Navios de Patrulha Oceânico

As marinhas atuais estão tendo que desempenhar tarefas diferentes além do "core" de guerra marítima que vai de aplicação da lei a proteção da soberania (presença marítima, patrulha da Zona Econômica Exclusiva e proteção da pesca) e segurança (anti-pirataria, anti-terrorismo e proteção das Linhas de Comunicações Marítimas) e em operações baixa intensidade (evacuação de não combatentes, missões de paz, interdição marítima etc). Alguns países adicionam missões como busca e salvamento e anti-poluição. Estas missões são a razão de ser de uma Guarda Costeira, quando existe, mas mantém sobreposição com as tarefas de uma marinha convencional. Algumas marinhas focam suas operações nas funções dos navios de patrulha oceânicos tipo OPV (Ocean/Off Shore Patrol Vessel) como a Irlanda e o México.

Todas as estas missões precisam de navios com boa capacidade marinheira e autonomia, com sistemas de combate com poder de fogo limitado, mas ainda capaz de gerenciar um bom número de alvos de superfície. Navios escoltas convencionais podem ser usados na tarefa, mas são poucos em número para cobrir uma grande área e ao mesmo tempo permitir o treinamento e manutenção das operações nas suas missões principais.

Em operações de baixa intensidade os OVP mostram ser melhores economicamente. Uma fragata pode ser trocada por vários OPV menos capazes e estar em vários lugares ao mesmo tempo. Até a US Navy usa esta abordagem. O custo de operação é a limitações no uso de navios de guerra em operações de baixa intensidade. O bom senso sugere que não se deve usar fragatas em patrulhas procurando imigrantes ilegais ao invés de realizar as tarefas de guerra anti-submarina, guerra de superfície e guerra antiaérea. As corvetas e fragatas mais antigas podem ser desarmadas para poder realizar a missão, mas o custo ainda pode ser alto. O resultado é o uso de navios de patrulha oceânicos dedicados (OPV - Ocean/Off Shore Patrol Vessel). Parece ser este o caminho procurado pela MB na aquisição de seus novos Navio de Patrulha Oceânico.

Em 2009 a MB enviou uma fragata para resgatar um veleiro naufragado a 2 mil km da costa do Rio de Janeiro. O pedido de socorro foi enviado em 1o de maio e recebido por outro veleiro e retransmitido para a África do Sul. Logo foi acionado o centro resgato que pediu apoio a MB. A fragata Bosisio F48 foi enviada no dia 2 com um helicóptero e a FAB acionou um C-130 no dia 3 para auxiliar o resgate. No dia 4 a fragata solicitou que dois mercantes contatassem o veleiro o que foi feito no dia 5. No fim da manha os dois tripulantes foram resgatados por um helicóptero. O navio tanque G-23 Gastão Mota também foi acionado para encontrar e reabastecer a fragata que chegou no Rio de Janeiro na noite do dia 8 para 9. Um OPV poderia realizar a missão sem limitação e com custos bem menores.

Os OPV são equipados com radar de busca e navegação auxiliados por sensores eletro-óticos. Uma ponte panorâmica é usada para facilitar a vigilância. Os armamentos deve incluir canhão de jato de água, metralhadoras e canhões leves permitindo uma resposta graduada. Os canhões oodem simples com pontaria manual assim como as metralhadoras. São usados mais em tempo de paz contra alvos mal armados. Um navio patrulha russo conseguiu afundar um navio mercante chinês fugindo do porto com mais de 500 tiros de canhão de 30 mm em 2008.

As OPV tem potencial de ser usada com função secundária de corvetas e fragatas, com a capacidade "fitted for, but not with" podendo receber mísseis e sensores mais sofisticados. Os modelos atuais têm capacidade de lançar embarcações semi-rígida (RHIB) e veículos não tripulados (USV). O RHIB é usado para realizar as missões e o USV para dar cobertura. Uma rampa traseira é usada para facilitar o lançamento e a recuperação rápida.

As missões anti-pirataria na costa da Somália estão sendo realizadas por navios caros como fragatas antiaéreas. Navios menores podem cumprir a missão sem problemas. Os navios tipo OPV não precisam ter construção de padrão militar podendo ser fabricado em vários estaleiros civis para diminuir os custos. Outra distinção de corveta é poder ser operado por companhias comerciais e ser alugado para outros países. Isso já é feito na Noruega e em toda a força de OPV britânicos. Como tem uma pequena tripulação os custos de operações diminuem ainda mais.

Um exemplo interessante é o da Royal Navy que após anos operando apenas plataformas com capacidade para ações de alta intensidade decidiu configurar seus meios para um grande espectro de ameaças devido aos cortes no orçamento. A capacidade dos meios de alta intensidade diminuirá sendo adicionado meios de média e baixa capacidade para dar cabo de outras tarefas do espectro.

A Holanda também está seguindo este tipo de inovação. A frota de 10 fragatas atuais, duas de defesa aérea e oito de uso geral, costuma ser usada em missões de baixa intensidade como operações anti-droga no Caribe. Serão substituídos por outros 10 navios sendo quatro de defesa aérea, duas de uso geral e quatro OPV. O custo de operação da OPV no lugar das fragatas para tarefas secundárias será bem menor.


O futuro OPV holandês classe Holland terá deslocamento de 3.750 tons, 102 metros de comprimento e atingirá uma velocidade máxima de 22 nós. O tamanho dos navios é próximo a corvetas e fragatas, mas o armamento limitado não justifica estas classificações. Os navios são armados para atividades de baixa intensidade na costa, mas o tamanho permite atuar em alto mar. Será armado com um canhão de 76mm e um de 30mm, duas metralhadoras, dois canhões de água, um helicóptero NH90 e dois RHIB de 11 metros para interceptação de alta velocidade ou levar equipe de resgate ou abordagem. Inclui rampa traseira para operar os RHIBs. O navio é considerado lento, mas as lanchas RHIB podem atingir 40 nós para interceptação assim como o apoio dos helicópteros. A tripulação é de 50 homens com capacidade para 40 tropas adicionais. Os navios serão comissionados entre 2009 a 2012 por 600 milhões de Euros. O navio tem espaço para levar dois containers e guincho de 10 tons de carga permitindo certa modularidade.

A Classe Diponegoro da Indonésia construída pela Scheld holandesa tem capacidade de operar como corveta ou OPV. O armamento inclui um canhão de 76 mm, quatro mísseis Exocet, dois lançadores Tetral com mísseis Mistral, dois canhões de 20 mm, seis tubos de torpedos ASW tubos e um helicóptero. Pode atingir uma velocidade de 28 nós e autonomia de quatro mil milhas a 18 nós.

A Malásia teve uma abordagem similar a britânica com suas Meko-100 da classe Kedah comprando um navio bem simples e depois instalando sistemas sofisticados. O navio é armado com um canhão de 76 mm, um de 30 mm, pode levar mísseis Exocet e RAM mas não foi instalado inicialmente.

A Nova Zelândia está planejando a compra de dois OPV multifuncionais no programa Protector. Os navios foram designados como classe OTAGO OPV. O Otago pode levar 30 tropas adicionais com seus barcos e container de 20 pés com guincho para permitir uma certa modularidade parcial.

A Fincantiari está construindo seis OPV para Itália. Os quatro primeiros são conhecidos como classe Comandanti (NUMC - New Minor Combatant Unit) e as outras duas como SIRIO (ou NUPA - New Patrol Unit). Os dois usam o mesmo casco, mas com o NUMC com  forma furtiva, canhão 76mm e dois 25mm e hangar retrátil para um helicóptero NH-90 e capaz de atingir 26 nós. O NUMC é mais simples, sem armas e sem hangar retrátil. O NUMC atuou no Golfo para apoiar tarefas de segurança e como centro de comando para unidades de guerra de minas.

A Itália está planejando uma nova classe de OPV para operações no litoral e em mar aberto, com conceito modular para poder receber novos sistemas de armas, eletrônicos e tripulantes conforme o requerimento de missão. Os navios irão substituir outros 12  navios de patrulha a partir de 2020, sendo quatro classe Cassiopea de 1.500 tons e oito classe Minerva de 1300 tons. Serão navios considerados de segunda linha com desempenho de primeira linha, mas ainda assim baratos de comprar e manter. O deslocamento máximo será de 2.500 tons com comprimento de 105 a 115m, boca de 14-16 metros, permitindo navegar em mar aberto e com bom potencial de crescimento. A autonomia será de pelo menos 20 dias. Os navios devem operar em cenários de baixa intensidade com uma pequena tripulação. Em cenários de maior intensidade poderão receber novos sensores, armas e tripulação adicional. O requerimento de velocidade é de 30 nós mesmo o normal sendo de 20-24 nós para os navios do tipo. O navio será altamente furtivo, com mastro integrado e materiais compostos. A especificação de casco será militar ao invés de civil. A tripulação será de 80 homens, bem acima da média dos OPV, já considerando a presença de equipe de abordagem e tripulações de helicópteros, com o total podendo chegar a 120 homens com o adicional podendo ser equipes de forças especiais, Estado Maior adicional, pessoal de apoio ou em ajuda humanitária, ou resgatando civis. O armamento defensivo inclui um canhão de 76mm Super Rapido para autodefesa incluindo munição anti-míssil. O helicóptero poderá ser até um AW101 Merlin com capacidade de guerra anti-submarina e guerra de superfície adicional ao navio. Poderá levar RIBH podendo ser lançado em mar agitado. Mísseis e torpedos podem ser instalados em módulos assim como seus sistemas de apoio. Como em outros navios terão área na popa para poder ser configurado para lançar minas e para ser usado como caça minas.


O novo OPV italiano tem linhas bem futuristas.


A Royal Navy está planejando a introdução de uma OPV. A proposta acima é do estaleiro VT que inclui a capacidade de levar containers para dar uma certa modularidade.

A Navantia está construindo quatro BAM (Buques de Acción Maritima) para a Espanha. O navio tem forma furtiva e capacidade de levar helicópteros NH-90. O navio desloca 2.600 tons com 93,5 metros de comprimento. A velocidade máxima é de 20 nós com autonomia de 8 mil milhas a 12 nós. Tem 35 tripulantes mais 35 acomodações adicionais. Pode levar cinco containers de 20 pés para modularidade. A marinha espanhola quer operar até mais oito BAM. Uma variante do BAM comprado pela Venezuela com quatro navios de 2.300 toneladas e quatro de 1500 toneladas.

A Argentina, Brasil, Peru, Uruguai, Colômbia e Equador chegaram por um tempo a estudar um projeto comum de um PAM (Patrulheiro de Alto Mar), mas o projeto não foi adiante. O OPV chileno de 1850 toneladas custou US$ 30 milhões cada ou 20% do BAM espanhol.

O Japão tem uma grande força de OPV. A classe Hida tem 1800 toneladas e atinge 30 nós. O armamento inclui um canhão Bofors Mk3 e um Phalanx CIWS.

Os Cutters da Guarda Costeira americana inclui navios armados com mísseis Harpoon, Phalanx CIWS e torpedos anti-submarinos. Seus navios foram usados na guerra Coréia, Vietnã e Golfo.

As FREMM francesas iriam substituir todos os navios franceses incluindo suas OPV. Com o custo aumentando estão estudando uma OPV moderna para substituir os A69 e talvez as Floreal. A DCNS francesa oferece para exportação várias modelos da corveta Gowind e fragatas FM400 para os novos cenários que vão desde busca e salvamento até proteção de plataformas de petróleo, operações anti-drogas e chega até negação e controle marítimo.

OVP na MB

Os Navios-Patrulha estão entre as maiores prioridades da Marinha que já opera 12 NaPa da classe Grajaú e quatro da classe Bracuí. A MB planeja construir 32 navios patrulha até 2016 em estaleiros nacionais por R$ 2,97 bilhões. Serão 27 navios patrulha de 500 toneladas por R$ 2,16 bilhões e cinco Navio de Patrulha Oceânico (NaPaOc) de 1.800 toneladas por R$ 815 milhões.

O PRM de 2008 a 2014 já previa a construção de 12 Navios-Patrulha de 500 toneladas com um custo estimado por unidade de R$ 80 milhões. A Classe será chamada de Macaé. Os planos anteriores incluíam a construção de cinco Navios-Patrulha de mil toneladas até 2013 por R$ 104,5 milhões cada, mas agora serão navios maiores de 1.800 toneladas. O navio deverá ter um convoo, um hangar, um canhão de calibre médio e levará lanchas RIBH. Os navios serão usados para SAR de longo alcance com autonomia 20 dias.

No stand do estaleiro INACE (Indústria Naval do Ceará) na LAAD 2009, foi mostrado uma maquete  do conceito do OPV 1800 oferecido para a Marinha do Brasil. O INACE já estuda sua proposta com várias tecnologias disponíveis em embarcações civis como a propulsão diesel-elétrica com azipods. O OPV 1800 será equipado com armamento leve, na maquete com um canhão de 57mm, mas com capacidade para receber armamento de maior capacidade se for necessário. O navio também poderá receber helicópteros e operar com UAVs.

O tamanho do novo NaPaOc aumentou de 1.000 para 1.800 toneladas o que sugere várias novas capacidades adicionais. A capacidade deve incluir a possibilidade de operar helicópteros de médio porte como os EC-725, pelo menos provisoriamente. Em uma operação de resgate o NaPaOc poderia ser usado com base provisória servindo de ponto de reabastecimento até o local de busca e/ou resgate em alto mar. Os helicópteros tem autonomia limitada e o navio seria um meio para aumentar o alcance. Em algumas operações de salvamento em alto-mar são enviados escoltas como fragatas para realizar a missão. O NaPaOc seria o navio dedicado a esta missão com custos menores e sem desgaste desnecessário aos navios escoltas.

O armamento do NaPaOc poderá ser de no mínimo um canhão de 40mm mantendo a padronização com os navios atuais. Para operações no exterior o navio poderia receber mísseis SAM portáteis com relativa facilidade e já temos um projeto nacional em andamento. Em caso de necessidade o próximo passo seria receber sensores e armas para guerra anti-submarina. Várias empresas nacionais já desenvolvem e fabricam sensores que podem ser instalados, não inicialmente, no novo navio como versões navais do radar de busca SABER, sistemas de MAGE e ECM, e lançadores de Chaff/Flare. Sensores FLIR podem ser adicionados para identificação de alvos de dia. Os sistemas sofisticados seriam opcionais para diminuir custos e não são necessários nas missões de baixa intensidade.

Sistemas mais sofisticados seriam aeronaves não tripuladas para liberar o uso de helicópteros embarcados e não depender de aeronaves de patrulha da FAB para realizar suas operações.

A MB planeja diminuir o número de escoltas atuais que opera, ou planeja operar, mas o uso dos NaPaOc indica que estão é otimizando o uso de escolta como fazem outros países já mencionados acima. Missões de paz no exterior como feito no Haiti não precisam de escoltas sofisticadas como feito atualmente.

Sem a expectativa de ações de média intensidade a escolta poderia ser feita pelos novos OPV ou pelo menos poderia substituir uma das escoltas levada para contingências. O resultado seria diminuir o custo da operação. A participação em operações no exterior também seria um bom exemplo. A OPV poderia ser usada para caçar piratas na Somália como parte da CTF 151. As operações de paz onde seria necessário um navio mais simples liberaria as escoltas para atuar na área onde estão mais bem servidas. As OPV podem atuar como força opositora nos exercícios da esquadra.

Os estaleiros nacionais já exportam navios patrulha e o novo OPV com sistemas nacionais poderia ser mais uma opção. São mais baratos que as escoltas e com mercado maior.

O programa do OPV da MB iniciou com a licitação para quatro navios de 500 toneladas para operações de policiamento costeiro, proteção de plataformas petrolíferas e da zona econômica. Estaleiros nacionais devem participar da concorrência como a ENACE e Mauá mesmo se o navio escolhido for estrangeiro.

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