seus navios.

Neste caso, é de se esperar que a marinha atue em conjunto com outras forças navais estrangeiras, o que pode resolver as limitações logísticas e bases navais e a inferioridade numérica.

Neste caso, o primeiro problema a ser resolvido é ter a "permissão" do xerife do mundo, os EUA, visto que já se declararam responsáveis pela segurança mundial e não querem ter a tarefa realizada pelas sua marinha sendo ameaçada por outra. A US Navy precisa mostrar que tem utilidade.

MODERNIZAÇÃO

Delimitado os cenários, limitações e necessidades da MB em relação à defesa aérea, é possível determinar as necessidades de médio e longo prazo em relação à aviação embarcada. A necessidade de curto prazo é, obviamente, formar um núcleos de pilotos capacitados em aviação de caça embarcada. A Marinha já indicou que uma modernização do AF-1 só fará sentido se forem adquiridas também aeronaves de alerta antecipado (AEW).

A principal necessidade em médio prazo é a modernização, de pelo menos parte da frota de caças AF-1, com aviônicos e armamentos modernos. Um requisito é a compatibilizar a aeronave com meios estrangeiros para operações conjuntas e operações combinadas com as outras forças armadas. Os itens estão relacionados com sistemas de Comando e Controle, principalmente os rádios (padrão Have Quick), datalinks (link 16/JTIDS) e IFF que devem ser padrão da OTAN.

Os AF-1 também devem ser capazes de realizar operações conjuntas com aeronaves da FAB como o FX, F-5EM, A-1M, R-99 AEW, P-3BR e o KC-137. A Marinha usa o Link YB, uma versão comercial do Link 11 da OTAN, em seus navios e provavelmente o AF-1 precisara de um terminal deste tipo também se não receber o Link 16 junto com as outras plataformas.

Os outros itens a serem modernizados estão relacionados com sua missão principal de defesa aérea. O AF-1 precisará de um radar multifuncional para operar em qualquer tempo, glass cockpit, mira montada no capacete e sistemas de contramedidas eletrônicas modernas, também considerando que também estarão disponíveis no seu sucessor.

O custo médio de modernização de uma aeronave é de US$4-5 milhões baseado nos gastos da FAB com o F-5EM/FM e sem contar a aquisição de armamento, ou US$8 milhões baseado no gasto da modernização do AMX que tem valores atualizados.

A Marinha pode se aproveitar da experiência adquirida pela FAB com a modernização dos seus F-5 e A-1. Uma padronização seria aconselhável em termos logísticos e operacionais. A MB já indicou que pretende seguir este caminho.

A MB já está estudando a transformação do turbojado J-52-P-408 para o padrão /A, usados nos Prowlers (EA-6B) e substituição do gerador por um novo da Allied Signal. A modernização consiste da substituição da seção quente, gerador e outros pequenos itens, custando cerca de US$ 5 milhões para os mais de 40 motores da MB.

O sistema de oxigênio LOX (oxigênio liquido) deverá ser substituído por um OBOGS (gerador de oxigênio). Também está estudando novos aviônicos como radar, HUD, sistema inercial e rádios. O AF-1 modernizado será equipado com novos mísseis ar-ar, ar-mar e anti-radiação. 

O assento Escapac IG-3 poderá ser trocado e o trem de pouso reforçado para aumentar o limite para mais 900kg para pouso a bordo.

Para ser efetivo na missão de defesa aérea e superioridade aérea, é preciso considerar a aquisição de armamento ar-ar moderno como mísseis de curto alcance de superagilidade e mísseis de médio alcance.

As opções no mercado atual e futuro próximo temos o R-73/R-74 Russo, Python 4/5 israelense, A-Darter da Africa do Sul, IRIS-T europeu, AIM-9X americano e o ASRAAM britânico para combate aproximado. Para combate a média distância temos o MICA francês, R-77 russo, AMRAAM americano, Meteor europeu, Derby israelense e R-Darter da África do Sul.

As pequenas dimensões do AF-1 já são um critério para a escolha dos mísseis assim como o preço. O Piranha é uma das possibilidades e a experiência da FAB com o Python 3 e com um novo míssil BVR que esta sendo adquirido poderia ser aproveitada na modernização do AF-1.

O AF-1 não é páreo para aeronaves modernas mais manobráveis, mas os mísseis de combate aéreo de superagilidade apontados por mira no capacete tornaram este requisito secundário. Uma aeronave armada com esses mísseis de combate aéreo de 5ª geração apontado pelo capacete consegue enfrentar em nível de igualdade qualquer oponente num combate aproximado.

No caso de combate a longa distância, o AF-1 deverá contar com modos de alta resolução no radar para identificar alvos à longa distância e poder validar o disparo de um míssil de longo alcance (BVR - Beyond Visual Range). O míssil de longo alcance será necessário, entre outros motivos, pois o AF-1 não é supersônico e não tem condições de perseguir alvos que se afastam.

Um próximo passo, devido a limitação de recursos, é pensar em aumentar a capacidade ofensiva, atualmente restrita a bombas convencionais e foguetes, para operações de apoio aéreo aproximado, ataque anti-navio, ataque de precisão e supressão de defesas aéreas. Ela será determinada mais pela disponibilidade de recursos para a aquisição de armamentos modernos do que pelos aviônicos que serão multifuncionais.

Uma sugestão de baixo custo é a aquisição de bombas equipadas com kit de guiamento por IR ou TV. As bombas Opher da Elbit são um kit de guiamento infravermelho adaptadas a bombas comuns como as Mk 82 de 227kg. São mais caras que as bombas guiadas a laser mas não tem o custo adicional do designador laser e são bem mais baratas que outros mísseis de curto alcance como o Maverick. Seriam usadas contra alvos móveis e tem uma boa capacidade anti-navio podendo sendo a primeira escolha no caso de alvos com defesas de curto alcance.

Outro kit israelense é a SPICE da Rafael baseado nos sistemas usados pelo míssil guiado por TV Popeye. É uma bomba guiada por TV de médio alcance. Pode ser usada contra alvos bem defendidos em terra e no mar ao serem disparadas bem longe das defesas. Também tem capacidade de destruição de defesas aéreas caso a posição do radar ou bateria antiaérea seja triangulada. Os franceses irão comercializar as bombas guiadas AASM a partir de 2004.

É bom lembrar que as missões de ataque são geralmente precedidas de uma missão de reconhecimento do alvo e por isso um casulo de reconhecimento fotográfico seria necessário. As missões de ataque também são seguidas de outra missão de reconhecimento para avaliação de danos.

Para aumentar o alcance das aeronaves é recomendável a aquisição de casulos de reabastecimento tipo buddy-buddy para que um AF-1 transfira combustível para outro. Isso aumenta a distância do NAe até o alvo e permite uma maior segurança contra contra-ataques inimigos. Aeronaves configuradas para REVO também são usadas para aumentar a autonomia das aeronaves em missões de defesa aérea ou que precisam de combustível extra para esperar a vez de pousar.

As missões de ataque anti-navio são realizadas atualmente pelo Super Lynx armado com o Sea Skua e pelo SH-3 Sea King armado com o AM-39 Exocet. O AF-1 já pode realizar escoltas destas aeronaves contra um GT inimigo equipado com ameaças leves de aviação baseada em terra ou embarcada.

Em uma missão de ataque a alvos no solo ou mar haverá a ameaça de radares inimigos que precisam ser suprimidos ou destruídos. Para supressão os AF-1 poderiam ser equipados com sistemas de interferência eletrônica ativa ou despistadores tipo chaff. A FAB usava potentes casulos Cayman para interferência em radares inimigos que pode ser usados para proteger uma esquadrilha.

Com a aquisição de armas antinavio, mísseis ar-superfície e anti-radiação, deve-se considerar que a MB poderá participar futuramente de uma Guerra de Coalizão contra outro país, a exemplo dos conflitos em Kosovo e Iraque, e que as missões de defesa aérea estarão a cargo dos caças da US Navy e a MB atuaria principalmente contra alvos na superfície.

Para ter uma noção de custos, os 36 caças A-4AR argentinos foram modernizados por US$200 milhões. A Nova Zelândia colocou a venda os seus A-4 modernizados. Pode ser uma fonte de aviônicos e armas assim como os Sea Harrier FRS.2 britânicos que também foram retirados de serviço logo após serem modernizados.

Os AF-1 estão armados com os AIM-9H e canhões de 20mm para combate aéreo.
Futuramente precisarão de armas mais modernas se quiserem se tornar realmente efetivos.


A US Navy já instalou um míssil Harpoon em um A-4M para testes. A MB poderá precisar de um míssil antinavio futuramente para equipar seus AF-1. Os atuais AM-39 já estão no fim da vida útil.

Próxima parte: Programa AEW-N

Atualizado em 29 de julho de 2005



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