PATRULHAS DE LONGO ALCANCE

Nenhuma guerra pode ser vencida com uma força que luta as cegas. As patrulhas de longo alcance são os olhos e ouvidos do Exército, usando suas habilidades para fazer o trabalho da força bruta.

Até a Primeira Guerra Mundial, quando iniciou a guerra de trincheira, os comandantes não tinham visão em profundidade do campo de batalha. Usavam cavalos ou balões para ver em profundidade e mesmo assim era uma visão limitada. Com o uso de aeronaves a visão foi aumentada, mas continuaram usando patrulhas lentas e de curto alcance.

Na Segunda Guerra Mundial, a aviação foi refinada com o uso do rádio e eram mais rápidos. As patrulhas terrestre passaram a ser  mecanizadas. Nesta época, os britânicos iniciaram a formação de tropas de reconhecimento especiais como as LRPG (Long Range Patrol Group) em Burma, LRDG na África do Norte e o SAS. O SAS continua atuando até hoje.

Os EUA formaram uma unidade de patrulha de longo alcance (LRP - Long Range Patrol) chamado de Alamo Scouts no teatro do Pacífico. Era formado por 10 equipes de sete operadores. Realizaram 80 missões de reconhecimento e alguns raids e resgates de prisioneiros sem perdas. A unidade foi desbandada após o conflito.

No fim da década de 1950, vários países da OTAN (britânicos, alemães, belgas e holandeses) iniciaram o desenvolvimento do conceito das LRRP (Long Range Reconnaissance Patrol) ou patrulha de reconhecimento de longo alcance. As LRRP foram influenciados pelo SAS britânico de pequenas patrulhas independentes atuando atrás das linhas inimiga a até 250km.

A estratégia da OTAN na Europa era baseada em uma defesa em profundidade e contra ataques contra a retaguarda inimiga. O objetivo era atacar os principais pontos de ataque inimigo e as rotas de suprimentos, além de localizar os centros de comando, logísticos, defesa aéreas, sítios de artilharia e mísseis e área de descanso. As LRRP fariam aquisição de alvos para aeronaves e artilharia de longo alcance.

As LRRP seriam infiltrados por ar, terra, ou água atrás das linhas inimigas. Após a infiltração, as LRRP operariam em posições ocultas, vigiando as rotas inimigas, fazendo reconhecimento de ponto e área das rotas de suprimentos. Nos treinamentos, a maioria das inserções era de pára-quedas lançados a noite. As LRRP treinavam muito cruzamento de rios, identificação de veículos, leitura de mapa e terminava o treino sempre com uma missão de escape e resistência. As LRRP não fariam ação direta. Usavam rádios AM enviando dados em pequenos rajadas rápidas difíceis de detectar.

As LRRP são usadas como olhos e ouvidos das forças convencionais bem atrás das linhas inimigas, chegando a 250km. As LRRP não fazem ação direta, mas podem realizar ataques de longo alcance para determinar o tempo de reação do inimigo. Fazem vigilância e reconhecimento para detectar alvos e direcionar outras forças de manobra ou apoio. São usadas quando o reconhecimento aéreo é insuficiente e é capaz de fazer reconhecimento das intenções e rotas disponíveis. Foram usadas desde ações anti-guerrilha até guerra convencional como nas Malvinas e Golfo Pérsico. As missões de inteligência inclui detectar unidades e armas, personalidades, métodos e táticas inimigas, interrogar prisioneiros e estudar o terreno para atualizar mapas. Além da coleta de dados os LRRP também fazem disseminação e avaliação de dados.

Cada Corpo de Exército na Europa teria uma LRRP para coleta de informações para o Posto de Comando. Os EUA reagiu depois em 1958 com uma companhia de dois pelotões de oito patrulhas de quatro operadores além do pelotão de comunicações.

SAS
Uma patrulha do SAS em um posto de observação nas Malvinas. Já no inicio de maio eram oito equipes de quatro tropas inseridas na ilha a até 35km de distância da praia. O SAS fez 10 postos de observações (PO) no lado oeste da ilha e quatro em pequenas ilhas, além de 12 POs no lado leste. A noite podiam se aproximar das posições inimigas para reconhecimento aproximado. Quatro destes POs tiveram contato com o inimigo. O monte Kent foi usado para reconhecimento de onde puderam ver Port Stanley e direcionar a artilharia. Em um PO em Beaver Ridge uma patrulha relatou uma posição de dispersão noturna de helicópteros. Dois caças Harrier atacaram a posição com a destruição de três helicópteros. Outro PO em Darwin foi feita em uma carcaça de barco. O PO em Port Howard foi descoberto em 10 de julho e depois cercado. Os dois operadores não se renderam e um foi morto e outro capturado na fuga. Os PO do SAS tem um ponto de descanso (LUP) próximo que fica em um lugar mais alto para dar apoio de fogo para o PO se comprometido. As tropas ficam divididas com dois no LUP e dois no PO. No PO um observa e outro anota e a noite mudam de posição. A noite fazem buraco para defecar próximo a LUP. Não cozinham pois o cheiro pode alertar patrulhas inimigas próximas. Nas Malvinas era difícil ficar quente e seco. A comida nunca era levada em quantidade suficiente e fumavam para diminuir a fome e os cigarros eram mais leves que a ração. As armas usadas dependia da função. Podia ser um M-16, LSR, Colt Commando ou MAG, além de pistolas 9mm, LAW e minas Claymore. O peso era de cerca de 90kg no total e deveria ser suficiente para 25 dias de patrulha. A munição era de 9mm, do fuzil e 1000 tiros para a MAG. Foram tantas patrulhas do SAS e SBS que se encontraram mesmo tendo áreas especificas para cobrir. Em um encontro violento uma patrulha do SBS foi desviada inadvertidamente para um PO do SAS onde ocorreu a morte de um membro do SBS. Há rumores que patrulhas do SAS operaram no continente vigiando as bases argentinas e dando alerta de decolagem de aeronaves argentinas. Um Sea King que caiu no Chile junto a fronteira é a única prova a respeito. Os Royal Marines também fizeram reconhecimento como a tropa do ártico e montanha que são treinados para operar a até 50km a frente do desembarque e cobrem flancos que não serão cobertos por tropas ou locais pouco prováveis de serem usado pelo inimigo. As patrulhas do SAS e SBS gerou uma grande quantidade de informações do dispositivo, posição e franquezas dos argentinos sendo vital para o planejamento e reconquista ilhas.

Os Seals realizaram uma missão de reconhecimento de praia para posterior desembarque do USMC próximo ao aeroporto de Pearls no norte da ilha de Granada em 1983. Como o local estava bem defendido, o desembarque foi direcionado para 700 metro mais ao sul da posição inicial. O 13 Seals foram transportados em embarcações SeaFox até 3,5 km da costa. Seguiram depois em dois botes Zodiac. Um mergulhador foi na frente e chamou o resto após conferir que o local de desembarque estava seguro. Chegaram bem próximos das forças inimigas e usaram óculos de visão noturna para fazer o reconhecimento. Como a praia estava bem protegida emitiram o código para não realizar o desembarque. A informação não foi usada e lançaram o desembarque assim mesmo o que resultou em risco desnecessário para os Seals. A extração foi da mesma forma.

No resgate do cargueiro Myaguez no Camboja em 1975, os Seals pediram para fazer reconhecimento e foram impedidos. Cerca de 600 fuzileiros desembarcaram na ilha Kho Tang em 11 helicóptero CH-53 e resgataram o navio. Do outro lado da ilha foi realizado um desembarque com 100 fuzileiros em 8 helicópteros. Iriam fazer uma varredura no local em busca dos tripulantes do navio. Não esperavam oposição, mas havia entre 150 a 200 guerrilheiros do Khmer Vermelho altamente armados. No desembarque cinco helicópteros foram logo derrubados ou danificado e as tropas ficaram com risco de serem derrotadas na praia. Os tripulantes do navio foram liberados em um pesqueiro, mas na praia o Khmer passou a ofensiva. Na retirada foram deixados 15 fuzileiros mortos para trás e aviônicos secretos dos helicópteros. Os Seals foram chamados para buscar os corpos e destruir caixas pretas de bote, mas decidiram fazer reconhecimento a nado primeiro.

Long Range Surveillance Units (LRSU)

As primeiras unidades LRRP americanas foram criadas em 1958 na Europa. Tinham o tamanho de uma companhia com pelotões de oito patrulha de quatro homens. Depois foi descoberto que foram treinadas no uso de bombas de demolição atômicas (Special Atomic Demolition Munitions - SADM). Passou a se chamar LRP (Long Range Patrol) em 1964 e em 1965 mudaram de nome para Long Range Surveillance Units (LRSU) e foram deslocadas para os EUA. As LRSU, ou LRS, é composta de uma Companhia de forças especiais a nível de Brigada como parte do batalhão de inteligência.

Foram várias tentativas de substituir as LRRP com tecnologias, mas nunca deu certo, mesmo sem doutrina de uso das LRP. Em 1983 foi criada uma Companhia de reconhecimento na Europa que resultou na LARSE (Long Range Surveillance) para desenvolver doutrina com uma Companhia para cada Corpo de Exercito. A LRSU foi recriada em 1986.

A coleta de inteligência tipo HUMINT é a tarefa de vigilância primária das LRSU que também fazem reconhecimento limitado, localização de tropas, designação de alvos para artilharia e aviação e avaliação de danos de batalha. Os membros do LRSU tem que ser pára-quedistas ou Rangers e são capazes de operar por longos períodos a até 80-250km da linha de frente. Podem operar independentemente por até 13 dias sem apoio externo, mas missões geralmente duram entre 1 a 7 dias. Um destacamento pode deslocar até 80km por seis dias e em casos especiais podem operar por mais tempo. As LRSU não são unidades de combate como as Forças Especiais e Rangers, não fazendo ação direto e evitam contato, só engajam para quebrar contato.

O melhor método de operação das LRSU é permanecer atrás das linhas ("stay behind"), com uma equipe de seis membros recebendo ressuprimento extra durante a missão para evitar o perigo da exfiltração. A patrulha constrói uma base segura e escondida e deixa o inimigo passar. Esta técnica é sempre usada em operações retrógrada. No objetivo, o líder seleciona um local de repouso e de outro de observação. As comunicações são feitas no local de repouso. No posto de observação ficam uma dupla com um observando e o outro anotando, mudando de tarefa a cada 30 minutos. Um terceiro membro pode ser adicionado para cobrir a retaguarda. A comunicação entre as posições pode ser feita por fio, rádio ou mensageiro. A noite as tropas mudam de lugar entre o posto de observação e a base de descanso.

O treinamento dos membros da LRSU inclui comunicação de longo alcance, sobrevivência, observação, construção de locais escondidos, identificação de equipamentos, aeronaves e pessoal e infiltração. Os membros são qualificados nas técnicas de HALO, HAHO e mergulho.

Cada Corpo de Exército americano tem uma Companhia de LRSU e cada Divisão um destacamento. A 82a Divisão americana usou sua LRSU em Granada em 1983 e depois outras unidades fizeram o mesmo no Iraque em 1991. Uma patrulha da 101a Divisão Aerotransportada quase foi capturada quando direcionava aeronaves de apoio americano. Os iraquianos suspeitaram da presença de patrulhas na região e quando se aproximaram da posição da patrulha em uma colina a LRSU chamou apoio aéreo. Os helicópteros chegaram quando os iraquianos estavam chegando no topo da colina. Outra equipe da 24 Divisão de Infantaria quase foi detectada por uma patrulha iraquiana que passou a poucos metros da posição. A LRS da 10a Divisão de Montanha atuou na Somália. Outras operaram em Kosovo nas missões de paz e várias atuaram contra o tráfico de drogas na fronteira com o México. As LRSU foram novamente usadas no Afeganistão em 2001 e na invasão do Iraque em 2003. Foi observado que precisavam de maior mobilidade e poder de fogo quando operavam no deserto nos dois últimos casos.

Uma LRSU de quatro operadores da 82a Divisão realizaram reconhecimento do quartel Tinajitas e Cimarron durante a invasão do Panamá em 1989. Em Cimarron, reportaram que um comboio estava indo para a ponte Pacora que levava até o aeroporto de Torrijos. Na ponte do rio Pacora uma equipe das Forças Especiais recebeu a missão de fazer um bloqueio no local. Vinte e cinco operadores das FE foram infiltradas em três Blackhawk e chegaram 15 minutos antes do comboio chegou. Os primeiros veículos foram parados com LAW e AT-4. Um AC-130 chegou logo depois e atacou o resto do comboio e iluminou a área com seu farol IR para as FE verem onde atirariam. As tropas locais não conseguiram atravessar a ponte e as FE não sofreram baixas. As FE também foram usadas no Panamá para reconhecimento, vigilância das forças locais e pathfinder.

Além das LRSU outras unidades também podem realizar missões tipo LRP como o Deltas, Rangers e FE. Enquanto os Rangers apóiam operações de larga escala as FE auxiliam operações de guerra irregular.

LRRP
Um membro da LRRP americana em treinamento na Europa. O mecanismo de extração de emergência STABO é visível no peito. As LRRP americanas que atuavam na Europa tinham armas e uniformes do Pacto de Varsóvia para operações reais. Outros tipos de LRRP existentes no mundo são a RFSU australiana e a 13 RDP francesa.

LRSU
Uma patrulha LRSU prestes a entrar no helicóptero para realizar a exfiltração durante um treinamento. O tamanho da mochila é típica deste tipo de tropa. Os membros das LRSU recebem treinamento especial em comunicações, identificação de veículos e equipamentos, técnicas de inserção e exfiltração, técnicas operacionais e de inteligência.

LRRPs no Vietnã

Os LRRP (Long Range Reconaissance Patrol) usados no Vietnã são um das maiores experiências práticas até hoje. Em 1967, cada Divisão no Vietnã tinha uma Companhia de LRRP com um quartel general e dois pelotões de 8 patrulhas de 6 homens. Eram usados para detectar inimigos na selva e atuavam em áreas onde não havia forças amigas.

Sua missão era localizar e reportar forças inimigas para os batalhões de manobras engajarem, além de vigilância e designação de alvos para artilharia e apoio aéreo aproximado. As LRRP fazem reconhecimento para uma determinada unidade, geralmente para a Divisão, depois para níveis mais baixos. No fim de 1967 já eram 10 Companhias operando no país. Apesar do nome insinuar operações de longo alcance, só faziam patrulha de curto alcance. 

As patrulhas de 4-6 tropas duravam cerca de seis dias cobrindo uma área de 2 por 2 km com mais uma zona de segurança de 1 km do tipo "no fire zone". Seis patrulhas eram capazes de cobrir em seis dias uma área maior que um batalhão de infantaria fora a necessidade de apoio de artilharia e helicópteros de transporte. A área de operação não precisa de preparação de artilharia e se tem inimigo a LRRP continua a missão. Se não tem contato então não usou muitos recursos.

Os EUA fizeram bases ao redor do Vietnã de onde faziam reconhecimento em força com tropas convencionais. Os EUA usavam helicópteros para transportar tropas enquanto os franceses usavam as estradas. Os americanos eram bem lentos na selva e o Vietcong geralmente conseguia fugir.

As LRRP que atuavam no Vietnã treinavam na escola Ranger, escola de guerra na selva no Panamá e, a grande maioria, na escola MACV RECONDO (Reconnaissance Commando) no local. O curso durava de três semanas. Eram treinados como enfermeiros pois ficavam sem apoio durante missão a não ser evacuação médica.

Além das operações de inteligência as LRRPs faziam detecção de cachês de armas, patrulha de combate, emboscadas, avaliação de danos de batalha, localização de postos de comando, captura de prisioneiros, escuta de redes de telefone, assassinato de VIP, instalação de sensores nas rotas inimigas, capturar armas, documentos e inimigos. Os prisioneiros são importantes pois tem muito mais informações que os morto sendo uma das melhores fontes de informações.

Os LRRP eram usados as vezes para ações como incursões, emboscadas, segurança de pontos e resgate de prisioneiros. Os alvos eram áreas de suprimento, unidades e direcionavam ataque aéreo. Também agiam como força de reação rápida para defesa de base. As operações de ação direta geralmente eram desastrosas e ofuscava a função real das LRRP, um problema que existe até hoje.

Na infantaria comum as emboscadas eram próximas de forças. Nos LRRP eram bem longe e por isto usavam uma patrulha maior de 6-12 membros com a emboscada feita nos últimos dias da missão. Os LRRP testaram armas com vários tipos de silenciadores para poder realizar emboscadas no inicio da patrulha.

O papel das LRRPs passou a ser feito pelos Rangers quando foram reativados em 1969, mas atuavam em time de 8 ao invés de 5-6. Para as LRRPs era sinal de desastre ao aumentar a probabilidade de fazer barulho. As LRRPs pararam de operar em 1971 e a vietnamização passou a tarefa para o Vietnã do Sul. As LRRPs realizaram 23 mil patrulhas e em 2/3 resultou em detecção de inimigos. As LRRPs foram responsáveis por cerca de 10 mil baixas inimigas, de forma direta ou indireta, com emboscada, sniper, apoio aéreo e artilharia.

No fim de 1972, as duas Companhias de LRRP foram deslocadas para os EUA e passaram a fazer parte do recém formado regimento Ranger. Os LRRP renasceram depois como LRSU. O nome foi mudado pois LRRP ficou associado com o Vietnã.

LRRP
Membro de uma LRRP prestes a lançar uma granada de mão para marcar a posição para os helicópteros de extração. A roupa de lista de tigre (tiger strip) era padrão para as LRRP que tinham liberdade para escolher qualquer peça do uniforme, equipamento ou arma. As roupas secavam a noite se estivessem molhadas e duravam apenas três patrulhas até a tinta de má qualidade ficar desbotada. A camuflagem de lista de tigre era ruim em campo aberto, enquanto a tropa se movimenta (como toda camuflagem) e em área de bambuzal onde deveria ter tiras verticais. Os bolsos também eram pequenos. O uniforme tiger stripe ainda é usado hoje por tropas que atuam como força opositora. A carga das LRRPs no Vietnã era de cerca de 50kg incluindo armas, munições, rações e água.

Force Recon

O USMC tem uma força de reconhecimento estratégico chamada de Force Recon que atuam a nível Corpo e Divisão. Os Force Recon são fuzileiros com habilidades especiais para realizar operações de cobertura e incursões de pequenas unidades, designar alvos para apoio aéreo aproximado e apoio de fogo naval, além de serem capazes de realizar resgate de reféns e prisioneiros. Tem capacidade de reconhecimento em profundidade (LRRP) com ênfase em reconhecimento anfíbio. Os Force Recon são treinados em coleta de informações, vigilância, comunicações de  longo alcance, inserção com pequenos barcos e  mergulho, montanhismo, sobrevivência, evasão e escape.

Os Force Recon tem função de reconhecimento e ação estratégica sob comando direto do alto comando enquanto os USMC também tem os Marine Division Recon com a mesma função só que mais convencional, respondendo diretamente ao comandante do batalhão, e não usam métodos de infiltração especial como pára-quedismo.

Os Force Reacon iniciaram sua atuação em 1941 como uma força de reconhecimento mecanizado do tamanho de uma companhia. Na época usavam blindados M-3. Cada Divisão de fuzileiros tinha uma companhia de reconhecimento que atuavam a pé, Jeeps e blindados M-3. Estas companhias passaram a fazer parte dos batalhões de carros de combate e o M-3 foi substituído pelo Jeep. As companhias de reconhecimento podiam ser usadas como infantaria comum ou para defesa do Posto de Comando. As unidades foram unidas e cresceu para mais um batalhão e recebeu um pelotão de armas pesadas como metralhadoras .30 e morteiros de 60mm. Na Segunda Guerra Mundial foram desenvolvidas varias subunidades para defesa de base, pára-quedismo, incursões e reconhecimento. Com o fim da guerra só ficaram as unidades de reconhecimento na forma de uma companhia.

Os manuais do USMC falam das atividades de reconhecimento desde que iniciaram sua operação e citam que o melhor meio de reconhecimento de praia são por pequenas patrulhas que devem variar de 2 a 30 homens. Os Force Recon da Segunda Guerra mundial usavam botes ou mergulho para infiltração, agindo a noite. Podiam ser lançados de aeronaves anfíbias ou submarinos.

Com a força de reconhecimento em pequeno número o USMC teve que atuar na Guerra da Coréia com a ajuda dos Royal Marines britânicos para realizar incursões (Commando 41). Em 1951 os Force Recon fizeram o primeiro assalto de helicóptero atacando a colina 884. Em 1955 já tinham mais duas Companhias de comandos além das duas companhias de reconhecidas das duas Divisões de fuzileiros.

Em 1957 os Force Recon passaram a ser pára-quedistas e mergulhadores e foi adicionado a capacidade de atuar como precursores de assaltos de helicópteros. Em 1958 os Force Recon eram uma força do tamanho de batalhão recebendo armas mais pesadas e ter função de ação direta. Em 1963 a força foi reorganizada perdendo as armas mais pesadas e passando a ter papel de guerra irregular (antiguerrilha).

Os Force Recon atuaram no Vietnã onde eram chamados de demônios verdes pelo Vietcong. Faziam patrulha de longo alcance com equipes de sete homens: pointman (esclarecedor), líder, médico, dois radioperadores, granadeiro e "tailguner". Antes das missões eram realizados treinamentos sobre situações possíveis de acontecer nas missões. Os Force Recon foram pouco usados mas muito valorosos pois cobriam 60% das áreas dominadas pelo USMC, fazendo vigilância e reconhecimento para detectar infiltração, enquanto o resto era coberto por tropas convencionais. Em 1965 havia duas companhias no país.

Os meios de infiltração mais frequentes até a área de operação eram a pé e helicópteros e as vezes usavam botes, SCUBA e pára-quedas. Em caso de exfiltração de emergência era usado o magire. A patrulha durava uma semana e se entrassem em contato chamavam forças de manobra e artilharia. A arma mais importante era o rádio, dois por patrulha, e muitas armas leves para o caso de ser necessário. Em uma missão chamaram 12 missões de artilharia e 15 de apoio aéreo aproximado matando 204 inimigos.

O tamanho da patrulha podia ser maior e as emboscada eram realizadas com equipes "stingray' de 8-12 tropas. Os Force Recon também capturavam prisioneiros, plantavam sensores e localizavam pilotos derrubados. Em cinco anos os Force Recon realizaram 2.200 missões. Fizeram reconhecimento anfíbio, reconhecimento em profundidade, reconhecimento do terreno e vigilância.

Os Force Recon viram muito uso inadequado com oficiais falhando em reconhecer sua utilidade e valor da inteligência de profundidade e necessidade de preparação extensiva para estas missões. Foram direcionados para engajar inimigos, sendo mal treinados ou armados para isso, comprometendo a missão e negando seu valor como elemento de inteligência e atuando ocultos. As vezes eram simplesmente ordenados para ir fora da base e fazer patrulhas. As vezes o alto comando nem acreditava nas informações, mas mesmo assim cumpriam as missões.

Em 1974 a força foi reduzida para uma companhia e com patrulhas de quatro membros: líder, rádio-operador, assistente e scout/motorista. Passaram a treinar para atuar na selva, deserto, montanha e ártico. Em 1976 foi iniciado treinamento para ação direta incluindo contra-terrorismo, resgate e patrulha motorizada no deserto. Os sniper do pelotão scout-sniper passaram a atuar junto com os Force Recon. Em 1987 os Force Recon receberam mais uma companhia e passou a ter capacidade de
FOpEsp operando junto com as Unidades Expedicionárias (MEU). Em 1988 eram 10 pelotões para reconhecimento e ação direta e passaram a fazer parte do grupo de inteligência, reconhecimento e vigilância (SRIG) junto com outras unidades. Passaram a atuar com blindados LAV.

Os Force Recon atuais contam com três seções ou companhias. A companhia A é usada para treinamento com os membros indo depois para a companhia B apoiando as operações das Divisões com a capacidade de reconhecimento das unidade do batalhão antes orgânica dos Marine Division Recon (não existem mais). Após ganhar experiência vão para a companhia C fazendo LRRP e adicionando outras capacidades.

As missões de ação direta dos Force Recon incluem missões em profundidade podendo ser planejadas ou como equipe de resposta rápida. Nas missões de ação direta o pelotão atua com unidade única, recebe reforço de unidades de sniper, reconhecimento, especialistas em explosivo e elementos de segurança. Outras missões são tomada de plataformas marítimas (Gas/ Oil Platforms (GOPLATS)), abordagem de navios (Vessel /Board/Search /Seizure (VBSS)), captura/resgate de pessoal e equipamento e de aeronaves (Tactical Recovery of Aircraft/ Personal (TRAP)). Podem realizar incursões anfíbias, fazendo NEO (Non Combat Evacuation Operation), reforço, segurança, apoio humanitário. São capazes de tomar aeroportos, ou contra-inteligência. Os Force Recon são capazes de realizar missão de segurança de autoridades (Personal Security Detail (PSD)) em área hostil.

Durante as missões de reconhecimento podem fazer designação de alvos para aeronaves de ataque com designadores laser.

As atividades de reconhecimento do terreno inclui hidrografia, praia, estradas, pontes, rotas, áreas urbanas, zona de pouso de helicóptero (HLZ), zona de pouso de pára-quedistas (drop zone - DZ) e pistas de pouso avançadas. Os Force Recon tem um pelotão percursos para reconhecimento de LZ e DZ .

Force Recon GOPLATS
Uma equipe dos Force Recon realizam uma missão de GOPLATS durantes a avaliação operacional do MV-22.

Em 1988 os Force Recon foram usados na tomada de plataformas petróleo no Golfo Pérsico junto com o Seals.

Em 1991, durante a guerra do Golfo, os Force Recon realizaram patrulha na fronteira com o Kuwait. Foram as primeiras tropas americanas a atuar na batalha de Khafji. Foram os primeiro a chegar na embaixada americana na cidade do Kuwait, guiados por moradores locais, antes que as Forças Especiais destinadas a tomar o local chegassem. Tiveram que abandonar o local antes deles chegarem. Durante os combates fizeram reconhecimento a frente das forças do USMC detectando campos de minas e obstáculos.

Long Range Desert Group

O Long Range Desert Group (LRDG) ou Grupo do Deserto de Longo Alcance era uma patrulha de longo alcance britânica que fazia reconhecimento e inteligência atrás das linhas no norte da África durante a Segunda Guerra Mundial.

Realizaram cerca de 200 missões com poucas falhando por problemas mecânicos, agentes recalcitrantes ou motivos fora controle do LRDG. Os membros eram escolhidos devido a habilidades como mecânica, uso armas variadas, navegador e operar rádio. Os membros treinavam um ao outro, um conceito que passou a fazer parte das FOpEsp posteriormente.

As missões dos LRDG era dividida em quatro categorias:

-  Reconhecimento, de longo ou curto alcance, preparando ações de outras tropas. Uma missão de reconhecimento em uma ocasião levou camelos e tropas vestidas de árabe para reconhecimento aproximado e a patrulha voltou uma semana depois para exfiltração.

- Coleta de informações é feita acompanhando o movimento, reforço e logística do inimigo e mapeamento. As operações de inteligência serviram para despistar o projeto ULTRA que decifrou o código enigma alemão. Os britânicos já sabiam as posições inimigas ao interceptar e decifrar as transmissões de rádio. A tecnologia da época não usava fotos e após um cameraman filmar a operação do LRDG uma vez, tiveram a idéia de usar uma câmera simples nas patrulhas. Os LRDG também davam informações falsas aos alemães, deixando mapas falsos junto com outros itens em locais onde eram detectados e que seriam revistados pelo inimigo. Outra função era mapear oásis e locais de suprimento para atualizar mapas. Quando observavam o tráfego na estrada a patrulha era separada com uma dupla ficando bem próximo do local por 24 horas. A comida e água eram enterrada próxima, com a dupla sem armas, para se passarem por fugitivos se capturados.  Se isto ocorresse a patrulha mudava de posição.

- Precursores, apoiando outras organizações, e indicando caminho. Outra função era infiltração e exfiltração de outras pequenas unidades e pegar prisioneiros. 

- Ação Direta, atacando as linhas de comunicações, instalações e transporte inimigos. Faziam ataques de incomodação, emboscadas e minagem atuando sozinhos ou junto com outras incursões e até apoiando outras ações convencionais. As missões de ação direta eram de dois tipos. Uma era ação rápida contra alvos prioritários, junto com ações convencionais, ou ataques junto com outras forças contra alvos estratégicos. A prioridade era comboios de combustível. O SAS atacava as bases aéreas enquanto e LRDG só apoiava estas ações. As ações do LRDG levava estresse ao inimigo, direcionando tropas e aeronaves para proteger seus comboios e diminuindo a oposição nas tropas convencionais na linha de frente.

Na verdade cada patrulha pode ter um pouco de cada elemento e pode mudar durante a missão. A maior parte das patrulhas era sem ação e chata com picos de ação. As missões de coleta de informações e operações ofensivas devem ser bem separadas pois a reação inimiga chama um enxame que atrapalha as operações de inteligência na mesma área. O LRDG só ataca na retirada.

O LRDG iniciou com um pelotão de comando e três pelotões de 34-36 tropas. O pelotão era dividido em quatro tropas com 5-6 veículos. O LRDG chegou a 350 membros e 110 veículos em 1942. As patrulhas do LRDG tinham cerca de 10 caminhões com cada um levando 2 toneladas de suprimento e alcance de 2.700km para duas a três semanas de operações. O armamento varia de metralhadores Lewis, canhão de 37mm, canhões automáticos de 20mm e morteiros de 50mm. 

As patrulhas usam bandeiras e sinais de mão para controlar a formação e se comunicar. Avançam em uma frente ampla e se um atola na areia os que passam ajudam. A dispersão diminui a assinatura visual contra inimigos no ar e dá poucos alvos para atacar. Fazem manobras constantes para atrapalhar o reconhecimento aéreo incluindo mudar de direção em 90 graus por muito tempo. Se vistos do ar, mostram símbolos com a suástica, acenam e tentam se passar por amigos. Se atacados tentam fugir na hora certa, atrapalhando a pontaria das aeronaves que geralmente só usam metralhadores. Podem concentram fogo de retorno. Os alemães usavam muitos veículos capturados e a própria RAF era uma ameaça. Os veículos são geralmente recuperados com a areia sendo usada para apagar incêndios e pelo menos os suprimentos são recuperados. Os LRGD até voltam depois só para recuperar veículos perdidos.

Os LRDG criaram vários princípios e métodos usados até hoje pelas FOpEsp. O "belt order" foi criado para os membros terem varias opções de kits para caso de fuga até o mínimo para sobreviver no deserto. O principio foi melhorado depois pelo SAS. O LRDG sugeriu que atuassem como controlador aéreo para a RAF que não se interessou inicialmente mas que usou no final do conflito.

Os princípios de seleção de pessoal, treinamento cruzado, separar missões de reconhecimento e ação direta, aviação orgânica própria são outros princípios usados até hoje pelas FOpEsp. 

SAS
O SAS assumiu a função do LRDG com a Tropa de Mobilidade que usa veículos na mesma função. O SAS atuou no Golfo com patrulhas motorizadas na caça a mísseis Scud em 1991. Foram quatro patrulhas de 12 veículos e 30 homens cada equipadas até com mísseis Milan e Stinger. Se moviam a noite e descansavam de dia. Foi formado outra coluna para apoiar os veículos com armas, munições, combustível e suprimentos. Como resultado da campanha no Afeganistão o SAS criou o Special Reconaissance Regimento baseado no 14th Inteligence Company, chamado agora com The Detachment ou simplesmente “The Det”.

SASR LRDPV
Uma patrulha do SAS australiano equipado com veículos Long Range Desert Patrol Vehicle (LRDPV) em operação no Iraque ao estilo do LRDG da Segunda Guerra Mundial.

SARS LRDPV
Outra imagem do LRDPV onde é possível notar o armamento levado como lançadores de foguete LAW, estojos de munição para o Carl Gustav (ao redor do pára-lamas dianteiro), metralhadoras MAG e lança-granadas Mk-19.

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