HISTÓRIA

As técnicas, táticas, doutrina e emprego dos snipers vem se desenvolvendo com a história. Não foi criado do nada ou por uma boa idéia.

A história recente dos snipers começa na guerra de independência americana, em 1775, quando milicianos locais conseguiam acertar formações inglesas a distância. Os alvos preferidos eram os oficiais que tinham uniformes bem diferenciados dos soldados. Alguns batalhões ingleses chegaram a perder todos os oficiais. Os veteranos caçadores de peles locais, acostumados a longos períodos de solidão, formaram unidades de “sharpshooters” (atiradores de elite), equipados com rifles Kentucky, os quais, pela qualidade de sua manufatura e longo comprimento de cano, tinham mais alcance e eram mais precisos do que os fuzis dos soldados britânicos.

O desempenho destas unidades levava o pânico aos corações dos soldados de britânicos, que não tinham sequer como combatê-los, pois nunca os viam, ouvindo apenas o assobio da bala. Nesta época a táticas das tropas armadas com mosquetes para tiro a longa distância era atirar em massa contra a massa de tropas inimigas. Acertava mais por sorte.

Antes desta época as armas eram muito imprecisas para que o sniper fosse viabilizado. Cada Divisão francesa na época de Napoleão tinha dois batalhões de mil "sharpshooter". Estes batalhões tinham capacidade de atingir alvos a 100 metros. Ficavam concentrados em uma guerra particular ao invés da batalha geral como infantaria. Em combate atuavam juntos, formando uma força maior de cerca de 16 mil homens para concentrar contra força de até o dobro do tamanho e venciam fácil. Cada Companhia também tinha um grupo de "sharpshooter" para serem usados contra artilharia e oficiais. Na época os combates eram a cerca de 150 passos.

O fuzil de tiro de repetição da era industrial era 10 vezes mais preciso que os mosquetes não raiados. O infante logo ficou mais letal. Em 1848 surgiu o projétil em cone, chamado de munição Minié. Era mais preciso que o projétil todo arredondado. .

No século 19 já se percebia que sniper podia influenciar o resultado de uma batalha, ou pelo menos atrapalhar em muito o inimigo. Na batalha de Gettysburg em 1862 dois snipers confederados mataram dois generais e feriram outro, além de vários oficiais superiores. Direcionou a artilharia para sua posição e liberou uma frente.

Na guerra civil americana foram formados um batalhão de sniper confederado. As técnicas logo foram aprimoradas e novas armas apareceram. A lista de prioridade de alvos logo foi criada. Também ocorreram duelos de snipers. Passaram a ser usados como fonte de coleta de informação e observação. Em uma ocasião um sniper conseguiu silenciar um canhão por dois dias simplesmente evitando que alguém chegasse perto. Os snipers logo aprenderam que disparar de cima de uma arvore logo resultava em retorno do inimigo com morte certa. Só os japoneses continuaram a usar esta tática no Pacífico.

Foi o Tenente Coronel D. Davidson, veterano da Guerra da Criméia (1854- 56), o primeiro a sugerir instalar lunetas nos fuzis de infantaria para aumentar a precisão a longa distancia, além de melhor treinamento. A luneta foi pouco usada no conflito, mas aproveitaram as táticas. Na mesma guerra, John Jacob, oficial que servia na Índia, tinha um fuzil com projétil explosivo com alcance de 1800 metros. Foi testado no conflito contra uma posição de canhão que logo se retirou.

Em 1868 surgiu a tecnologia de cartucho e a pólvora de pouca fumaça. O poder, alcance e precisão foram aumentados a níveis nunca atingidos antes e era tudo que os snipers precisavam dando um grande impulso para novas táticas e técnicas.

Em 1880 foi introduzido a pólvora com pouca fumaça e mais potente. Antes a fumaça branca dominava o campo de batalha e a posição dos sniper era facilmente visível. Sem fumaça o efeito moral de terror dos tiros do sniper foi multiplicada.
 
Na Guerra dos Boers entre 1899 a 1901, os Boers, fazendeiros de origem holandesas, eram caçadores locais e bons de tiro, deram muito trabalho as tropas inglesas. Eram guerrilheiros sem treinamento militar e usavam táticas próprias. Atiravam de longe sem ser atacados. Usavam camuflagem nas roupas, face e chapéu. Os britânicos eram lentos e tinha que caminhar a noite. Os Boers eram rápidos e disparavam escondidos a longa distância. Logo os britânicos só marchavam a noite para se proteger. Os britânicos não eram treinados para tiro a longa distância tiro e nem contra guerrilha. Os Boers usavam o terreno e a camuflagem para compensar a desvantagem numérica. Mesmo assim a superioridade britânica acabou vencendo, mas com muitas lições que mudariam a guerra no futuro e seriam aplicadas na Primeira Guerra Mundial.

Primeira Guerra Mundial

A palavra sniper tomou uso rotineiro na Primeira Guerra Mundial. Antes da Primeira Guerra Mundial, os britânicos estavam preparado para uma guerra concentrada sustentado fogo em pequena área. O conflito logo degenerou para outro tipo de guerra. Inicialmente os britânicos tinham trincheira bem definidas. Depois passaram a entulhar tudo na frente como os alemães faziam.

Antes do conflito a Alemanha já usava snipers em nível de Companhia. Uma seção do batalhão tinha 24 sniper com fuzis equipados com boas lunetas. Os alemães trabalham em dupla revesando o papel de observador e sniper. Cansa ficar olhando por uma luneta ou binóculo por muito tempo. Com seus snipers os alemães conseguiram dominar os dois primeiros anos na terra de ninguém. Em um dia típico, um batalhão aliado perdia 18 homens para os sniper. Nas trincheiras as distâncias eram sempre a menos de 200 metros.

Os sniper atiravam de várias posições trocando frequentemente. As posições eram reforçadas com metal, cavalos, corpos faltos e qualquer material para camuflar a posição, com locais de tiro falso para atrair a atenção. Na Primeira Guerra Mundial, os alemães usavam placas de metal nas trincheiras com buraco para atirar. A reação foi o uso de artilharia e camuflagem das posições. Os britânicos testaram um fuzil para matar elefante para perfurar as placas blindadas. Os alemães reagiram colocando duas placas com terra no meio. Usaram táticas de mostrar capacete e cabeças falsas acima do parapeito para chamar a atenção. Já os britânicos testaram um fuzil com mira por periscópio para observar e atirar sem se expor.

Na década de 30 apenas os russos continuaram a manter uma escola de sniper. Os alemães, britânicos, franceses e o US Army fecharam suas escolas e o USMC manteve um pequeno grupo. Os britânicos reabriram sua escola em 1940. O US Army reabriu em 1942. Os alemães reabriram logo no inicio de suas operações.

No fim da década de 30, na guerra contra os russos, os finlandeses caçavam inverno com fuzil e era muito mais fácil caçar soldados russos que pássaros voando. As táticas eram simples. Os sniper finlandeses eram muito móveis com seus esquis, ficavam a frente de linha de defesa ou flancos, atacando postos artilharia, morteiro e postos de comando. A determinação de defender o país valia muito. Já os snipers russos tiveram que reagir treinando para guerra no ártico e passaram a ser mais independentes da unidade que apoiavam.

Segunda Guerra Mundial

Quando começou a Segunda Guerra Mundial, apenas os alemães e os soviéticos tinham mantido seu treinamento especifico para snipers. Os alemães tinham melhores armas e sistemas óticos, porem os soviéticos os suplantavam em técnicas de camuflagem. Quando os britânicos criaram sua escola de snipers o manual ainda era da Primeira Guerra Mundial. O treinamento não incluía papel de infantaria como tomar terreno, capturar prisioneiros ou liderar ataques.

Os snipers alemães que atuaram na frente russa tinham como alvos principais os operadores de armas pesadas, observadores, oficiais, ou tudo que ameaça o avanço das tropas. Sem liderança as tropas russas não avançavam e ficavam paralisadas ou fugiam.

Os sniper alemães avançavam com as tropas, cobriam flancos e pegavam observadores e ninhos de metralha inimigo. No fim da guerra cada pelotão alemão tinha pelo menos dois homens treinados como scout e sniper.

Na tundra russa, os sniper ficavam na frente das tropas. Penetravam a noite nas linhas e durante o ataque ou barragem pré-ataque tinham a missão de abater os comandantes e artilheiros. As vezes acompanhavam o avanço para atingir operadores de metralhadoras e armas anti-carro.

Uma tática de um sniper alemão durante um avanço inimigo era deixar varias ondas atacar e atingir as ultimas no estomago. Os gritos dos feridos enervavam os da frente. Depois passava a atingir os mais próximos a 50m na cabeça. É possível conseguir cerca de 20 kill em poucos minutos.

A tática de apoio de retirada iniciou com os alemães na Segunda Guerra Mundial, em 1944, quando um batalhão usava 4-6 snipers para cobrir a retirada de uma compania ou batalhão. Uma metralhadora seria detectada imediatamente enquanto os tiros a longa distância dos snipers não e o inimigo passaria a atuar com cautela para caçar os snipers.

O cerco de Stalingrado durou 900 dias. Lembrava a guerra de trincheira na Primeira Guerra Mundial. Em um cenário urbano onde cada janela ou buraco podia ser fonte de sniper. Para os snipers os alvos eram fugazes, e a posição ficava comprometida rapidamente com movimentação. Um ataque frontal era suicídio, as incursões esporádicas e brutais virou norma com uso de sniper. Os sniper dominaram o local e a morte rondava todos os lugares. As distancia cidade eram de curto alcance e a maioria menos de 300m. Na cidade é muito difícil saber de onde vem o tiro devido ao eco.

Em 1924, os russos criaram várias escolas de snipers. Gostavam de recrutar os caçadores da Sibéria por serem bons para atuar no campo e eram caçadores natos. Os melhores iam para as escolas distritais e nas escolas centrais os melhores viravam instrutores.

Os snipers russos tiveram papel importante na Segunda Guerra Mundial. Estima-se que mais de 40 mil alemães mortos foram pelos snipers.
No inicio da Segunda Guerra Mundial havia uma equipe de fogo de snipers por Divisão. No fim da guerra já havia 18 snipers por batalhão ou dois snipers por pelotão. A doutrina inclui usar o sniper a nível de pelotão como parte da unidade, chamado de DM em outras doutrinas. O objetivo é compensar a capacidade de disparo longa distância perdida com os novos fuzis de assalto otimizados para curto alcance e tiro rápido. A infantaria passou a usar muita submetralhadoras para supressão e era uma arma ruim contra alvos em profundidade. Doutrinariamente os snipers cobriam estes alvos mais distantes. A submetralhadora que era ideal em combates urbanos. Até os snipers levavam uma nestes cenários.

Na doutrina russa os snipers fazem supressão a longa distância e eliminam alvos de oportunidade como líderes. Os russos sabem que os lideres são um alvo importante pois é difícil substituir sargentos e oficiais de campo em tempo de guerra. Os russos perceberam que um fuzil de sniper mais caro e menos rústico pode compensar o custo-eficiência de um fuzil de assalto com boa seleção de pessoal, treino e doutrina. Por exemplo, os snipers de um regimento mataram 1200 inimigos com perda de menos de 100 homens. Os russos perceberam que as mulheres eram boas para a função de sniper devido a paciência, cuidado e evitam combate curto devido a fraqueza corporal. 


Os snipers atuavam em duplas, com fuzil Mosin-Nagant com luneta zoom de 4x. Era preciso até 800m. Os snipers russos também levavam submetralhadoras. Observador também fazia pontaria para observar o tiro e atirar se o sniper errar. Durante um avanço alemão a missão dos snipers russos era segurar o avanço e procurar outra posição depois. O custo em vida foi alto.

Exemplo de operações na retaguarda seria uma operação onde seis equipes de snipers russos foram ordenados parar uma coluna de reforço alemã. Foram de esqui até a posição. Duas duplas cobriam o inicio do comboio, duas o meio e as outras o fim. A primeira dupla abriui fogo e parou o comboio. Os outros foram batendo alvos. Quando começavam a tentar fazer o comboio se mover, os snipers reiniciavam os tiros e os alemães paravam. Foi se repetindo até uma posição ser localizada. Os snipers mudavam de posição para reatacar. Conseguiram parar a coluna que só andou 3-5km em várias horas.

Os oficiais é que ensinavam as tropas a atuar como snipers. Os snipers russos recebiam treino de infantaria comum para operações ofensivas e defensivas. Como levavam submetralhadora, granadas e capacete, ajudava a esconder função se capturado. No fim da Segunda Guerra Mundial havia 18 sniper por batalhão ou dois por pelotão. Os snipers russos foram escolhidos como fontes de heróis e o número de kills pode ser exagerado por isso. Podia ser uma tática de propaganda.

Ainda na Segunda Guerra Mundial, o USMC treinava seus snipers para tiro e reconhecimento e por isso são chamados de "scout-sniper". Cada Companhia tinha três snipers sendo um de reserva. O USMC treinava reconhecimento e táticas de sniper agressivo, mas era difícil de empregar nas selvas do Pacífico. A velocidade de retorno de tiro faz diferença entre vida e morte. Por isso tinha que atuar em equipe de três com sniper, observador e apoio que cobria com metralha BAR ou submetralhadora. Cada companhia tinha uma equipe. Alguns snipers eram improvisados, como um oficial que treinava por conta própria e aproveitava para atuar na função. O uso de luneta mostrou ser uma desvantagem na selva densa o que se repetiu no Vietnã.

O USMC era a única unidade que treinava seus snipers para tiro a até 900 metros. Este treinamento foi importante com sniper conseguindo abater tropas em ninhos de metralhadora em Okinawa a 1.100m. As vezes tinham que usar traçante com o observador indicando onde atingiu um alvo grande para determinar a distância.

A ameaça dos snipers japonesas acabava com a força e moral dos soldados americanos. O USMC logo iniciou o uso de snipers como contra-sniper logo no começo da formação do perímetro da cabeça de ponte durante os desembarques.

Contra bunkers atiravam nas janelas de metralhadoras. Outros japoneses tomavam o lugar, mas logo percebiam o que estava acontecendo e paravam. Depois os Marines conseguiam avançar com apoio dos sniper e atacar com lança-chamas e cargas explosivas.

Os Japoneses na Segunda Guerra Mundial, na campanha do Pacífico, usavam seus snipers mais para defesa e por isso eram considerados menos em ações ofensivas. Funcionava bem no terreno cheio de árvores e areias do Pacifico para controla movimentos de tropas inimigas. O critério de escolha dos snipers japoneses era diferente do ocidental. Eram escolhidos mais pela boa pontaria e era considerada uma honra. O medo de fracasso os tornava bons. O treino era bem pratico e sobrevivia muito tempo com poucos recursos para o padrão ocidental. Os snipers japoneses não faziam ações de coleta de informações, pois atuavam até a morte na posição, matando o máximo até serem mortos, e não voltavam. Na selva das ilhas do Pacífico usavam mira simples para curto alcance.

Os japoneses geralmente deixavam os americanos passar e disparavam por trás de buraco ou do topo de arvores. Com pouca distância até uma submetralhadora Nambu servia como arma de sniper. Os snipers ficavam amarrados em arvores para não dar dica para as equipes contra-sniper que conseguiu atingir, pois não via nada cair. Os ocidentais não usam arvores como posição, a não ser observadores, pois vira uma armadilha mortal se descoberto. Os japoneses usam sapatos e garras especiais para subir em arvores. Conseguiam atrasavam os avanços por horas. Os japoneses também usavam "buraco de aranha", bem profundo, mas ainda com bom campo de tiro.

Os snipers japoneses preferiam o calibre 6,5mm mais fraco. O alcance era relativamente pequeno, mas ainda potente a curta distancia na selva e com pouca fumaça o que era mais importante.

A contramedida americana foi atirar indiscriminadamente no topo das arvores com as metralhadoras BAR ou disparar um canhão de 37mm com munição flechete. Era uma tarefa lenta. Logo que tomavam uma cabeça de praia os Marines tinham que enviar equipes anti-snipers.

No período entre a Segunda Guerra e a Guerra da Coréia, viu-se o ponto mais baixo na importância militar dos snipers no Ocidente. Apenas os Royal Marines britânicos e o Corpo de Marines norte americanos continuaram a treinar e qualificar snipers. Os soviéticos, por outro lado, mantinham seus snipers treinando sem cessar, e cada Companhia do Exercito Vermelho possuía pelo menos três snipers em seu efetivo. Nos EUA apenas alguns oficiais estudavam e treinavam o assunto e tentavam persuadir o serviço a criar uma escola.

Coréia

Quando a Guerra da Coréia iniciou os snipers tinham sido retirados de serviço após o fim da Segunda Guerra Mundial. Alguns exércitos, como o Canadá, acharam que o sniper seria irrelevante na guerra moderna.

O terreno montanhoso da Coréia favorecia o engajamentos de longo alcance. Os australianos já pensavam que seria uma guerra de snipers e estavam preparados, com cada Companhia tendo alguns snipers e com arma adequada. Vários snipers tinham experiência na Selva de Borneo e gostaram de atirar a distancias maiores que 100 metros.

O aparecimento de sniper no lado comunista logo forçaram os ocidentais a retomar o treinamento de snipers e fez a guerra lembrar a frente de trincheiras da Primeira Guerra Mundial. As tropas ficavam escondidas, mas os americanos também passaram a poder avançar sem ser molestados com apoio dos seus snipers. A tecnologia era a mesma de 1940. Uma tática era operar junto com a metralhadora BAR como na Segunda Guerra Mundial. Podiam usar munição traçadora para indicar alvos para a metralhadora BAR e metralhadoras .30 que não podiam ver as próprias traçantes a distância.

Vietnã

No inicio do conflito no Vietnã, o USMC tinha poucos snipers que estudavam assunto por contra própria enquanto o Vietnã do Norte tinha várias equipes de snipers para cada Companhia.

O USMC no Vietnã tinha vários critérios de seleção enquanto O US Army escolhia os melhores de mira na Companhia. O USMC dava duas semanas de treino no Vietnã sobre reconhecimento, ocultação e sobrevivência. O programa foi iniciado em 1965 e em 1968 se tornou uma Escola permanente com cada regimento de reconhecimento tendo um pelotão com três grupos de combate de cinco duplas de snipers, além do comando de tropas. O batalhão de reconhecimento tinha quatro grupos de combate com três duplas de snipers além do líder, sargento auxiliar e armeiro.

Os americanos tiveram que reiniciar o treino de sniper quando o conflito começou. O USMC iniciou o treinamento na frente de batalha com os instrutores reaprendendo a arte dos snipers na pratica. Usavam o princípio de só ensinar se tiver experiência. O local foi a Colina 55 onde os incidentes com snipers inimigos no local caiu de 30 por dia para um ou dois por semana. Os instrutores observaram o local, a trajetória dos projeteis que mataram Marines e observaram que os pássaros não pousavam em certos lugares. Logo perceberam que havia um túnel para atirar de locais com grama alta de várias direções. Pediram para apontar um canhão sem recuo de 106mm para a posição devido a distância. Em caso de tiro de snipers disparariam lá. Dois dias depois um sniper comunista disparou. O canhão de 106mm estava pronto e logo foi disparado. O sniper comunista nunca mais disparou.

No conflito do Vietnã o US Army introduziu a munição de 5,56mm. Esta munição mostrou ser limitada com alcance de 300m, não penetra bem na vegetação e com pouco poder de parada. Os soldados americanos podiam ver os Vietcongs a centenas de metros e não conseguiam engajar com o M-16. As tropas passaram a equipar fuzis M-14 com luneta que depois foi escolhido oficialmente para ser o fuzil de snipers e chamado de M-21 em 1968. O M-21 foi equipado com a luneta ART I (Auto-Ranging Telescope) com inclinação variando com o foco para compensar a queda dos projéteis automaticamente. Logo foi reiniciado a seleção e treinamento dos snipers. O treinamento incluía chamar artilharia. Os recrutas davam até 700 tiros por dia, mas era bom mesmo para condicionar o tiro.

Enquanto o US Army gostou do M-21, mas o USMC não. O USMC escolheu o fuzil de ferrolho Remington 40X com mira Accu-range 3x9 que foi chamado de M-40A1. Os fuzis com ferrolho eram ruins nos engajamentos de curto alcance na selva e os snipers levavam pelo menos um fuzil M-14 ou pistola .45. Atuavam em time de snipers com um pelotão de apoio.

Os snipers vietcongs eram bem treinados, com um curso de 12 semanas. Os comunistas eram treinados no norte e repassavam o conhecimento rudimentar para as tropas do sul. Os norte vietnamitas tinham três grupos de combate de 10 snipers por Regimento que eram protegidos por um pelotão de segurança para cada grupo de combate. O problema era a falta de munição. Os snipers do vietcong ficavam 8 horas por dia em campo e só podiam disparar três tiros a cada cinco dias. Atacavam helicópteros na zona de pouso e serviam como observadores. Os alvos eram oficiais, sargentos e rádio-operadores, abatidos a distância de 600-700 metros, com objetivo de atrapalhar processo de C3 e fogo e manobra. Além dos snipers comunistas, outra ameaça silenciosa eram as armadilhas e minas. Logo os americanos perceberam a importância das táticas anti-snipers e passaram a usar artilharia e apoio aéreo.

O US Army operou mais ao sul do Vietnã, com terreno plano, com muitas plantações e mais aberto. Já o USMC atuou mais ao norte, com muitas florestas e sem bons campos de observação e de tiro. Inicialmente os snipers operavam acompanhando patrulha e depois foram liberados para caçar e mostraram ser a forma mais efetiva.

Os snipers americanos atuando a curta distância, atiravam e corriam. A longa distância não precisavam correr. Esperavam alguém ir até o corpo e ativara novamente. Os sniper marcavam alvos com traçantes para outros meios. Podia ser uma embarcação ATC com canhão de 105mm.

Afeganistão Russo

O conflito russo no Afeganistão pode ser considerado uma guerra dos snipers. Os soldados russos raramente viam o inimigo que disparou e os guerrilheiros afegãos eram bons de mira. Um soldado cita que quando seu blindado foi atingido por uma mina, quem saia do blindado era logo atingido. O blindado pegando fogo estava mais seguro que lá fora e só puderam sair quando outros blindados chegaram para ajudar. Ao saírem notaram que o local próximo mais protegido onde poderia se esconder um sniper estava a pelo menos 500 metros. A guerra no Afeganistão mostrou a fragilidade do sistema de treino dos snipers russos a nível de batalhão e logo foi criado escolas a nível de Corpo de Exercito.

Malvinas

O cenário da Guerra das Malvinas tinha bons campos de tiro e boa cobertura sendo um paraíso para os snipers. Os argentinos usaram o fuzil K98K de fabricação local e a M-14 além de outras armas. A maioria dos snipers usava um fuzil com FAL com luneta. Estavam equipados com a mira noturna PVS-4 de segunda geração bem melhor que os Starlight usados pelos britânicos.

Os britânicos usava o fuzil L42 que emperrava com freqüência e a luneta ficava embaçada. Logo começaram a jogar o fuzil fora e pegar fuzis FAL argentinos que eram adequados contra alvos a até 600 metros. Os britânicos treinavam tiro nos navios enquanto iam para as Malvinas.

O valor dos snipers foi novamente mostrado quando um único sniper argentino conseguiu parar uma Companhia britânica por quatro horas. Em Goose Green, os snipers britânicos atiravam nas gretas dos bunkers a 700 metros e os argentinos se rendiam. Era bem mais barato que o uso de mísseis Milan que também foi usado na tarefa. Já as tropas convencionais tinham que dar muita supressão concentrada para poder avançar.

Um sniper argentino conseguiu abater treze militares ingleses antes de ser apanhado. Sua camuflagem era perfeita, e ele atirava apenas em suboficiais e operadores de rádio. Foi descoberto por acaso, quando um soldado inglês, olhando exatamente para o ponto onde ele estava, viu a fumaça de um disparo. Rendeu-se, foi capturado vivo e considerado apenas um prisioneiro de guerra.

Chechênia

No conflito na Chechênia os russos tiveram que reaprender as táticas de sniper na cidade e testaram armas e táticas novas. As batalhas em Grozny lembravam Stalingrado onde podia se perceber facilmente a importância dos snipers. O problema é que os sniper russos eram treinados para atuar como parte de um ataque de armas combinadas avançando rapidamente contra forças se defendendo, atuando como DM. Não estavam preparados para caçar snipers em ruínas ou preparar emboscadas por dias seguidos. Cada pelotão tinha um DM armado com um SVD e que era protegido pelo pelotão.

No inicio da guerra na Chechênia em 1992 havia na Rússia os snipers da reserva das unidades de snipers da RVGK em pequena quantidade e os snipers como parte das unidades que eram DM. As equipes do FSB e MVD eram mais treinadas para ações tipo polícia e eram ruins para caçar snipers ou atuar em campo ou guerra urbana.

Depois da Segunda Guerra Mundial os russos continuaram enfatizando as táticas de supressão, usando até as AK-47/74 para supressão, e com os snipers/DM batendo alvos a longa distância. O próprio fuzil SVD foi projetado para apoio de fogo especial e não para sniper, aumentando o alcance do pelotão de 300m para 600m. Sem um observador com luneta o atirador nem pode ajustar o fogo com eficácia como os snipers ocidentais.


Até 1984, os snipers/DM russos eram treinados a nível de Regimento por um oficial escolhendo alguns recrutas de melhor desempenho. Eram retreinados a cada dois meses por alguns dias. Esta doutrina criava bons DM que cobriam setor de 200 x 1000m. Era esperado uma probabilidade de acerto (Pk) de 50% contra um homem em pé a 800m, e 80% a 500m. A razão de tiro era de dois tiros por minuto para conseguir estas estatísticas.


Já os chechênos conheciam bem o terreno e tinham muitas armas de snipers. Bastavam alguns poucos snipers chechênos para conseguir parar unidades russas inteiras nas cidades. Atuavam como sniper sozinhos ou como parte de uma equipe de quatro armados com PKM e RPG-7. Estes times eram muito efetivos para caçar blindados. Enquanto os snipers com SVD pegavam tropas de apoio os soldados com RPG engajavam os blindados. Grupos de 4-5 times atuavam contra um único blindado. Nas montanhas os snipers chechênos engajavam a longa distância junto com a equipe de apoio. A equipe de apoio ficava mais distante. O sniper disparava alguns tiros e mudava de posição. Se os russos respondiam ao fogo a equipe atirava para atrair o fogo e deixar o sniper fugir.

Em 1999 foi criada uma escola de sniper. Testaram várias combinações de equipes de 2-3 tropas com vários tipos de armas como PKM, RPG-7, SVD e fuzil AK. Vários destacamentos atuavam juntos para apoio múltiplo. Logo voltaram a usar snipers da reserva RVGK. Atuavam em dupla com apoio de uma equipe de cinco tropas. Os russos voltaram a invadir a Chechênia em 1999, mas com equipes de caça e ataque com dois a três snipers junto com uma equipe de segurança com pelo menos cinco tropas. Não eram só DM e estavam preparados para entrar em posição de dia e atuar a noite.

Na Segunda Guerra Mundial a dupla ficava na mesma posição de tiro, mas na Chechênia ficavam separados podendo ver um ao outro. Criavam pontos de emboscadas 200-300 metros do local. O grupo de apoio ficava a cerca de 200m atrás e 500m para o lado, em uma posição camuflada, por uma ou duas noites e depois retornavam a base.

Os snipers não tinham intenção de se render e por isso, além do fuzil de sniper, levavam um fuzil AK-74 ou pistola, além do óculos NVG, flares, granadas e as vezes um rádio. Se a equipe de apoio falhar, o flare vermelho era usado para chamar a artilharia para a posição. As vezes o grupo chegava a 16 tropas no total. Os russos não atuam com dupla observador/sniper. Geralmente opera com um a três atiradores. Os periscópios tinham sido retirados de uso e voltou a operar na Chechênia para observação.

Os alvos prioritários eram os snipers chechênos e os operadores de lança-chamas RPO (na verdade um lança-rojão com munição termobárica). A seguir estavam os operadores de PKM e RPG-7.

Chechênia
Snipers russos operando na Chechênia. Notem a escolta de fuzileiros.

Chechênia
Um sniper russo atuando na Chechênia. No conflito da Chechênia o Exercito russo estava sem treino há 2 anos e as unidades estavam incompletas. Reuniram unidades sem treino com as pouco treinadas em unidades mistas.

SV-99
O SV-98 é o novo fuzil dos sniper russos. O modelo acima está equipado com um supressor de som.

equipe

Equipe de snipers russos. Depois do conflito na Chechênia os russos testaram várias combinações para as equipes de snipers. A equipe acima está equipado com um fuzil SVD, um fuzil AK com sensor térmico e supressor de som e um ajudante com uma metralhadora PKM.


Iraque

Nos dois primeiros anos de conflito no Iraque em 2003 os snipers americanos conseguiram muitos kills. Depois menos de um por mês. Os alvos "fáceis" foram todo mortos e os sobreviventes se adaptaram.

Milhares de fuzis SVD foram capturados durante a invasão em 2003, mas a força de segurança de Saddam armazenaram pilhas antes e um bom atirador só precisa de pouca munição.
Os insurgentes não tem mira noturna e só atiram área iluminada a noite. Não tem rádio, as vezes usam celular, e só levam o fuzil e as vezes um carregador adicional tornando-se muito móvel, e fácil descartar as evidências incriminatórias para se misturar a população. 

O inimigo sabe o que americanos podem fazer e passaram a tomar mais cuidado com a presença de tropas próximas. Todos observam os americanos e estudam suas táticas e técnicas. Sabem o que é uma Força de Reação Rápida (Quick Reaction Force - QRF), e como opera e aprenderam a disparar e fugir antes que a QRF chegue. 


Também passaram a considerar as regras de engajamento e uma diz que um sniper só atiram em inimigos armados. Assim não levam armas até precisarem usar e só andam com roupas civis para se misturar a população. Durante a ação usam balachava preta e encobrem a identidade.


Com o inimigo vestido de roupas civis as tropas americanas passaram a levar kit policial RIFF. Se colocam nas mãos e roupas o kit fica azul em contato com pólvora o que denuncia quem usou armas recentemente. Os guerrilheiros iraquianos também usam humanos como proteção frequentemente. As vezes os civis são pagos ou simplesmente aterrorizados. Os civis são compensados se indicam os esconderijo dos sniper o que virou a maior atividade das crianças. Mesmo assim o uso dos snipers mostrou ser eficiente. Poucos podem manter vários quilômetros de estrada livre de bombas ou deixar a guerrilha longe de certos locais.

Um fuzil M40A-1 do USMC foi encontrado em um carro atacado em Habbaniyah. O fuzil tinha sido capturado em uma emboscada em Ramadi dois anos antes em 2004. Outra equipe de seis snipers dos USMC foi emboscada em Haditha e levou o serviço a repensar o emprego dos snipers. Agora operam em grandes grupos.

Um sniper americano no Iraque classificou os sniper insurgentes em três tipos. O potshot é um civil com fuzil de sniper, geralmente um SVD. O potshot atira a no máximo 200m sem precisar compensar o tiro e são a maioria. Tem o equivalente ao DM com treinamento de tiro, sendo geralmente é um ex militar. Aprendendo com a experiência pode se tornar mortal. São cerca de 40-45% de todos os sniper. Já os sniper qualificados são poucos e mortais. Vários tem experiência na Chechênia e outro lugares. Felizmente para os americanos são cerca de 5-10% no máximo. 


O US Army levou três sniper para treinar tropas americanas em Bagdá. Realizam cursos de quatro semanas ao invés de cinco. O curso no local é bom para já aclimatar com o deserto. Os tiros são feitos em alvos com fotos dos mais procurados e já treinavam inteligência. Também preparavam os alunos para chamar artilharia.

No Iraque os snipers americanos protegiam as instalações de petróleo com helicópteros UH-60 com capacidade de disparar com fuzil M-24 ou M-107 dando grande mobilidade. Esta técnica já tinha sido usada no Vietnã. A aeronave em alerta decola em 30 minutos em resposta rápida ou cobre uma área bem grande em patrulha de rotina.

Os snipers são geralmente usados para apoiar patrulhas avançando. Usavam seus óticos para procurar locais suspeitos de ter explosivos IED.

Telhado
Uma dupla de sniper americanos no Iraque. Os fuzis estão camuflados e um está usando um periscópio para observar os arredores. Estão equipados com binóculos, rádios, telêmetros e um está com um fuzil automático. Os americanos colocaram dúzias de duplas de sniper no topo dos prédios em Bagdá para atirar em qualquer individuo armado ou atacando tropas americanas. Com superioridade aérea tiveram domínio fácil dos topos dos prédios.

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