A Hierarquia dos Objetivos Estratégicos e Táticos na MB
Em dezembro de 2008 o Ministério da Defesa divulgou a Estratégia Nacional de Defesa (END). Em relação a Marinha do Brasil o END cita que "a relação entre as tarefas estratégicas de negação do uso do mar, de controle de áreas marítimas e de projeção de poder será feita com um desenvolvimento desigual e conjunto". O END argumenta que se o investimento for feito igualmente em todas as tarefas corre um grande risco de ser medíocre em todos eles. Se for preciso montar uma missão de negação provavelmente a MB não terá meios adequados ou em quantidade suficientes para garantir que a missão será cumprida ou só poderá atuar em situações bem limitadas e assim por diante nos outros objetivos.
A MB escolheu investir na aquisição de meios "priorizando em determinada ordem e seqüência." A prioridade será assegurar os meios para negar o uso do mar a qualquer concentração de forças inimigas que se aproxime do Brasil por via marítima. Está opção é seguida pela maioria das marinhas que tem recursos limitados podendo-se ter como exemplo as marinhas da Rússia e da China. Só agora estas marinhas estão investindo em meios de projeção após décadas garantindo a capacidade de negação.
O resultado desta estratégia é que se a MB necessitar montar uma missão de negação ela provavelmente terá meios para cumprir a missão. Os outros objetivos continuarão sendo limitados, mas com o tempo serão priorizados e poderão ter condições de serem considerados com uma estrutura efetiva de meios. Investindo em todas as tarefas e sem ter capacidade adequada em todas corre-se o risco de nunca estar preparado para cumprir a missão caso seja necessário.
É importante lembrar que não será investido tudo em um objetivo, mas sim priorizar. A MB atualmente prioriza as tarefas de controle de área marítima e Projeção de Poder no Atlântico Sul. A função de CAM é um legado da Guerra Fria quando a MB era praticamente uma reserva da OTAN para o caso de um conflito contra o Pacto de Varsóvia. Neste cenário a MB faria escolta de comboios no Atlântico Sul enquanto a OTAN faria o mesmo no Atlântico Norte. Era um cenário secundário na época.
Em relação ao nível de ameaça o END cita o papel da MB de atuar em cenários de baixa intensidade como proteção das plataformas petrolíferas, ameaça por forças não-convencionais ou criminosas, às vias marítimas de comércio, e participar de operações internacionais de paz, fora do território e das águas jurisdicionais brasileiras. A MB sempre teve seus meios e treinamento voltados para operações de alta intensidade e o END inova ao incluir novos cenários e que irão repercutir nos programas de aquisição de novos meios. Estes cenários são usados como argumentos para as marinhas ocidentais/OTAN para compra de novos meios após o fim das ameaças tradicionais da época da Guerra Fria.
Negação de Poder - O Papel dos Submarinos
O submarino não é capaz de realizar todas as missões de uma marinha, mas podem negar ao adversário a capacidade de executar qualquer missão no mar. O conflito mais recente onde ocorreu combates entre navios de superfície e submarinos foi na Guerra das Malvinas em 1982. O conflito mostrou não apenas a dificuldade da guerra anti-submarina, mas que um simples submarino que não foi detectado, como o submarino San Luis argentino, pode complicar o plano de batalha do adversário consideravelmente. A simples suspeita desta ameaça foi suficiente para o comandante destinar um grande soma de recursos para erradicá-lo, recursos que poderiam estar disponíveis para apoiar outras missões primárias. A ameaça dos submarinos nucleares britânicos contra a Marinha Argentina também a forçou a ficar escondida nos portos.
Os submarinos geralmente operam sozinhos devido a dificuldade de comunicações com outras plataformas. Ficar com o mastro levantado continuamente acabaria com sua arma principal que é a furtividade.
Quando um submarino está apoiando uma Força Tarefa ficam geralmente estacionados em setores distantes da formação como em uma patrulha de barreira anti-submarina. Operam de forma independente a centenas quilômetros de distância do corpo principal e com áreas de caças exclusivas. Geralmente chegam primeiro para limpar a área de ameaças submarinas e de superfície.
A maioria das missões destinadas aos submarinos está relacionada com a sua capacidade de operar independentemente. Antes do início das operações navais, os submarinos são a plataforma de escolha para conduzir missões de reconhecimento (Coleta de informações) das forças e disposição das forças inimigas, assim como conduzir operações ofensiva como Guerra de Minas das rotas de abastecimento adversárias.
Se equipado com mísseis de ataque terrestre o mesmo submarino pode conduzir ataques preventivos aos portos e bases aéreas inimigas ou em conjunto com os elementos aéreos da força tarefa principal. Um submarino também pode ser usado em missões de resgate dos pilotos abatidos durante a missão citada podendo operar em posição avançada ao contrário de outras plataformas como helicópteros e navios de superfície. Operando de uma posição avançada também podem ser usados para alerta de ataque aéreo detectando aeronaves inimigas contra o Grupo Tarefa se aproximando. Esta missão foi realizada pelos britânicos contra os Argentinos.
Os submarinos são usados a muito tempo para apoiar operações de forças de operações especiais, levando comandos, equipes de reconhecimento e agentes em missões de alto risco. No Brasil seriam os GRUMEC ou COMANF. Uma vez na área do objetivo, os GRUMEC/COMANF podem desempenhar missões de CSAR, reconhecimento, sabotagem, ataques diversionários, monitorar a movimentação ou comunicações inimigas e outras missões de alto-risco como estudo de disponibilidade de praias, pesquisa hidrográfica e equipes de observação de desembarque em apoio a operações de desembarque. Os submarinos podem receber os comandos lançados de pára-quedas ou de helicópteros que são levados a bordo até a área de ação.
Com a progressão das hostilidades, os submarinos podem ser usados em sua função tradicional como Hunter-killers. Os submarinos são a plataforma mais efetiva de localizar e destruir submarinos inimigos.
Com a ênfase nas operações litorâneas os periscópios estão se tornando o sensor principal dos submarinos podendo ficar mais importantes que os sonares. Com sensores modernos como FLIR e TV de alta resolução os periscópios podem fazer vigilância e reconhecimento a longa distância de alvos na costa. Com sensores MAGE podem coletar dados sobre emissões eletromagnéticas inimigas. A foto acima é do periscópio do Scorpene francês mostrando janelas para sensores de imagem de todos os tipos. O periscópio principal da classe Virginia americana tem formas furtivas para diminuir a discrição.Como já visto, as funções de guerra anti-submarina de água azul é o primeiro e mais importante função dos submarinos, foi drasticamente direcionado para operações no litoral, não só a guerra anti-submarina e guerra de superfície com torpedos, minas e mísseis, mas também tarefas consideradas exóticas como ataque terrestre, coleta de informações, apoio a operações especiais e guerra de minas.
O modo de operar dos submarinos também está mudando. Os submarinos geralmente operam sozinhos com seu ponto forte sendo a furtividade. A necessidade de coordenar esforços de combate e se adaptar as mudanças do ambiente levou a comunicações por satélite para lidar com um grande volume dados, com pouco risco de detecção, devido a transmissões direcionadas dos satélites. A capacidade de operar veículos autônomos tipo AUV ou UUV também leva a novo tipo de comunicações, acústicas ou rádio, criando redes locais.
A primeira missão citada demonstra por que o END prioriza os submarinos como a plataforma principal para realizar negação do mar. As outras missões mostram como os submarinos podem ser úteis em outras missões que seriam secundárias. A capacidade de Projeção de Poder dos submarinos foram exemplificadas na forma de apoio as operações especiais e ataque terrestre com mísseis.
A prioridade da MB citada no END é "assegurar os meios para negar o uso do mar a qualquer concentração de forças inimigas que se aproxime do Brasil por via marítima. A negação do uso do mar ao inimigo é a que organiza, antes de atendidos quaisquer outros objetivos estratégicos, a estratégia de defesa marítima do Brasil. Essa prioridade tem implicações para a reconfiguração das forças navais."
O END também cita que a plataforma ideal "para assegurar o objetivo de negação do uso do mar, o Brasil contará com força naval submarina de envergadura, composta de submarinos convencionais e de submarinos de propulsão nuclear.... Armará os submarinos, convencionais e nucleares, com mísseis e desenvolverá capacitações para projetá-los e fabricá-los. Cuidará de ganhar autonomia nas tecnologias cibernéticas que guiem os submarinos e seus sistemas de armas e que lhes possibilitem atuar em rede com as outras forças navais, terrestres e aéreas."
No fim de 2008 a MB assinou um contrato com a DCNS francesa para a compra de quatro submarinos derivados classe Scorpene (chamado SBR), com opção para mais dois, e o apoio no desenvolvimento de um submarino nuclear (chamado de SNBR). O SBR terá leme traseiro em X no lugar do leme em cruz e sistema de comando SUBTICS e armado com torpedos IF-21 Black Shark. As entregas dos novos submarinos se iniciarão em 2015. O Scorpene já está em uso no Chile (2 navios), Malásia (2) e Índia (6).
A MB não indicou a necessidade de propulsão independente da atmosfera (AIP - Air-Independent Propulsion) nos seus novos submarinos. O sistema disponível na França é o MESMA já em uso em submarinos Paquistaneses.
A Força de Submarinos (ForSub) já opera cinco submarinos da classe IKL 209 sendo quatro da Classe Tupi (IKL 209-1400) e o Tikuna (IKL 209-1400 mod). A classe Tupi está sendo modernizada (programa ModSub) com a instalação de novos sistemas de Comando & Controle AN ∕ BYG-501 Mod1 da Lockheed-Martin e o torpedo pesado MK.48 Mod.6AT. Também serão trocados o sistema de MAGE, periscópios, radar e sonar.
O Scorpene foi escolhido para ser o novo submarino da MB.
Estado de Arte dos Submarinos Atuais
Os programas submarinos atuais se caracterizam por poucos paises capazes de projetar e construir por ser uma tecnologia muito especializada. O submarino Scorpene escolhido pela MB está no estado de arte dos submarinos convencionais em operação. A primeira questão a considerar é a escolha da propulsão só diesel-elétrico para o novo submarino. O principal motivo indicado pela MB é o custo de operação, mas o cenário onde a MB deve operar seus novos submarinos também indicam que o AIP não deve ser necessário. Na proposta de instalação de AIP na modernização da classe Tupi a MB preferiu instalar um conjunto adicional de baterias no local.
No Atlântico Sul as operações lembram uma grande distância de translado até a área de operação ou patrulha. Bases mais ao norte, sul e no nordeste seria até a melhor maneira de aumentar a autonomia e diminuir o tempo de reação para operar na vastidão do Atlântico sul e até mesmo na costa da África e Caribe.
Na função de negação do mar os nossos submarinos estariam esperando ameaças que aparecessem na nossa costa. Os alvos principais seriam navios de superfície ameaçando pontos estratégicos com as plataformas de petróleo.
A velocidade de transito não costuma ser um requisito importante nos submarinos convencionais pois seus operadores consideram que irão operar próximo a costa. A maioria dos atuais submarinos convencionais mantém 8 nós de velocidade de trânsito. Não seria o caso da MB que opera em todo o Atlântico Sul e possivelmente em outros oceanos.
Os australianos têm o mesmo problema e os seus atuais submarinos classe Collins foram especificados para ter uma velocidade de trânsito submersa de 16 nós auxiliados pelo snorkel com uma autonomia de 10 mil milhas. A velocidade de trânsito teve que ser reduzida para 10 nós devido às limitações da tecnologia da época.
Por isso os submarinos nucleares são considerados melhores para deslocamento estratégico e a MB investe pesado na propulsão nuclear. Os sistemas AIP são idéias para manter baixa velocidade de patrulha, e não para manter alta velocidade de trânsito. Os submarinos atuais da MB em manobras com a Esquadra vão na frente até a área de operação para compensar a menor velocidade de transito.
Para um submarino o AIP será fundamental para enfrentar táticas inimigas de “hold-down”, quando forças adversárias cercam uma determinada área e aguardam o fim da energia do submarino para que ele venha à superfície. Já em oceanos abertos é de se esperar que as forças inimigas estejam de passagem e fugir da área para evitar a ameaça submarina será a tática mais esperada e as limitações para uso do snorkel deixam de existir. Novamente os submarinos nucleares seriam o melhor meio para perseguir o inimigo ou manobrar rapidamente para se posicionar e cortar o inimigo.
A maioria dos países usuários de submarinos com AIP são marinhas onde os cenários são de curto alcance como o Mediterrâneo e Báltico onde as distâncias até a zona de patrulha são bem curtas sendo exemplos de locais ideais para operação dos submarinos convencionais de curto alcance.
O AIP foi apelidado de propulsão nuclear de pobre. Os sistemas atuais podem produzir 300 kW comparado com 2 a 5 mil kW de um motor convencional de submarino e a 7 mil kW do menor submarino nuclear.
O uso de propulsão independente da atmosfera (AIP) em submarinos iniciou com a Suécia na modernização da classe Gotland. O Gotland foi testado pela US Navy por 12 meses. Foi seguido do Japão com o Oyashio de longo alcance e depois por Singapura em dois Vastergotland. O Canadá se interessou em modernizar seus Victoria assim com os Collins da Austrália. A França desenvolveu o sistema MESMA foi selecionado para classe Khalid paquistanesa. O AIP por célula de combustível foi selecionado pela Alemanha, Itália, Grécia, Coréia do Sul, Portugal e Israel.
A classe 212 alemã receberão novos sistemas C2, sistemas comunicações para se comunicar continuamente enquanto submerso, comunicação por satélite, tropicalização, compartimento para equipes de forças especiais saírem direto na água submerso, e o sistema IDAS para defesa ponto ou contra alvos costeiros, aeronaves MPA e helicópteros. O IDAS pode causar até dano limitado a navios como em áreas vitais. Um U-212 alemão viajou da Alemanha até Cadiz na Espanha em 14 dias percorrendo 1.500 milhas sem usar o Snorkel graças ao AIP.
A classe 214 foi comprada pela Grécia, Turquia e Coréia do Sul. Leva dois geradores diesel e dois conjuntos de baterias contra um da classe 212. Nos testes na Grécia foram relatados muito balanço em mar agitado enquanto navega na superfície, muita cavitação na hélice, vibração no periscópio, calor nas células combustível. A classe leva oito tubos com 16 torpedos ou mísseis. Portugal comprou o 214 chamado de Type 209PN, mas só difere no nome.
O S80A da Navantia é uma versão local do Scorpene desenvolvida após a empresa separar da DCN. É um navio maior com diâmetro 7,3 x 6,2 do Scorpene e maior comprimento de 71 x 67,5 e deslocamento de 2.430 x 1.760. Usa AIP do tipo PEM da Siemens ao invés da MESMA francesa. Poderão levar o míssil cruise Tomahawk Block IV. A Espanha comprou quatro navios que serão entregues entre 2013 a 2015.
O projeto A-26 Viking sueco inclui novas capacidades como levar UUV de reconhecimento, decoys, minas autonomias, um novo UCUV (veiculo de combate submarino de desenho conformal) para reconhecimento em locais de alto risco, e a capacidade de se defender ativamente de torpedos com seus próprios torpedos de 400 mm. Também terá capacidade dry dock para apoiar forças de operações especais e poder levar um mini-submarino nas costas. Os planos são para compra de dois submarinos a curto prazo e três longo prazo.
A Austrália também escolheu fazer sua força de submarinos um componente chave da sua frota. Na próxima década a Austrália pretende dobrar o número de submarinos em serviço chegando a 12 unidades. O resultado é que metade da frota será de submarinos (12 de 23). O objetivo é claramente se defender de um inimigo superior, com uma frota superior, ou submarinos inimigos tentando bloquear a nação. A Classe Collins tem o dobro do deslocamento da maioria dos submarinos convencionais, devido ao requerimento de navegar nas grandes distancias no cenário australiano. O projeto novo deve ser ainda maior e provavelmente com AIP. O substituto do Collins ainda deve entrar em operação em 2024.
Submarinos Nucleares
Os submarinos nucleares têm clara superioridade em termos de velocidade e flexibilidade tática comparado com os convencionais, principalmente em alto mar, mas perdem, sem tanta desvantagem, nas manobras e silencio no litoral. A MB investe no projeto de submarino nuclear, pois resolveria o problema de manobra na vastidão do Atlântico Sul. Em uma conta simplificada, para manter um submarino em patrulha em uma região seria necessário três, pois um estaria em patrulha, um se deslocando para o local da patrulha ou voltando para a base e outro em manutenção/descanso. Com o submarino nuclear o tempo de patrulha seria maior, o tempo de deslocamento bem menor, resultando em uma frota menor de submarinos para cumprir a missão ou teria uma maior eficiência.
O custo é o grande problema da propulsão nuclear. O Canadá já planejou uma frota de pelo menos 10 submarinos nucleares. Os custos de operação e depois os cuidados com o lixo nuclear cancelaram o programa.
A classe Seawolf americana parou no terceiro navio. O cenário da Guerra Fria para o qual foi projetado acabou e não justifica mais navios tão complexos. O último, o SSN-23 Jimmy Carter, recebeu uma seção de 30 metros para cargas especais como DSV, UAV, sensores e apoio a equipes SOF.
A classe Virginia teve ênfase na guerra litorânea incluindo apoio a operações com SOF. O navio precisou de soluções especiais como câmera para levar tropas, capacidade de levar Swimmer Deliver Vehicle (SDV) ou "dry deck shelter", e paiol de torpedos capazes de ser convertido para transportar tropas ou 40 tropas e equipamentos.
Os mastros incluem oito antenas para operações especificas. A partir do Batch 2, ou o décimo navio, terá vela maior para levar cargas como UUV, SDV e sensores rebocados. Provavelmente terão baia para levar cargas conformais como TLAM, UAV e sensores. Espera-se a fabricação de 30 barcos total. A partir da 11 unidade os 12 tubos de lançamento vertical do Tomahawk serão substituídos por dois maiores de 7 pés de diâmetro que podem ser configurados para levar seis Tomahawk ou equipamento para apoiar forças de operações especiais. Um dos objetivos é aumentar a capacidade comparada com os tubos de 533mm.
A Royal Navy operava 12 submarinos em 2003 e deve cair para 7-8 no futuro. A Royal Navy comprou três submarinos nucleares da classe Astute em 1997, um quarto em 2007 e mais três adicionais estão planejados. O programa já está atrasado 4 anos e os custos aumentando em 47%. Originalmente os Astute seriam um esforço de baixo custo e baixo risco a classe Swiftsure e Trafalgar. A carga de torpedos aumentou de 20 para 38. A velocidade diminuiu de 32 para 29 nós sendo mais silencioso. A vela maior usa mastros não penetrantes e tem doca seca para apoiar forças de operações especiais. O novo reator PWR2 com o chamado "core-H" não precisa ser reabastecido durante a vida útil. O armamento inclui o Tomahawk Block IV e torpedos Spearfish. Novas armas poderão ser UUV e mísseis IDAS.
Outro projeto britânico é o MUFC (Maritime Underwater Future Capability), mostrado acima em uma concepção inicial, para entrar em serviço em 2020. Pode ser uma variante do Astute e inclui vela maior com 16 VLS para os Tomahawk ou quatro mísseis balísticos Trident. Pode até ser um substituto da classe Vanguard podendo manter a força de submarinos de ataque em grande número.Em 2006 a DCNS recebeu um contrato para construção de seis submarinos classe Suffren, antes conhecidos como Barracuda. O primeiro será comissionado em 2017 e os outros a cada dois anos até 2026. Os Barracudas terão apenas 60 tripulantes, terá doca seca para apoiar forças de operações especais e capacidade de e disparar mísseis SCLP naval. A marinha francesa já comprou 50 SCALP Naval com entrega prevista para 2015. As outras armas planejadas serão o Exocet SM-39 Block 2 e o novo torpedo F21. A autonomia é de 70 dias contra 45 dos atuais Rubis, podendo ficar operacional por 240 dias por ano com uma manutenção principal a cada 10 anos.
Os seis submarinos nucleares da classe Barracudas francesa irão substituir os seis da classe Rubis. Terão 60 tripulantes contra 70 da classe Rubis, 98 do Astute e 130 do Trafalgar. A propulsão elétrica será usada em velocidade de cruzeiro e turbo-mecânica para alta velocidade de 25 nós. Levará 24 torpedos ou mísseis Black Sharck, Exocet e SCALP. O SCALP Naval é a razão de ser do navio oferecendo o conceito de deferência convencional.
A Rússia está construindo três classes de submarinos nucleares de ataque. O modelo mais novo é o Severodinsk com projeto e construção arrastada. Leva silos verticais a meia nau permitindo o disparo de 24 mísseis SSN-N-27Alfa com três mísseis em cada silo. A Índia está desenvolvendo o projeto Advenced Technology Vessel (AVT) desde 1974. Entre 1988 a 1991 alugou um submarino nuclear classe Charlie II russo. O reator do AVT será derivado de um projeto russo. O navio provavelmente terá 6.500 tons derivado de projeto russo como o 885 ou 971. O objetivo é ter seis navios em 2020. A China está desenvolvendo o novo projeto Type 093 Shang derivado do Victor III com ajuda russa lançado em 2002.
Novos Torpedos
Operar submarinos sempre lembra o uso de torpedos. São armas letais, com 300 kg de alto-explosivo, que podem afundar a maioria dos navios como mostrado em exercícios "sinkex" partindo navios ao meio. São armas difíceis de conter até agora, seja com contramedidas ou manobras, ou seja, meios de "soft kill" ou "hard kill". Os russos e chineses usam foguetes anti-submarinos para tentar conter os ataques de torpedos lembrando as barragens de artilharia da Segunda Guerra Mundial. Outra vantagem do torpedo é poder atacar navios e submarinos sem precisar misturar várias armas ou pensar em qual seria o melhor “mix” para a missão ou sistemas de guiamento diferente.
Por outro lado os torpedos são bem caros. O estoque da US Navy caiu de 3.700 para 1.946 Mk48 ADCAP. Atualmente são poucos os modelos de torpedos pesados no mercado como o Mk48 ADCAP, o Black Shark italiano, o alemão DM2A4, o Tp-2000 sueco, o K-731 Whithe Shark coreano, além de vários modelos russos, japoneses (Type-89) e chineses (Yu-4 e Yu-5) mais para uso doméstico. O Reino Unido ainda usa o Spearfish não mais em fabricação.
O aparecimento dos submarinos rápidos russos na década de 70 foi a maior motivação para melhorar o desempenho dos torpedos, em velocidade e profundidade de operação. Atualmente o requerimento principal é a capacidade de operar em águas rasas, próximo a costa com a mudança no seeker, e contra submarinos diesel-elétrico. Idealmente o sonar do torpedo deve operar ativo contra submarinos e no modo passivo como wake-homming contra navios.
A grande inovação foi o uso de fibra ótica como datalink de banda larga de duas vias permitindo usar o sonar como sendo um sensor externo do submarino. O sonar passivo dos submarinos tem limitações para determinar a distância e identificação do alvo a longa distância. Como um sonar operando a frente pode-se usar o torpedo como um drone de reconhecimento podendo ser usado para explorar campos minados, choke points, e canais em áreas criticas onde a perda de uma arma cara poderia ser justificável. Pode ser até uma solução temporária para os UUV e AUV recuperáveis ainda não disponíveis.
Os russos foram os primeiros a armar seus submarinos com mísseis anti-navios, em lançadores especiais, para atacar os porta-aviões americanos. Os modelos de mísseis menores atuais podem ser lançados de tubos de torpedos a partir de cápsulas propulsadas. O Sub-Harpoon e o SM39 Exocet são dois modelos ocidentais sendo seguidos de projetos da China como YJ-8 usado na classe Song e Han.
O Sub-Harpoon entrou em serviço em 1981 na US Navy e está em operação nas marinhas da Austrália, Egito, Grécia, Israel, Japão, Coréia do Sul, Paquistão, Turquia e Espanha. A Royal Navy operou até 2003. O UGM-84L Harpoon II tem capacidade de atacar alvo em terra e foi comprado pelo Paquistão (50 mísseis) e Coréia do Sul (16 mísseis). O Sub-Harpoon é lançado de uma cápsula não propulsada que bóia até a superfície e ejeta o míssil. O alcance do míssil é de 130 km.
O SM-39 Exocet equipa os submarinos franceses e foi comprado pelo Paquistão e Chile. Foi escolhido para equipar o futuro submarino da MB. O SM-39 é disparado de uma cápsula propulsada que sai do submarino em um angulo de 45 graus e sobe até 50 metros ejetando o míssil até a ignição do motor foguete. O alcance é de 50 km.
A US Navy e a Royal Navy deixaram de usar o Harpoon nos seus submarinos argumentando que a assinatura do disparo indicaria a posição do submarino para o inimigo e destruindo sua discrição. O Harpoon original não funcionam bem no litoral a não ser na versão Block 2. A classe Astute terá capacidade de disparar o Harpoon, mas o Tomahawk será usado assim mesmo.
Aproveitar a capacidade de longo alcance dos mísseis também não é possível sem o uso de sensores externos como um UAV. A defesa contra mísseis, seja ECM ou CIWS, são eficientes ao contrario das defesas contra os torpedos. A letalidade dos mísseis também é bem menor comparada com os torpedos, mas o tempo de reação é melhor assim como o tempo de voo bem menor. Um alvo a 35 km seria atingido em dois minutos por um míssil anti-navio contra pelo menos 20 minutos dos torpedos. Os mísseis são geralmente do tipo "dispare-e-esqueça" enquanto os torpedos precisam de controle constante por fio, principalmente contra alvos distantes limitando as manobras evasivas do submarino. A vantagem certa do míssil é contra alvos a longa distância.
O espaço interno nos submarinos é outro problema tendo que se escolher o “mix” apropriado de mísseis e torpedos antes da missão. Outro problema é que nem todos os tubos podem disparar torpedos guiados por fio como no caso do IKL 209, Agosta e Kilo que só pode usar dois tubos de 6/8 disponíveis.
A quantidade de armas levadas pelos submarinos está relacionada diretamente com o tamanho. Os 688 da US Navy levam 26 torpedos ou mísseis, o Akula russo leva 40 armas com seis tubos de 650mm e 10 de 533 sendo oito não recarregável, o Kilo e o Scorpene levam 18 armas, o ILK 209-1400 com 14 e 12 armas nos 212. Estão incluídas as armas já instaladas nos tubos de torpedos.
Uma nova arma competindo por espaço nos submarinos são os mísseis cruise. O Tomahawk lançado de submarino foi usado conta alvos na Iugoslávia e Afeganistão. O Tomahawk Block IV é mais flexível com o uso de um datalink satélite de banda dupla podendo ser redirecionado no meio da missão. Os quatro submarinos lançadores de mísseis balísticos Classe Ohio podem agora levar 154 Tomahawk no lugar dos mísseis balísticos e tem capacidade de levar e apoiar operações de forças especiais. A Austrália, Alemanha, Espanha e Holanda têm planos de usar mísseis cruise nas suas novas fragatas equipadas com lançadores de mísseis verticais VLS Mk41.
O SCALP Naval francês será usado pelos novos submarinos Barracuda. A Rússia está oferecendo o Klub já em uso nos submarinos indianos da classe Kilo e IKL 209 e o BrhaMos desenvolvido em conjunto com a Índia que também será instalado futuramente nos seus submarinos. O Klub 3M54E1 pesa 1.750kg, com alcance de 300km com 450kg de carga, com capacidade anti-navio e ataque terrestre e pode ser disparado de navio ou submarino. O PJ-10 BrhaMos pesa 3 toneladas, atingindo uma velocidade de Mach 2,8 e alcance de 300km. O Klub e BrhaMos podem ser usados contra navios e alvos em terra. O Tomahawk, SCALP Naval, Klub e BrhaMos podem ser lançados também de navios de superfície.
Na Segunda Guerra Mundial os submarinos levavam canhões para atacar alvo superfície evitando gastar torpedos preciosos e as vezes para atacar alvos na costa. Também tinha metralhadores para defesa antiaérea. Ironicamente as armas de cano deixaram de ser usadas nos submarinos, com os submarinos podendo afundar um grande navio de guerra, mas sendo indefesos contra aeronaves e até embarcações leves. A Alemanha iniciou o projeto do míssil IDAS (Interactive Defence and Attack System for Submarines) com um container especial em um tubo de torpedo com quatro mísseis. O guiamento é similar ao IRIS-T com apoio de uma fibra ótica ligando o míssil até o submarino. O IDAS pode defender um submarino contra helicópteros e aeronaves lentas, mas também ser usado atacar alvos de superfície e até navios pequenos com alcance de até 15 km. A cabeça de guerra de 20kg pode até danificar partes vitais de navios maiores conseguindo um "mission kill". O projeto deve ficar pronto em 2014.
As minas navais são outra arma importante dos submarinos, geralmente levadas em tubos de torpedos ou fixadas externamente. São baratas e efetivas comparadas com outras armas. Os submarinos são os melhores navios lança-minas devido a furtividade. As minas navais não são armas populares para os submarinistas e pode ser arriscado seu lançamento em águas rasas por submarinos
As armas mais atuais levadas pelos submarinos são os UUV. A Suécia testou o AUV-62F recentemente e a Atlas está oferece o torpedo DM2A4 modificado como UUV com carga modular podendo simular um submarino, ou levar minas, fazer reconhecimento e vigilância de área atuando como "mateiro" em uma trilha perigosa.
O IDAS permitira que um submarino submerso se defende de helicópteros anti-submarinos e até mesmo atacar alvos de superfície
Os novos conceitos de submarinos incluem novas capacidades como veículos não tripulados e operações especiais.
A MB tinha escolhido o Torpedo 2000 sueco para substituir seus Tigerfish que equipavam seus submarinos da classe Tupi. A compra foi cancelada por não preencherem os requisitos de transferência de tecnologia e foi lançada uma nova concorrência. O programa escolheria um torpedo do mesmo país que vencesse a concorrência para modernizar os atuais submarinos. Venceu a Lockheed americana e assim foi escolhido o torpedo MK48 Mod 6 ADCAP.
A compra parece ter sido de 30 torpedos conforme uma notificação ao Congresso Americano de 2005 informando sobre a compra. O custo poderia chegar a US$ 60 milhões. O programa incluía containers, cabeças de treinamento, sistemas, equipamentos de apoio e teste, peças de reparo e reposição, treinamento de pessoal e equipamentos, publicações e documentação técnica, engenharia e assistência técnica, apoio de suprimentos e assistência técnica. Já o programa de modernização teve um orçamento inicial de US$ 35 milhões dado a Lockheed Martin Maritime Systems and Sensors. A modernização deve estar concluída em 2011.
O outro concorrente foi o DM2A4 da Atlas alemã. O torpedo Black Shark não concorreu pois o requerimento considerava só torpedos em operação no país de origem. Agora o Black Shark irá armar os SBR por já estar em uso na França e ser compatível com o sistema SUBTICS que equipará os novos submarinos, junto com mísseis SM-39 Exocet.
Próxima Parte: Projeção de Poder
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