As Metralhadoras Leves
por Alexandre Beraldi
A Metralhadora Leve é a base do poder de
fogo de um Grupo de Combate, ou da unidade em que este se subdivide, o
Escalão. Ela dará a cobertura de fogo, de modo
contínuo e sustentado, aos assaltos feitos por estas pequenas
frações, bem como será responsável pela
Linha de Fogo Defensiva Final, nas ações defensivas,
além de ser a principal arma a bater a “Zona da Morte” nas
emboscadas por elas preparadas.
Diferentemente das Metralhadoras Médias, as
Metralhadoras Leves são armas de emprego individual, ou seja,
que não precisam de uma guarnição de dois ou mais
homens para colocá-la em regime de funcionamento com
aproveitamento máximo, o que é uma de suas grandes
vantagens, haja vista que quanto menor uma guarnição a
operar uma arma, menor a chance de esta ser detectada, menor a
possibilidade de ter sua operacionalidade reduzida pela
incapacitação de seus operadores e maior a sua mobilidade
no terreno e flexibilidade de emprego.
Um
soldado metralhador e um soldado granadeiro (em primeiro plano)
dão cobertura ao avanço de um Grupo de Combate.
A Metralhadora Leve é caracterizada pelo
baixo peso da arma em si e de sua munição, que geralmente
é a mesma empregada pelo Fuzil de Assalto dos demais integrantes
do Grupo de Combate, e pelas dimensões reduzidas quando
comparada a uma Metralhadora Média, o que permite uma maior
agilidade nos combates de selva, nos combates urbanos e no embarque e
desembarque de viaturas, possibilitando ao seu operador estar sempre
“colado” com o resto do grupo e em condições de prestar o
apoio imediato.
O Exército Norte-Americano foi o
responsável pelo conceito e pela massificação do
emprego de uma Arma Automática de Apoio de Grupo de Combate,
quando na Segunda Guerra Mundial distribuiu os famosos fuzis
automáticos BAR à razão de dois por Grupo de
Combate, como forma de aumentar o já extraordinário poder
de fogo - para a época - destas pequenas frações,
que já eram equipadas com os eficientes fuzis
semi-automáticos M-1 Garand, carabinas M-1 e submetralhadoras
Thompson, tornando este pequeno grupo de indivíduos, composto
geralmente por nove a treze homens, apto a realizar, por si só e
de maneira eficaz, ações de assalto, defesa e emboscada,
com um poder de fogo capaz de eclipsar quase um Pelotão inteiro
do Exército Alemão, que dispunha, em sua maioria, apenas
de fuzis Mauser de ação manual e de submetralhadoras
MP38. Isto, obviamente, se este pelotão alemão não
estivesse com o apoio das temíveis Metralhadoras Médias
MG42. Mas o fato é que, numa comparação
pelotão versus pelotão, o poder de fogo dos
norte-americanos era avassalador, em grande parte graças
à capacidade de “despejar” fogo automático sobre o
inimigo desde pequenas frações como os Grupos de Combate,
não ficando sob a inteira dependência do apoio de fogo
centralizado das Metralhadoras Médias do Grupo de Armas de Apoio
do pelotão.
O
pioneiro: fuzil automático BAR
Este novo conceito estabeleceu-se no
pós-guerra, tornando as metralhadoras leves absolutamente
essenciais à doutrina de emprego de qualquer exército, do
bloco ocidental ou não. Neste período, a maioria das
Metralhadoras Leves era nada mais do que uma versão com cano
pesado e bipé do Fuzil de Assalto padrão empregado pela
força armada em questão, disparando em fogo
automático e com o ferrolho fechado, sendo alimentado por
carregadores destacáveis compatíveis com aqueles
utilizados pelo Fuzil de Assalto do restante da tropa. A honrosa
exceção do período coube ao Exército
Soviético, que usava a Metralhadora Leve RPD, disparando a
munição 7,62x39mm da carabina SKS e do então novo
AK-47, e com alimentação por cinta de elos
metálicos, havendo, porém, uma involução
material deste exército, que anos depois passou a adotar a
Metralhadora Leve RPK, que era nada mais que um AK-47 com cano pesado e
bipé, como as similares ocidentais da época.
A
revolucionária – para a época
– RPD. Foto: world.guns.ru
Praticamente todo Fuzil de Assalto produzido dos
anos 50 até recentemente, tem ou teve sua versão
metralhadora leve, sendo esta usualmente a já mencionada
adaptação de cano pesado e bipé, tais como o
binômio FAL e FAP, armas belgas mundialmente difundidas, sendo a
combinação ainda em uso por nosso Exército
Brasileiro, os binômios H&K G3 e HK11, e G36 e LMG 36
alemães, os russos AK-47 e RPK, e AK-74 e RPK-74, os americanos
M-14 e M14 A1, e M-16 e M-16 SAW, os israelenses GALIL e GALIL ARM, os
ingleses SA80 e LSW, entre tantos. Outros, como os austríacos e
seu fuzil Steyr Aug, buscaram uma melhor adaptação
à tarefa de prover fogo automático de forma
contínua e sustentada, fazendo com que o Fuzil de Assalto
empregado na função de Metralhadora Leve tivesse o cano
com a possibilidade de troca rápida, além de disparar a
partir da posição de ferrolho aberto, eliminando assim o
fenômeno do “cook-off”, que pode ser traduzido por algo como
“cozinhamento”, que nada mais era que o superaquecimento da
câmara e do cano devido ao excessivo número de disparos,
até um ponto em que as munições alimentadas e
trancadas na arma detonassem de forma espontânea quando
submetidas a este intenso calor, fazendo com que ocorressem disparos
indefinidamente, até que a munição fosse retirada
ou acabasse.
Steyr
Aug HBAR: a versão Metralhadora Leve do famoso Fuzil de Assalto
austríaco.
Com estas melhorias, as Metralhadoras Leves
passaram a ter capacidade de fogo sustentável por longos
períodos, pois bastava trocar o cano da arma a cada duzentos ou
trezentos disparos para que esta ficasse atirando quase que
indefinidamente. Restava, todavia, um outro problema, que era o fato de
toda Metralhadora Leve produzida até então no bloco
ocidental ter um defeito de projeto embutido no seu design que fazia
com que, em intervalos que variavam de apenas 20 a 40 disparos, a arma
tivesse uma “nega” ou incidente de tiro: acabava-se a
munição do carregador. Isto gerava um intervalo de dois a
quatro segundos com cobertura de fogo e depois quase três
segundos, que é o tempo para um soldado bem treinado remuniciar
a arma, sem cobertura alguma. Qualquer um pode imaginar as
conseqüências de parte dos integrantes de um Grupo de
Combate fazer um lanço em campo aberto, avançando sobre a
posição inimiga sob a cobertura do fogo automático
de suas Metralhadoras Leves abrigadas no terreno quando, no meio do
caminho, estas têm que parar para recarregar. Aí, as duas
soluções óbvias disponíveis são, ou
façam-se lanços mais curtos, dentro do tempo
disponível de cobertura de fogo, permitido pelo tamanho do
carregador da arma, ou faça com que as metralhadoras disparem de
forma intercalada, disparando uma enquanto a outra remunicia, o que
exige grande coordenação e reduz o volume de fogo
despejado no alvo. Aí, os dois obstáculos táticos
que se impõe e que podem ter conseqüências
desastrosas são, respectivamente: e se o terreno não
oferecer cobertura ou abrigo para lanços curtos? E, e se a
Metralhadora Leve que se encontra atirando tiver uma pane
mecânica ou incidente de tiro enquanto a outra ainda está
remuniciando?
Um
soldado metralhador norte-americano armado com uma M-240B, uma
versão melhorada de nossa conhecida MAG, dá cobertura ao
avanço de seus companheiros pelas ruas do Iraque.
Para solucionar estes problemas, adotou-se a
alimentação por cinta de elos metálicos
também para as Metralhadoras Leves, característica esta
que era, até então, exclusiva das Metralhadoras
Médias e das Pesadas. Daí em diante estas armas passaram
a ser como que versões reduzidas das Metralhadoras
Médias, tendo todas suas vantagens características,
acrescidas ao menor peso, à maior maneabilidade e ao porte
individual, resultantes do uso de uma munição de menor
peso. Como era agora necessário agüentar os rigores de
prolongados períodos de tiro, e como não havia mais a
necessidade de dividir certos componentes como a caixa de culatra e o
sistema de alimentação com os Fuzis de Assalto, a
construção destas armas passou a espelhar-se em suas
irmãs maiores, usando resistentes caixas de culatra usinadas em
aço e peças menores mais rústicas, aumentando o
peso destas armas, o que acabou por trazer um efeito muito positivo. As
Metralhadoras Leves anteriores eram, de fato, leves. Tão leves
que quando disparavam seus projéteis dispersavam-se rapidamente,
fazendo com que a distância em que os disparos pudessem ser
mantidos agrupados fosse muito curta, o que reduzia a possibilidade de,
por exemplo, concentrar um grande volume de fogo supressivo em uma
trincheira inimiga em distâncias maiores que 200m. Esta
dispersão era causada pelo recuo da arma, que gerava um
movimento a cada tiro subseqüente. Uma forma de reduzir esta
dispersão é aumentando o peso da arma, tornando-a mais
estável, o que acabou por ser feito, dando a possibilidade de se
manter uma concentração de fogo precisa a
distâncias maiores.
Estes são os motivos pelos quais as
Metralhadoras Leves disparando munições como o 5,56x45mm,
alimentadas por cintas de elos metálicos e com canos de troca
rápida dominam os arsenais dos exércitos mais
atualizados, relegando armas como o nosso jurássico FAP
às vitrines de seus museus. E, tendo explicado o “o quê” e
o “porquê” acerca de Metralhadoras Leves, vamos a elas.
A FN Herstal MINIMI
Versão inicial da FN
Herstal MINIMI. Note a
coronha metálica tubular fixa e o cofre plástico para 200
cartuchos.
A MINIMI, também conhecida como M-249 nas forças armadas norte-americanas, é hoje a mais difundida Metralhadora Leve, estando em dotação pelos exércitos de inúmeros países, tais como, Estados Unidos, Inglaterra, França, Canadá, Itália, Bélgica, Austrália, entre inúmeros outros. Foi a arma Metralhadora Leve de dotação do Exército Israelense até que este desenvolve-se a IMI NEGEV, e é a arma de apoio de Grupo de Combate do Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil. Aliás, abro aqui um parêntese para salientar que o Corpo de Fuzileiros Navais sempre foi muito mais bem equipado que a Infantaria do Exército Brasileiro. Vem à minha memória quando, nos idos de 1994, como Cadete da AMAN, eu passava por uma instrução de ambientação com equipamentos de visão noturna e com rádios criptografados no parque do Curso Básico, e adivinhem quem estava lá para ministrar a instrução? O pessoal do CFN, é claro, pois nem na AMAN, a “top”, “best of the best”, em termos de Unidade do Exército Brasileiro, onde são formados seus Oficiais de carreira e futuros Comandantes, não havia um mísero rádio criptografado ou óculos de visão noturna representante do “estado da arte” para mostrar aos instruendos. Mas sigamos.
Versão
moderna da FN Herstal MINIMI. Note a telha protetora sobre o cano, a
coronha retrátil e a empunhadura vertical afixada ao
guarda-mão. A arma está equipada com um visor
térmico AN/PAS-13 TWS.
A MINIMI tem suas origens nos idos de 1974, quando
o engenheiro Ernest Vervier, da FN Herstal da Bélgica, resolveu
desenvolver uma arma automática de apoio que fosse tão
eficiente quanto a famosa MAG produzida por aquela empresa, mas que
fosse mais leve e fácil de operar por um só homem,
disparando o cartucho calibre 5,56x45mm M193 do M-16, cujo
projétil de 55 grains lançado a 990m/s gerava apenas 40%
do recuo da munição 7,62x51mm OTAN tipo M80, que
utilizava um projétil de 145 grains lançado a 850m/s.
Interessante notar a visão avançada desta empresa ao
desenvolver esta arma antes mesmo que a munição 5,56x45mm
fosse adotada como padrão da OTAN.
Para a sorte da empresa, no ano de 1976, as
forças armadas norte-americanas lançaram um programa para
verificar a viabilidade de uma Arma Automática de Grupo de
Combate (SAW – Squad Automatic Weapon) leve, operável por um
só homem e com capacidade de fogo efetivo até 1000m. Para
este programa candidataram-se o Ballistics Laboratory de Aberdeen, com
o XM106, uma versão do M-16 disparando com ferrolho aberto, com
um cano pesado de troca rápida, e alimentado pelo carregador
padrão de trinta cartuchos, porém numa montagem com
três destes carregadores soldados lado a lado, de forma a
facilitar o remuniciamento e aumentar o poder de fogo; o Rodman Labs,
com a XM248, uma arma com sistema de alimentação
giratório movimentado por um duplo sistema de pistão a
gás, utilizando uma cinta de elos metálicos com
munição calibre 5,56x45mm, e disparando por ferrolho
aberto; a Heckler & Koch, com a XM262, que evoluiu e tornou-se a
H&K23; e, por fim, a FN Herstal, com a XM249, a MINIMI,
desenvolvida dois anos atrás pela empresa.
Metralhadora
Leve Heckler & Koch HK23
O programa seguiu com infindáveis testes
que envolviam inúmeras sessões de fogo contínuo,
com limpeza da arma somente a cada dois mil tiros e com
proibição do uso de óleos ou lubrificantes na
arma, fazendo com que as provas de tiro fossem “em seco”. Foram feitas
sessões para se verificar o comportamento das armas em
comparação com as metralhadoras médias, com testes
envolvendo precisão e dispersão, onde se descobriu que os
efeitos de ventos cruzados na munição de 55 grains,
calibre 5,56x45mm, tipo M193, fazia com que ela se desviasse
lateralmente do alvo de maneira quase que similar à
munição de 145 grains, calibre 7,62x51mm, tipo M80
padrão da OTAN, inclusive em longo alcance, ou seja, a mais de
600m, sendo que a nova munição 5,56x45mm belga, utilizada
para fins de demonstração e que acabou sendo adotada pela
OTAN sob a designação SS109, a qual utilizava um
projétil mais pesado, de 62 grains, apresentou comportamento
idêntico ao da 7,62x51mm OTAN neste quesito. As
trajetórias balísticas das munições M193 e
M80 eram virtualmente idênticas até os 600m, e das
munições SS109 e M80 idênticas até os 800m.
O poder de penetração da munição SS109, com
sua ponta de aço, mostrou-se equivalente ao da
munição M80 em todas as circunstâncias analisadas.
Estes resultados, somados à excelente confiabilidade demonstrada
nos testes de campo em comparação com as demais
candidatas, encorajaram o US Army a adotar a Arma Automática de
Grupo de Combate oferecida pela FN Herstal, junto com o novo e menor
calibre para esta finalidade, representado pela nova
munição SS109. Assim, depois de um grande período
de avaliação operacional, no ano de 1984, a FN Herstal
MINIMI, agora oficialmente denominada M249 SAW, começou a ser
distribuída pela tropa, sendo a 82ª Divisão
Pára-quedista a primeira a recebê-la.
M-249
SAW em sua versão inicial. Note que a arma não tem a
telha protetora sobre o cano e utiliza um quebra-chamas curto de
desenho belga, diferentemente das versões atuais, que utilizam o
protetor térmico sobre o cano e um quebra-chamas idêntico
ao do Fuzil de Assalto M-16 A2.
A Metralhadora Leve MINIMI funciona por tomada de
gases, com um êmbolo solidário movimentando o
transportador do ferrolho, que é do tipo giratório, com
dois grandes ressaltos de trancamento, num mecanismo originado na
metralhadora LEWIS da 1ª Grande Guerra e copiado pelo pioneiro
Fuzil de Assalto FG-42, sendo usado posteriormente na famosa
Metralhadora Média M-60. Logo após o evento de tomada de
gases há uma válvula de controle de pressão com um
grande botão de ajuste de duas posições, sendo a
posição aberto para disparo com a arma limpa e em
condições normais, o que confere à arma uma
cadência cíclica de 700 disparos por minuto, e a
posição fechado, com o aproveitamento integral dos gases,
para disparo com a arma extremamente suja ou em ambientes fechados
(como, por exemplo, a partir do interior de um blindado de transporte
de tropas), que produz uma cadência de 1.100 disparos por minuto.
FN
Herstal MINIMI, versão PARA. Note o grande botão
regulador de gases, em formato de disco, logo abaixo do cano. A
alça de transporte, que também serve para o manuseio do
cano quente durante as trocas rápidas, encontra-se estendida.
A arma possui um cano de troca rápida,
sendo que um soldado treinado consegue efetuar a
substituição de um cano “pegando fogo” por um devidamente
resfriado em menos de oito segundos e sem o uso de luvas, para isso
devendo pressionar o grande botão em forma de lingüeta na
junção do cano com a caixa de culatra e, segurando pela
alça de transporte solidária ao cano, puxá-lo para
frente retirando-o e colocando outro através do procedimento
inverso. Como a arma dispara por ferrolho aberto, não há
o risco de “cook-off”. Existe uma trava de segurança na forma de
um botão arredondado sobre a empunhadura da arma, que se
movimenta em sentido transversal a esta, para travar o ferrolho em
posição e assim impedir o disparo acidental.
Também como item de segurança, há um “dente” que
captura o ferrolho se este não foi para trás o suficiente
para ser capturado pelo mecanismo de gatilho, porém o foi para
alimentar uma nova munição na câmara, evitando
assim que uma arma muito carbonizada tenha a pane de disparar
incessantemente e independente de comando do gatilho.
A
Metralhadora Leve FN Herstal MINIMI em missão de apoio de fogo
contínuo: ela se encontra afixada a um tripé, para
garantir maior estabilidade e precisão a longas
distâncias. A arma está tendo seu cano substituído
pelo atirador, sendo que a facilidade com que este desenvolve esta
operação é tamanha que ele nem sai da
posição de tiro.
A alimentação é feita pelo
lado esquerdo da arma, através de uma cinta de elos
metálicos que usa os elos modelo M27, que nada mais são
do que uma versão miniatura do elo M13, o qual é usado
por praticamente todas Metralhadoras Médias de
fabricação ocidental, tais como a MAG, a M-60, a HK21 e a
MG3, esta última a famosa MG42 alemã da Segunda Grande
Guerra, porém recalibrada para o 7,62x51mm OTAN. A cinta de elos
metálicos normalmente é composta por várias
seqüências de uma combinação de cinco
munições, esta consistindo em quatro
munições comuns, com projétil SS109 de 62 grains,
e uma munição traçante, com projétil L110
de 64 grains, sendo que um total de 200 cartuchos vem acondicionado em
um cofre plástico, o qual é afixado na parte inferior da
arma através de um sistema de engate rápido. A
prática demonstrou que esta caixa plástica é um
pouco incomoda nos longos deslocamentos a pé, batendo contra o
corpo do combatente quando a arma está em bandoleira, sendo
também muito pesada e barulhenta para as patrulhas na selva.
Para sanar estes problemas foram criados dois novos cofres de
munição em tecido, com capacidades para 100 e 200
cartuchos, sendo que só o engate rápido destes é
feito em plástico. Com isto, o combatente com a arma em
bandoleira não é mais importunado pelo incômodo
bater do rígido cofre plástico de munição
contra seu corpo, ao mesmo tempo em que o combatente fazendo longas
patrulhas pode optar por afixar o menor e mais leve cofre de 100
cartuchos à arma, tornando menos cansativo o deslocamento com a
arma em posição de pronto uso, enquanto utiliza os cofres
de 200 cartuchos para munição reserva, todos bem mais
silenciosos.
Metralhadoras
Leves FN Herstal MINIMI nas versões PARA (acima) e SPW (abaixo).
Note os cofres de munição em tecido com capacidade para
100 cartuchos. Estes pesam 1,25kg carregados com 100 cartuchos de
munição SS109. Bem menos que os 2,6kg que pesam o cofre
de tecido para 200 cartuchos carregado com a mesma
munição, ou ainda os 2,75kg do cofre plástico para
200 cartuchos, carregado. Note também as coronhas
retráteis na posição recolhida.
A carga normal de um combatente armado com uma
Metralhadora Leve MINIMI é de 600 cartuchos, sendo um cofre com
200 cartuchos preso à arma e mais dois cofres de 200 cartuchos
presos à veste multifuncional, ou em bolsos específicos
para uso em conjunto com o cinturão NA. O menor peso da
munição é uma vantagem patente para o combatente,
pois enquanto um cofre de 200 cartuchos de munição
5,56x45mm pesa 2,75kg, um cofre de 200 cartuchos de
munição 7,62x51mm pesa 5,5kg. Assim sendo, há uma
diferença de quase 14kg numa carga de 1000 cartuchos, o que
mostra o quão importante é o advento do emprego de
munição de menor calibre, neste tipo de arma, para as
tropas não blindadas ou motorizadas, tais quais as de infantaria
pára-quedista, de selva ou de montanha, que contam tão
somente com os próprios pés como forma de deslocamento
durante a maior parte do tempo de emprego. O menor peso da
munição garante um considerável aumento do poder
de fogo da Metralhadora Leve, graças à maior quantidade
de munição disponível considerando o peso
carregado, o que é de extrema importância para uma arma
que tem como uma de suas principais funções disparar de
forma incessante a fim de manter o inimigo “de cabeça abaixada”,
cobrindo o avanço dos demais combatentes.
Em situações emergenciais a MINIMI
pode ser alimentada por carregadores modelo M-16 padrão OTAN
(STANAG), o que faz com que sua cadência de tiro seja aumentada
para 1.100 disparos por minuto com o regulador de gases na
posição aberto, causando desgaste prematuro na arma e
reduzindo sua vida útil, na medida em que o ferrolho desloca-se
com maior velocidade e sem resistência, pois não precisa
tracionar a cinta de munição, e os componentes do sistema
de alimentação dos elos metálicos ficam
funcionando “em seco”, para o que não foram projetados. Para
atenuar este problema, a arma pode ser opcionalmente dotada de um
sistema de amortecimento hidráulico, que ajuda a estabilizar a
cadência de tiro da arma, ao mesmo tempo em que reduz o estresse
nas partes móveis. Um sistema de tampas contra poeira e
detritos, móveis e articuladas entre si, impede a entrada de
sujeira no mecanismo, servindo também para impossibilitar que a
metralhadora seja simultaneamente alimentada pela cinta e pelo
carregador. Como segurança há uma lingüeta que
aparece na lateral direita da tampa do mecanismo de
alimentação sempre que a arma encontra-se alimentada com
uma cinta de elos metálicos e pronta para o tiro.
A MINIMI possui um sistema de miras aberto, composto por uma massa de mira ajustável em altura, a qual é protegida por um anel metálico e afixada em um poste sobre o evento de tomada de gases, sendo solidária ao cano removível, o que permite que a visada a partir de cada cano seja finamente ajustada pelo atirador, compensando por eventuais variações de fabricação do mesmo. A alça de mira é do tipo rampa deslizante, com orifício de visada tipo “peep sight” e regulagens de 300 a 1000m, em incrementos de 100m. Pode ainda receber inúmeros acessórios para visada, tais como lunetas, intensificadores de luz, entre outros, os quais são afixados em um trilho tipo Picatinny opcionalmente montado sobre a tampa articulada de alimentação da cinta de elos metálicos.
A coronha padrão é feita em
polímero, o que contribui para o reduzido peso da arma.
Há a opção de uso de uma coronha retrátil,
para tropas que normalmente embarcam e desembarcam de apertadas
viaturas blindadas ou aeronaves. Esta coronha é feita em metal
tubular, possuindo um mecanismo giratório que, na
posição retraída, aloja os tubos componentes da
coronha na lateral da caixa de culatra, numa posição
horizontal. Para estendê-la basta puxá-la e girar 90º
no sentido horário, fazendo com que esta trave na
posição aberta, com os tubos em alinhamento vertical.
Existem dois orifícios reforçados de
afixação, um à frente do guarda-mão e
abaixo do cilindro de gases, e o outro à frente e acima do
gatilho, que permitem à arma ser utilizada em conjunto com
tripés ou afixada em reparos articulados de veículos.
A Metralhadora Leve MINIMI pode ser encontrada em
cinco versões, a saber:
M-249 SAW, “Standard” ou Convencional
Metralhadora
Leve M-249. Note o protetor térmico sobre o cano, a coronha em
polímero e o cano longo com quebra-chamas padrão M-16.
Bem visível está o orifício de
fixação da arma em reparos do tipo tripé ou de
veículos, entre o guarda-mão e o bipé. O outro
orifício fica logo acima e à frente do gatilho.
É a versão em tamanho dito “normal”,
com um cano de 465mm de comprimento e 1,8kg de peso, e normalmente
empregando a coronha fixa em polímero, o que lhe confere um
comprimento total de 1040mm e um peso total de 7,1kg, sem
munição. Este modelo foi adotado por inúmeras
forças militares, tais como os EUA, onde é conhecida como
M249, a Austrália, onde é denominada F-89, o
Canadá, onde é conhecida como C9 LMG e C9 A1, a
Coréia do Sul, que a chama de K3, e a Bélgica,
Itália, Argentina, CFN da Marinha do Brasil, entre outros, que a
chamam de MINIMI. Há versões com este comprimento de cano
e que empregam a coronha retrátil, o que aumenta seu peso para
7,3kg.
Metralhadora
Leve C9 A1 do Exército Canadense. Note a coronha retrátil
similar àquela do Fuzil de Assalto M-4, a luneta de tiro ELCAN e
o suporte para adaptação da lanterna Surefire, do lado
esquerdo, e do apontador laser AN/PEQ-2, do lado direito. A arma usa um
cofre de tecido para 200 cartuchos e tem o acabamento verde para
facilitar a camuflagem. Diferentemente da M-249 SAW, ela não tem
o protetor térmico sobre o cano.
MINIMI PARA
FN
Herstal MINIMI modelo PARA. Note a coronha retrátil, o cano de
menor comprimento e o protetor térmico sobre o cano. Ela
também possui os orifícios para fixação em
tripés e veículos.
É a versão “encurtada”, com cano de
349mm de comprimento e 1,6kg de peso, normalmente utilizando a coronha
retrátil, que lhe confere um comprimento total de 914mm com a
coronha estendida, e 766mm com a coronha retraída. Seu peso fica
nos 7,1kg, sem munição, e seu alcance efetivo cai de
1000m para 800m, dado o menor comprimento do cano. É a
única versão adotada pelo Exército Inglês e
pelo Exército Francês, que consideram ser este o
compromisso ideal entre tamanho, peso, portabilidade e
eficiência. Também é dotada pelo Canadá sob
a denominação C9 A2.
Metralhadora
Leve C9 A2 do Exército Canadense. Como sua irmã maior,
ela também conta com a coronha retrátil similar
àquela do Fuzil de Assalto M-4, a luneta de tiro ELCAN e o
suporte para adaptação de acessórios, estando
equipada com um apontador laser AN/PEQ-2 do lado esquerdo. Ela
também tem um cofre de tecido para 200 cartuchos e o acabamento
verde.
MINIMI SPW
FN
Herstal MINIMI modelo SPW. Note a coronha retraída, o cano de
menor comprimento, o guarda-mão com os trilhos Picatinny
equipados com empunhadura vertical e defletores de calor nas laterais,
e o protetor térmico sobre o cano. Esta versão não
possui os orifícios para fixação em tripés
e veículos.
A versão SPW, ou Special Purpose Weapon,
que pode ser traduzido por Arma de Emprego Especial, foi desenvolvida
no início dos anos 90, a fim de atender aos requisitos do United
States Special Operations Command (USSOCOM), que demandavam por uma
Metralhadora Leve ainda mais leve e compacta que a MINIMI. Para atender
a tais requisitos, a FN Herstal suprimiu o sistema de
alimentação por carregador modelo M-16 padrão OTAN
(STANAG), passando a arma a ser alimentada tão somente por cinta
de elos metálicos; eliminou os orifícios de
afixação para tripés e reparos; colocou a coronha
retrátil como padrão; introduziu um guarda-mão
composto por três trilhos Picatinny, os quais podiam receber
defletores de calor, empunhadura vertical, apontador laser e lanternas,
entre outros acessórios; e, por fim, desenvolveu um novo cano
com ranhuras longitudinais destinadas a reduzir o peso e aumentar a
capacidade de resfriamento deste componente crítico do armamento.
Combatente
emergindo da água com uma Metralhadora Leve Mk 46 Mod. 0
equipada com visor Aimpoint Comp M2 e coronha retrátil. Note o
cano com as ranhuras longitudinais para reduzir o peso e facilitar a
refrigeração.
Com todas estas mudanças, a Metralhadora
Leve MINIMI SPW ficou com 908mm de comprimento com a coronha estendida,
e 762mm com a coronha retraída. Seu cano de 406mm pesa apenas
1,04kg, o que, com as demais mudanças mencionadas, reduziu o
peso total da arma para meros 5,75kg. O alcance efetivo é de
800m, mas dado o baixo peso, a dispersão é maior.
É uma arma mais apropriada para as menores distâncias e
altas velocidades dos combates urbano e de selva, dada a compaticidade,
maneabilidade, baixo peso e grande poder de fogo.
MINIMI Mk 46 Mod. 0
Mk 46
Mod. 0, a versão usada pelo SEAL. Note a coronha
retrátil, o cano de menor comprimento com as ranhuras
longitudinais e os defletores de calor nas laterais do
guarda-mão, afixados aos trilhos Picatinny. Ela é de uma
versão mais atual e está equipada com uma coronha
retrátil, pouco diferindo da SPW. Na realidade, as únicas
diferenças são o uso, nesta versão, do trilho
Picatinny sobre o cano, ao invés do protetor térmico da
SPW, e o acabamento anti-corrosivo mais elaborado. Bem visível
nesta foto está a ausência de receptáculo para
carregadores do tipo M-16, que nas versões M-249 e PARA fica
logo abaixo da janela de inserção da cinta de
munição.
É a versão da Metralhadora Leve da
FN Herstal adotada pelos SEAL da US Navy. É basicamente uma
MINIMI SPW com a coronha fixa em polímero, sem a alça de
transporte e com um melhor acabamento anti-corrosão. As medidas
e pesos são os mesmos da citada versão, da qual
também mantém o cano de baixo peso. Já pude
observar versões da Mk 46 Mod. 0 empregando a coronha
retrátil, dificultando a tarefa de diferenciá-la de sua
similar SPW.
Versão
inicial da Mk 46 Mod. 0, com a coronha em polímero.
Outra
vista da Mk 46 Mod. 0 .
Mk 46
Mod. 0 com a tampa de alimentação na
posição aberta, pronta para receber uma cinta de
munição.
M-249 PI
M-249
PI. Ela é basicamente uma MINIMI modelo PARA com o
guarda-mão de três trilhos Picatinny da versão SPW.
A versão PI, de “Product Improved”, ou
Produto Aperfeiçoado, é a última
atualização da M-249 SAW do US Army, com melhorias
introduzidas após o “feed-back” dos soldados envolvidos nos
combates no Iraque. A arma recebeu um guarda-mão com três
trilhos Picatinny, uma coronha retrátil e o menor cano da
versão PARA. O novo guarda-mão normalmente é usado
em conjunto com uma empunhadura vertical, o que não permite que
o bipé seja totalmente dobrado e armazenado sob o cano. Na
realidade este detalhe é insignificante, pois em combate, no
corre-corre e com as freqüentes mudanças de
posição, não há tempo para ficar dobrando e
desdobrando o bipé, sendo o normal deixá-lo estendido.
Detalhe do guarda-mão
de três trilhos Picatinny da M-249 PI. Note que ela usa o mesmo
protetor térmico sobre o cano da tradicional M-249. Como ela
está sem a empunhadura vertical, o bipé pode ser
totalmente dobrado e alojado sob o cano.
Outra
vista da M-249 PI, a nova Metralhadora Leve do US Army.
2005
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