O Fuzil de Assalto
IMBEL MD97 é
uma arma cujo projeto se originou no início dos anos 80, com a
intenção de adaptar o fuzil FAL M964 para disparar o
cartucho 5,56x45mm OTAN, projeto este que também era intentado
por nossos vizinhos argentinos, através de sua estatal produtora
de armas militares, nos melhores moldes de “corrida armamentista
sul-americana”, numa época em que a indústria militar
nacional era levada a sério e estava sempre em busca de um bom
produto, apto a conquistar uma boa fatia do mercado internacional e a
garantir divisas para o país. Este projeto seguiu e tomou a
forma do Fuzil de Assalto IMBEL MD2, que era nada mais do que uma
adaptação do nosso conhecido FAL para disparar o menor
calibre de fuzil da OTAN (5,56x45mm), utilizando para isso um
receptáculo de carregador adaptado para receber o carregador
padrão M-16/AR-15 (STANAG), um ferrolho com a cabeça e a
garra extratora compatíveis com o menor culote da nova
munição, além de um cano e câmara
recalibrados. E só. A construção da caixa de
culatra em aço usinado, com seu conseqüente maior peso,
permaneceu, assim como o problemático sistema de
operação por ferrolho basculante. Foi só com o
passar dos anos, e já num desenvolvimento que resultaria no
MD97, que a empresa resolveu substituir o sistema de trancamento
basculante do ferrolho pelo sistema de trancamento rotativo, o que
acabou com a necessidade da caixa de culatra ser fabricada em
aço, pois, no trancamento basculante, a parte posterior do
ferrolho apóia-se na caixa da culatra, o que contém o
recuo do sistema até o destrancamento, ao passo que, no
trancamento rotativo, a contenção do recuo dá-se
pela solidarização do cano com os ressaltos da
cabeça rotativa do ferrolho, que são as únicas
peças que realmente precisam ser feitas em aço.
Extrato de uma antiga
propaganda da IMBEL que mostra o Fuzil de Assalto MD2 com seus
acessórios.
Na realidade a IMBEL
fez exatamente o
que os russos fizeram ao criar o Fuzil de Assalto AK-74, ou seja,
apenas trocaram o cano e o mínimo de outras partes essenciais do
Fuzil de Assalto AKM calibre 7,62x39mm, colocaram um carregador
compatível com a nova munição e deram um novo nome
para arma. Acredito que foi até neste exemplo que a engenharia
da IMBEL se baseou, só que nisto cometeu um grave erro: os
russos, ainda nos anos 60, estavam preocupados com o excessivo peso do
AK-47, que tinha sua caixa de culatra fabricada em aço usinado.
Passaram então a produzir a mesma arma com a caixa de culatra em
aço estampado, já que a caixa de culatra em
alumínio era uma novidade muito grande que estava sendo
introduzida naquela época no fuzil Armalite AR-15, e que
não era certo se iria “vingar”. Esta nova caixa de culatra em
aço estampado reduziu significativamente o peso da arma, dando
origem ao mencionado AKM. Daí em diante, ao trocar o calibre e
criar o AK-74 na década seguinte, tinham uma arma já
testada, confiável, robusta e LEVE.
Fuzil de Assalto AK-74
A nossa IMBEL
não foi uma boa
observadora da história, esquecendo-se justamente disso, esta
importante fase ocorrida antes da troca de calibre, que foi a
redução do peso da arma, pois a troca da
munição por uma de calibre menor tinha por objetivo
principal reduzir o peso dos equipamentos transportados pelo
combatente, não havendo sentido em se colocar uma
munição mais leve numa arma extremamente pesada. Parece
que alguém falhou em observar o quadro como um todo, focando
apenas o detalhe. Quando a IMBEL logrou êxito em terminar sua
arma, o MD2, já no ano de 1985, oferecendo-a como arma nova ou
como kit de conversão para o FAL, o conceito de armas
extremamente leves, com caixa de culatra em alumínio, já
estava consolidado, estando o Fuzil de Assalto M-16 estabelecido como
uma arma eficiente e provada em combate, além de já estar
entrando em operação junto aos Marines, neste mesmo ano
de 1985, sua versão M-16A2, com uma série de melhorias e,
além disso tudo, o mercado já dispunha de uma gama de
novas armas, tais como o Fuzil de Assalto Steyr AUG, adotado pela
Áustria em 1977, que inovavam ainda mais e partiam para
materiais de construção mais exóticos, resistentes
e leves, como os polímeros. Em suma, a IMBEL chegou com um bom
produto, mas com uma década de atraso.
Vista inferior do
ferrolho basculante de um Fuzil FAL e de seu transportador: a
peça interna é o ferrolho propriamente dito, estando sua
parte frontal, que encosta-se ao culote do cartucho, no lado esquerdo,
onde ainda é possível ver a garra extratora de
cápsulas deflagradas na parte inferior. Do lado direito pode-se
ver a parte traseira do percussor e, envolvendo toda a peça, o
transportador do ferrolho, também em aço, tudo
contribuindo para os quase 5 kg de peso do FAL
O projeto do MD2
evoluiu por mais uma
década para, ao final, resultar numa arma que incorporava uma
série de melhorias em relação ao fuzil FAL M964,
mas que, com um pouco mais de visão e ousadia, poderia ter sido
produzida vinte anos antes e se tornado um sucesso de vendas. E digo
“poderia” pois suas “inovações” já estão
velhas para nossa época, já que consistem apenas em:
Fuzil de Assalto PARA-FAL M964 A1 MD1 de fabricação da
IMBEL. É similar ao usado pelo CIGS e pela Brigada
Pára-quedista, porém com cano mais curto, de 450 mm, ao
invés dos 530 mm de cano do PARA-FAL M964 A1 destas Unidades. Um
reaproveitamento muito interessante de todos os FAL e PARA-FAL do EB
seria a reconstrução/conversão destes para o
modelo acima mostrado, que poderia ser mantido em estoque para os
reservistas e distribuído aos Tiros de Guerra: uma excelente
arma para combate urbano de resistência.
Portanto, chegamos ao
final dos anos 90
e início do século 21 com uma arma que é o
amalgama de tecnologias que já deveriam ter sido incorporadas no
projeto na década de 80, quando a indústria bélica
nacional era forte e com renome, além de ter todo o apoio
governamental. Mas talvez o tradicionalismo e o ceticismo, que por
vezes são os responsáveis por uma miopia fatal no mundo
dos negócios e, cada vez mais, no mundo militar, não
permitiram a ousadia necessária ao sucesso empresarial da nossa
estatal.
Mas o que temos como
produto final
é um Fuzil de Assalto com cinco variantes, a saber:
MD97L
De cima para baixo:
Fuzil de Assalto MD97LM e Fuzil de Assalto MD97L. Note que o Fuzil
MD97L está utilizando uma alça de mira de duas
posições em “L” do PARA-FAL, sendo que o normal é
a alça de mira deslizante de cinco posições do FAL.
É um Fuzil de Assalto de configuração tradicional, com sistema de funcionamento por tomada de gases através de um evento próximo à extremidade do cano, o qual direciona o fluxo de gases para o acionamento de um pistão, que por sua vez vai movimentar o transportador do ferrolho, o qual é do tipo rotativo, com múltiplos ressaltos de trancamento. O regulador de fluxo de gases, presente no FAL M964, foi eliminado. Possui seletor de tiro do lado esquerdo, servindo apenas aos atiradores destros, se bem que na LAAD2001 pude observar um exemplar que possuía seletor de tiro ambidestro, o qual sumiu de cena misteriosamente. Seu seletor de tiro possui as posições Segurança, Semi-Automático, “Burst” de três disparos e Fogo Automático, numa enorme volta de 180º que exige dedos do “Homem-Elástico” para ser convenientemente operado. No caso de um atirador destro, o retém de carregador pode ser acionado pelo dedo indicador da mão que empunha a arma, caso este atirador seja o já mencionado “Homem-Elástico”. Caso você não o seja, você pode deslocar a mão de empunhadura para a direita e tentar alcançar o retém, que é bem mais duro que o do M-16, ou fazer como um atirador canhoto e utilizar o retém auxiliar em formato de lingüeta que se situa na parte posterior do alojamento do carregador, logo à frente do guarda-mato. Não há retém do ferrolho. A coronha é do tipo dobrável, idêntica à do PARA-FAL. Aliás, há um grande reaproveitamento de peças, tais como guarda-mãos, empunhadura, miras, conjunto de gatilho, entre outras, visando a economia no projeto. O sistema de abertura da caixa de culatra para manutenção é idêntico o do FAL, com ponto de articulação entre o guarda-mato e o alojamento do carregador, o que é a maior falha de projeto, responsável por inviabilizar o uso de controles de seleção de tiro e segurança, liberação de carregador e ferrolho mais ergonômicos, disposição esta que foi abandonada pela própria fabricante original do FAL, a FN Herstal, já no fuzil que o substituiu, o FNC, que passou a utilizar o ponto de articulação à frente do carregador, como no M-16, disposição esta que ainda tem o condão de tornar a arma extremamente modular, permitindo com o intercâmbio das metades superior e inferior e fácil troca de calibres, por exemplo, característica esta que foi mantida em seu mais recente projeto, o Fuzil de Assalto FN SCAR, que por esta qualidade, entre outras, ganhou um contrato do USSOCOM, que em termos de número de unidades encomendadas já seria equivalente ao necessário para armar todo o Exército Brasileiro. O MD97L possui a alça de mira do FAL M964, do tipo rampa deslizante, com as posições 200, 300, 400, 500 e 600m, sendo regulável no plano horizontal com o auxílio de uma chave de fenda. A massa de mira também é a mesma de seu irmão mais velho, regulável em altura.
O fuzil mede 990 mm com
a coronha
estendida e 770 mm com a coronha dobrada, possuindo um cano com 430 mm.
Pesa 3,6 kg vazio e sem carregador, podendo utilizar qualquer
carregador padrão STANAG, sendo o mais comum aquele em
alumínio, com capacidade de 30 cartuchos, o qual municiado pesa
0,45 kg (munição SS109).
MD97F
É a mesma arma,
porém com
coronha fixa, idêntica à do FAL M964. Mede 990 mm, sendo
as demais características as mesmas, inclusive o peso.
MD97LM
É praticamente a
mesma arma que o
MD97L, a diferença residindo em um cano com comprimento menor,
de 330 mm, o que traz as medidas da arma para 850 mm com a coronha
estendida e 600 mm com a coronha dobrada, e o peso para 3,3 kg, vazia.
Possui a alça de mira do PARA-FAL, ajustável em duas
posições, com formato em “L”.
MD97LC
De cima para baixo:
Fuzil de Assalto MD97LF e Fuzil de Assalto MD97LC.
Igual ao modelo MD97LM,
porém com
seletor de tiro com apenas duas posições:
Segurança e Semi-Automático.
MD97LF
Igual ao modelo MD97LC,
porém com
a coronha fixa do FAL, que mantém seu comprimento total em 850
mm.
Possibilidade de Modernização/Atualização do Projeto
É possível tentarmos melhorar o Fuzil de Assalto MD97, nos moldes daquilo que foi feito com as armas da família AR-15/M-16. Algumas mudanças simples no projeto podem tornar este fuzil uma arma mais adequada, o que, somado à incorporação de alguns acessórios, tornam-no mais apto ao combate moderno.
Até o FAL pode
ser modernizado: na foto um Fuzil de Assalto PARA-FAL M964 A1 MD1 com
guarda-mão em alumínio com trilhos de acessórios
“Picatinny”, nos quais se encontram afixados defletores de calor em
polímero; e cobertura deslizante da caixa da culatra
também com trilho “Picatinny”, onde se encontra afixada uma mira
ótica de ponto vermelho Aimpoint CompM2. (Foto:
www.military-morons.com)
No tocante às
mudanças de
projeto, um novo desenho do eixo do seletor de tiro, com os entalhes
correspondentes aos regimes de fogo mais próximos uns dos
outros, pode reduzir a volta completa de 180º para algo em torno
de 90º. Um entalhe quadrado na parte final do eixo do seletor de
tiro pode encaixar-se numa capa correspondente e oposta no lado direito
da arma, com formato igual ao do botão seletor de tiro do lado
oposto, sendo esta capa mantida em seu lugar através de uma
chapa de aço estampada articulada idêntica à que
mantém o seletor de tiro original fixo em seu lugar, só
que no lado oposto, tornando assim o seletor de tiro ambidestro. O
botão retém do carregador teria o desenho em forma de
gota, com sua extremidade alongada para trás, facilitando o
manuseio com o dedo indicador da mão que empunha a arma. Para o
atirador canhoto, um botão correspondente no lado esquerdo da
arma, com acionamento do ressalto de travamento do carregador
através de um mecanismo similar a uma gangorra, do mesmo modo em
que é feito com os botões retém de carregador
ambidestros vendidos no mercado americano para o Fuzil de Assalto M-16,
que possui mecanismo idêntico. Com a adoção deste
retém de carregador ambidestro, não há mais a
necessidade do retém de carregador auxiliar em formato de
lingüeta que se situa atrás do alojamento do carregador.
Ele pode então ser suprimido e substituído por um
botão retém do ferrolho, na mesma posição,
permitindo a liberação do ferrolho após o
remuniciamento, de forma ambidestra. Com todas estas
modificações, a arma torna-se muito mais
ergonômica, dando muito maior velocidade no acionamento dos
controles e no remuniciamento, ficando par e passo com um G36KV ou um
XM-8 em termos de agilidade de operação.
Outro Fuzil de Assalto
PARA-FAL M964 A1, com guarda-mão e cobertura da caixa da culatra
em alumínio e dotados de trilhos de acessórios
“Picatinny”. Note a alavanca de manejo do ferrolho dobrável,
como a do MD97, o seletor de tiro alongado, para facilitar o manuseio,
e o quebra-chamas modificado, para servir como redutor de recuo. A
pintura verde é para facilitar a camuflagem e reduzir o
contraste quando observado por Óculos de Visão Noturna.
No tocante aos
acessórios, um
jogo de miras de trítio para tiro em baixa visibilidade tornaria
a arma mais versátil. Uma empunhadura com encaixe de dedos
permitiria uma melhor retenção da arma com as mãos
molhadas, suadas, sujas ou com o emprego de luvas, sejam estas as de
escalada, as das vestes QBN ou simples luvas táticas. Uma
empunhadura vertical na parte inferior do guarda-mão deixaria a
arma muito mais ágil para combates em ambientes confinados e na
selva, além de melhorar a retenção.
Jogo de miras com pontos
de trítio para o Fuzil de Assalto MD97, de
fabricação da DAS Arms. Elas são
disponíveis na versão deslizante (à esquerda),
para o MD97L, e de duas posições (à direita), para
o MD97LM.
Um guarda-mão
frontal em
alumínio, com grandes orifícios de
ventilação para dissipar o calor de disparos
contínuos e trilhos do tipo “Picatinny” nas
posições 0, 90, 180 e 270º, deixaria o fuzil apto a
receber não só a empunhadura frontal vertical na
posição 180º, como também toda gama de
acessórios imaginável para este tipo de arma, tais como:
lunetas de tiro com ampliação de imagem, lunetas com
ampliação de luz residual, miras óticas de ponto
vermelho e miras mecânicas para lançador de granadas na
posição 0º; projetores laser nas
freqüências visual ou infravermelho, lanternas, miras de
diversos tipos para lançadores de granadas e câmeras para
tiro indireto nas posições 90 e 270º; e a já
citada empunhadura vertical, além de bipés,
lançadores de granadas, espingardas calibre 12, armas não
letais e empunhaduras combinadas com lanternas ou projetores laser na
posição 180º. Uma tampa deslizante da caixa de
culatra com trilho “Picatinny” completa o conjunto, sendo que esta, bem
como todos os acessórios mencionados (miras, empunhadura e
guarda-mão) são hoje produzidos pela empresa
norte-americana DAS Arms para uso nas mais diversas versões do
FAL, sendo assim facilmente adaptáveis ao MD97.
Guarda-mão ventilado em alumínio para
o Fuzil de Assalto MD97, com trilhos de acessórios “Picatinny”
nas posições 0º (em cima), 180º (em baixo),
90º e 270º (nas laterais). À direita: o mesmo
guarda-mão instalado no fuzil, com uma empunhadura vertical e um
apontador laser acoplados.
Fuzil de Assalto MD97LM equipado trilhos de
acessórios “Picatinny”, nos quais se encontram afixados uma mira
ótica EO Tech e uma lanterna com empunhadura vertical integrada
Surefire M910A.
Conclusão
sobre Fuzis de Assalto
e o Cenário Brasileiro
Ao observarmos o cenário brasileiro, de total carência de verbas para as Forças Armadas, chegamos à conclusão que a substituição dos Fuzis FAL M964 e PARA-FAL M964 A1 pelos MD97L e MD97LM é um salto qualitativo enorme. De fato, caso incorpore os aperfeiçoamentos sugeridos, o MD97 se torna um fuzil que, em termos puramente práticos, deixa pouco a desejar em relação a um Heckler & Koch G36 ou um XM-8: as vantagens dos dois últimos resumem-se ao menor peso e à maior facilidade de manutenção e conservação, ambos resultantes unicamente do predominante emprego de polímeros na construção destas armas. Com relação a um M-16 A3/A4 ou a um M-4, considero o MD97 superior, devido ao fato de todos usarem os mesmos materiais e princípios construtivos, terem aproximadamente o mesmo peso e os mesmos recursos, o que faz sobressair a vantagem do nosso fuzil, que possui um mais confiável sistema de funcionamento, o qual não lança gases e detritos no interior da caixa de culatra.
Fuzil de Assalto
AK-101 equipado com quase todos os acessórios que se incluem no
preço de produção mencionado: bandoleira
ajustável em náilon, faca-baioneta multifuncional com
isolamento elétrico para corte de cercas eletrificadas e kit de
limpeza. Não aparece na foto, mas se inclui no pacote, quatro
carregadores sobressalentes de 30 cartuchos.
Do exposto, temos que,
caso o problema
seja unicamente substituir o FAL, colocando em serviço um fuzil
mais leve, confiável e barato, estamos bem servidos com o MD97,
se bem que é possível ainda economizar por volta de US$
100,00 (cem dólares) por arma, caso optemos pela
produção sob licença do fuzil Kalashnikov AK-101,
em calibre 5,56x45mm OTAN, no lugar do MD97, e sua versão
compacta, o AK-102, no lugar do MD97LM. É uma arma até
mais leve, confiável e robusta do que nosso fuzil IMBEL, sendo
também mais barato, com preço na faixa de US$ 360,00 para
produção sob licença. Só deixa a desejar no
quesito ergonomia.
Fuzil de Assalto
AK-102, versão compacta do AK-101, também acompanhado de
seus acessórios, sendo que esta arma não utiliza
faca-baioneta.
Do ponto de vista
puramente
econômico, fica claro que a produção do Fuzil de
Assalto russo é bem mais vantajosa, na medida em que, num
contrato para 150 mil armas, pode-se economizar por volta de 15
milhões de dólares. Torna-se ainda mais atrativo quando
chegamos à conclusão que as chances de sucesso comercial,
no mercado internacional, do Fuzil de Assalto MD97 são, na
melhor das hipóteses, muito próximas de zero.
Senão vejamos: a empresa Heckler und Koch abriu, no ano de 2004,
uma unidade fabril em território norte-americano, onde produz,
entre diversos outros produtos, a família de fuzis G36 e a nova
família de fuzis HK416. Esta última trata-se de uma
versão melhorada da família M-16 que, ao invés de
utilizar o sistema de funcionamento por tomada de gases com
ação direta sobre o ferrolho, tradicional da arma
estadunidense, passou a utilizar o sistema de funcionamento por tomada
de gases com ação sobre êmbolo, idêntico ao
do Fuzil de Assalto G36, resolvendo assim o maior, e talvez
único, problema da arma inventada por Eugene Stoner. Com isso a
empresa oferece dois excelentes Fuzis de Assalto, com uma enorme
variedade de versões, sendo que o HK416 pode ser adquirido com
cano de 20 polegadas de comprimento, equivalendo ao M-16 A3/A4, com
cano de 16 polegadas, equivalendo à versão “Carbine”, com
cano de 14,5 polegadas, equivalendo aos M-4 e M-4 A1, e com cano de 10
polegadas, equivalendo à versão “Commando”, muito
utilizada pelas Polícias Militar e Civil do Estado do Rio de
Janeiro. Estas armas podem ser adquiridas com financiamento do “Foreing
Military Sales” (FMS), que propositadamente torna a
aquisição extremamente vantajosa, visando desencorajar a
produção de armas por parte de outros países.
É um mecanismo tão eficiente que, quando no ano de 2003 o
Exército Israelense resolveu finalmente adotar o Fuzil de
Assalto TAVOR, de fabricação local pela IMI, hoje IWI, em
substituição aos M-4 fornecidos pelos EUA, que estavam
tendo problemas com a fina areia do deserto, decidiram-se por montar
uma linha de produção em território
norte-americano, para que eles próprios (os israelenses)
pudessem comprar suas armas fabricadas por lá, o que saía
muito mais em conta.
Fuzil de
Assalto HK416, o qual já vem de fábrica equipado com
trilhos de acessórios “Picatinny”, nos quais se encontram
afixados uma mira ótica Aimpoint CompM e uma empunhadura
vertical, além de miras mecânicas reguláveis e
dobráveis. Esta é a versão com 14,5 polegadas de
cano, equivalente ao Fuzil M-4.
É justamente por
isso que digo
que as chances de sucesso de vendas no mercado internacional do Fuzil
de Assalto MD97 praticamente inexistem: além de ser oferecido um
produto de melhor qualidade, com melhores características
técnicas e com uma maior presença no mercado
internacional, como o H&K G36, ou um produto testado e provado em
combate por todo o mundo e no decorrer de décadas, com todos os
“bugs” sanados, como o HK416, ambos podem ser adquiridos a
“preço de banana’” e “com prestações a perder de
vista” através dos créditos do FMS, contando ainda com a
agilidade e capacidade de produção do parque industrial americano, que garante
entregas substanciais quase que imediatas. E nem tocamos no assunto pressão
política...
Fuzil de Assalto HK416 equipado com lançador de
granadas H&K AG-C. Esta é a versão com 10 polegadas
de cano, equivalente ao Fuzil M-16 “Commando”.
Neste cenário,
vemos que a
única chance de a IMBEL obter sucesso com vendas internacionais,
é no caso de ser oferecido um produto com algo de
revolucionário, ou pelo menos com características
nitidamente superiores aos seus concorrentes, que tenha um preço
similar, confiabilidade e rusticidade comprovados, respaldo de
adoção por Forças Armadas mundialmente
reconhecidas, maior qualidade de produção, e que
atualmente tenha baixa disponibilidade no mercado (pouca oferta). Numa
matéria recente propus a produção sob
licença do XM-8, porém, com a instalação da
filial norte-americana da H&K, e a oferta de bons produtos a baixos
preços (G36 e HK416), apoiados pelo financiamento do FMS, isto
praticamente inviabiliza a concorrência por parte da IMBEL, mesmo
com um produto ligeiramente melhorado, haja vista que o ganho
tecnológico, que consistiria única e exclusivamente na
produção de armas em polímero, não seria
suficiente para alavancar o know-how e dar um salto capaz de superar o
próprio XM-8, sem necessariamente cair na categoria de armas
como o FN Herstal F2000 ou o IWI TAVOR, bem como a
produção no Brasil do Fuzil de Assalto XM-8 não
seria capaz de baixar os preços a um ponto em que se tornaria
mais vantajoso adquirir as armas aqui, do que a adquiri-las
através do sistema de financiamento de compras militares
norte-americano.
Fuzil de
Assalto F2000 equipado com miras mecânicas reguláveis,
além de uma mira ótica C-More, similar à MEPOR 21.
A única
possibilidade que
vislumbro, no cenário agora formado, para a IMBEL produzir uma
arma capaz de atender aos requisitos do Exército Brasileiro, que
também seja capaz de atrair a atenção de grandes
compradores estrangeiros por ser inovadora e de características
únicas, ao mesmo tempo em que é respaldada pela
adoção por outras Forças Armadas além da
nossa, produzindo-a com reconhecida maior qualidade, dado o conceito
que desfruta nosso parque industrial, e preço menor ou igual ao
atualmente disponível, seria a produção sob
licença do Fuzil de Assalto russo AN-94.
Duas fotos do Fuzil de Assalto russo AN-94, versão de
produção para as MVD.
Recentemente houve um
aumento na
produção deste excelente Fuzil de Assalto, pois
além de ser oficialmente adotado pelas Forças Especiais
russas, a SPETSNAZ, pelas tropas do Ministério do Interior, a
MVD, e por forças policiais de elite daquele país, foi
agora adotado como arma padrão do Exército da
Bielorrúsia, uma república pertencente à extinta
União Soviética. Ocorre que a produção
ainda não atingiu o volume necessário para trazer o
preço desta arma próximo aos níveis de um AK-74M,
que foi e ainda é maciçamente produzido, e, dado a
situação econômica que assola a Rússia, pode
ser que estes níveis de produção nunca sejam
alcançados. Daí dizer que, produzindo esta arma sob
licença, com melhorias técnicas, tais como a
produção de canos por martelamento a frio com seis raias,
ao invés de canos simples de quatro raias, e a conversão
para o calibre 5,56x45 OTAN, e outras mudanças
cosméticas, mas positivas, como a introdução de um
seletor de tiro ambidestro e de trilhos de acessórios
“Picatinny”, além do emprego de materiais metálicos e
poliméricos de maior qualidade, peças com melhor e mais
resistente acabamento, podem tornar esta uma opção
extremamente atrativa para várias Forças Armadas que
buscam um fuzil moderno e ao mesmo tempo simples, incorporando
inovações técnicas não presentes na
concorrência, além de grande rusticidade e confiabilidade,
estes últimos comprovados agora pelos testes de campo do
Exército Russo, que demonstraram ser o AN-94 mais rústico
que as próprias armas da legendária família
Kalashnikov, possuindo um número de 40 mil disparos entre
falhas, enquanto os renomados AK-47, AKM e AK-74 conseguem 30 mil
disparos entre falhas, o que, de qualquer forma é
muitíssimo superior aos 15 mil disparos entre falhas dos H&K
G36, ou ainda dos 3 mil disparos entre falhas da família
AR-15/M-16.
Detalhe da caixa de culatra em
polímero do Fuzil de Assalto AN-94, e do
quebra-chamas/compensador. Tanto o acabamento como os materiais podem
ser melhorados com tecnologia nacional.
O moderno Fuzil de
Assalto russo
já teve seus protótipos nos calibres 5,56x45mm OTAN e
7,62x39mm M43 testados e aprovados, estando prontos para a
produção assim que as encomendas surgirem, e, apesar de
mais caros que o próprio H&K XM-8, inegavelmente são
bem superiores, podendo ter seu preço reduzido e sua qualidade
técnica aumentada se produzidos pela IMBEL, num contrato de
produção com aquisição de um lote inicial
de produção russa, porém com os
aperfeiçoamentos por nós determinados, e o envio de
técnicos e engenheiros para treinamento na unidade fabril da Izhevsk, os quais, depois de
concluído o aprendizado, montariam aqui a produção
da arma, exatamente como previsto no acordo recentemente fechado pela
Venezuela para a aquisição dos AK-103.
Detalhe do topo da caixa de culatra e da alça
de mira de um Fuzil de Assalto AN-94, relativamente novo, tendo sido
produzido em 1998, conforme atestam as marcações,
deixando claro que a qualidade de produção e o acabamento
podem ser melhorados. À direita: detalhe da tampa da caixa de
culatra em polímero, uma peça única que se estende
por quase todo o comprimento da arma, a qual pode vir a ser produzida
com um trilho “Picatinny” integral, já moldado no
polímero, permitindo o acoplamento de inúmeros
acessórios.
O Fuzil de Assalto
é a arma
básica do combatente, assumindo tanto uma função
primária, quando encontrado na linha de frente, nas mãos
do Infante Fuzileiro ou do Combatente de Resistência, quanto
secundária, quando afixado em um cabide, dentro de um abrigo
onde trabalha um operador de rádio ou de radar, a
quilômetros do teatro de operações. Não
importa o número de aeronaves, navios, submarinos e carros de
combate que constitui o arsenal de um país, pois, no final,
é sempre o combatente armado com seu Fuzil de Assalto que
irá conquistar e manter o terreno, sedimentando a
vitória, tendo isto ficado comprovado em inúmeros
conflitos no decorrer da História. Daí a
importância de bem selecionar o armamento que pode ser a
última linha de defesa de uma nação, juntamente
com o soldado que o empunha, tendo as Instituições
Militares, como responsáveis e especialistas no assunto, o dever
profissional de escolher a melhor arma para armar o cidadão,
que pode se ver compelido a assumir o nobre papel de Soldado na defesa
de seu País.
Vista da
lateral esquerda da caixa de culatra do Fuzil de Assalto AN-94, onde se
pode notar o seletor de tiro, que poderia ser reproduzido do outro
lado, tornando a arma ambidestra. Vê-se também o trilho
para acoplamento de miras óticas de origem soviética.
NA
PRÓXIMA
PARTE: METRALHADORAS LEVES, FN
Herstal MINIMI,
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