Modernização da Marinha do Brasil |
No ano 2000,
a FAB anunciou um plano de mais de US$ 3 bilhões para modernização
de suas aeronaves para o período de 2000 a 2007. Foi consenso entre
o Exército e a Marinha que a FAB estava em pior situação
e que deveria ter prioridade na distribuição dos recursos.
A Marinha
previa um gasto de US$ 7 bilhões no período entre 2003-2018
divididos em quatro fases de quatro anos cada um. Apenas no período
de 2003-2006 seria gasto cerca de US$ 1,5 bilhões. O total foi reduzido
é só é suficiente para modernizar os meios existentes.
O novo Programa de Reaparelhamento da Marinha (PRM) foi apresentado ao governo
em julho de 2003 e prevê o investimento de US$ 2 bilhões num
período de 16 anos (2004-2019). O programa foi dividido em quatro
Planos Parciais de Obtenção e Modernização (PPOM)
de quatro anos cada um.
O PRM prevê os seguintes projetos:
- O NAe São Paulo deve receber novos sensores, um sistema de mísseis de defesa de ponto e outro
de apoio à decisão - Sistema de Controle Tático
(SICONTA). O navio tem vida útil restante
superior a vinte anos, com baixa prevista para após o ano 2019, e
sua substituição não está incluída no
PRM. Está previsto também o início do projeto destinado
ao seu substituto.
- Aquisição
de 14 navios de escolta ( fragatas
e corvetas ), sendo cinco construídas no Brasil e nove adquiridas
por compra de oportunidades, para substituir as seis fragatas Niterói,
quatro fragatas Greenhalgh e quatro corvetas Inhaúma. As seis
fragatas Niteróis modernizadas deverão
estar operacionais até 2019. As fragatas Classe Greenhalgh não
serão modernizadas. Está em fase de estudos a instalação
de MM-40 Exocet Block 2 nas Greenhalgh e devem dar baixa por volta de 2014.
As quatro corvetas classe Inhaúma deverão dar baixa a partir
de 2014 e também não serão modernizadas. A corveta Barroso
deve ser incorporada por volta de 2007/2008.
- O submarino classe Tikuna deve ser incorporado
em dezembro de 2005. Os submarinos classe Tupi devem ser revitalizados e
o programa está atrasado devido a falta de verbas. O Programa
ModSub deveria ser concluído em 2008. O projeto S-MB-10 deverá
ter início cinco anos após a aprovação do PRM
com prazo de conclusão de sete anos. Devem ser construídos cinco
submarinos da classe.
- Os SH-3 Sea King devem ser modernizados ou substituídos
por 12 aeronaves mais modernas. Os helicópteros de emprego
geral UH-13 Esquilo e UH-14 Super Puma também devem ser modernizados.
Poderão ser adquiridos novos helicópteros de esclarecimento
e ataque AH-11A Super Lynx adicionais. Os caças AF-1 Skyhawk devem
ser modernizados recebendo novos sistemas de armas, comunicações,
navegação e detecção. Os AF-1 receberão
casulos de reabastecimento em vôo. Devem ser adquiridas três
aeronaves de alerta aéreo antecipado a médio prazo.
- A Força de Apoio deve receber uma nova classe de navios-transporte
de apoio (NTrAp) de construção local. Devem ser adquiridos
novos navios de desembarque doca (NDD) para substituir os atuais com compra
de oportunidade. Está previsto a compra de oportunidade de um novo
navio-tanque (NT) para reabastecimento no mar e a aquisição
de um navio de apoio logístico nacional e outro via compra de oportunidade;
- Os fuzileiros devem receber um obuseiro para substituir os atuais de 155mm,
novos radares Giraffe e de novos equipamentos de comunicações
e guerra eletrônica.
- As forças distritais deve receber novos navios de contramedidas
de minagem no exterior. Os navios-varredores da classe "Aratu" estão
recebendo novos equipamentos para varredura acústica e magnética
de minas. O PRM prevê a construção, em estaleiros nacionais,
de cinco navios-patrulha (NPa) de 450 e de quatro de 1000 toneladas além
de outros navios auxiliares. As forças fluviais devem receber novos
navios-patrulha fluviais (NPaFlu) e modernizados os existentes. Há
previsão de construção de um navio-transporte fluvial
(NTrFlu), um navio de apoio logístico fluvial (NApLogFlu) e navios
de assistência hospitalar (NAsH), e novas classes de NPaFlu e NTrFlu
para o Pantanal.
Configuração do navio de patrulha oceânica sendo projetado
pela MB. O convés de vôo deveria ser capaz de suportar operações
de helicópteros médio porte pelo menos para reabastecer.
Espectro de Ameaça
As ameaças esperadas pela MB são várias, apesar de improváveis,
e ela deveria estar preparada para contrapor. Os meios atuais e previstos
tem limitações de cenários em que podem atuar. Os cenários
vão desde ameaças de baixa intensidade, geralmente relacionados
com as forças Distritais e Fluviais, até guerra convencional
que felizmente não é uma ameaça visível.
Apesar de um conflito
convencional ser possível ele é pouco provável. Existe
um limite, relacionado com o orçamento, sobre até que nível
de conflito a MB tem condições de atuar com eficiência
ou possibilidade de sucesso.
O espectro de ameaça esperado para MB. Apenas a US Navy pode
cobrir todo o espectro. As outras marinhas tem limitações ou
atuam em coalizão.
O espectro de ameaça
também tem outras variáveis como operar na defesa ou ataque;
teatro de operações no continente ou fora do continente; atuar
sozinho ou em coalizão; e operação de curto ou longo
prazo. Por exemplo, no conflito das Malvinas em 1982, os argentinos estavam
defendendo as ilhas próximos ao continente. Os britânicos estavam
no ataque tentando retomar as ilhas e bem longe de suas bases em terra. O
conflito foi de duração média. Os dois paises atuaram
oficialmente sozinhos apesar de outros países terem ajudado como os
EUA, Chile e URSS.
O objetivo da missão também pode ser variável. Pode
passar desde o evitamento e dissuasão, até escalada como efeito
sobre o inimigo, destruição ou rendição. Dependendo
da situação pode ser até evitar perdas ou simplesmente
sobreviver. Em 1999, o objetivo dos Sérvios era simplesmente sobreviver
às forças da OTAN que queriam a retirada das tropas Sérvias
de Kosovo. Os insurgentes iraquianos têm o objetivo de criar efeito
progressivo nas tropas americanas após a invasão de 2003. Os
Árabes sempre tentaram destruir o Estado israelense. No conflito do
Cenepa em 1995, o Peru e Equador queriam a retirada das tropas inimigas da
fronteira. Não havia intenção de escalar o conflito.
Algumas situações são previsíveis. As ameaças
de baixa intensidade são geralmente no continente, de defesa, atuando
sozinho, em uma operação de longo prazo. É um cenário
permanente onde não se considera se haverá ameaça, mas
sim onde. São ações tipicamente de policiamento e realizadas
pelas forças distritais que podem ser apoiadas pela Esquadra. As operações
de Manutenção da Paz são geralmente de coalizão
e fora do continente, com apoio de aeronaves de transporte para ações
imediatas e navios para manter a longo prazo.
Os cenários de média intensidade podem ter como ameaça
mais certa uma incursão de surpresa. Um bom exemplo pode ser o ataque
a Pearl Harbour pelos Japoneses e o revide americano com os B-25 contra Tóquio.
Exemplos recentes eram as incursões diárias nas zonas de exclusão
aérea no Iraque (Operation South Watch e North Watch) que duram mais
de dez anos com engajamentos quase diários e nenhuma perda aliada.
A OTAN não impôs uma zona de exclusão aérea na
Bósnia pois as defesas eram consideradas bem mais capazes. Outros
exemplos recentes são a Desert Fox em 1998 no Iraque, Deliberate Force
contra a Bósnia em 1995 e Eldorado Canyon quando os EUA realizaram
um ataque punitivo a Líbia em 1986 por apoiar grupos terroristas.
Cenários de alta intensidade são menos freqüentes. Exemplos
recentes temos a Guerra de Golfo de 1991 e 2003 e Kosovo em 1999. São
exemplos de operações onde foram usadas armas sofisticadas
como NAes. Guerra regional é algo provável devido à
proximidade física. Conflitos no continente não exigem uma
marinha oceânica devido ao acesso físico. Conflitos fora do
continentes superioridade numérica ou local sendo necessário
operar em coalizão para operar em terra.
Missão Marítima
Os tipos de missão marítima realizada por uma marinha como
negação do mar, controle de área marítima ou
projeção de poder são outras variáveis a serem
consideradas no espectro de ameaça e merecem um maior detalhamento.
A MB é atualmente uma marinha de porte médio com capacidade
oceânica limitada para realizar a defesa dos interessas nacionais no
exterior. Durante a guerra fria a MB seguia uma doutrina de marinha de defesa
de linhas de comunicações marítimas do Atlântico
Sul. Era praticamente uma força de reserva não oficial da OTAN
para o caso de um conflito OTAN versus Pacto de Varsóvia.
Criar uma marinha de projeção pode passar por uma doutrina
de atuar em coalizão como fazem as marinhas da OTAN antes de chegar
no caro patamar de uma marinha com capacidade de projeção independente.
Esta opção pode ter um custo na capacidade de negação
ou dissuasão que necessita de uma configuração de plataformas
diferentes.
Um exemplo de marinha de negação é a Marinha Soviética
nos anos 50 que usava submarinos nucleares de ataque e escoltas e lanchas
rápidas armadas com mísseis antinavio. Estes meios eram apoiados
por uma aviação baseada em terra de longo alcance. Esta marinha
com capacidade de defesa distante do litoral e interdição marítima
ainda é mantida. Os submarinos são a arma mestra para negação
do mar. Cobrem as áreas que não podem ser cobertas pela aviação
baseada em terra. Não tinham a mesma capacidade de mostrar bandeira
ou controle de área marítima, mas permitia a defesa contra
qualquer inimigo e até contra os EUA/OTAN. Na década de 60
a URSS passou a desenvolver uma marinha com capacidade de controle de área
marítima, mas mesmo assim era para defender as áreas de operação
dos seus submarinos de mísseis balísticos. As bases aéreas
ao longo do vasto território fariam o papel dos NAes.
A capacidade de negação da MB está concentrada nos seus
submarinos. É uma força extremamente capaz. Durante o conflito
das Malvinas, os dois lados usaram submarinos para tentar conquistar superioridade
local. Logo no inicio do conflito os britânicos anunciaram que dois
submarinos nucleares estavam sendo deslocados de seu local de patrulha no
Atlântico Sul para forçar o bloqueio naval ao redor das ilhas.
A Marinha Argentina logo fugiu para o porto sendo que na verdade um submarino
britânico estava no Atlântico Norte e outro estava voltando para
base. O submarino HMS Conqueror fez a marinha voltar ao porto novamente após
ter torpedeado o cruzador General Belgrano. Já o submarino argentino
ARA San Luiz conseguiu acompanhar a esquadra britânica e atacá-la
duas vezes sem sucesso devido a problemas com os seus torpedos. Os britânicos
gastaram todas as suas armas anti-submarina, mas mesmo assim o ARA San Luiz
não se sentiu ameaçado em momento algum.
A FAB tem capacidade potencial de reforçar a capacidade de projeção
do país se os seus caças A-1M forem armados com mísseis
antinavio. O alcance da aeronave é relativamente curto para cobrir
o Atlântico Sul mesmo com apoio de aeronaves de reabastecimento em
vôo. Uma aeronave de ataque de maior alcance seria necessária.
Seriam apoiados pelo P-3AM para reconhecimento marítimo que também
pode ser armado com mísseis antinavio para atacar alvos menos defendidos.
Exemplos atuais de marinha otimizada para negação são
paises com pequena região costeira como Alemanha. A frota de aeronaves
Tornado IDS armados com mísseis Kormoran, aeronaves de patrulha Atlantic
e lanchas lança-mísseis é relativamente modesta mas concentram
uma grande força em uma pequena região tornando-se relativamente
poderosa. A MB tem que cobrir pelo menos todo o Atlântico Sul e suas
forças ficam diluídas por uma grande área.
Logo após
o ataque a Pearl Harbour a US Navy iniciou a ofensiva com seus submarinos
fazendo bloqueio naval com minagem e interdição das rotas mercantes
japonesas. A Alemanha fazia o mesmo no Atlântico Norte tentando cortar
as rotas de suprimentos aliadas e quase obteve sucesso.
Os EUA mantém um esquadrão de B-52 capazes de disparar o míssil
anti-navio Harpoon. Podem atuar apoiados por um NAe americano que fornece
indicação de alvos, supressão de defesas, guerra eletrônica
e escolta de caças. O paiol dos NAes ficam liberados para levar outras
armas pois cada B-52 é capaz de levar 12 mísseis Harpoons.
A Austrália deixou de operar NAes mas usa sua frota de AP-3, F/A-18A+
e F-111 armados com mísseis Harpoons e bombas guiadas a laser para
negação marítima, além de seus submarinos. O
Reino Unido sempre manteve uma frota de jatos de ataque marítimo na
forma do Bucanner armado com o Martel e depois o Sea Eagle. Foram substituídos
pelos Tornados IDS com o Sea Eagle e agora usam o Nimrod armados com o Harpoon.
A Marinha Russa usa aeronaves Tu-22 apoiados por caças Su-27 e MiG-29.
A Índia está equipada com os Jaguar armados com o Sea Eagle.
A resposta Paquistanesa aos NAes indianos foi armar seus Mirage III com o
AM-39 Exocet. O Japão cobre sua costa com os caças F-1 e F-2
armados com mísseis ASM-1. Taiwan também desenvolveu o caça
IDF local armado com míssil antinavio local. A Tailândia operava
caças A-7 Corsair II antes de operar um NAe com AV-8A Harrier. A África
do Sul já operou aeronaves Buccaner com capacidade de ataque
naval. O Iraque adquiriu caças Mirage F1 armados com Exocet para atacar
alvos no Golfo Pérsico. Israel equipou seus F-4E Phantom II com mísseis
Gabriel. A China usa o Tu-16 e está desenvolvendo o caça FB-7
para ataque marítimo. Também está recebendo caças
Su-30MKK2 com capacidade antinavio.
Enfim, os países com aeronaves de ataque terrestre com capacidade
antinavio é muito maior que os países que operam ou operaram
NAes. Os países que operam NAes também mantém uma frota
de aeronaves de ataque terrestre com capacidade antinavio. Um dos motivos
óbvios é orçamentário pois a maioria dos países
não tem condições de ter uma frota com capacidade de
projeção baseada em NAes. Outra limitação pode
ser o cenário em que esperam atuar como a Alemanha que espera ameaças
em uma pequena área. A maioria dos países também não
tem intenções ou capacidade de manter uma marinha para ação
global e cobrem apenas as ameaças regionais.
A necessidade de
defesa aérea embarcada para a esquadra quando opera em alto mar é
óbvia e sempre é confirmada em exercícios. Esta observação
tática não se sustenta com uma observação estratégica
pois se baseia na premissa que todo conflito deve ser resolvido com uma Esquadra.
Uma marinha otimizada para Controle de Área Marítima (CAM)
permite defesa regional como proteção do trafego marítimo
ao invés de se otimizada para projeção. Um exemplo é
a marinha britânica durante a Guerra Fria com os NAes da classe Invencible
para proteger as rotas marítimas no Atlântico Norte no caso
de conflito OTAN x Pacto de Varsóvia. Antes tinha capacidade de projeção
com NAes de ataque para proteger suas colônias.
Na década
de 70, a US Navy estudou o uso de uma fragata e um pequeno NAe para tarefas
de baixa intensidade. A fragata se tornou a FFG-7 com mais de 50 navios da
classe construídas. O projeto do NAe foi cancelado com o projeto sendo
usado pela Espanha para construção do Príncipe de Astúrias.
O substituto da FFG-7 será o Littoral Combat Ship (LCS). O LCS será
uma embarcação rápida para operar no litoral e bem mais
simples que a FFG-7 otimizada para operar em mar aberto. O custo será
entre US$ 100-220 milhões cada. Terá configuração
modular podendo ser adaptado para cada missão. A capacidade anti-submarina
será direcionada para o litoral onde se tornou mais importante. Realizara
contramedidas de minas no litoral, apoio de forças especiais, logística
de alta velocidade, Operações de Interdição Marítima
(MIO maritime interceptation operations), operações de vigilância,
reconhecimento e inteligência e anti-terrorismo/proteção
de força. Cada Carrier Strike Group (CSG) ou Expeditionary Strike
Group (ex Anfibious Assalt Group) levará 2-3 LCS adaptados de acordo
com o cenário. Os planos da US Navy de uma marinha do futuro para
os próximos 30 anos prevê uma configuração de
260 a 325 navios. A configuração de 260 navios teria 10 NAes,
8 DD(X), 15 CG(X), 63 LCS, 37 submarinos da classe Virginia, 19 Sea Base
e 14 navios pré-posicionados (MPF). A configuração de
325 navios teria 11 NAes, 12 DD(X), 18 CG(X), 82 LCS, 40 Virginia, 25 Sea
Base e 20 MPF.
As ameaças
enfrentadas durante as missões de CAM costumam ser contra vários
paises devido ao comércio internacionalizado. Quem bloquear nossa
costa está prejudicando os países importadores também
e a maioria dos navios mercantes tem bandeira estrangeira. No caso da MB
estar realizando bloqueio estaremos ameaçando vários países.
A missão de CAM diminuiu de importância depois do fim da Guerra
Fria devido ao fim da ameaça submarina soviética. Para se ter
noção da diminuição da ameaça ASW depois
do fim da Guerra Fria é só comprar as forças embarcadas
em um NAe da US Navy antes e depois. Antes uma Ala Aérea Embarcada
tinha 10 aeronaves S-3 Viking e seis helicópteros SH-3 ou SH-60B.
Agora são apenas seis SH-3 para as missões ASW. Os S-3 Viking
agora fazem guerra de superfície e reabastecimento em vôo. Futuramente,
por volta de 2015, uma Ala Aérea Embarcada de um NAe da US Navy estará
equipado com dez helicópteros multimissão MH60R/S. As 200 aeronaves
de patrulha marítima P-3C Orion serão substituídos por
cerca de 100 aeronaves do tipo P-8 Poseidon.
Uma marinha com capacidade de projeção de poder real depende
da disponibilidade de NAes de ataque. Mísseis balísticos são
outra opção, mas agora de menor prioridade com o fim da Guerra
Fria. É uma marinha com uma configuração similar a uma
marinha de controle de área marítima, mas com meios mais capazes
e numerosos. A capacidade de projeção atual da MB depende dos
canhões embarcados, Fuzileiros Navais, Comandos lançados de
submarinos e dos caças AF-1. A FAB tem capacidade de projeção
no continente sul americano com os caças A-1. No Vietnã a US
Navy usou desde NAes com caças até lanchas torpedeiras para
incursões de comandos SEALs, além de canhoneio naval contra
a costa do Vietnã do Norte. O USMC apoiou com aviação
baseada em terra.
Uma marinha de projeção capaz de atuar em todo o espectro de
ameaça precisa impor uma capacidade de manter apoio aéreo 24
horas por dia, sem pausa e por longo tempo. O A-12 São Paulo com seus
caças AF-1 tem capacidade de realizar missões de curto prazo
intermitentes em cenários de baixa ameaça e incursões
de média intensidade do tipo "hit and run".
Em um conflito de
alta intensidade como o conflito de Kosovo a capacidade de projeção
pode significar 300-500 saídas por dia. Seria necessário uma
força embarcada de no mínimo 100 caças com cada aeronave
realizando três saídas por dia, fora as reservas em terra. Considerando
50 caça em cada NAe será necessário um mínimo
de três NAes operando continuamente sendo um fora da zona de combate
reabastecendo e rearmando. Considerando uma reserva adicional de 1/3 seria
necessário uma força de 4-5 NAes para manter a capacidade citada.
Apenas os EUA tem esta capacidade e a OTAN opera em coalizão junto
com a US Navy para ter esta capacidade.
Os números acima são bem otimistas pois um NAe britânico
da classe Invencible será equipado com um esquadrão de 14
Harrier GR.9 na configuração de ataque após a retirada
dos Sea Harrier em 2006. A capacidade será de um pico de 20 saídas
por dia por curto período ou 10 saídas por dia em operações
continuas. É bem menos que as três saídas por aeronave
do exemplo acima. A Royal Navy usava 20-28 Sea Harrier contra a Argentina,
mas tinham que ficar longe da costa e a Argentina não conseguiu concentrar
força superior.
O NAe francês Charles de Gaulle foi projetado para ter uma capacidade
de lançar até 100 saídas de combate por dia. O CVF britânico
terá capacidade de realizar projeção de poder de média
escala podendo gerar um
pico de 108 saídas no primeiro dia (três saídas por aeronave),
72 saídas por dia nos próximos 10 dias e 36 saídas por
dia nos próximos 20 dias ou um total de 360-396 saídas nos
primeiros 5 dias contra 50-60 saídas dos três NAes da classe
Invencible juntos.
A classe Nimitz faz 140-160
saídas por dia. O CVN-78 deve ter uma capacidade 15% a maior com pico
de 220 saídas por dia em situações de alta demanda.
O navio terá 18 locais de "pit stop" para acelerar o rearmamento e
reabastecimento das aeronaves. O CVNX americano deverá ser
capaz de lançar 140 saídas em 12 horas, mantida por 30 dias,
ou 210 surtidas diárias mantidas por quatro a seis dias. Em 2010,
uma Ala Aérea Embarcada da US Navy será capaz de gerar 215
saídas de combate por dia e atacar 1.080 pontos específicos
a cada 24 horas. Uma ala aérea maior geraria muito mais missões
de ataque em uma campanha pois o número de aeronaves em missões
defensivas seria constante.
Uma notícia boa é que não é preciso tanto para
cobrir a maioria das ameaças. Uma Ala Aérea de um NAe americano
da Classe Nimitz é mais potente que 70% das forças aéreas
do mundo. Dois NAes médios teriam a mesma capacidade.
Projeção de Força pode não estar de acordo com
a Constituição que diz que as Forças Armadas só
podem ser usadas para defesa, mas depois de atacado as Forças Armadas
irão contra atacar e ai está a necessidade de forças
ofensivas. O efeito de dissuasão destas forças ofensivas podem
ser considerado uma capacidade defensiva.
CUSTOS
De forma simplificada, o que cria a distância entre o desejado e o
possível é o orçamento disponível. Nos países
do Primeiro Mundo é considerado um aumento de custos dos meios de
6% ao ano na compra de material militar. O custo de ciclo de vida de um navio
inclui compra, operação e modernização. Cerca
de 25% é para compra. Os gastos com a tripulação e operação
chega a 67%. A modernização gasta cerca de 5%. Meios com
vida longa dividem o custo de aquisição por vários anos.
Tomando como exemplo o
projeto do CVN-76 da US Navy com uma vida útil de 50 anos, os custos
totais serão de US$ 21,3 bilhões (dólar de 1998). Na
realidade americana, os custos de pessoal será de 40% ou US$ 9,3 bilhões
para 3.246 conscritos (US$ 51 mil por ano cada) em 50 anos e 160 oficiais
(US$ 101 mil por ano cada).
A manutenção
custa US$ 5,2 bilhões no total num ritmo operacional bem maior do
que o da MB. O custo inicial é de US$ 4,3 bilhões. A modernização
de meia vida custaria US$ 2 bilhões e os custos de retirada de serviço
gira em torno de US$ 500 milhões. O programa CVX americano inclui
o projeto do navio e planos para tripulação, reparos, modernização
e sucateamento para diminuir os custos.
A marinha
britânica usa seus navios por menos tempo e as fragatas Type 23 tem
vida útil projetada para 18 anos. As fragatas antiaéreas Type
42 foram projetadas para uma vida útil de 22 anos, mas devem operar
por mais de 30 anos devido a falta de substituto.
O conceito parece ser adequado
ao Reino Unido que tem condições de projetar e produzir um
navio de guerra completo o que não é o caso do Brasil que tem
que comprar a grande maioria dos sistemas de armas caros e sofisticados no
exterior. A MB acaba tendo que investir em compras de oportunidade devido
ao pequeno orçamento e com pouco investimento na indústria
nacional. A baixa disponibilidade acaba não sendo um problema pois
o ritmo operacional da MB é bem menor que o dos países do Primeiro
Mundo. O número de tripulantes também não chega a ser
problema pois os salários são várias vezes menores e
a disponibilidade de mão de obra é alta ao contrário
dos países do Primeiro Mundo onde a preferência é por
empregos no setor civil.
A linha azul do gráfico equivaleria ao investimento da MB em aquisição de novos meios. Se a MB pretende criar uma marinha de projeção ela deve estar no ponto 1. A capacidade é quase mínima com o A-12 São Paulo e os caças AF-1 servindo mais para treinamento. O ponto 2 equivale a uma MB de CAM continuando a configuração da época da Guerra Fria. O ponto 3 equivale a uma marinha de Negação, mas os meios atuais não são adequados a não ser os submarinos. Com a FAB equipando seus caças A-1M e P-3AM com mísseis anti-navio seria possível chegar próximo ao limiar sem muita dificuldade. A otimização em capacidade uma pode significar perda na outra.
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