Programas SPIW e ACR

A história da munição flechete remonta a Primeira Guerra Mundial quando a França lançou grande quantidade desta munição de aeronaves contra tropas em terra. Os dardos podiam atravessar os soldados de cima para baixo. Na Segunda Guerra Mundial, os alemães experimentaram flechetes em munição de artilharia e como dardo único em munição sabot anti-carro.

Em 1948, o US Army criou o ORO (Operations Research Office) para pesquisar armas convencionais. Uma dos primeiros estudos foi o Projeto ALCLAD para desenvolver coletes blindados. Primeiro foi estudado como os ferimentos foram criados ao estudar mais de 3 milhões de ferimentos das duas guerras mundiais.

Até 1952, foram estudos o tamanho do calibre concluindo que um calibre menor teria desempenho terminal similar a um calibre maior. Porém, um calibre menor teria maior probabilidade de acerto a curta distância. Junto com o conceito de levar mais cartucho por peso, um soldado com arma de menor calibre poderia infringir mais baixas no inimigo que outro com calibre maior.

No estudo "Operational Requirements for an Infantry Hand Weapon" foi observado que a maioria dos engajamentos com fuzil não excediam 100 metros e o terreno e visibilidade atrapalhavam a pontaria a mais de 100 metros. A chance de ser atingido por um projétil de fuzil a mais de 100 metros era a mesma de ser atingido por um fragmento de artilharia. O tempo de exposição era mais importante que a pontaria. O padrão de dispersão passou a se basear na distância de 300 metros. O controle de tiro em salva também era maior no calibre menor.


O conceito de rajada controlada levou ao projeto SALVO de 1952. Foram estudados fuzil com três canos e calibre 12 com 32 flechetes.

Em 1962, já estava sendo estudado a especificação de uma arma flechete. Porém, também estavam querendo uma arma com a capacidade de ataque de área com a capacidade do lança-granadas Mk-19 de 40mm (projeto NIBLICK) que depois teve a exigência de ser um lança-granadas automático. O projeto passou a se chamar Special Purpose Individual Weapon (SPIW).

Ainda em 1962, 42 empresas foram informadas sobre o SPIW. No início de 1963 foram escolhidos quatro contratantes: a AAI , Springfield Armory, Harrington & Richardson (H&R) e Winchester. O custo do projeto foi estimado em US$21 milhões. A especificação era de uma arma pesando 4,5kg com três granadas e 60 cartuchos com flechetes. Cada empresa produziria 10 protótios para avaliação em 1964.

O projeto da H&R foi logo rejeitado devido ao peso e falta de segurança. A proposta da Winchester era bem compacto, mas se mostrou pouco confiável em condições adversas e saiu do programa.

A Springfield Armory tinha um modelo Bullpup com carregador em fila. Eram dois carregadores de 30 tiros. O de trás ficava na reserva. O peso ainda era excessivo, mas era o mais confiável e preciso. O modelo da AAI era bem liso e o lança-granadas não era semi-automático. Era mais leve, simples e mais durável.


A proposta da Winchester era bem compacto.


O SPIW da Springfield tinha conceito bullpup com o carregador atrás do gatilho.

Nenhum projeto foi considerado maduro para passar a fase seguinte de desenvolvimento de engenharia. No geral nenhum era considerado durável ou confiável. O peso era alto, aqueciam muito e tinham muita fumaça e barulho ao disparar.

A munição flechete era cara pois era feita manualmente. Os flechetes também eram facilmente desviados por folhas e até gotas de chuva. Um flechete traçante mostrou ser praticamente impossível de fazer. A dispersão era errática com o aumento da distância. A trajetória era tão tensa que não era necessário ajustar a pontaria até 400 metros.

O projeto SPIW foi revisado e a AAI e Springfield apresentariam a segunda geração de seus projetos. Projetos não convencionais com bullpup foram rejeitados e teria que ter a aparência parecida com o fuzil M-14. Em 1966, foi observado que nenhuma empresa estava pronta para apresentar seu novo SPIW.  O projeto da AAI passou a usar carregador lado a lado e o do Winchester passou a usar um carregador descartável.  Um requerimento difícil foi o uso de um único gatilho para as duas armas.

Os novos projetos continuaram sem confiabilidade e eram pesados. Os problemas de munição pareciam insolúveis e o projeto foi cancelado no fim de 1966 com o M-16 sendo usado pelo US Army em todos continentes, menos na Europa. O M-16 iniciou sua operação como arma provisória até a entrada em serviço do SPIW. A Colt propôs uma munição flechete para a arma sem sucesso. Razões políticas podem ter sido um dos motivos do insucesso do programa SPIW.

A AAI recebeu um contrato para desenvolver seu SPIW para uma provável reativação do programa.  Em 1968, a AAI passou a vender seu lança granadas M-203 de 40mm. Em 1969 a AAI recebeu um contrato para produzir seu XM-19 para o programa Future Rifle Program (FRP). O programa SPIW passou a se chamar Serial Fléchette Rifles (SFR) e apareceram programas alternativos como o Serial Bullet Rifles (SBR), cartucho com múltiplos flechetes e projétil sem cartucho.

Em 1972, a AAI recebeu um contrato para simplificar o XM-19 passando a se chamar XM-70. Em 1973 o requerimento de usar Flechete foi retirado do programa FRS.

No início da década de 80, a AAI propôs uma escopeta calibre 12 com oito flechetes para o programa Close Assault Weapon System (CAWS). A Olin proposta outro modelo com flechetes menores e mais rápidos.

O programa Advanced Combat Rifle foi iniciado pelo US Army no fim da década de 80 com o objetivo de melhorar a pontaria do infante médio em pelo menos 100% acima da capacidade do M-16A2. Os testes no início da década de 90 foram testou vários projetos, com mais ou menos sucesso, mas nenhum atingiu o requerimento e o programa foi cancelado. O programa ACR também não tinha intenção de ser adotado e era apenas para testar novas tecnologias e projetos.

O programa Advanced Combat Rifle (ACR) também teve dois candidatos propondo munição flechete. A ACR propôs um fuzil baseado no SBR, a Steyr propôs o Synthetic-Cased Fléchette (SCF) e a AAI também propôs uma munição flechete.

O programa mostrou que a munição flechete era menos precisa que a convencional, mas nenhum candidato mostrou que tinha uma probabilidade de acerto maior que o M-16A2. O conceito de arma de infantaria combinando capacidade contra alvos de ponto e área continua com o programa XM-29 SABR.


Munição flechete XM-645 do programa SPIW.



Um dos projetos mais interessantes era o austríaco Steyr ACR que usava o conceito de munição flechete. A Steyr já testado esta munição na década de 60 no projeto SPIW. Na década de 90 teve mais sucesso, mas não o suficiente. Devido a grande velocidade do projétil, o tempo de vôo era muito curto e a trajetória tensa, permitindo o tiro sem calcular solução do ponto de impacto, ou seja, o projétil sempre atinge o ponto de pontaria, mesmo que o alvo se mova ( o tempo de vôo até o alvo numa distância de 300 metros era de 0,2 segundos). Devido a grande velocidade, o Steyr ACR tinha bom poder de parada e capacidade de penetração, e devido ao pequeno peso o recuo era pequeno. O desempenho não foi suficiente para dobrar a capacidade do M-16.


Outro projeto interessante era o G-11que usava munição sem cartucho. A foto mostra a primeira versão e a última (DM11 em corte). O G-11 mostrou ser preciso, confortável e confiável. Um dos problemas da munição sem cartucho é o superaquecimento da arma pois o cartucho ejetado liberava parte da energia térmica durante a detonação do cartucho.

Atualizado em  10 de Agosto de 2004

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