PROGRAMAS DE MODERNIZAÇÃO DE SOLDADOS
PARTE 2 – ARMAMENTOS
por Alexandre Beraldi
Neste tópico abordaremos a evolução do armamento de emprego individual e coletivo nos anos recentes e sua aplicabilidade nos Programas de Modernização de Soldados. Focaremos nosso estudo inicialmente nas armas já em produção, em dotação ou em estágio avançado de testes junto à tropa, reservando um título à parte, ao final, para os projetos e conceitos em desenvolvimento.
Extrato de uma apresentação do US Army, com a
demonstração da evolução pretendia dos
armamentos em dotação naquela força.
- Fuzis de Assalto
- Metralhadoras Leves
- Armas de Emprego Coletivo e Fuzis de Precisão
- Armas de Defesa Pessoal (PDW)
- Armas do Futuro
INTRODUÇÃO
O Armamento e sua distribuição
nas Organizações Militares
Antes de falarmos sobre o armamento em si, faz-se necessária uma breve explicação sobre a organização das Unidades Militares e a distribuição dos vários tipos de armamentos pela tropa. Isto ocorre porque por vezes sou abordado com perguntas do tipo: Por que existem metralhadoras leves, médias e pesadas? Não seria melhor se fossem adotadas somente metralhadoras leves? Por que todo o soldado não leva um lançador de granadas? Ou ainda, por que quando vejo os soldados norte-americanos na televisão eles não estão todos com fuzis M-16? O fato de haver várias armas não traz problemas logísticos? De fato a respostas para estas perguntas demandam uma explicação mais pormenorizada de doutrina e tática de emprego das pequenas unidades militares, técnicas e táticas de assalto de posições inimigas, bem como defesa de posições. De forma resumida, temos que o armamento de dotação de pequenas unidades militares deve garantir a maior versatilidade possível para possibilitar o cumprimento de toda e qualquer missão ofensiva ou defensiva imaginável, na medida em que o campo de batalha é cheio de surpresas e a variedade de alvos é enorme, sendo que as unidades podem passar de ações ofensivas para as defensivas num piscar de olhos, e vice-versa, por isso mesmo fazendo-se necessário material que possa satisfazer esta demanda. Uma breve explicação sobre a organização das Unidades Militares e uma visão superficial do armamento empregado pode ajudar a esclarecer estas dúvidas.
Nas diversas forças armadas do mundo, os exércitos tendem a seguir um mesmo padrão de organização, variando apenas no que diz respeito ao número de determinadas unidades e ao efetivo que as compõe. Quanto à área operacional, de forma bem genérica, um Exército normalmente divide-se em Divisões, que se subdividem em Brigadas, as quais são compostas por diversas Unidades específicas, denominadas Batalhões, Grupos ou Regimentos, que podem ser de Infantaria, Cavalaria, Artilharia, Comunicações, Engenharia, Intendência, Comando, etc., ou seja, são de uma Arma ou Serviço específico. Estas Unidades, por sua vez, dividem-se em Companhias ou Esquadrões, os quais se subdividem em Pelotões, que podem ainda se desdobrar em Grupos de Combate e Escalões. O Exército Brasileiro adota mais ou menos este padrão, assim como o Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil. Como tentar esmiuçar a organização e dotação de armamento de uma diversidade e complexidade tão grande de Unidades é trabalho suficiente para um Doutorado, e está longe do que nos propomos aqui, vamos focar especificamente no Pelotão de Infantaria.
O Pelotão de Infantaria analisado terá uma organização genérica proposta pelo autor, haja vista que mesmo em nossas FFAA a organização dos Pelotões de Infantaria varia de acordo com a Unidade a que está relacionado, se de Selva, Aeromóvel, Blindado, etc., cada um com seu efetivo e desdobramento peculiares.
Estas variações também ocorrem com outras Forças Armadas, como as dos EUA, onde um Pelotão de Infantaria simples, Aeromóvel ou Pára-quedista é composto de três “Squads” (Grupos de Combate) de oito cabos e soldados chefiados por um Sargento, com mais um “Weapons Squad” (Grupo de Armas de Apoio) de oito homens operando duas metralhadoras médias e dois lança-mísseis anti-carro, chefiados também por um Sargento, e um “HQ Squad” (Grupo de Comando) com três homens, sendo um Oficial Comandante, um Sargento Auxiliar e um Operador de Rádio, num total de 39 homens. Já um Pelotão de Infantaria “Ranger” troca o “Weapons Squad” de nove homens acima mencionado por um “Machine Gun Squad” (Grupo de Metralhadoras) com nove homens operando três metralhadoras médias, chefiados por um Sargento, elevando o efetivo total do Pelotão para 40 homens. Enquanto isso, o Pelotão de Infantaria Leve não tem um “Weapons Squad” e nem um “Machine Gun Squad” à parte, ao invés disso ele integra quatro homens operando duas metralhadoras médias no “HQ Squad”, totalizando assim 34 homens.
A gama de possibilidades explorada pelos Exércitos é enorme e por si só merecedora de uma análise à parte, mas com certeza a organização adotada por nossas FFAA é aquela que se mostrou mais eficaz e mais compatível com o terreno e os meios de transporte utilizados no cenário nacional, levando-se em conta, por exemplo, o número de assentos disponíveis nos Pantera, Cougar, M-113 e Urutus, bem como o número de veículos existentes em cada Pelotão ou Esquadrilha, sendo estes os fatores primários para planejamento de tal organização.
O Pelotão de Infantaria e seu Armamento
Nosso Pelotão de Infantaria tem a seguinte organização:
O Grupo de Comando é composto por seis homens, sendo um Oficial Comandante de Pelotão, um Sargento Auxiliar que é seu Subcomandante, um Cabo Rádio-Operador que é o responsável pelo estabelecimento de comunicações com os outros pelotões e com o Comando da Companhia ou do Batalhão, um Sargento “Caçador” que, juntamente com seu Cabo Observador, exercem as funções de equipe “Sniper” do Pelotão e Observador Avançado para o Grupo de Morteiros integrante do Pelotão de Armas de Apoio da Companhia, bem como para o Pelotão de Morteiros do Batalhão, e, por fim, um Sargento Enfermeiro, responsável pelo tratamento e evacuação de feridos. Os três primeiros combatentes são armados com Fuzil de Assalto, ao passo que o Caçador é armado com um fuzil apropriado para tiros de precisão, e seu Observador, que é responsável por sua cobertura e proteção, com uma Metralhadora Leve. O Sargento Enfermeiro também leva um Fuzil de Assalto.
O uso de pistolas ou de outras armas de defesa pessoal (PDW) por parte do Comandante de Pelotão e seus Sargentos, no Exército Brasileiro, merece ser ponderado. O porte de uma pistola num coldre de cintura ou do tipo alongado é um fator que denuncia seu usuário como alguém de importância hierárquica ou funcional para os “Snipers” inimigos, tornando-se assim um alvo prioritário em meio à tropa. No Exército Norte-Americano, qualquer combatente, de Soldado a General, pode adquirir por meios próprios e portar sua pistola em combate, desde que esta atenda a certos requisitos, como a padronização de calibre, por exemplo. Isto torna a identificação dos Comandantes, por parte dos Caçadores inimigos, uma tarefa mais complexa, deixando a pistola de ser um “dedo duro”, como também o é a submetralhadora MT-12, que é a arma de dotação dos Graduados em muitas unidades de Infantaria. A realidade Norte-Americana no tocante ao uso de pistolas, acima mencionada, é, contudo, inimaginavelmente distante da nossa, principalmente quando levamos em consideração o atual Estatuto do Desarmamento (do Cidadão, e não dos bandidos), o que lamentavelmente reduz a possibilidade de demanda de produtos de empresas nacionais de material bélico, como a IMBEL e a TAURUS, as quais vir-se-iam extremamente beneficiadas caso todos os combatentes do efetivo fixo das FFAA pudessem ter e portar suas pistolas. É válido também considerarmos que caso se utilize uma veste de combate para portar a arma, que ficaria assim oculta entre outros equipamentos, tal problema é reduzido.
Outro aspecto importante a ser considerado, no
tocante ao uso de pistolas, é que nos exércitos mais
avançados o operador de Metralhadora Leve ou de Metralhadora
Média porta pistola. Isto se deve ao fato de sua arma principal
ter alimentação por cinta de elos metálicos, o que
torna seu remuniciamento um pouco mais lento do que aquelas armas que
utilizam carregadores destacáveis, fazendo com que seus
operadores, peças chave para a superioridade de fogo, fiquem
mais vulneráveis ao inimigo durante combates aproximados, como
os em ambiente urbano ou de selva. É justamente para minimizar
esta fraqueza que eles são dotados de pistolas: para terem a
possibilidade de se defenderem enquanto municiam suas armas. Como o
fato de operarem as metralhadoras já os torna alvos
prioritários dos Caçadores inimigos, o porte da pistola
não muda em nada sua situação no tocante a este
aspecto. É definitivamente uma medida a ser considerada por
nossas FFAA.
O Grupo de Combate é composto por nove homens, existindo três Grupos de Combate por Pelotão de Infantaria. Integram-no o Sargento Comandante de Grupo, dois Cabos, que são os Comandantes dos Escalões em que se subdivide o Grupo de Combate, dois Soldados Fuzileiros, dois Soldados Granadeiros e dois Soldados Metralhadores. Todos são armados de Fuzil de Assalto, à exceção dos Soldados Metralhadores, que são armados com Metralhadoras Leves. Cada um dos Soldados Granadeiros têm um lançador de granadas acoplado sob o cano de seu fuzil. Um dos Cabos é responsável por manejar um Canhão Sem Recuo, cabendo ao Soldado Fuzileiro de seu Escalão o transporte da munição para o mesmo. No outro Escalão, o Cabo e o Soldado Fuzileiro que o acompanha portam, cada um, além de seu fuzil, uma Arma Leve Anti-Carro e cargas explosivas de ação horizontal.
O Grupo de Armas de Apoio é constituído por nove homens, sendo um Sargento Comandante, dois Cabos Metralhadores, dois Cabos Atiradores de Arma Anti-Carro e quatro Soldados Municiadores. O Sargento Comandante, os Cabos Atiradores de Arma Anti-Carro e todos os Soldados Municiadores são armados de Fuzil de Assalto. Os Cabos Metralhadores portam as Metralhadoras Médias. Dois dos Soldados Municiadores transportam munição reserva para as Metralhadoras Médias, os outros dois transportando cargas reserva (mísseis) para as Armas Anti-Carro. Esta é a configuração para o caso de transporte de Armas Anti-Carro de peso médio, tais como o europeu MILAN 3 da EADS, ou o israelense GILL da Rafael. No caso de uso de Armas Anti-Carro mais pesadas, tais como o brasileiro MSS 1.2 da Mectron, ou o russo KORNET da KBP, apenas um posto de tiro pode ser transportado, dado o maior peso de seus componentes e do míssil em si. Assim, um dos Cabos Atiradores de Arma AC é suprimido, entrando em seu lugar um outro Soldado Municiador, que ajuda no transporte do material.
O Escalão de Combate é a menor unidade militar capaz de ser destacada e agir como um grupo coordenado, sendo o resultado da subdivisão de um Grupo de Combate. Sua composição é claramente mostrada acima.
O exemplo de um Pelotão de Infantaria mostrado anteriormente corresponde àquilo que pode ser esperado de um Exército de primeira linha, podendo ser considerado superdimensionado por algumas FFAA de países em desenvolvimento, mas também como o mínimo necessário por aqueles que já combateram em conflitos recentes. O que importa é que ele claramente dá uma idéia da enorme variedade e quantidade de armamentos necessários para sua dotação, de acordo com a missão ou tarefa desempenhada por cada combatente dentro de seu grupo, sem mencionar os diversos outros equipamentos necessários e que não foram ainda mencionados neste capítulo, mas o serão em capítulos posteriores, tais como: rádios transceptores criptografados para o Rádio-Operador e para o Observador, rádios transceptores de curto alcance (HT) para todos os integrantes do Pelotão, Óculos de Visão Noturna (OVN) para a maioria dos integrantes, Lunetas de Tiro com ampliação de Luz Residual para os Metralhadores, Apontadores Laser para tiro noturno com as armas, Binóculos Estabilizados com telêmetro e designador laser, aparelhos de GPS, entre outros.
É claro que o modelo demonstrado não tem a pretensão de ser um padrão a ser adotado, mesmo porque o cenário e o ambiente, além da missão, podem influir na composição de armas e homens. Por exemplo: num ambiente de selva, as Armas Anti-Carro do Grupo de Armas de Apoio poderiam ser substituídas por mísseis terra-ar do tipo IGLA, as equipes das Metralhadoras Médias poderiam ser substituídas por uma equipe de Lançador Automático de Granadas de 40mm, ou ainda todo o Grupo de Armas de Apoio ser constituído por uma equipe de Lançador Automático de Granadas e por uma equipe de Metralhadora pesada calibre .50, entre outras inúmeras possibilidades. Vale salientar que tal configuração foi idealizada visando sua melhor adaptação às tarefas da Infantaria Motorizada, Blindada, Pára-quedista, de Selva ou Aeromóvel, na medida em que cada Pelotão pode ser facilmente transportável por:
- Duas viaturas MB1720A, do tipo caminhão;
- Quatro Viaturas Blindadas de Transporte de Pessoal (VBTP) dos modelos M-113, Urutu ou Patria AMV;
- Uma aeronave C-295M (um Pelotão Pára-quedista);
- Duas Lanchas de Assalto CB90H;
- Duas aeronaves HM-3 Cougar ou três aeronaves HM-2 Black Hawk.
Passemos então para a análise dos armamentos em si.
FUZIS DE ASSALTO
Os Russos
Os russos estiveram envolvidos na guerra do
Afeganistão de 1979 a 1989, período este em que muita
experiência foi ganha, e muitas lições foram
aprendidas. As táticas e técnicas de combate foram
refinadas para adaptarem-se ao combate moderno, e o armamento foi
melhorado. O resultado destas melhorias, no campo do armamento
individual para o Infante, foi a criação do Avtomat Nikonova-94, o AN-94, no
calibre 5,45x39mm. Enquanto o fuzil AK-74M continua sendo o fuzil
padrão da maioria das unidades do exército Russo, a
realidade é que o AN-94 já começou a
substituí-lo, estando em uso nas unidades de Forças
Especiais (Spetsnaz) e junto às tropas do Ministério do
Interior, desde o ano de 1994, ano este em que foi inicialmente
adotado, sendo que sua versão atual entrou em
produção seriada no ano de 1998, na fábrica
Izhevsk, que produz as versões modernizadas da conhecida
família AK.
Fuzil AN-94 com coronha estendida, vista do lado direito.
Note a construção toda em polímero.
A história da evolução que
levou a esta arma é extremamente longa e cheia de reveses,
interesses políticos e vaidades (algo como nosso programa FX)
mas, como resumo, temos que no final dos anos 70 o exército
russo abriu uma competição denominada Abakan, que levaria
ao substituto do AK-74, fuzil que estava acabando de entrar em
serviço naquele país, sendo que os principais requisitos
que a nova arma deveria atingir eram: melhora na eficiência de
150 a 200% em relação ao AK-74, com menos recuo e maior
confiabilidade. Qualquer pessoa que já teve a oportunidade de
disparar com um AK-74 e é conhecedora da controlabilidade e
rusticidade desta arma sabe o quão difícil é
atingir tal meta, mas assim o foi.
Fuzil AN-94 com coronha
estendida, vista ao lado esquerdo. Note o seletor de tiro sobre a
empunhadura e logo atrás do gatilho, na posição em
que é encontrado no fuzil israelense Galil.
O arma resultante foi um fuzil de mecanismo completamente inovador e sem similar no ocidente, que produz um resultado semelhante ao Heckler & Koch G11: fogo intermitente, fogo automático com uma cadência teórica de 600 disparos por minuto e fogo automático controlado de dois tiros (burst) com uma cadência teórica de 1800 tiros por minuto!
Fuzil AN-94 desmontado. Note a roldana
e o cabo de aço que fazem a “mágica” do sistema. A
pequena e achatada peça cinza a que o cabo se prende,
próxima da câmara de disparo, é a bandeja que faz a
alimentação intermediária. Com toda tecnologia e
inovação, o número de peças ainda é
extremamente reduzido, próximo ao número que
compõe o nosso FAL.
Já no modo de
“burst” de dois tiros, a coisa é diferente: ao disparar, todo o
mecanismo (ferrolho, caixa de culatra e cano) começa a recuar
dentro de uma segunda caixa de culatra, que é a externa. Quando
o projétil passa pelo evento, os gases são direcionados
para o pistão, que começa a recuar, destravando o
ferrolho, que por sua vez extrai a cápsula da câmara.
Só que, neste momento, uma bandeja acionada por um cabo de
aço conectado ao ferrolho, segue em frente, passa sobre o
carregador, coleta e coloca uma nova munição na entrada
da câmara, ao mesmo tempo em que a anterior é ejetada. O
ferrolho volta à frente e a bandeja para trás, trancando
sobre a nova munição, e um novo disparo é feito.
Só que, enquanto tudo isso ocorreu (em milésimos de
segundo) o mecanismo todo ainda está recuando dentro da caixa de
culatra! Após o segundo disparo, o mecanismo chega ao final de
seu curso e, sob a força de uma mola recuperadora, volta
à posição inicial, enquanto ejeta a cápsula
deste segundo disparo e realimenta a câmara com uma nova
munição. O resultado é bem simples: os dois
projéteis resultantes dos disparos deixam o cano antes do recuo
atingir o ombro do atirador, saindo praticamente um atrás do
outro, sem desvio algum! É tão rápido que, para
quem está olhando e ouvindo, parece que apenas um tiro foi dado.
Cabe salientar que, com o seletor de tiro em fogo automático, os
dois primeiros disparos são feitos à cadência de
1800 TPM e, do terceiro em diante, à 600 TPM.
Na prática, o agrupamento dos projéteis a uma distância de 100 m pode ser coberto pela palma de uma mão. A vantagem em distâncias maiores é óbvia e comprovada: a probabilidade de acerto em um alvo móvel a 300 m é 200% maior que aquela utilizando um fuzil convencional. Um efeito colateral e benéfico é a maior capacidade de incapacitação do alvo: se este está sem colete balístico o poder de parada é o dobro, pois dois projéteis atingem o alvo de forma quase simultânea.
Fuzil AN-94 com lançador de
granadas de 40mm GP-25 acoplado sob o cano.
Se o alvo está usando uma veste com placa de cerâmica, capaz de deter munição de fuzis, ainda assim pode ser colocado fora de combate em distâncias de até aproximadamente 100m. Explico: ao impactar no colete balístico, o primeiro projétil fragmenta uma porção da placa cerâmica, sendo seus resíduos e os da placa detidos pela camada de Kevlar ou material similar que compõe a parte flexível do colete. Mas, na seqüência, quando o tecido balístico da veste ainda está sob o efeito de “cama elástica” detendo os fragmentos do primeiro impacto, o segundo projétil impacta numa porção já fragilizada da placa de cerâmica, por vir quase que imediatamente atrás do primeiro, passando praticamente ileso por esta, atingindo o tecido balístico em uma situação de estresse máximo do material que, por si só, não é capaz de detê-lo, resultando na fácil perfuração da veste e na incapacitação do combatente.
A parte de todas estas inovações em termos de sistema de funcionamento, o fuzil é relativamente convencional: é construído com toda sua estrutura principal e guarnições em polímero, ao passo que o mecanismo, cano e peças menores são feitos em aço. Utiliza um sistema de trancamento por ferrolho rotativo e configuração dita convencional, com carregador na frente do grupo do gatilho e coronha dobrável. Possui miras mecânicas, com alça de mira em formato de asterisco, com posições para 200-300, 400, 500, 600 e 700m, e massa de mira regulável na vertical e horizontal para “zerar” a arma. A posição de 200-300m da alça, bem como a massa de mira, possuem cápsulas de trítio para permitir o enquadramento de miras à noite ou em condições de baixa visibilidade.
Vista do fuzil AN-94 com um visor
intensificador de luz residual dotado de trilho de
adaptação integral, e mais uma série de
acessórios.
Além dos tradicionais bandoleira,
reforçador de tiro de festim e baioneta, esta última com
a peculiaridade de ser afixada na lateral da peça que funciona
como quebra-chamas e compensador de tiro, a fim de evitar a
interferência com o uso do lançador de granadas acoplado
sob o cano, outros acessórios que podem ser adaptados à
arma são: visores noturnos, miras de ponto vermelho, lunetas e
miras laser, todos acoplados ao trilho universal existente na lateral
esquerda da arma, que permite por várias vezes a
afixação e remoção dos equipamentos
óticos, sem que seja necessário ajustá-los
novamente à arma.
Vista da alça de mira em
formato de asterisco. Os dois buracos na parte superior de uma das
aletas são destinados à inserção das
cápsulas de trítio para tiro noturno. É justamente
esta aleta a da posição de 200-300m. Note que a arma esta
ajustada para disparo a 400m, como denota o nº 4 que está
gravado na aleta do asterisco que se encontra em posição
de uso.
Vista do compensador e
quebra-chamas do fuzil. Observe, logo atrás do mesmo, o trilho
por onde corre o cano quando este recua juntamente com todo o mecanismo
da arma. O resultado é a completa ausência de recuo, mesmo
em fogo totalmente automático. De fato, a arma atira como uma
carabina calibre .22 LR. Note também as duas
elevações sobre a proteção da massa de
mira, nas quais são inseridas as cápsulas de
trítio. O botão arredondado, na lateral da estrutura,
é para a regulagem horizontal da massa de mira, e o engate em
forma de “T”, logo abaixo, é para a fixação da
baioneta.
Fuzil AN-94 com
lançador de granadas e baioneta acoplados. Note como a baioneta,
afixada horizontalmente na lateral do cano, não interfere com o
lançador de granadas.
Outra engenhosidade da arma:
o seletor de tiro é acionado pelo polegar, tendo as
posições intermitente (1), burst (2) e automático
(AB). Já a trava de segurança é um botão
independente, sendo acionado pelo dedo indicador: é a
peça prateada em formato de semi-círculo, à frente
do gatilho. A vantagem tática é que o fuzil pode ser
mantido em regime de fogo automático e ser rapidamente
destravado por um leve toque do indicador, sem a necessidade de fazer
aquela enorme volta de 180º no seletor de tiro,
característica de nossos FAL e MD-97. O resultado é a
maior rapidez numa eventual reação à emboscada em
meio à selva, onde o único remédio imediato
é retornar o maior volume de fogo possível.
Esta foto, de uma
submetralhadora italiana SPECTRE M4, foi inserida apenas para ilustrar
como é o design de um carregador quadrifilar. Note que
inicialmente ele é bifilar, tornando-se quadrifilar após
alguns centímetros. Este espaço inicial em que ele
é mais estreito que é inserido na arma, como pode ser
observado. O carregador do fuzil AN-94 segue exatamente o mesmo
princípio. (Foto: www.world.guns.ru)
XM-8
O fuzil XM-8
já foi objeto de uma pequena exposição na
matéria em que comentei o fuzil IMBEL MD-97. Trata-se da
provável nova arma de dotação do Exército
Norte-Americano. Os Marines e a Força Aérea daquele
país afirmaram oficialmente que pretendem continuar com as
versões atualizadas de suas armas atuais, sendo os fuzileiros
com o M-16 A3 e a carabina M-4 A1, e a Arma Aérea com o M-4. Na
realidade é tão somente uma tática de economia:
eles esperarão o US Army desenvolver, testar, adotar e produzir
os lotes iniciais da nova arma, para então adquiri-lo, sem arcar
com os custos e percalços das fases anteriores, nem comprometer
seus orçamentos de desenvolvimento de tecnologias com o fuzil,
haja vista que cada Força tem a sua própria verba para
pesquisa e desenvolvimento. É exatamente o que os Marines
fizeram com o Carro de Combate M1 Abrams: mantiveram seus M-60A3 em
serviço até que o Exército solucionasse todos os
“bugs” da nova arma, quando então compraram a versão
já melhorada, o M1A1.
Fuzil Heckler & Koch XM-8
em sua versão mais atual, com todos os melhoramentos
incorporados após os testes de campo com tropas do US Army. Esta
arma vai ser distribuída neste ano de 2005 para uma das Brigadas
Stryker atualmente em operação no Iraque, para testes em
combate real antes de sua adoção oficial. Uma das maiores
vantagens da nova arma sobre a família M-16, além da
maior confiabilidade e menor peso, é o preço: custa
atualmente US$ 600,00, com previsão para custar US$ 450,00
quando produzido em massa, ao passo que uma Carabina M-4 A1 equipada de
forma similar, com visor ótico de ponto vermelho Aimpoint M68,
mira laser AN/PEQ-2A e sistema de trilhos R.I.S para incorporar estes
acessórios, chega a custar US$ 1050,00.
A vantagem da munição é que
os mesmos carregadores padrão M-16 podem ser utilizados,
bastando uma troca do cano e da cabeça de trancamento do
ferrolho para converter a arma de 5,56x45mm OTAN para o 6,8x43mm SPC. A
balística é similar à da munição
.30-30, com poder de parada calculado como sendo 50% maior que o da
munição 5,56 OTAN. A Barrett, que produz os fuzis
“Sniper” calibre .50 para as FFAA dos EUA e de diversos outros
países, já está produzindo um kit de
conversão para os M-4 e M-16, que os transforma para o novo
calibre, havendo notícias que o USSOCOM (United States Special
Operations Command, ou Comando de Operações Especiais dos
EUA) havia comprado, nos anos de 2003 e 2004, algumas centenas destes
kits.
Ao lado: versão compacta do fuzil XM-8. Este modelo está
com uma capa de caixa da culatra, não tendo uma coronha. A capa
da caixa de culatra pode ser substituída por uma coronha
retrátil estilo H&K MP-5, ou por uma coronha dobrável
estilo H&K G36 ou Para-Fal. Pode ainda utilizar uma coronha fixa
com comprimento ajustável. A versão da foto destina-se ao
uso por tripulação de aeronaves e blindados.
Folder
da Heckler & Koch USA mostrando todas as opções do
fuzil XM-8, de cima para
baixo: fuzil convencional, fuzil com lançador de granadas, o
fuzil compacto
descrito na ilustração anterior, fuzil para Atiradores de
Escol e fuzil
automático pesado, semelhante ao nosso FAP, para cumprir as
funções de
Metralhadora Leve nos GC. No quadro ao lado, todos os acessórios
que
proporcionam a modularidade da arma.
Outra
Foto da versão compacta do fuzil XM-8, mas desta vez com coronha
fixa com
regulagem de comprimento.
Começaram
também os testes com a
nova munição 5,56x45mm OTAN com cápsula de
polímero, que reduz em até 30% o peso da
munição transportada e ainda evita o problema de disparo
espontâneo devido ao superaquecimento do cano da arma, conhecido
como “Cook Off”.
Aspecto
da munição com cápsula de polímero: pode
ser produzida em diversas cores.
Embalagem
da munição com cápsula de polímero vendida
pela Natec no mercado
norte-americano.
Baioneta
Camillus CAM-1 do fuzil XM-8, juntamente com seu acessórios.
O fuzil XM-8, em resumo, trata-se de um fuzil de configuração convencional, com carregador situado à frente do grupo de gatilho e coronha com regulagem de comprimento, própria para adaptar a arma ao tamanho do atirador e às suas vestes, pois o uso de colete balístico, vestes de combate e roupas de inverno, por exemplo, demanda uma arma de coronha mais curta, ao passo que apenas o uso de um leve uniforme de selva demanda uma coronha de maior comprimento. Já existem versões desta coronha regulável que também são rebatíveis ou dobráveis, como àquela de nosso Para-Fal. O funcionamento do fuzil também é convencional, com tomada de gases por evento próximo à boca do cano, que aciona um pistão leve de curto curso, o qual movimenta o transportador do ferrolho e a cabeça de trancamento rotativa com oito ressaltos, similar àquela do M-16. A maior parte da arma é construída em polímero, restringindo-se o uso de aço às peças essenciais do mecanismo, tais como cano, cabeça do ferrolho, pistão, pinos e molas, o que reduz dramaticamente o peso da arma, diminui as necessidades de manutenção e lubrificação, e aumenta a durabilidade e resistência. A confiabilidade da arma, resultado do uso do mecanismo de ferrolho rotativo combinado com o pistão, similar ao do AR-18 e do AK-47, é extremamente elevada, muito superior ao do nosso FAL, que usa um mecanismo de pistão, porém com ferrolho basculante, e ao do AR-15/M-16, que usa o ferrolho rotativo, mas sem pistão, lançando os gases diretamente na caixa da culatra, o que faz com que o acúmulo de resíduos de pólvora no mecanismo leve o fuzil a travar-se e parar de funcionar, se a manutenção e limpeza freqüente não forem realizadas. E aqui abro um parêntese.
Muito tem se escrito sobre a superioridade do FAL em relação a outras armas de design mais atualizado, o que é muito bonito de se escrever, mas que na realidade é, a meu ver, parte de um nacionalismo inconseqüente que se recusa a enxergar a realidade dos fatos, querendo passar para o público interno a idéia que o equipamento de nossas FFAA não deve nada àquele dos países desenvolvidos. Isso me faz recordar daquela história de um exercício de combate aéreo simulado, desenvolvido no torneio “Red Flag” dos EUA, em que nossos caças F-5E abateram os F-15C dos EUA, o que foi motivo de glória e devaneios utópico-nacionalistas: pode ter ocorrido esta situação devido à tática e técnica empregada, fator surpresa e etc., mas daí dá para dizer que o F-5E é melhor que o F-15C? Vamos falar sério! Depois desta ocorrência, e após os americanos terem analisado a tática utilizada e onde eles erraram, quantas vezes mais vocês acham que um F-5E abateu um F-15C? É o mesmo caso que ocorreu com os Mirage 2000 franceses versus Mirage III brasileiros em um exercício realizado por estas bandas: na primeira vez os franceses foram surpreendidos, mas e depois? Não adianta, a superioridade militar é uma combinação do melhor equipamento com a melhor tática de emprego. A superioridade militar baseada somente na tática inovadora pode dar vantagem uma ou duas vezes, mas depois que o inimigo compreendeu seu funcionamento e onde vinha errando, já era...
Mas voltando ao caso do FAL: dizer que a arma fica parada, fechada, apoiada em um suporte sob a chuva, sol, vento, etc. por vários dias e depois ao ser acionada dispara sem problemas é o mínimo que pode se esperar de qualquer arma que se proponha ser uma arma de emprego militar. Agora dizer que outras armas de uso consagrado não o fazem, isso não dá para engolir. Dá até para imaginar as condições do teste: um Para-Fal novo e com a manutenção impecável, dado o domínio que a tropa brasileira tem sobre esta arma, com cada micro dobra das voltas de cada parafuso rigorosamente limpa e a munição nova, por ser a munição padrão do EB, de dotação de uma Unidade que é Centro de Excelência. No outro lado do ringue, um M-16 A2, uma arma que os combatentes do Exército vêem mais na televisão do que ao vivo, com mecanismo de funcionamento não totalmente compreendido, haja vista ter ferrolho de trancamento rotativo e sistema de tomada de gases sem pistão, ao invés do ferrolho basculante e pistão do FAL, e “com a manutenção recomendada pelo fabricante”, ou seja, abriu-se o manual deu-se uma olhadela e pronto. Será que o venturi de transporte dos gases foi corretamente desmontado e limpo no seu interior, pois ele demanda uma escova calibre .17 que não vem com a arma e que não existe no EB, que utiliza escova calibre .30 para a limpeza das armas. Será que o alojamento do percussor foi limpo e a mola de retenção em “v” foi colocada na posição correta? Será que os três anéis de vedação da cabeça do ferrolho foram mantidos desalinhados? Pergunto isso por que, segundo relatos, a arma nem disparou. Não disparou por quê? Será que a face da cabeça do ferrolho foi lubrificada e o óleo contaminou a espoleta da munição de um dia para o outro? Ou será que o carregador foi lubrificado, contaminando a munição? Que munição estava sendo utilizada? Era nova? Por que esta não é a munição de dotação do EB, e pode ter sido utilizada uma munição emprestada ou cedida por outra Força ou por uma Polícia, que não vai dar munição nova para “torrar” em testes. Veja bem, não digo isso por ser um fã do fuzil M-16. Não sou, pois prefiro muito mais um fuzil AK-101 (AK-74M em calibre 5,56x45 OTAN) ou um fuzil Sig Sauer 551, como o utilizado pelo PARASAR da FAB, mas profissionalmente utilizo um fuzil M-4, que nada mais é do que um M-16 A2 encurtado. Portanto não faço os comentários que fiz por suposição: já participei de diversas operações na região amazônica, nas quais sempre procurei fazer contato com o pessoal do EB, que sempre me apoiou da melhor forma possível (Aliás, aproveito para agradecer publicamente o 1º Ten WELLINGTON JUNIO MATHEUS PIRES, Comandante do 4º Pelotão Especial de Fronteira, em Surucucu/RR, que abrigou toda minha equipe nas instalações daquela Unidade de Fronteira, fornecendo-nos alimentação e abrigo, e até atendimento médico, quando fui acometido por uma daquelas esquisitas enfermidades de selva). Nestes diversos contatos sempre faço um “intercâmbio”, demonstrando e dando instrução sobre o fuzil M-4, que toda a tropa e boa parte dos Oficiais nunca sequer viu de perto, portanto acredito que a manutenção dada à arma durante as avaliações não foi comparável àquela do FAL e, ademais, uma arma que sequer dispara depois de um dia de sol e chuva, como foi relatado, está com algum defeito ou problema, caso contrário, metade do Exército Norte-Americano e a totalidade do Exército Israelense já teriam sido mortos em combate.
E, voltando ao ringue, temos ainda um HK-33, provavelmente um fuzil emprestado pela FAB, pois é sua arma de dotação, que já contabiliza mais de 25 anos de uso, com um mecanismo de trancamento por roletes e sem pistão, ou seja, um funcionamento totalmente “alienígena” para quem está acostumado com o FAL e, provavelmente, desacompanhado de seu manual: este não precisa nem de comentários.
Deixando a brincadeira de lado, temos que
observar seriamente o seguinte: os israelenses utilizavam o FAL na
Guerra dos Seis Dias e a arma deixou muito a desejar naqueles ferozes
combates, pois seu cano aquecia demais com uso contínuo, mesmo
que em fogo semi-automático, causando a detonação
espontânea dos cartuchos, e o mecanismo não suportava o
acúmulo de resíduos de pólvora e o ingresso
ocasional de areia, que levavam à pane de trancamento incompleto
do ferrolho. Como o FAL não tinha um botão auxiliar para
o trancamento manual do ferrolho, como o M-16 o tem, sendo este o
botão arredondado atrás da janela de
ejeção, e nem tão pouco a alavanca de manejo do
FAL é afixada ao transportador do ferrolho, como no caso do
AK-47, quando esta pane ocorria, só havia duas
soluções possíveis: ou o combatente desmontava o
fuzil em meio ao combate e limpava os ressaltos de trancamento do
ferrolho basculante, ou ele sentava e começava a chorar. Os
Sul-Africanos, que também usavam o FAL, passaram pelos mesmos
problemas quando o usaram em combate real. O resultado é que os
Israelenses, admirados com a confiabilidade da arma de seus
adversários, o AK-47, copiaram seu design e seu mecanismo,
adaptando-o a um calibre ocidental, dando origem ao famoso fuzil de
assalto Galil. Os Sul-Africanos procuraram se esforçar menos e
apenas copiaram o Galil dos israelenses, produzindo-o sob a
designação de R4. Disto tiramos uma lição,
que merece ser analisada, e que é tecnicamente comprovada: o
mecanismo de funcionamento por ferrolho basculante empregado no FAL
é muito menos confiável que o mecanismo de ferrolho
rotativo, empregado na totalidade dos fuzis de assalto de projeto
recente. Isto, somado ao fato de o FAL não possuir meios de
trancar o ferrolho manualmente em caso de pane, pois não possui
o botão de trancamento auxiliar e nem a alavanca de manejo
afixada ao transportador do ferrolho, torna-o uma arma muito menos
confiável do que outros fuzis de assalto de projeto mais
recente. É a realidade, é
Transportador
do ferrolho, com cabeça do ferrolho rotativa, do fuzil XM-8.
Ainda quanto
à confiabilidade do XM-8, o
fabricante alega que a arma pode dispara 15 mil tiros sem necessidade
de manutenção, o que corresponde a quase toda vida
útil de uma arma deste tipo, e que em caso de necessidade, por
ter construção em polímero e peças
metálicas com tratamento anti-corrosivo “marine coat”, pode ser
limpa com água e sabão.
Ao
lado: fuzil de assalto XM-8 desmontado para a manutenção
de primeiro escalão,
onde se nota o reduzido número de componentes e a
construção quase que
integralmente em polímero.
A arma aceita carregadores plásticos bifilares de 30 cartuchos e carregadores circulares Beta C-Mag de 100 cartuchos, ambos em plástico e que não necessitam de qualquer lubrificação, sendo muito mais resistentes e confiáveis que os tradicionais carregadores de alumínio do M-16.
Acima:
o carregador Beta C-Mag, com capacidade para 100 cartuchos, é
disponível para
vários modelos de fuzis, entre eles os que utilizam carregador
padrão M-16, o
H&K G36, o Steyr Aug e o Sig Sauer 551. Há
informações que o CFN da MB já
adquiriu este tipo de carregador para os fuzis M-4 dos combatentes do
Batalhão
Toneleiro.
Acima:
visão em corte que mostra o funcionamento do carregador Beta
C-Mag.
O sistema de mira, que utilizava somente componentes óticos, foi complementado e melhorado como resultado das avaliações junto à tropa. O principal componente do chamado Módulo de Mira Integrado é um visor ótico que projeta um ponto vermelho sobre a lente, sendo que este ponto tem regulagem de intensidade para uso durante o dia, à noite e à noite em conjunto com Óculos de Visão Noturna (OVN). Ele permite a visada com os dois olhos abertos e sem a necessidade de, como nas miras mecânicas, focalizar três planos distintos, quais sejam a alça de mira, a massa e o alvo, o que reduz sensivelmente a acuidade visual, estreita o campo de visão e aumenta o tempo necessário para o enquadramento do alvo. O visor ótico, assim como os demais componentes do módulo, tiram suas energias de um módulo de bateria composto por duas pilhas pequenas, tamanho “AA” que, com todos os sistemas ligados na potência máxima, duram 700h. No caso de o visor ficar sem baterias, há um retículo fixo gravado na lente e ajustado de fábrica para 200-300m. Os outros componentes do módulo são: um apontador laser de freqüência Infravermelha (IV), também para o tiro noturno em conjunto com os OVN, já que ele é invisível ao olho nu, e um iluminador ou lanterna IV, também invisível ao olho nu, destinado à busca de alvos em ambientes fechados em que não haja nenhuma fonte de luz residual para alimentar os OVN. Tanto o iluminador como o apontador IV são colimados e podem ser usados em conjunto, com o ponto de mira aparecendo no centro do facho da lanterna. Este módulo visa substituir a combinação atualmente utilizada pelo US Army em todos os seus fuzis de assalto e metralhadoras leves, qual seja o visor ótico Aimpoint Comp M modelo M68 e o apontador e iluminador IV AN/PEQ-2A, com as vantagens do menor custo, do uso de apenas uma fonte de baterias para todo conjunto, da ausência de cabos ou fios para o acionamento e da facilidade do ajuste, pois ao se ajustar uma das miras do módulo para um determinado ponto de impacto, todas as outras são automaticamente ajustadas para o mesmo ponto, facilitando o trabalho de “zerar” todos os sistemas de mira da arma. Caso o modulo venha a quebrar ou danificar-se em combate ele pode ser imediatamente destacado, para ser substituído ou para permitir o uso das miras mecânicas dobráveis, que ficam alojadas na alça de transporte: a alça de mira sendo regulável de 200 a 600m, em incrementos de 100m, e a massa de mira ajustável na horizontal e na vertical, para “zerar” o ponto de visada.
A surpresa na corrida: o Fuzil de Assalto SCAR
Enquanto o Exército Norte-Americano testava e decidia-se pelo Heckler e Koch XM-8, o Comando de Operações Especiais dos EUA (USSOCOM) emitiu um requisito para um fuzil de assalto leve e modular, com confiabilidade e precisão maior do que aquela do fuzil de assalto M-4 A1 SOPMOD utilizado até então, que pudesse ser convertido em menos de 20 minutos pelo próprio operador, através da troca de alguns poucos componentes modulares, para utilizar as munições 5,56x45mm OTAN, 7,62x51mm OTAN, 6,8x43mm SPC e 7,62x39mm M43, esta última do AK-47, bem como ser compatível com os carregadores padrão M-16 e AK-47, além de algum carregador de fuzil de assalto calibre 7,62x51mm em grande disponibilidade no mercado e de uso e distribuição mundial. Eram também requisitos a serem atingidos: uma confiabilidade de pelo menos 15 mil disparos sem falhas atribuíveis à arma, sendo o desejável 35 mil disparos; uma vida útil de 90 mil disparos para a arma e de 15 mil disparos para o cano; e uma precisão capaz de produzir um agrupamento de 75 mm à uma distância de 300 metros, utilizando as munições calibre 5,56 e a 7,62 padrão OTAN.
Pareciam requisitos difíceis até
para o fuzil XM-8, até que no dia cinco de novembro de 2004 o
contrato foi vencido pela FN USA, uma subsidiária da Fabrique
Nationale Herstal (FN Herstal) belga, que produz as metralhadoras M-249
(Minimi) e M-240 (MAG) nos EUA, e que tem uma subsidiária no
Brasil, a FN do Brasil, que produz (ou produzia) algumas peças
do nosso FAL. O fuzil de assalto vencedor da competição
foi o SCAR, uma abreviatura para “Special Operations Capable Assault
Rifle”, ou Fuzil de Assalto Apto a Operações Especiais,
sendo que a pronúncia de SCAR em inglês equivale a “scare”, que significa “medo” ou
Fuzil
FNC disparando em condições adversas.
Outra
vista do fuzil de assalto FNC da FN Herstal.
Vista
do lado esquerdo do Fuzil de Assalto SCAR L. Note o seletor de tiro com
as
posições segurança (S), fogo
semi-automático (1) e fogo automático (A), bem
próximas umas das outras, num giro de apenas 90º,
constituindo-se em uma
melhoria tática importante. Observe também a
porção esquerda do retém
ambidestro do carregador, o retém do ferrolho no estilo M-16 e a
coronha com
botão giratório próximo a sua parte posterior, o
qual permite a regulagem de
comprimento da mesma. Visível também na foto a
alça de mira regulável, que se
encontra dobrada na posição fora de uso, para não
interferir com a visada
através da mira ótica Aimpoint M68. Pode-se ver
também que o fuzil leva como
acessório, preso ao trilho inferior, uma empunhadura vertical,
que facilita o
controle em fogo automático e aumenta a manobrabilidade da arma
em combates de
curto alcance e em ambientes fechados.
A arma é oferecida em duas versões
básicas o SCAR L, de “light” ou “leve”, nos calibres 5,56x45mm
OTAN ou 6,8x43mm SPC, utilizando carregadores padrão M-16. E o
SCAR H, de “heavy” ou “pesado”, nos calibres 7,62x51mm OTAN ou
7,62x39mm M43, sendo que no primeiro caso a arma usa carregadores
padrão do FAL! Já para a munição M43
são utilizados carregadores do AK-47, disponíveis em
qualquer farmácia ou padaria do Oriente Médio, sendo que
atendem aos requisitos das Forças Especiais de utilizarem a
munição e os carregadores encontrados no campo, para
dependerem menos de apoio logístico externo.
Vista
do lado direito do Fuzil de Assalto SCAR H na versão com cano
curto. Veja que a
arma está utilizando um carregador padrão do FAL. A nova
arma porém, não
utiliza o sistema de nosso conhecido fuzil, no qual um ressalto ou
“dente”
existente na parte da frente do carregador é encaixado na parte
da frente da
caixa da culatra, para então girar o carregador para cima e
travá-lo sob a
força do retém. Ao invés disso, há um
alojamento de carregador padrão M-16, no
qual há o espaço para o carregador e um entalhe ou
canaleta por onde corre o
“dente” existente na porção anterior do carregador,
não interferindo assim na
inserção do mesmo, sendo o encaixe do retém
padrão do carregador FAL
aproveitado para realizar o travamento pelo retém do carregador
da arma, também
similar ao do M-16. Este sistema de alojamento foi adotado por garantir
maior
segurança e proteger mais o carregador contra impactos laterais.
No mais,
observe que o restante do fuzil é muito similar ao SCAR L.
Vista
do lado direito do Fuzil de Assalto SCAR L. Note o seletor de tiro
ambidestro e
a alavanca de manejo afixada deste lado. Esta é a versa com cano
longo.
A arma também é oferecida com três comprimentos de cano, sendo o SCAR H, com cano longo e pesado de 20 polegadas, o novo fuzil padrão dos Caçadores das Forças Especiais daquele país.
Na realidade serão produzidas três subvariantes dos fuzis SCAR L e SCAR H: o SCAR S, de “Standard” ou “Padrão”, o SCAR CQC, de “Close Quarters Combat” ou “Combate de Curto Alcance” e o SCAR SV, de “Sniper Variant” ou “Modelo para Caçadores”. O SCAR L modelo Standard mede 850 mm com a coronha estendida e 620 mm com a coronha dobrada, pesando em torno de 3,5 kg vazio. Ele usa carregadores de 30 cartuchos padrão M-16 para as munições 5,56 OTAN ou 6,8 SPC, tendo uma cadência de fogo teórica de 600 disparos por minuto. Já o SCAR H modelo Standard mede 997 mm e 770 mm com a coronha estendida ou dobrada, respectivamente. Pesa vazio 3,86 kg e dispara a uma cadência teórica de 600 TPM. Utiliza carregadores de 20 cartuchos padrão FAL para as munições 7,62 OTAN, e carregadores de 30 cartuchos padrão AK-47 para as munições 7,62 russas.
O contrato assinado é para 84.000 SCAR-L Standard, 28.000 SCAR-L CQC,
12.000 SCAR-L SV, 15.000 SCAR-H Standard, 7.000 SCAR-H CQC e 12.000
SCAR-H SV. A produção mensal será de 2.000 SCAR L
e 500 SCAR H. Como se pode perceber, estas quantias são
suficientes para armar todas as FFAA brasileiras, mas na realidade
destinam-se tão somente ao Comando de Operações
Especiais dos EUA (USSOCOM).
Próxima Parte: Heckler & Koch G36, MD-97 e continuação de armamentos.
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