WCMD - Wind Compensated Munitions Dispenser
Até o fim da década de 90 a OTAN usava táticas de disparo de armas a baixa altitude e alta velocidade que era consistente com alvos bem defendidos em um cenário com a ameaça da Europa central na Guerra Fria, mas não foi preferido na operação Desert Storm. Nesta operação os caças atuavam a média altitude dando um santuário fora do alcance da maioria das defesas aéreas em terra. A experiência da USAF em 1991 mostrou que os ataques dos caças e B-52 com bombas em cacho tinha precisão precária se disparadas a média e grande altitude. As bombas em cacho foram projetadas para disparo a baixa altitude e os ventos desviavam muito a trajetória das bombas.

O resultado foram estudos para instalar um kit de guiamento para as bombas atingirem as coordenadas do alvo compensando desvios causados por erros de balística, ventos e mau tempo. Assim foi iniciado pela USAF o programa WCMD (Wind Compensated Munitions Dispenser - pronuncia-se "Wick-Mid" em ingles) projetado para remediar as dificuldades das bombas em cacho (Tactical Munition Dispenser - TMD) como a CEM, Gator e SFW quando disparadas a média altitude.

A WCMD é um kit de modificação para equipar dispersadores de submunições da família TMD (Tactical Munitions Despenser), com o SUU-64/B, SUU-65/B e SUU-66/B, com um sistema de guiamento por INS instalado na cauda dos TMD para poder ser disparado a média e grande altitude com precisão, transformando as bomba burras em armas inteligentes.

A WCMD foi uma das soluções de quatro deficiências identificadas no Strategic Attack/Air Interdiction Mission Area Plan (MAP): múltiplos kills por passadas, capacidade qualquer tempo, precisão para CBU (correção de desvios causados por vento), e capacidade de disparar futuras submunições e minas.

A WCMD basicamente substitui a unidade de cauda com outro kit com sistema de guiamento interno. A original estabiliza a bomba em disparos a baixa altitude e faz a bomba girar para lançar as submunições. O novo kit guia a arma até o alvo. O kit inclui processador, cordão umbilical para se comunicar com aeronave e receber coordenadas do alvo, parâmetros de lançamento e condições climáticas.

Os kits incluem o sistema inercial, asas dobráveis, atuadores e processador. O kit produz pouca variação na massa, centro de gravidade e características de vôo das bombas. A Honeywell (agora General Electric) produz o sistema de guiamento, com o IMU modelo HG 1700, selecionado também para a JDAM, SSB, GGM, ESSM e EFOG-M. O IMU pesa 630 gramas e está equipado com os giroscópios a laser de baixo custo da Honeywell modelo GG1308 e acelerômetros digitais AlliedSignal RBA 500.

WCMD
O kit WCMD substitui a cauda dos TMD.

WCMD
A WCMD tem como objetivo corrigir a trajetória das bombas que podem ser desviadas pelos ventos quando disparadas a média altitude.

A WCMD pode ser programada com as coordenadas de alvos pela aeronave ou outro sistema como o datalink. Para isso a aeronave precisa do barramento 1760. O GPS da aeronave é usado para atualizar o INS da bomba antes do disparo. O GPS foi considerado desnecessário pois é uma arma para ser usado contra alvos de área e não de ponto. A precisão de 26 metros do requisito foi considerado suficiente para armas em cacho, mas  a precisão chegou a 10 metros usando apenas o INS.

Após o disparo as barbatanas abrem e começam a guiar arma. O kit corrige os erros de lançamento, balística e vento, e computa a trajetória ótima e o ponto de disparo das submunições. A partir de certa distancia acima do alvo as barbatanas dobram para fazer a arma girar a até 2.500 RPM. A bomba depois se abre e dispersa a submunição por força centrífuga.

A precisão era de 26 metros quando disparada a 12 mil metros de altura e o alcance chega a 16 km.  Os pilotos podem disparar a bomba no modo nivelado, mergulho e toss. Podem atacar alvo único ou múltiplos em única passada.

A proposta da WCMD recebeu aprovação para a fase de definição de conceito no inicio de 1994. O desenvolvimento foi iniciado em 1995. Em 1994 o programa entrou na segunda fase, de engenharia e demonstração e foi lançado um pedido de propostas. Competiram a Martin Marietta (agora Lockheed Martin) e a Alliant Techsystems/Texas Instruments (agora Raytheon). Na fase de demonstração cada contratante mostrou e testou 15 protótipos disparados pelos F-16. A Lockheed Martin venceu a concorrência em 27 de janeiro de 1997 no valor de US$ 21 milhões para completar o desenvolvimento da WCMD e construir 190 kits sendo 40 para testes.

A entrada em serviço foi no B-52 em novembro de 1998. A entrada em operação completa foi no ano 2000 no B-52 e F-16. Foi planejado a integração no B-1B, B-52, F-15E, F-16 e F-117. Depois foi considerado a integração no A-10 e F-35.

O kit custava inicialmente US$ 8.900 (original estimado em US$ 25 mil). A produção foi completada em outubro de 2006 com 27.596 kits produzidos. O custo era de US$ 13.500 na época. O valor total do programa pode chegar a US$ 650 milhões. A USAF planejava inicialmente comprar 40 mil kits sendo 5 mil para a SFW, 30 mil para a CEM e 5 mil Gator. Os Emirados Árabes Unidos comprou 800 kits em 1999 para equipar seus F-16 block 60.

A WCMD foi usada em combate no Afeganistão e Iraque. Até novembro de 2001 cerca 600 WCMD foram disparadas no Afeganistão sendo 450  CBU-103/B e 150 BLU-87. Até setembro de 2002 o total chegou a 700 disparos com sete mil em estoque. As armas foram disparadas pelo B-52 e F-16 em missões de apoio aéreo aproximado.

Na operação Iraq Freedom foram disparadas 908 CBU-107/B WCMD, ou pouco mais de 3% do total de armas disparadas, mais 182 CBU-89 e 118 CBU-87 não guiadas. No dia 2 de abril de 2003 seis CBU-105 foram disparadas por um B-52H contra uma coluna de veículos iraquianos. Foi o primeiro uso em combate da WCMD com munição SFW. A missão foi tida como um sucesso.

O conceito modular da WCMD permite usar em vários TDM, e receber futuras minas, minas anti-helicóptero e munição inteligente. Os TDM são designados Cluster Bomb Units (CBUs) que consistem em um Suspended Underwing Unit (SUU) com as submunições sendo designadas Bomb Live Unit (BLU).

A bombas usadas com a WCDM são:

- CBU-87/B CEM (Combined Effects Munition). A CEM é uma arma de negação de área que pesa 430kg. Está equipada com 202 submunições BLU-97/B CEB (Combined Effects Bomblets) em um dispersador SUU-65/B com espoleta de proximidade FZU-39 opcional. Cada submunição tem corpo cilíndrico de 20 cm de comprimento e 6 de diâmetro pesando 1,5 kg. Usam o explosivo Cyclotol substituído atualmente pelo PBXN-107. A CEB é uma submunição de propósitos gerais para atacar alvos leves de área como blindados pessoal e material tendo capacidade de penetração, fragmentação e incendiaria. A área do alvo pode ter 200 x 400 metros, e dispersa em uma área de 270x130 metros. Foi muito usada na operação Desert Storm com cerca de 10.035 disparados. Mais 1.100 foram disparados na operação Allied Force. O custo de cada uma é de US$ 14 mil (dólar de 1990).

- CBU-89/B "Gator": é uma arma anti-pessoal e anti-carro pesando 320kg. Está equipada com 72 minas anti-carro BLU-91/B de 2kg e 22 minas anti-pessoal BLU-92/B de 1,7kg em um dispersador SUU-64/B. As minas são armadas no solo por contato. A BLU-91/B detona por influencia magnética e a BLU-92 por fios. As Gator estão sendo retiradas de serviço devido a acordos de banimento de minas.

- CBU-97/B SFW (Sensor Fused Weapon). É uma bomba que  pesa 415kg equipada com 10 submunições BLU-108/B em um dispersador SUU-66/B.

A BLU-108 é lançada após o casulo se abrir e cada uma desce com apoio de um pára-quedas até a altitude determinada. Um pequeno foguete gira a BLU-108 para cima rodando rápido. O skeet logo se separa cada um cai independentemente, varrendo a terra com sensor IR procurando assinatura de um blindado. Localizando o alvo, o Skeet detona uma carga EFP (Explosively Formed Penetrator) direto para baixo em um anel de fragmentos para o lado (contra alvos leves do lado). Se não detectar um alvo o skeet explode acima do solo.

A SFW foi projetada para permitir que caças destruam vários blindados em uma passada, com custo desejável, contra alvos estacionados ou muito lentos, e agrupados próximos. Em um ataque com a SFW contra alvos moveis as aeronaves usaram um míssil como o Maverick contra o primeiro veiculo para parar a coluna ou desacelerar ao se espalharem pelas estradas laterais. As primeiras SFW eram disparadas a baixa altitude o que mudou com o WCMD.

- CBU-107 Passive Attack Weapon (PAW): é uma arma de 450kg com 3.750 penetradores no SUU-66/B. Foi desenvolvida no fim de 2002 como resposta rápida levando 98 dias para ser projetada e ficar operacional. A PAW tem 2.400 penetradores de 2 polegadas de diâmetro, 1.000 de 7 polegadas e 350 de 14 polegadas. O objetivo era atacar instalações de armas químicas e biológicas sem gerar fragmentos, onde os explosivos seriam indesejáveis. O custo do programa foi de US$40 milhões. Foi usada em combate no Iraque em 2003.

Após a guerra do golfo havia cerca de 100 mil bombas em cacho no inventário da USAF. A Gator foi retirada de serviço com as novas leis de banimento de minas. Cerca de 5% das submunições falham e podem causar ferimentos a civis apos o fim das hostilidades e por isso também correm risco de serem retiradas de serviço.

BLU-97
Submunição BLU-97.

BLU-108
Submunição BLU-108.


Wind Corrected Munitions Dispenser Extended Range (WCMD-ER)

Em junho de 2003 a Lockheed Martin foi contratada por US$ 41 milhões para desenvolver um kit de longo alcance para a WCMD chamado Wind Corrected Munitions Dispenser Extended Range (WCMD-ER). A WCMD-ER consiste em um kit de asa Longshot para aumentar o alcance da WCMD para 40-65km, dependendo da altitude de disparo, contra 10 km do original. O kit recebeu um receptor de GPS para aumentar a precisão a longa distância. Além do aumento do alcance vai ocorrer um aumento da flexibilidade podendo colocar a arma em uma grande "cesta". A WMCD-ER mostrou ser necessária na Operação Iraq Freedom. O problema não foram as defesa aéreas, mas as ameaças futuras.

A produção foi iniciada em maio de 2005 para o TDM CBU-97/B SFW redesignado CBU-115/B. A CBU-87/B Combined Effects Munition seria designada CBU-113/B, mas não foi comprada. O kit WCMD-ER não foi planejado para ser instalado na CBU-107 ou PAW. A WCMD-ER foi testada no F-16 em 2006 e no B-52 em 2007. Era planejado a integração no F-15E.

Em maio de 2005 a Lockheed Martin foi contrata por US$ 52,9 milhões para a fabricação de 1.655 kits WCMD e 100 kits WCMD-ER correspondente ao lote 5. Era esperado a produção de 7.500 kits WCMD-ER iniciando em 2005 com entrega entre 2006 a 2012. O programa foi terminado na centésima unidade ainda em 2005. Ainda não se sabe se a USAF vai voltar a encomendar a JSOW que a WCMD deveria substituir.

WCMD-ER
Após o disparo as asas e cauda da WCMD-ER são abertas. Antes de liberar as submunções as asas são ejetadas e depois a bomba começa a girar.

 

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